terça-feira, 13 de agosto de 2013

2ª SÉRIE - CONTEÚDOS PARA AVALIAÇÃO (1) - (3º BIMESTRE)


EE Batista Renzi
Disciplina: Filosofia
Área: Ciências Humanas e Suas Tecnologias
Etapa da Educação Básica: Ensino Médio
2ª Série – Volume 3 - 3º Bimestre
Temas e conteúdos: Filosofia Política e Ética
Prof. Manoelito

REFLEXÃO SOBRE HUMILHAÇÃO E VELHICE

O objetivo desta aula é introduzir o debate sobre a humilhação como resultado da desigualdade social para, em seguida, discutirmos a existência e a condição dos idosos em nossa sociedade.

A humilhação é um sentimento de desigualdade. Para José Moura Gonçalves Filho, do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP), a humilhação consiste em uma modalidade de angústia disparada pelo impacto traumático da desigualdade de classe, isto é, a angústia que se sofre quando alguém se depara com um abismo chamado desigualdade, o que corresponde a percepção de que, enquanto um esta em posição superior, o outro se coloca, violentamente, em uma posição inferior.
A desigualdade experimentada do lado de fora é internalizada como sofrimento, ao qual, muitas pessoas já estão habituadas.
Dessa maneira, além da humilhação crônica, que atinge os pobres, como resultado das desigualdades econômicas e políticas, experimenta-se uma espécie de angústia assumida pelo humilhado nas mais variadas manifestações de sua existência.
Mas quando uma pessoa é humilhada? Quando se mostra a ela uma diferença que a põe em situação de inferioridade. Por exemplo, quando um chefe grita com o funcionário, quando um adulto ou jovem ignora ou maltrata um idoso, quando uma mulher é agredida pelo marido, quando uma pessoa mais forte ameaça outra menos forte. Enfim, existe em nossa sociedade uma hierarquia constante que leva o humilhado a sentimentos que o agridem, como susto medo, pavor, tristeza, ódio, culpa, solidão, os quais, muitas vezes, são interiorizados pelas pessoas.

Na sociedade, todos são, em alguma medida, humilhados, mas, no caso das pessoas mais pobres, isso pode ser constante e ocorrer da infância à velhice. A humilhação contínua vai se acumulando e moldando as pessoas, levando-as a ter uma baixa auto-estima e tornando-as menos sensíveis, menos solidárias e até mesmo violentas.
O texto a seguir, é um trecho do livro Humilhação social de José Moura Gonçalves Filho e foi indicado no sentido de proporcionar uma sondagem inicial e subsidiar uma reflexão com base nas seguintes questões:
a)         O sentimento de humilhação limita-se às situações de desigualdade social?
b)         Dê um exemplo de situação de humilhação vivenciada por você ou outra pessoa. Qual é a principal causa para o sentimento de humilhação no exemplo destacado?
c)         Fingir que não tem importância ou agir violentamente resolve o sentimento da humilhação? Por quê?
d)        Você tem aceitado calado as humilhações ou tem procurado se defender de forma crítica, ou seja, analisando as motivações de quem o humilhou e contextualizando-as no conjunto de valores de nossa sociedade que merecem ser questionados?
e)         Cite momentos em que as instituições e o poder público humilham as pessoas (por exemplo: filas, mau atendimento médico-hospitalar, impunidade diante de práticas de corrupção). O que devemos fazer para que passem a respeitar as pessoas?

Duas questões merecem ainda ser consideradas sobre os efeitos da humilhação: 
1- A humilhação endurece as pessoas? 
2- A humilhação pode levar à criminalidade?

Leiam o texto:
"A humilhação é uma modalidade de angústia que se dispara a partir do enigma da desigualdade de classes. Angústia que os pobres conhecem bem e que, entre eles, inscreve-se no núcleo de sua submissão. Os pobres sofrem frequentemente o impacto dos maus-tratos. Psicologicamente, sofrem continuamente o impacto de uma mensagem estranha, misteriosa: 'vocês são inferiores'. E o que é profundamente grave: a mensagem passa a ser esperada, mesmo nas circunstâncias em que, para nós observadores externos, não pareceria razoável esperá-la. Para os pobres, a humilhação ou é uma realidade em ato ou é frequentemente sentida como uma realidade iminente, sempre a espreitar-lhes, onde quer que estejam, com quem quer que estejam. O sentimento de não possuírem direitos, de parecerem desprezíveis e repugnantes, torna-se-lhes compulsivo: movem-se e falam, quando falam, como seres que ninguém vê."

