terça-feira, 28 de maio de 2013

O indivíduo possessivo - John Locke


Para Locke, pensar a vida humana em períodos primordiais, os quais ele e outros autores como Thomas Hobbes e Jean Jacques Rousseau chamaram de estado de natureza, pode favorecer a compreensão sobre a necessidade humana de romper com o estado de natureza e criar o estado de sociedade ou de cultura.

Locke entendia que, para compreender o poder político, fazia-se necessário uma reflexão que procurasse responder ao que teria levado os homens a sair do estado de natureza e passar a viver em sociedade com a organização de governos e leis para regular suas relações.

 

De acordo com sua filosofia, todos os homens nasciam com três direitos: liberdade, igualdade e garantia de vida. No estado de natureza eram livres, porque não precisavam pedir permissão ou depender da vontade de outro homem; eram iguais, pois nenhum possuía nada a mais que outro, recebendo todos as mesmas vantagens da natureza e as mesmas faculdades. A garantia de vida era dada por uma lei própria do estado de natureza, segundo a qual, por serem iguais e independentes, os homens não deveriam prejudicar uns aos outros e poderiam punir quem viesse a ameaçar a vida deles.

No estado de natureza, para Locke, os homens vivem em situação de paz. Porém, ele entende que esse estado de paz é ameaçado quando um homem coloca outro sob seu poder e o submete à sua vontade. Rompe-se, assim, o estado de natureza e instala-se o estado de guerra. Para recuperar o estado de paz, é necessário que os homens se unam em um contrato por meio do qual evitem os inconvenientes do estado de guerra.

Nesse contrato, os homens concordaram que, para evitar que eles fossem usurpados, deveriam eleger um governo, ao qual caberia defendê-los. Assim, todos deveriam respeitar a vida, a propriedade e a liberdade, e o governo ou Estado seria responsável pela manutenção da paz. O governo deveria lutar contra quem quer que tentasse desrespeitar a condição natural de igualdade e liberdade. A partir disso, para Locke, começou a civilização.

 

Direito Natural e Direito Positivo

 

O Direito Natural seria uma derivação da razão correta - assim como a natureza tem suas leis, o homem também teria, por natureza, as suas. Já o Direito Positivo seria o conjunto de leis que os homens criam para conviver em sociedade.

Em Locke, a liberdade, a propriedade e a vida são constitutivas do Direito Natural de cada indivíduo. No entanto, para mantê-lo, o homem precisa conviver com outros que têm o mesmo Direito Natural; então, para que o convívio seja possível, os homens necessitam produzir leis positivas - no sentido de inventadas - para a manutenção desses mesmos direitos naturais. Assim, a partir do Direito Natural de cada um, cria-se o Direito Positivo a que todos têm de obedecer.

Na filosofia de John Locke, há a valorização do indivíduo como agente histórico e jurídico. Além disso, em razão do empirismo, o indivíduo também é responsável pela aquisição e produção do conhecimento, sendo a felicidade, sem dúvida, o fim último da realização individual.

Por isso, toda ação depende necessariamente do indivíduo. O tipo de governo que ele deixa existir, o tipo de relações sociais sob as quais viverá; enfim, sua felicidade ou tristeza não compete mais ao rei ou ao senhor feudal, mas somente ao indivíduo.

 

Questões para reflexão

 

1.      Se cada um é livre, tem o direito à propriedade e à defesa da própria vida, como nós não acabamos em uma situação de guerra de todos contra todos?

2.      Caso um homem não tenha o que ele precisa, o que o impede de tomar de outro o que lhe falta?

3.      Por que tenho de respeitar a liberdade do outro?

 

 

Exercício

 

Imaginem vocês participando de uma excursão para algum lugar do Brasil, o avião em que vocês viajavam teve de fazer pouso forçado em uma ilha deserta e vocês sobreviveram apenas com a roupa do corpo. Durante anos, brigaram por alimentos, água e relacionamentos amorosos. Enfim, depois de perderem a esperança de ser resgatados, resolveram viver em paz, em busca da felicidade.

Para que vivam em paz, vocês terão de se separarem em vários grupos, cada grupo devem criar uma lei para cada um dos seguintes temas:

 

1.      Partilha do alimento, da água, da terra para plantio, da pesca e da caça (lembre-se de que não há muito desses recursos na ilha).

