sexta-feira, 27 de abril de 2012


O pior dos males: a inveja

        Assim como podemos afirmar que a mãe de todos os vícios é a preguiça e a das virtudes é à vontade, podemos, seguramente, afirmar que a fofoca é filha da inveja! E por quê? Tenha paciência. A resposta você encontrará no interior deste escrito.

1 - O conceito de inveja a partir de sua etimologia

     Como já lhe escrevi em outro artigo o prefixo in que aparece em muitas palavras da nossa língua portuguesa, indica um movimento que vai de fora para dentro. Contudo, em algumas palavras o sentido é de negação. Um exemplo apenas: indiscutível, ou seja, que acerca de tal proposição, não há mais como discutir.
        No caso do conceito da inveja que é o objeto de reflexão deste artigo, novamente o sentido vem ao encontro do que lhe escrevi no artigo sobre virtude e vício. Razão pela qual estamos novamente diante de uma palavra de origem latina. Inveja vem de invídia. IN = dentro e VIDIA = ver. Significando precisamente o seguinte: vontade de não ver o que está “dentro” do outro.
        Desse modo o invejoso é aquele que não quer apenas o que o outro tem. Ele deseja destruir o que o outro tem, e que somente ele tenha o que o outro conquistou. Mais adiante isso vai ficar mais claro. Agora lhe convido a ler o tópico a seguir e ver o quanto ele se aplica no seu cotidiano.

2 - A origem das palavras concórdia e discórdia e sua imbricação com a inveja.

        Na verdade essas três palavras remontam a mitologia romana. Antes uma informação importante. Até o cristianismo tornar-se a religião oficial do Império Romano no Séc. IV havia um deus para cada situação. É por essa razão que dizemos que eles eram politeístas.
        Quando as pessoas viviam em harmonia, diziam que a deusa Concórdia era a que reinava. Desse modo COM = junto à, COR = coração e IA = estudo. Tradução: estudo acerca dos corações que se aproximam.
        A deusa da inveja recebia o nome de Discórdia. Os cabelos dela eram todos em forma de cobra. Em uma de suas mãos ela tinha uma cobra e na outra uma espada. Por que razão será? Então: DIS = “QUE SEPARA” e CORDIA? Esse sufixo você já sabe.
É por esta razão que existem inúmeras palavras em nossa língua portuguesa que derivam dessas duas. Apenas algumas para exemplificar: contrato = que está tratado com; distrato = quanto há a separação do que foi tratado; Eu concordo com você = no sentido que o meu coração se aproximou de ti; eu discordo de você = indicando que nossos corações (neste caso opiniões) se distanciaram. Sugiro que antes de continuar a leitura você tente lembrar-se de outras.
Você sabia que não havia nenhum templo erguido na Roma antiga para a deusa Discórdia? Certamente é porque os romanos sabiam que esse tipo de sentimento, que ainda existem em nossos dias, era um grande mal.
              
3 - A compreensão do que é a inveja a partir do tema das Paixões em Espinosa (1632-1677)
        Para Bach Espinosa as paixões são afecções, vibrações que o nosso CONATUS sente. E o que é o conatus para ele? É uma força intrínseca a todos os seres que nos chama para a vida. É a nossa luta pela existência. Todos os seres tem conatus. Ninguém deseja conscientemente morrer. Freud dizia que no inconsciente não havia o desejo da morte.
        Ele dividiu as paixões em dois grandes grupos: as da alegria que chamou também de paixões fortes e as da tristeza. Também conhecidas como paixões fracas porque uma vez existindo em nós, enfraquecerão o nosso conatus.
        As paixões são exteriores. Elas, portanto, vem de fora para dentro. Em última instância o que é a inveja? Imaginemos a seguinte situação: eu desejo muito um carro novo e que o mesmo seja vermelho. A cor do meu glorioso Internacional de Porto Alegre. Então em um belo dia eu sou convidado a ir ao casamento do meu irmão. Lá chegando, me deparo com um Fiat Uno vermelho. Pergunto para um dos meus irmãos: de quem é? Ele me diz: da sua irmã fulana de tal. Se o meu conatus começar a ter uma espécie de calafrios e ficar todo incomodado com aquela situação e disser ao irmão: - “só pode ter comprado em prestação. Quero ver como eles vão conseguir pagar tais prestações”! Ponto! Sinais de evidência que a inveja tomou conta de mim.
        Você já observou que geralmente nós escolhemos um parente para falar mal? Todas as famílias com as quais convivi, percebi que em alguns dos seus atores havia e há um forte sentimento de inveja em face de outros membros dessa mesma família.
Notoriamente, estou cônscio que a melhor maneira de se perder um argumento é generalizá-lo. Por isso insisto: a inveja não está presente em todos os membros de todas as famílias, mas de todas as que eu conheço, eu não vi uma, cujo sentimento de inveja esteja totalmente ausente.