Ler e dialogar - A velhice
Nesta aula, vamos fazer a leitura de uma pequena biografia de Simone de Beauvoir. Vamos procurar entender as ideias desta pensadora, usando, especialmente, o livro A velhice (Tradução Maria Helena Franco Monteiro. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 5. ed. 2003).
Simone de Beauvoir procurou refletir sobre a exclusão dos idosos em sua sociedade, mas do ponto de vista de quem sabia que iria se tornar um deles, como quem pensava o próprio destino. Para ela, um dos problemas da sociedade capitalista está no fato de que cada indivíduo percebe as outras pessoas como meio para a realização de suas necessidades: proteção, riqueza, prazer, dominação. Desta forma, nos relacionamos com outras pessoas priorizando nossos desejos, pouco compreendendo e valorizando suas necessidades.
Esse processo aparece com nitidez em nossa relação com os idosos. Em seu livro, a pensadora demonstra que há uma duplicidade nas relações que os mais jovens têm com os idosos, uma vez que, na maioria das vezes, mesmo sendo respeitado por sua condição de pai ou de mãe, trata-se o idoso como uma espécie de ser inferior, tirando dele suas responsabilidades ou encarando-o como culpado por sobrecarga de compromissos que imputa a filhos ou netos.
Mesmo em situações de proteção, pode-se ter processos de humilhação quando, sem a devida atenção sobre as reais condições que apresentam os idosos para resolver com autonomia seus problemas, os mais jovens passam a subestimar os mais velhos, assumindo tarefas em seu lugar.
Quando não se respeita uma pessoa em sua integridade emocional, intelectual e material, ela é excluída da sociedade pelos governos, pelas instituições, pelas famílias, pelas pessoas em geral. Os grupos mais excluídos por essas práticas são as crianças e os idosos.
Em vários lugares, como bancos e supermercados, há caixas preferenciais para idosos, mas, mesmo que elas sejam suficientes para garantir seu conforto, será que suas condições sociais também o são? Há, também, a gratuidade no transporte coletivo, mas quem viaja de ônibus sabe que às vezes suas condições não são adequadas para transportar quem tem um corpo frágil.
Além do desamparo quanto às condições materiais, a desconsideração para com opiniões e emoções dos idosos também deve ser analisada para a superação das condições de humilhação sofrida por eles em nossa sociedade.
No texto A velhice, Simone de Beauvoir escreveu que o idoso é uma espécie de objeto incômodo, inútil, e quase tudo que se deseja é poder tratá-lo como quantia desprezível. Essa afirmação nos leva a refletir e nos motiva para a realização da seguinte pesquisa:

Vocês deverão acompanhar a rotina de um idoso e procurar as ocasiões em que essa pessoa sofre humilhações. Para isso, visitem um idoso, seja um familiar seja alguém que vive em uma instituição de caridade, etc. procurando sempre pensar nas demandas de atendimento a essa população.
Sugestão de questões que vocês devem considerar ao observar o idoso:

1.         Como o idoso é tratado pelos serviços públicos? Por exemplo: filas, sistema de transporte e aposentadoria: enfim, a maneira como o idoso é tratado na sociedade.
2.         Os seus rendimentos (pensões) são suficientes para as suas necessidades? Por exemplo: remédios, alimentação, lazer, água, luz e aluguel.
3.         Como ele é tratado pela família? Por exemplo: quem o visita, quem lhe telefona constantemente, de quem ele tem saudade.
4.         Onde ele encontra diversão fora da família? Por exemplo: grupos da terceira idade, trabalho voluntário, cinema e leitura.
5.         Quanto ele é dependente das pessoas? Por exemplo: ele passeia sozinho pela cidade? Consegue pagar suas contas? Mora sozinho?
6.      Como gostaria de ser valorizado? Por exemplo: ser ouvido, ganhar um pouco mais e ter um serviço publico melhor.
Após a pesquisa, discutam com os colegas o resultado da pesquisa, procurando aprofundar algumas das ideias de Simone de Beauvoir sintetizadas anteriormente, analisando o idoso como uma espécie de objeto incômodo e quase inútil na sociedade.
Vocês se lembram de alguma situação em que tenham presenciado, como, por exemplo, a filha ou o filho que não deixou o pai idoso responder livremente às questões interferindo sempre.