2.      Casas, madeira para construção, folhas de árvores e cipós para amarração.

3.      Família, educação dos filhos, casamento e separação.

4.      Crimes, roubo, homicídio, mentiras, constituição de tribunal de investigação.

5.      Trabalho, comércio, sistemas de trocas e de valor. Por exemplo, como determinar o valor de cinco peixes grandes em relação à construção de uma cabana.

 

Ao final, o representante de cada grupo deve apresentar, em voz alta, as leis criadas, discutindo-as com a classe, com base nos princípios filosóficos de Locke, sempre procurando destacar a importância da participação dos indivíduos na discussão e na elaboração das normas que devem servir para todos.

 

 

 

 

Prof. Manoelito

 

 

 

sábado, 25 de maio de 2013

Formas de conhecimento


A mitologia, a religião e a ciência são formas de conhecer o mundo. São modos do conhecimento, assim como o senso comum, a filosofia e a arte. Todos eles são formas de conhecimento, pois cada um, a seu modo, desvenda os segredos do mundo, explicando-o ou atribuindo-lhe um sentido. Vamos examinar mais de perto cada uma dessas formas de conhecimento.
O mito proporciona um conhecimento que explica o mundo a partir da ação de entidades - ou seja, forças, energias, criaturas, personagens - que estão além do mundo natural, que o transcendem, que são sobrenaturais.

Assim como o mito, a religião, ou melhor, as religiões também apresentam uma explicação sobrenatural para o mundo. Para aderir a uma religião, é obrigatório crer ou ter fé nessa explicação. Além disso, é uma parte fundamental da crença religiosa a fé em que essa explicação sobrenatural proporciona ao homem uma garantia de salvação, bem como prescreve maneiras ou técnicas de obter e conservar essa garantia, que são os ritos, os sacramentos e as orações.

A ciência procura descobrir como a natureza "funciona", considerando, principalmente, as relações de causa e efeito. Nesse sentido, pretende buscar o conhecimento objetivo, isto é, que se baseia nas características do objeto, com interferência mínima do sujeito.


O senso comum ou conhecimento espontâneo é a primeira compreensão do mundo, baseada na opinião, que não inclui nenhuma garantia da própria validade. Para alguns filósofos, o senso comum designa as crenças tradicionais do gênero humano, aquilo em que a maioria dos homens acredita ou devem acreditar.

A filosofia, Para Platão, é o uso do saber em proveito do homem. Isso implica a posse ou aquisição de um conhecimento que seja, ao mesmo tempo, o mais válido e o mais amplo possível; e também o uso desse conhecimento em benefício do homem. Essa definição, porém, exige a uma definição de benefício, que por sua vez exige uma definição de Bem. Para saber o que é o Bem, entretanto, também é necessário descobrir o que é a Verdade. Alguns filósofos, definem a filosofia como a busca do Bem, da Verdade, do Belo e de como os homens podem conhecer essas três entidades. Portanto, a filosofia toma para si a árdua tarefa de debater problemas ou especular sobre problemas que ainda não estão abertos aos métodos científicos: o bem e o mal, o belo e o feio, a ordem e a liberdade, a vida e a morte.






