segunda-feira, 17 de junho de 2013

Alienação moral e o ser-para-outros - Jean Paul Sartre

Muitas pessoas sonham ou têm pesadelos onde aparecem sem roupa na rua, à frente de estranhos, Ficam aflitas e envergonhadas e só sentem alívio ao despertarem e perceberem que tudo não passou de um sonho. A partir disso, podemos pensar, filosoficamente, por que sentimos vergonha? Por que um bebê não sente vergonha de estar sem roupa?
Para Sartre, a vergonha vem do fato de que nós somos o que os outros nos revelam. Assim, no caso da vergonha, somos instituídos pela presença julgadora dos outros. Nós reconhecemos nossa existência a partir do significado que o outro nos atribui. Se me sinto envergonhado e acho que o que está acontecendo comigo é algo feio, é o outro que me revela nesse significado. Do mesmo modo, ao estar apaixonado, egoisticamente precisando ser amado, o outro me revela nessa necessidade.
Diferentemente do amor, que quer aprisionar o outro ao nosso lado, o ódio também revela quem somos. O ódio revela minha maldade, meu ser cruel, que despreza a liberdade do outro. Por isso, mesmo quem ri de nós nos institui. Enfim, cada um de nós experimenta a própria existência sob o olhar alheio.
Isso faz com que nossa relação com os outros seja tão íntima que precisamos assumir uma vida ética. Por mais que eu me considere de determinada maneira, sempre haverá quem nos mostra de modo diferente. Podemos até disfarçar, mas o ato de disfarçar já é colocar-se no mundo com base no outro. Por isso, Sartre chegou a dizer que o inferno são os outros. Não há como escapar disso: é preciso ser ético.

Alienação moral
Alienação moral é preocupar-se de maneira distorcida com o outro. Não é ignorá-lo, visto que é impossível, pois ele nos mostra em si como somos, mas traduzi-lo de uma forma que não permita essa revelação. No processo de alienação moral, uma pessoa trata as demais sem reflexão que permita o questiona-mento sobre diferenças, semelhanças, justiça, igualdade; sem pensar a si mesmo.
Sobre isso, Sartre afirmou que não podemos viver com morais alienantes, fora da história. A ética deve ser entendida como ação no mundo, sob o contingenciamento da história - história e ética se confundem. A alienação moral procura fazer com que a ação do passado seja repetida no presente; o que é bom é a cópia do que foi bom, ignorando as transformações que a história de cada um e das sociedades imputa a todos. Não podemos dizer, sem pensar, que o que era errado há 100 anos continuará sendo errado, que não deve haver mudanças.
Tanto quanto o organismo precisa de alimento, água e ar, nós, seres humanos, precisamos de ética. Sua falta pode significar a morte ou uma falsa vida, falsa individualidade e pseudoexistência. Sem ética, sem pensar no outro como revelador de nós mesmos, nós não passamos de pássaros que não têm asas. Sem agir em benefício dos outros, ainda que pensemos, teríamos as asas, mas mesmo assim não voaríamos.
Cabe, portanto, no presente, a preocupação de como devemos agir em relação ao outro. As mudanças de nosso tempo exigem uma reflexão a respeito de nossa convivência ética, com os desafios do mundo atual, para a construção da solidariedade entre os seres humanos.
Cabe a cada um de nós assumirmos a reflexão pura e sermos autênticos na perspectiva da solidariedade. Devemos nos reconciliar conosco e assumir a ação ética no mundo, mesmo que não tenhamos apoio: as atitudes antiéticas dos outros nos revelarão éticos.
Portanto, sermos éticos é assumirmos a responsabilidade com o outro, com aquele que não somos. Com base nisso, teremos a autenticidade da nossa própria vida e não a vileza de uma vida baseada em sistemas não-históricos. Afinal, é o outro que nos revela o que somos.

1 – Segundo Sartre, por que sentimos vergonha?
2 – Por que, Alienação moral é o inferno são os outros?
3 – O que é Alienação moral Segundo Sartre?
4 – Como se dá o processo de alienação moral?
5 – Compare as seguintes frases abaixo e conclua de acordo com o seu entendimento o que o autor quis demonstrar.
a) Tanto quanto o organismo precisa de alimento, água e ar;

b) Nós, seres humanos, precisamos de ética.

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