É importante ressaltar as dificuldades que os idosos encontram no cotidiano e quais as soluções possíveis para enfrentar essas dificuldades. Ora, como você sabe a vida do idoso não é apenas sofrimento, mas é preciso conhecer o que pode levá-lo a perder a alegria de viver. A reflexão crítica deve seguir esta orientação - O que faz o idoso sofrer? Como as pessoas o ajudam? Como o Estado tem (ou não tem) cumprido suas obrigações com os idosos? Como o idoso se ajuda?

Lembre-se de que o mais importante nessa pesquisa é a experiência de encontro entre um jovem e um idoso, com oportunidade de reflexão sobre as dificuldades da velhice.
É fundamental que nessa análise sobre as condições do idoso, não se perca de vista os avanços conquistados no Brasil em termos de atendimento à terceira idade.
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que podem ser encontrados no site <http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/25072002pidoso.shtm>, a população de idosos representa um contingente de quase 15 milhões de pessoas com 60 anos ou mais de idade (8,6% da população brasileira). Ainda segundo o IBGE, com um rendimento médio de R$ 657,00, o idoso ocupa, cada vez mais, um papel de destaque na sociedade brasileira. Além de constituir um contingente de interesse para objetivos de mercado, com diversos produtos voltados para pessoas de 60 anos ou mais, o idoso conta com políticas como transporte público gratuito, valor de meia-entrada em instituições de lazer e cultura como cinemas e museus, atendimento prioritário em filas de diferentes instituições.
Dentre as políticas públicas relativas ao idoso, merece destaque o Estatuto do Idoso, garantido pela Lei nº 10.741/2003 e que foi sancionada pelo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, em lº de outubro de 2003, publicada no Diário Oficial da União em outubro de 2003 e garantindo os direitos dos brasileiros com mais de 60 anos.
Sabemos que políticas de saúde e renda ainda deixam a desejar, mas não se pode negar que a terceira idade já se constitui como preocupação para autoridades e para a sociedade como um todo e conta com legislação que favorece sua luta pela conquista de direitos.

EXERCÍCIO:
1.      Qual é o principal aprendizado que você destaca a partir da realização da entrevista que fez com o idoso? Justifique sua resposta.
2.      Em termos de política pública, quais são as prioridades em relação ao atendimento ao idoso?
3.      Como a reflexão filosófica pode ajudar na compreensão e superação dos processos de humilhação sofridos pelos idosos em nossa sociedade?


REFLEXÃO SOBRE O RACISMO

O objetivo deste texto é provocar a discussão ética e política sobre o racismo, um tema cada vez mais abordado na Filosofia contemporânea, principalmente pela xenofobia européia tão recente. A inserção da Filosofia no currículo escolar exige a formação cidadã e, como não há cidadania teórica, vocês serão orientados a pensar o dia a dia para que possam agir de modo ético na sociedade.
Desenvolver as seguintes competências e habilidades: construir argumentação consistente; elaborar propostas para intervenção solidária na realidade respeitando valores humanos e considerando diversidade sociocultural; analisar a importância dos valores éticos na reflexão sobre racismo: identificar estratégias que promovam formas de inclusão social.

Vamos iniciar o nosso estudo ético e político com a seguinte questão para debate: existe racismo no Brasil? Essa questão vai nortear tanto os exercícios como a leitura dos textos. A presença do racismo no Brasil não é óbvia e, quando é afirmada, apresenta característica pouco crítica. O texto a seguir, do sociólogo Jair Batista da Silva, especialista em racismo no Brasil, apresenta-nos uma visão geral do problema. Faça a leitura do texto, atentos. A reflexão filosófica pode ajudá-los na compreensão e no questionamento sobre causas e formas de superação das manifestações racistas presentes em nossa sociedade.