4 - Os efeitos colaterais da inveja

Por que eu afirmei no título deste artigo que a inveja é o pior dos males? Porque a partir das minhas vivências com diferentes atores sociais e ouvindo pessoas na clínica (sou filósofo clínico), pude perceber que muitas que estavam com seu conatus enfraquecido, a causa principal era a inveja que elas sofriam de outras pessoas cuja capacidade de resistência era menor.
        Você já percebeu que muitos que criticam de forma veemente o Lula é porque têm inveja? Não estou dizendo que ele esteja livre das mesmas.  Eu mesmo fiquei muito triste com ele essa semana. Assim que melhorou do seu câncer na garganta não mencionou nada sobre o vício que causou esse mal a ele. Foi o cigarro. Melhor dizendo: o charuto. Poderá ser um dos melhores garotos propaganda contra o tabagismo. Creio que ele ainda falará algo aos jovens a esse respeito. O fato é há muitos políticos que não se conformam. Como pode um “petrúquio” como o Lula, que não tem diploma de curso superior, pudesse se tornar o que é hoje.
Por isso que se diz que a inveja mata.  O primeiro a sentir os efeitos colaterais da inveja, é o próprio invejoso. A pessoa que é invejosa acaba gerando nela mesma a mágoa. Para o Espinosa é a má-água. A pessoa fica remoendo esse sentimento. Tenta a todo custo prejudicar aquele que é a causa de sua inveja.
Aquele que é invejado por sua vez, se não tiver uma espiritualidade forte. Se não conseguir “fechar o seu corpo” diante da inveja do outro, perceberá que seu conatus também de enfraquecerá.

5 – A fofoca como filha da inveja

        O que é a fofoca? No meu entendimento a mesma se caracteriza por ser uma comunicação não dialógica. Ela nasce da “rádio corredor” ou “radio cipó”. O invejoso por não se conformar que só o outro tem o que ele tanto deseja, começa a espalhar maledicências a respeito da vida do outro. Assim, as informações distorcidas vão se espalhando e o clima nas organizações, muitas vezes, fica péssimo.
        Como combater a fofoca? Pela ação comunicativa dialógica. Habermas que é o último pensador vivo da chamada Teoria Critica – também conhecida com Escola de Frankfurt - nos deixa esse legado. Qual? Se desejarmos resolver os problemas entre nós sem o uso da violência, o face a face é o melhor caminho. Pelo diálogo autêntico poderemos resolver os conflitos provocados pela filha da inveja, qual seja a fofoca. Tenho clareza que há mais coisas a serem ditas, mas que o espaço aqui não permite neste momento.

6 - Como se proteger do invejoso

A primeira coisa que eu sugiro é que você faça o que Jesus nos sugeriu. O quê? Dê a ele a outra face. E o que isso significa? Não retribua com a mesma moeda. Se você puder coloque-se ao lado dessa pessoa para ajuda-lá a conquistar o que você já tem e que é a causa da inveja dela.
  Se você perceber que não há como ajudar, fique longe dessa pessoa. Procure amigas e amigos que fortaleçam o seu conatus. Procurem não ficar exibindo suas conquistas.
Eu sempre falo o seguinte para as minhas educandas e educandos: - “se você está conseguindo dar uma “brincada” com alguém, não fale nada para ninguém. Se você ficar contando, muitos  que estão no “jejum”, que estão com um “calorão”, terão inveja de você”. Então por que fazer os outros sofrerem? É melhor ficar calado. Neste caso o que os ouvidos não ouvem o coração também não sente.

