EE Batista Renzi
Disciplina: Filosofia
Área: Ciências
Humanas e Suas Tecnologias
Etapa da Educação
Básica: Ensino Médio
1ª Série – Volume 3 -
3º Bimestre
Temas e conteúdos:
Filosofia Política
Dois Modelos de
Estado: Liberal e Anarquista; Capitalismo segundo Marx
Prof. Manoelito
DOIS MODELOS DE
ESTADO: LIBERAL E ANARQUISTA
Muitos
filósofos trataram do tema Estado, como fruto de um pacto ou contrato a partir
da união dos indivíduos. Em geral, esses filósofos se basearam no direito
natural, ou seja, no jusnaturalismo. Hobbes, Rousseau e Locke discordaram do
significado exato desses direitos, mas, de qualquer forma, muitas de suas
teorias filosóficas foram bem-aceitas por uma classe tipicamente moderna, que é
a burguesia. Em síntese, esse ideário ajudou a burguesia a se libertar da
mediação política da tradição medieval e da Igreja Católica. De modo especial,
John Locke, ao se referir aos direitos naturais, pensava que todos nascem com
direito: à vida; à liberdade; à propriedade.
Por
isso, é função do Estado fazer com que a vida, a liberdade e a propriedade de
cada um sejam respeitadas. Dessa maneira, a burguesia, que estava em plena
ascensão entre os séculos XVII e XVIII, encontrou nessa teoria uma das bases
para a legitimação de seu poder. Com a teoria do indivíduo proprietário e livre
para lucrar com o comércio e a indústria, constituiu-se o fundamento do
liberalismo. No liberalismo, o Estado é responsável pela guarda das
propriedades particulares contra os pobres, já que esses teriam perdido sua
propriedade por usarem mal a própria liberdade. Assim, a pobreza é tida como
responsabilidade do pobre, que deve usar a sua liberdade para o trabalho como
fonte de novas propriedades.
1.
Quais
são os direitos que os seres humanos têm pelo simples fato de nascerem?
O direito à vida, que primordialmente
inclui direito a alimentação, saúde, cuidados maternos, afeto, acolhimento
pelos adultos, garantia de desenvolvimento saudável física, intelectual e
emocionalmente.
2.
Se
todos os seres humanos nascem iguais, por que há tanta desigualdade entre eles?
Pode-se orientar essa resposta
valendo-se da contribuição de Hobbes: no estado de natureza, os homens
apresentam instintos que os levam a disputar com outros homens territórios,
fêmeas, alimentos, abrigos. Essa disputa implica vitórias de alguns, que passam
a se distinguir por serem proprietários ou por conseguirem impor sua dominação
sobre os demais.
Existem
profundas diferenças entre os homens. Mas, em vez de causas naturais, essas
diferenças têm causas sociais. Alguns se alimentam bem todos os dias, têm muito
dinheiro, trabalham poucas horas e dispõem de tempo e condições para desfrutar
das mais variadas formas de lazer. Enquanto isso, outros vivem situações
absolutamente inversas.
La
Boétie procurou explicar o motivo pelo qual as pessoas obedecem o tirano. Suas
observações e reflexões o levaram a afirmar que a sujeição de muitos por um
tirano está relacionada muito mais com desejo do que com medo. Essa é a fonte
do poder tirano: o desejo de poder de quem ele subjuga. Isso porque os menos
favorecidos que se sujeitam ao tirano desejam também o poder porque este é o
meio de ter posses. Para garantir a posse dos bens, deseja-se a tirania e, para
tê-la, acaba-se por obedecer ao tirano. Dessa maneira, as pessoas perdem sua
liberdade no momento em que obedecem às outras, em busca da tirania para
alcançar seus bens. Para La Boétie, essas pessoas se tornam escravas por livre
vontade, vivendo uma verdadeira servidão voluntária.
Segundo
La Boétie, elas entregam a sua liberdade e se tornam escravas por um salário
bem baixo para um dia poderem conseguir bens. É o desejo de bens e de riqueza
que torna esses indivíduos servos voluntários, e não simplesmente a luta pela
sobrevivência. Por isso, se o poder de quem está no topo da pirâmide social é
alimentado pelo desejo de bens das pessoas que estão abaixo, contra isso só há
uma maneira para alcançar de novo a liberdade: não desejar mais bens
desnecessários. Dessa forma, não há mais a busca e/ou aceitação da tirania de
outras pessoas.
Dialogar – O
anarquismo
No
senso comum, o anarquismo é algo sem organização, em que qualquer um pode fazer
o que bem entende. A teoria anarquista não defende que cada um possa fazer o
que bem entende, mas sim que a organização política deva ser de modo tal que
cada indivíduo possa participar do poder sem a instalação de um Estado que
governe a todos. Os anarquistas têm como centro da ação política o indivíduo
livre, autônomo, ou seja, capaz de se autogovernar e de participar de sociedade
na qual a descentralização do poder é um princípio fundamental. A autonomia no
anarquismo exige que o indivíduo livre exerça a sua própria autoridade, sendo
essa a única possível. Ou seja, no anarquismo, espera-se que as pessoas não
precisem de governo para poder viver, pois se acredita que os seres humanos
tenham a capacidade de viver em paz e em liberdade.