Prof. Manoelito

Discurso filosófico e discurso religioso: aproximações e diferenças

A Filosofia é um campo que sofreu e sofre preconceitos. A Religião, por sua vez, também é um tema esquecido na trajetória escolar de muitas pessoas. Esse esquecimento é evidenciado, sobretudo, no Ensino Superior. Raras são as oportunidades escolares de conhecer e compreender melhor as diferentes religiões: suas origens, histórias, valores, compromissos. Raras são as oportunidades escolares de construir uma atitude filosófica com relação à religião. Neste texto, vamos pensar as possibilidades de relacionamento entre Filosofia e Religião, com base no pressuposto de que ambas representam uma elaboração de extrema importância para a humanidade, sem valorizar uma mais do que a outra.
Vamos considerar e rever algumas ideias correntes sobre a relação entre Religião e Filosofia:
·         A Filosofia como ruptura com a Religião;
·         A Filosofia como forma de pensamento superior ao pensamento religioso;
·         A Filosofia surge na Grécia em oposição ao pensamento mitológico;
·         A Filosofia como explicação do mundo diferente da explicação do mundo elaborada pela Religião.
O primeiro esforço para pensar as relações entre a Filosofia e a Religião conduz à questão sobre a origem da Filosofia. É bastante divulgada a ideia de que o modo de pensar, que hoje identificamos como próprio da Filosofia, tem origem na Grécia antiga, no final do século VII a.C. e início do século VI a.C. Atribui-se a Pitágoras (570 a.C. - 496 a.C.) o emprego da palavra "filosofia" pela primeira vez, unindo dois termos: philia ou philos (amizade) e Sophia ou sophos (saber), o que resultou em uma palavra que expressa amor pela sabedoria. Esse modo de pensar teria surgido com a necessidade de se responder a questões sobre o mundo natural e sobre os homens que não haviam sido respondidas pelo pensamento mitológico dos sacerdotes e poetas. Uma dessas questões seria: Qual é a substância essencial, mais elementar, que compõe os seres do mundo físico, da natureza material? Qual é o elemento que unifica todos os seres?
O segundo esforço para pensar as relações entre a Filosofia e a Religião é justamente o de distinguir perguntas e respostas próprias a cada um desses modos de pensar.

Sobre a origem da Filosofia como necessidade grega de se criar uma forma de pensamento que pudesse melhor explicar o mundo, deve-se considerar que egípcios, mesopotâmios, hindus e chineses, ou seja, as chamadas civilizações orientais, também criaram filosofias em períodos concomitantes ou anteriores aos primeiros filósofos gregos. Historiadores como Abel Rey - pesquisador português contemporâneo – defendem a  ideia de que não se pode afirmar que a origem da Filosofia situa-se exclusivamente na Grécia porque os próprios gregos exaltaram a sabedoria oriental. Dessa forma, o ideal é perguntarmos pela origem da Filosofia tanto no campo do pensamento oriental como no campo do pensamento ocidental.
Historiadores da Filosofia, entre os quais destacamos Werner Jaeger, defendem ainda que a Filosofia não surge em contraposição e como algo absolutamente diferente dos mitos, mas sim a partir destes, a partir de temas e preocupações predominantes no discurso religioso e nos mitos registrados em poemas como a Ilíada e a Odisséia, de Homero, e nos poemas de Hesíodo, por exemplo. Os historiadores destacam vários aspectos que são comuns a ambos: preocupação dos poetas em apresentar causas e motivos das ações; esforço para descrever os fatos em uma abrangência que abarca deuses, homens, terra, céu, guerra, paz, bem e mal e a preocupação dos poetas em construir narrativas para ensinar a justiça como virtude fundamental. O mito, assim, já contemplaria a estrutura de apresentação dos fatos e os temas valorizados pela Filosofia. Se a Filosofia não é uma inovação que rompe radicalmente com o discurso próprio dos mitos, dos poemas e da religião, deve-se perguntar, então, qual é a sua novidade, qual é a sua diferença?

O discurso nos mitos apresenta-se com uma narrati­va marcada por analogias, metáforas e parábolas, enquanto, na Filosofia, o discurso apresenta-se marcado por questionamentos sucessivos a cada afirmação, por fundamentação e crítica sobre o saber afirmado.

Prof. Manoelito
A atividade proposta a seguir tem o objetivo de ajudá-los a pensar as diferenças entre um discurso e outro. Para tanto, vocês devem ler esses dois textos: um trecho da introdução da Crítica da Razão Pura de Immanuel Kant (1724-1804) e uma transcrição do mito denominado Eros e Psique, narrado pela primeira vez por um escritor romano chamado Lucius Apuleius (125-164 d.C). Façam a leitura de cada um dos textos. Após a leitura identifique as diferenças entre eles. Algumas perguntas podem ajudá-los nessa direção:

1.         Qual é o objetivo de cada texto ou qual é o assunto tratado em cada um?
2.         De que forma a mensagem principal e as demais mensagens são apresentadas em cada um dos textos?
3.         Quais elementos comparecem em apenas um dos textos?