A particularidade do racismo no Brasil
"Para oprimir e submeter, especialmente, os negros, o racismo no Brasil não necessitou de regras formais de discriminação, de desigualdade e de preconceito racial. O racismo como ideologia emprega e se alimenta de práticas sutis, de nuances e de representações que não precisam de um sistema rígido e formalizado de discriminação. Ao contrário das experiências norte-americana ou sul-africana que estabeleceram regras claras de ascendência mínima para definir seus grupos sociais, nas quais, por exemplo, uma gota de sangue negro era mais que suficiente para macular a suposta pureza racial dos brancos. As formas de classificação racial e a eficácia do racismo no Brasil nutriram-se sempre das formas mais maleáveis, mais flexíveis para atingir suas vítimas, porém essas sutilezas não deixam de ser igualmente perversas e nocivas para os indivíduos e coletividades atingidos.
De qualquer forma, essa sutileza, que informa o tipo de racismo presente no Brasil, segue de mãos dadas com as premissas de ideológica "democracia racial" que pretende afirmar e defender a inexistência do racismo, precisamente porque no país não há posições ou locais sociais que negros não possam ocupar. Não há cargo, posto de trabalho, lugar, emprego, profissão etc. em que os negros não possam competir. Todavia, basta uma breve observação na paisagem social para se verificar que a democracia racial ainda não chegou para os negros. Eles são minorias nas posições de maior reconhecimento, nas profissões melhor remuneradas, nos segmentes de melhor renda etc. Especialmente a mulher negra, que ocupa uma posição social extremamente desvantajosa quando comparada com o conjunto da população branca do país. Frequentemente ela exerce atividade de menor reconhecimento social, menor retorno salarial e de menor exigência de qualificação.
Para transformar essa situação, tão comum na paisagem social do Brasil, torna-se necessário a adoção de amplas políticas públicas que busquem minimizar as brutais desigualdades de renda, escolaridade, emprego, moradia, saúde etc. que afetam mais diretamente os negros. O que sugere uma substantiva transformação do desenho e da execução das políticas formuladas pelo Estado. Transformação que garanta efetivamente à maioria da população, especialmente aquela afrodescendente, o acesso aos elementares direitos de cidadania. Por exemplo, a ampliação das oportunidades de ensino deve vir acompanhada de mecanismos de manutenção dos estudantes nas instituições de ensino.
Pelo que se disse, reconhecer a existência e a eficácia da forma de racismo praticada no Brasil significa lutar para alcançar para a maioria da população brasileira, e para a população afrodescendente, em especial, o reconhecimento social de serem sujeitos portadores de direitos e igual dignidade humana. Reconhecimento que o racismo e a tão decantada, mas jamais praticada, democracia racial brasileira, insistem, sobretudo, em negar aos negros brasileiros'".
Para responder as questões a seguir, vocês deverão refletir sobre o racismo no Brasil. Após a leitura do texto respondam: Sua posição ainda é a mesma? Vocês haviam pensado sobre as questões levantadas pelo autor?
Pesquisa e análise de programas de televisão
Formem grupos com 5 alunos: Cada grupo ficará responsável por assistir a um canal e anotar os seguintes itens:
Nome do programa de TV:   
Tipo de programa: (   ) diversão  (   ) informação   (   ) comercial
Quantas pessoas foram apresentadas no programa?
Quantos negros havia na programação e quais os papéis por eles representados?  

Dialogar - O que é o racismo?
É fundamental que vocês entendam que este tema não tem o propósito de estabelecer um binarismo entre brancos e negros, mas sim de denunciar as situações histórico-sociais de discriminação de imensa parcela da população do nosso país.
Com o resultado da pesquisa sobre o conteúdo do programa de TV, discutam, com base no texto filosófico, o papel secundário que, na maioria das vezes, os negros desempenham na TV. Como sua figura é valorizada ou discriminada por esses papéis? Quais as diferenças ressaltadas? Quais os privilégios que são reforçados com isso?
A habilidade geral, a ser exercitada consiste na identificação de práticas racistas que, na maioria dos casos, acabam naturalizadas em nossa sociedade.