7 - A teoria do ato e potência para compreender o fenômeno da inveja

        O grande desafio é fazermos com que a inveja só exista apenas em potência em cada um de nós.
Não sejamos hipócritas em pensar que a inveja só existe no coração dos outros. Há pessoas que me dizem: - “eu nunca tive inveja de ninguém”! A minha resposta: “menos”, “menos”!
        Eu mesmo já fui muito mais invejoso do que sou hoje. Posso lhe assegurar que a mesma está sob controle...rs! Nos raros momentos que eu me dou conta que meu conatus começa sofrer com afecções, vibrações que indicam a presença da inveja, começo a rezar e me concentro em pensar com um sentimento de admiração pelas conquistas dos outros.
Procuro me alegrar e celebrar com ele a respeito de suas vitórias. Assim ela passa e eu sofro menos. É melhor termos a sabedoria por perto. Os bons exemplos dos outros poderão evitar futuros sofrimentos meus.
        Portanto, no meu entendimento é bom administrarmos esse sentimento, afim de que o mesmo só exista em potência e nunca em ato. Espinosa foi um racionalista no sentido de que é possível nós compreendermos racionalmente quais as causas dos males que nos aflige e assim poderemos substituí-los por paixões da alegria. Exemplo: substituirmos a inveja pela admiração.

8 - O que ainda pretendo escrever sobre esse tema:
·      A inveja no ambiente de trabalho, principalmente entre os servidores públicos;
·      Porque muitos que vão à igreja assiduamente são tão invejosos;
·      As imbricações entre nosso lado saphiens e nosso lado demens com a inveja;
·      E por fim, mas não por último, escrever sobre as dores existenciais provocadas pela inveja.
Espero ter contribuído com sua formação e faço votos que você permaneça jovem a maior quantidade de dias possíveis.

quinta-feira, 5 de abril de 2012

O QUE É ÉTICA?

Os Sofistas, homens dotados do poder de convencimento.

Virtude x Riqueza

A IMPORTÂNCIA DO PENSAMENTO SOCRÁTICO

O período clássico da história da Grécia Antiga, séculos V a. C. ao IV a.C. Período também conhecido como Socrático ou Antropológico. Foi nesse período, que viveram: os sofistas, Sócrates, Platão e Aristóteles.

Antropologia: É a busca pela compreensão do homem no seu contexto histórico social, econômico, político e cultural.

Sofistas: Homens dotados do poder de convencimento (persuasão: oratória e retórica). Vendiam seus supostos conhecimentos de cidades em cidades. Afirmavam serem os possuidores de todo o conhecimento.  Enquanto que os primeiros filósofos gregos preocupavam-se com as questões do universo, a unidade e a diferença, o maior interesse dos sofistas concentrava-se sobre o próprio homem e seu comportamento. Porém de modo que se preocupavam no mecanismo que permitia ao homem fazer coisas para si. A atividade dos sofistas chama-se sofística, que é caracterizada pro: saber acrítico, comércio da filosofia, uso da erística (debate sem sentido, apenas por prazer e não pela busca pelo conhecimento verdadeiro), valorização da retórica e ênfase à vantagem pessoal.

Principais sofistas: Górgias, Hípias, Protágoras e Trasímaco.


Sócrates, de origem pobre e humilde, Filho de um escultor – Sofronisco e de uma parteira – Fenareta

Importância do Pensamento Socrático: Mudança de foco no questionamento filosófico. O homem e seu comportamento tornam-se objeto principal de sua investigação. (antropologia).

Pai da Filosofia. Preocupação ética e moral.