Crítica da razão pura de Immanuel Kant
Introdução
"I — Da distinção entre o conhecimento puro e o empírico
Não se pode duvidar de que todos os nossos conhecimentos começam com a experiência, porque, com efeito, como haveria de exercitar-se a faculdade de se conhecer, se não fosse pelos objetos que, excitando os nossos sentidos, de uma parte, produzem por si mesmos representações, e de outra parte, impulsionam a nossa inteligência a compará-los entre si, a reuni-los ou separá-los, e deste modo à elaboração da matéria informe das impressões sensíveis para esse conhecimento das coisas que se denomina experiência?
No tempo, pois, nenhum conhecimento precede a experiência, todos começam por ela. Mas se é verdade que os conhecimentos derivam da experiência, alguns há, no entanto, que não têm essa origem exclusiva, pois poderemos admitir que o nosso conhecimento empírico seja um composto daquilo que recebemos das impressões e daquilo que a nossa faculdade cognoscitiva lhe adiciona (estimulada somente pelas impressões dos sentidos); aditamento que propriamente não distinguimos senão mediante uma longa prática que nos habilite a separar esses dois elementos.
Surge desse modo uma questão que não se pode resolver à primeira vista: será possível um conhecimento independente da experiência e das impressões dos sentidos? Tais conhecimentos são denominados apriori, e distintos dos empíricos, cuja origem é a posteriori, isto é, da experiência.
Aquela expressão, no entanto, não abrange todo o significado da questão proposta, porquanto há conhecimentos que derivam indiretamente da experiência, isto é, de uma regra geral obtida pela experiência, e que no entanto não podem ser tachados de conhecimentos a priori.
Assim, se alguém escava os alicerces de uma casa, apriori poderá esperar que ela desabe, sem precisar observar a experiência da sua queda, pois, praticamente, já sabe que todo corpo abandonado no ar sem sustentação cai ao impulso da gravidade. Assim esse conhecimento é nitidamente empírico.
Consideraremos, portanto, conhecimento a priori, todo aquele que seja adquirido independentemente de qualquer experiência. A ele se opõem os empíricos, isto é, àqueles que só o são a posteriori, quer dizer, por meio da experiência.
Entenderemos, pois, daqui por diante, por conhecimento a priori, todos aqueles que são absolutamente independentes da experiência; eles são opostos aos empíricos, isto é, àqueles que só são possíveis mediante a experiência.
Os conhecimentos apriori ainda podem dividir-se em puros e impuros. Denomina-se conhecimento a priori puro ao que carece completamente de qualquer empirismo.
Assim. p. ex., 'toda mudança tem uma causa' é um princípio apriori mas impuro, porque o conceito de mudança só pode formar-se extraído da experiência."


Eros e Psique
Era uma vez um rei que tinha três filhas. A mais nova. de nome Psique, destacava-se por sua beleza. Dizia-se até que Afrodite - a deusa da beleza - não era tão bonita quanto Psique, cujo nome em grego antigo significa alma.
Os homens deixaram de cultuar a deusa Afrodite para adorar Psique.
Afrodite ofende-se com esta situação e pede a seu filho Eros. o deus do Amor. para preparar uma vingança. Ele ficou tão maravilhado ao ver Psique que não conseguiu cumprir a ordem da mãe. Enquanto Eros sofria por não conseguir atender ao pedido de sua mãe. Psique sem saber das inten¬ções de Afrodite, esperava encontrar um marido. Seu pai consultou o oráculo de Apoio para ajudar