Sem dúvida, algo que pode ser encontrado até mesmo em nós.
A palavra raça, apesar de ter origem biológica, não tem base científica para definir, e muito menos classificar, seres humanos. Apesar disso, a sociedade faz uso da palavra raça com sentido político, isto é, para definir diferenças entre pessoas.
Para legitimar posições racistas, usa-se uma diferença biológica (que é superficial, pois não há raças entre os humanos) ou cultural (religião, modo de se vestir ou falar), justificando privilégios e exclusão social. O acusador coloca-se como superior em relação à vítima do racismo.
Quando exibimos as diferenças, de modo que ninguém seja agredido ou excluído ou colocado em uma condição de inferioridade, não se trata de racismo. Dizer que André é negro, Paulo é branco, Mário é loiro etc. não significa racismo. Dizer que Luísa tem um cabelo trançado muito bonito e Márcia tem um cabelo loiro dourado, não é racismo. No entanto, usar essas diferenças para discriminar ou tentar humilhar ou "diminuir" o outro consiste em racismo.
Por tudo isso, é importante identificar o racismo feito sem palavras e que pode ser expresso nas mais variadas formas de linguagem.
Ter amigos negros não faz de ninguém menos racista. Ser filho ou parente de negros também não. O que impede uma pessoa de ser racista é entender que o racismo é um mal cruel e excludente, que relega as vítimas à pobreza material e à destruição de seus valores e de sua cultura.
A relação do racista com a sua vítima está ligada, diretamente ao pensamento de dominação de um povo sobre outro, de um indivíduo sobre o outro. A atitude racista e uma atitude de dominação, característica dos processos de colonização que empreenderam diferentes impérios ao longo da história da humanidade. A dominação dos europeus contra africanos e americanos levou à escravização de negros e índios que tão bem conhecemos no Brasil.
O racismo não apenas mata, mas deixa morrer e faz matar. Por isso a escola deve valorizar atitudes antirracistas, para construir consciência e favorecer práticas de valorização da vida. Assim, o antirracismo se traduz em duas condições, uma ética e outra política. A condição ética trata de refletir sobre si para não cometer a violência. A condição política se ocupa de evitar ações racistas de outras pessoas e exigir que as autoridades promovam a inclusão das vítimas, participando ou se solidarizando com grupos representativos dessa minoria - que é minoria no usufruto dos seus direitos e não em termos de números.
Para não se comprometer com o racismo, é preciso ser antirracista, pois, quem não se opõe ao racismo diretamente coloca-se em uma opção de banalidade e omissão em relação às vítimas, e ainda colhe os frutos do racismo. Se a vítima não combate o racismo, então, vai colher os frutos da discriminação.

Ler e entender
A condição do negro está ligada ao racismo e à miséria. Considerando a população brasileira em geral, pode-se afirmar que raros são os casos nos quais os negros superam condição de pobreza ou mesmo de miséria e recebem notoriedade social.
A miséria causada pelo racismo e pelas políticas de Estado pós-libertação dos escravos e a despreocupação das autoridades geraram um contingente de excluídos ou marginalizados, que são reconhecidos pela mesma cor de pele, cabelo, lábios e cultura de raízes africanas - os negros.
A falta do mínimo necessário para a vida gerou e gera duas orientações: a revolta e a acomodação. A revolta pode ser política, isto é, negros e negras se encontram para discutir o que lhes faz sofrer e cobrar das autoridades a igualdade. A acomodação pode ser entendida como uma alienação. Muitos negros e negras simplesmente aceitam o papel que as elites lhes impuseram durante séculos - a de que eram trabalhadores braçais em situação precária. Por outro lado, a alienação pode gerar a vitimização: o indivíduo se vê sempre perseguido e incapaz de agir, o que resulta em baixa auto-estima. Em consequência, os negros valo¬rizam outras culturas, como a da hegemonia branca européia.
Para Sartre, o negro precisa encontrar a sua "negritude", que é a maneira dialética, ou a negação da injustiça, causada pelo capitalismo. A condição negra de miséria, de humilhação e exclusão social, foi gerada pelo capitalismo, em processos de escravização de um povo sobre outro povo. Do ponto de vista cultural, diferentemente do proletário eu¬ropeu, formado pelas fábricas, o negro teve um espaço para desenvolver sua cultura, que só podia ser uma cultura de resistência. Cada vez que um negro coloca uma roupa que expressa sua identidade, compõe uma música que fala de sua vida. não tenta moldar o seu corpo para ser igual aos outros, ele produz a "negritude'', a resistência cultural dentro do capitalismo racial e cristão. A negação do ato colonizador.
O capitalismo colocou o burguês e o trabalhador em oposição por meio de uma situação de exploração. Mas o capitalismo também colocou o branco europeu em oposição ao negro escravo e ao negro pós-libertação, o que também resultou em formas de exploração. O capitalista oprime o trabalhador enquanto, em certa medida, o trabalhador branco oprime o negro. Por isso, o negro deve assumir a consciência de que sua raça é explorada por uma questão social de dominação do homem branco e não por sua natureza biológica.
Em Sartre, ha uma diferença entre o trabalhador branco e o trabalhador negro, pois apesar de ambos sofrerem as dificuldades da pobreza, o negro sofre como negro, isto é, além da pobreza, ele encontra a discriminação junto àqueles que também são pobres e oprimidos, e até os trabalhadores brancos discriminam o trabalhador negro.
O que é preciso fazer? É preciso que cada um tome consciência de sua condição; que o trabalhador tome consciência de sua exploração e perceba que os problemas advêm de sua posição no mundo capitalista; que o ne¬gro identifique sua condição de submetido pelo racismo. Sob a inspiração de Sartre, pode-se pensar que a consciência de que é submetido ao racismo deve favorecer o entendimento por parte dos negros de que é preciso assumir-se como negro, sem negar origens africanas e história cultural, mas negando a condição de exclusão e inferioridade de que foram vítimas. Assim, o negro deve orgulhar-se de sua negritude, atribuindo significados positivos ao fato de ser negro.
Sartre inspira um pensamento de valorização do negro. Um olhar negro sobre o mundo. Uma compreensão de que o negro não pode ser conjugado como o mal.
A nossa cultura associa as palavras negro, negra e preto ou preta a ideias pejorativas. Por exemplo, o que significam as expressões "mercado negro", "o lado negro", "magia negra", "a coisa está preta"?
A ideia de negritude entendida como valorização do negro e crítica à visão negativa do mesmo impõe outra opção à ordem da cultura excludente. Sendo chamados de negros ou afrodescendentes, essas pessoas se encontraram pela negritude, que significa valorização do negro, da história dos povos africanos, da cultura negra e de uma nova visão sobre os negros, bem como sobre a importância de superação da exclusão social a que foram submetidos.
A negritude seria o desenvolvimento da cultura negra após a colonização. Nela, estaria uma inversão em oposição ao sistema eurocêntrico capitalista e branco. A negritude revela o racismo.