Para Sócrates, a Filosofia não é uma profissão e sim “um modo de vida”. Foi condenado à morte (tomou um veneno chamado cicuta) por acusação de corromper a juventude, violar as leis da cidade e introduzir novas divindades em Atenas. 

Método Socrático: Constitui-se em contribuir para tirar o indivíduo da sua ignorância e constitui-se de duas fases.
1-Exortação: Sócrates convida o interlocutor a filosofar, a buscar a verdade.
2- Indagação: Sócrates faz perguntas, comentando as respostas e voltando a perguntar caminha com o interlocutor para encontrar a definição da coisa procurada.

Tais perguntas dividem-se em duas partes:

a) IRONIA (Eironéia ou Refutação) = Demonstrar ao indivíduo através de perguntas a sua ignorância. Mostrar que o interlocutor é cheio de preconceitos, opiniões subjetivas, imagens sensoriais acatadas, enganos, etc.

b) MAIÊUTICA (Parturição: Em grego: “arte de dar a luz”, PARTO DE “IDÉIAS”) = Provar ao homem pelo método dialógico que ele é capaz de chegar à definição do verdadeiro conceito. (Parir idéias)
• Frase Célebre: “Conhece-te a ti mesmo”. “Sei que nada sei.”
* A ciência (episteme) socrática resulta do método e significa “conhecimento autêntico e racional”.

Por operar com o exame de opiniões (doxa)- definições parciais, subjetivas, confusas e contraditórias-, para chegar à definição universal e necessária, Sócrates inicia o que Aristóteles chamará de indução: chegar ao que é universal por meio do particular. Por realizar-se na forma de diálogo, por produzir argumentos para mostrar que uma opinião é ou parcial, ou confusa ou contraditória, ou mesmo errada, e por mostrar ao interlocutor do erro cometido e da necessidade de prosseguir na investigação. A indução socrática constitui a dialética socrática.

Conhecimento: Sócrates sempre dizia que sua sabedoria era limitada a sua própria ignorância (Só sei que nada sei.). Ele acreditava que os atos errados eram conseqüência da própria ignorância. Nunca proclamou ser sábio.

Virtude
Sócrates acreditava que o melhor modo para as pessoas viverem era se concentrando no próprio desenvolvimento ao invés de buscar a riqueza material. Convidava outros a se concentrarem na amizade e em um sentido de comunidade, pois acreditava que esse era o melhor modo de se crescer como uma população.

Suas ações são provas disso: ao fim de sua vida, aceitou sua sentença de morte quando todos acreditavam que fugiria de Atenas, pois acreditava que não podia fugir de sua comunidade. Acreditava que os seres humanos possuíam certas virtudes, tanto filosóficas quanto intelectuais. Dizia que a virtude era a mais importante de todas as coisas.

Política
Diz-se que Sócrates acreditava que os ideais pertenciam a um mundo que somente os sábios conseguiam entender, fazendo com que o filósofo se tornasse o perfeito governante para um Estado. Se opunha à democracia que era praticada em Atenas durante sua época.
Acreditava que a perfeita república deveria ser governada por filósofos. Acreditava também que os Tiranos eram até mesmo menos legítimos que a democracia.
Diálogos: Os diálogos socráticos são uma série de diálogos escritos por Platão e Xenofonte na forma de debates entre Sócrates e outras pessoas de sua época; ou mesmo debates entre Sócrates e seus seguidores (como Fédon).
A Apologia de Sócrates é um monólogo, agrupado junto com os diálogos. A Apologia (no direito grego, uma defesa) é um registro do discurso que Sócrates proferiu em seu julgamento. A maioria dos diálogos aplica o método socrático: 

A República, Apologia de Sócrates, Críton, Fédon.

Ética
Sócrates interessava-se por assuntos humanos, reconduzindo a sabedoria a uma investigação sobre a vida e os costumes, os bens e os males humanos. Por isso, desde a antiguidade foi reconhecido como o fundador da filosofia enquanto Ética, isto é, um saber que trata fundamentalmente dos fins da vida humana.

Prof. Manoelito