Psique a encontrar seu marido. Eros também consultou o oráculo para conseguir realizar o pedido de sua mãe.
Orientado pelo oráculo, o rei levou Psique para o alto de uma montanha na qual encontraria um monstro disposto a se casar com ela.
Também orientado pelo oráculo, Eros dirigiu-se para a mesma montanha na qual deveria se casar com Psique, sem permitir que ela visse seu rosto e fazendo-se passar por um monstro.
Embora Psique não o visse, tinha certeza de que não se tratava de nenhum monstro horroroso. A partir de então sua vida ficou assim: luxo, solidão e vozes que faziam suas vontades durante o dia e, à noite, a voz de seu amor. Mas a proibição de ver o rosto do marido a intrigava. E a inquietação aumen¬tou mais ainda quando o misterioso companheiro avisou que ela não deveria encontrar sua família nunca mais, pois se assim fosse coisas terríveis começariam a acontecer. Ela não se conformou com isso e, na noite seguinte, implorou a permissão para ver pelo menos as irmãs. Contrariado, mas com pena da esposa, ele acabou concordando. Assim, durante o dia, quando ele estava longe, as irmãs foram tra¬zidas da montanha pela brisa e comeram um banquete no palácio. Como temia Eros, a alegria que as duas sentiram pelo reencontro logo se transformou em inveja e elas voltaram para casa pensando em um jeito de acabar com a sorte da irmã. Nessa mesma noite, no palácio, aconteceu uma discussão. O marido pediu para Psique não receber mais a visita das irmãs e ela, que não tinha percebido seus olha¬res maldosos, se rebelou. Além de estar proibida de ver o seu rosto ele agora queria impedi-la de ver até mesmo as irmãs? Novamente, ele acabou cedendo e no dia seguinte as pérfidas foram convidadas para ir ao palácio de novo. Mas dessa vez elas apareceram com um plano já arquitetado. Elas a con¬venceram de que o marido só podia ser um monstro e aconselharam Psique a matá-lo. À noite ela teria que esconder uma faca e uma lamparina de óleo ao lado da cama para matá-lo durante o sono. Psique caiu na armadilha. E, quando acendeu a lamparina, viu que estava ao lado do próprio Eros, o deus do amor, a figura masculina mais bonita que havia existido. Ela estremeceu, a faca escorregou da sua mão, a lamparina entornou e uma gota de óleo fervente caiu no ombro dele. que despertou, sentiu-se traído, virou as costas, e foi embora dizendo: "Não há amor onde não há confiança". Psique ficou de¬sesperada e resolveu empregar todas as suas forças para recuperar o amor de Eros, que se encontrava na casa da mãe recuperando-se do ferimento no ombro. Psique pedia aos deuses para acalmar a fúria de Afrodite, sem obter resultado. Resolveu se oferecer à sogra como serva, dizendo que faria qualquer coisa por Eros. Ao ouvir isso, Afrodite gargalhou e respondeu que. para recuperar o amor dele, ela teria que passar por uma prova. Em seguida, pegou uma grande quantidade de trigo, milho, papoula e muitos outros grãos e os misturou. Até o fim do dia, Psique teria que separar tudo aquilo. Era uma tarefa impossível e ela já estava convencida de seu fracasso, quando centenas de formigas resolveram ajudá-la e fizeram todo o trabalho. Surpresa e nervosa por ver aquela tarefa cumprida, a deusa fez um pedido ainda mais difícil: queria que Psique trouxesse um pouco de lã de ouro de umas ovelhas ferozes. Percebendo que seria trucidada, ela já estava pensando em se afogar no rio quando foi aconselhada por um caniço (uma planta parecida com um bambu) a esperar o sol se pôr e as ovelhas partirem para recolher a lã que ficasse presa nos arbustos. Deu certo, mas no dia seguinte uma nova missão a esperava. Agora Psique teria que recolher em um jarro de cristal um pouco da água negra que saía de uma nascente que ficava no alto de uns penhascos. Com o jarro na mão, ela caminhou em direção aos rochedos, mas logo se deu conta de que escalar aquilo seria o seu fim. Mais uma vez, conseguiu uma ajuda inesperada: uma águia apareceu, tirou o jarro de suas mãos e logo voltou com ele bem cheio de água negra. No entanto, a pior tarefa ainda estava por vir. Afrodite dessa vez pediu a Psique que fosse até o inferno e trouxesse para ela uma caixinha com a beleza imortal. Desta vez, uma torre lhe deu orientações de como deveria agir, e, assim, ela conseguiu trazer a encomenda. Tudo já estava próximo do fim quando foi dominada pela tentação de pegar um pouco da beleza imortal para tornar-se mais encantadora para Eros. Ela abriu a caixa e dali saiu um sono profundo, que em poucos segundos a fez tombar adormecida. A história acabaria assim se o amor não fosse correspondido. Por sorte Eros também estava apaixonado e desesperado. Ele pedira a Zeus. O deus dos deuses, que impedisse sua mãe de separá-los. Zeus então reuniu a assembléia dos deuses (que incluía Afrodite) e anunciou que Eros e Psique iriam se casar no Olimpo e que a noiva deveria tornar-se imortal. Hermes a conduziu ao palácio dos deuses e Zeus lhe ofereceu um doce que a tornou uma deusa e, por isto, imortal. Afrodite não poderia opor-se a que seu filho se casasse com uma deusa. Assim, Eros - o amor - e Psique - a alma - viveram juntos para sempre.


Prof. Manoelito