Exercício:
Dividir a turma em grupos, cada grupo vai escolher um dos seguintes temas: literatura, religião, música, culinária, dança, artes plásticas e manifestações populares da cultura afro-brasileira. Vocês deverão, pesquisar informações sobre esses elementos relacionados à cultura negra. Por exemplo, uma história de orixás, alguns passos da capoeira, poemas de negros, história e músicas de samba. E deverão apresentar essas informações na aula seguinte.
O racismo é material e subjetivo
O racismo não tem como consequência apenas a separação entre pessoas diferentes; o racismo é um conjunto de práticas que interferem diretamente na condição de vida de grande parte da população brasileira e mundial, acarretando modos de vida baseados em injustiças sociais, ausência de direitos e dificuldades materiais perversas.

No Brasil, há preconceito racial?
Elabore uma redação para entregar em folha avulsa, com o seguinte tema: Como incluir, socialmente, os milhões de afrodescendentes do Brasil? Essa redação, depois de corrigida, será  divulgada em blog na internet, com objetivo de defender igualdade de direitos para todos.
Como pesquisa, vocês poderão procurar grupos e associações de luta antirracista.

Proposta de questões para a pesquisa: Quais são os projetos e as estratégias do grupo para conseguir a igualdade? Quais são seus objetivos? Quais são os sonhos? Que descobertas você fez na presença dessas pessoas?

EXERCICIO:
Segundo os textos lidos responda:
a) Quais as principais causas para o racismo?
b) O que precisa ser mudado na postura das pessoas para a superação do racismo?
c) O que precisa ser mudado em termos de políticas públicas para a superação do racismo?

Recursos para ampliar a perspectiva do aluno para compreensão do tema
Livros
APPIAH, Kwame Anthony. Na casa de meu pai. Rio de Janeiro: Contraponto, 1997. Texto excelente que opta por criar uma Filosofia africana a partir de problemas pós-coloniais. Discute racismo, movimento pró-negro. África, biologia racial e outros temas de forma rigorosamente filosófica.
Cadernos de Cinema do Professor. Publicação da FDE, 2008, com indicações de filmes que poderão ser analisados com os alunos.
MEMMI, Albert. O racismo. Tradução Natércia Pacheco e Manuela Terraseca, Lisboa: Editorial Caminho, 2003.

SARTRE, Jean-Paul. Reflexões sobre o racismo. Tradução Jacob Guinsburg. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1968.

Sites
Porta Curtas. Disponível em: <http://www.portacurtas.com.br>. Acesso em: 17 jun. 2009. Traz vários curtas-metragens para trabalhar com o tema racismo (Xadrez das Cores) e outros assuntos. Além disso, oferece todo o apoio didático-pedagógico para os professores, incluindo DVDs com material para escola - o projeto "Curta na Escola".
Scielo. Disponível em: <http://www.scielo.org>. Acesso em: 17 jun. 2009. Há mais de 104 artigos acadêmicos de diversas áreas sobre racismo.














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