Por
isso, os anarquistas combateram o Estado. Para eles, o Estado não garante a
liberdade; pelo contrário, provoca a escravidão, pois controla a vida de todos,
desde o nascimento até a morte. Por exemplo, quando nascemos, temos de ser
registrados e, depois, temos de tirar vários documentos. No caso dos homens,
aos 18 anos, é obrigatória a apresentação para o serviço militar. Finalmente,
precisamos de autorização até mesmo para o sepultamento, quando ganhamos mais
um documento – o atestado de óbito –, para provar que estamos mortos. Para os
anarquistas, o Estado destrói a vida das pessoas, quer pela burocracia, quer pelo
uso da força, como é o caso da polícia. Quanto à democracia burguesa, merece
ser criticada e superada por favorecer a desigualdade social e não permitir a
construção de uma sociedade de liberdade para todos.
O
movimento anarquista surgiu na metade do século XIX. Anarquismo pode ser definido
como uma doutrina que defende o fim de qualquer forma de autoridade e dominação
política, econômica, social e religiosa. Os anarquistas defendem uma sociedade
baseada na liberdade e na responsabilidade. O anarquismo é contrário à existência
de governo, e de qualquer tipo de instituição que envolva relação de autoridade.
Defendem também o fim do sistema capitalista, da propriedade privada e do
Estado. Os anarquistas defendem uma sociedade baseada na liberdade dos indivíduos,
solidariedade e apoio mútuo, coexistência harmoniosa, propriedade coletiva,
autodisciplina, responsabilidade e forma de governo baseada na autogestão, por
meio de conselhos comunitários com participação de todos nas decisões políticas.
Liberdade e
responsabilidade
Poderíamos
resumir a ação direta do anarquismo nessas duas palavras: liberdade e
responsabilidade, uma vez que seu ideário propõe a eliminação de toda forma de
hierarquia entre os homens. Em vez de existirem o Estado e as fronteiras, os
seres humanos viveriam em comunidades autogovernadas que decidiriam quem seria
responsável por resolver os problemas (o que não significa atribuir-lhes
autoridade). Para facilitar, os esquemas a seguir permitem visualizar, mais
claramente, a concepção de política anarquista em comparação à concepção
liberal de Estado.
Autoridade
“Decorre
daí que rejeito toda autoridade? Longe de mim este pensamento. Quando se trata
de botas, apelo para a autoridade dos sapateiros; se trata de uma casa, de um
canal ou de uma ferrovia, consulto a do arquiteto ou a do engenheiro. Por tal ciência
especial, dirijo-me a este ou àquele cientista. Mas não deixo que me imponham
nem o sapateiro, nem o arquiteto, nem o cientista. Eu os aceito livremente e
com todo o respeito que me merecem sua inteligência, seu caráter, seu saber,
reservando, todavia, meu direito incontestável de crítica e de controle. Não me
contento em consultar uma única autoridade especialista, consulto várias;
comparo suas opiniões, e escolho aquela que me parece a mais justa. Mas não
reconheço nenhuma autoridade infalível, mesmo nas questões especiais;
consequentemente, qualquer que seja o respeito que eu possa ter pela humanidade
e pela sinceridade deste ou daquele indivíduo, não tenho fé absoluta em
ninguém. Tal fé seria fatal à minha razão, à minha liberdade e ao próprio sucesso
de minhas ações; ela me transformaria imediatamente num escravo estúpido, num
instrumento da vontade e dos interesses de outrem. [...] Inclino-me diante da
autoridade dos homens especiais porque ela me é imposta por minha própria
razão. Tenho consciência de só poder abraçar, em todos os seus detalhes e seus
desenvolvimentos positivos, uma parte muito pequena da ciência humana. A maior
inteligência não bastaria para abraçar tudo. Daí resulta, tanto para a ciência
quanto para a indústria, a necessidade da divisão e da associação do trabalho.
Recebo e dou, tal é a vida humana. Cada um é dirigente e cada um é dirigido por
sua vez. Assim, não há nenhuma autoridade fixa e constante, mas uma troca
contínua de autoridade e de subordinação mútuas, passageiras e, sobretudo,
voluntárias. Esta mesma razão me proíbe, pois, de reconhecer uma autoridade
fixa, constante e universal, porque não há homem universal, homem que seja
capaz de aplicar sua inteligência, nesta riqueza de detalhes sem a qual a
aplicação da ciência a vida não é absolutamente possível, a todas as ciências,
a todos os ramos da atividade social. E, se uma tal universalidade pudesse ser
realizada em um único homem, e se ele quisesse se aproveitar disso para nos
impor sua autoridade, seria preciso expulsar esse homem da sociedade, visto que
sua autoridade reduziria inevitavelmente todos os outros à escravidão e à
imbecilidade. Não penso que a sociedade deva maltratar os gênios como ela o fez
até o presente momento; mas também não acho que os deva adular demais, nem lhes
conceder quaisquer privilégios ou direitos exclusivos; e isto por três razões:
inicialmente porque aconteceria com frequência de ela tomar um charlatão por um
gênio; em seguida porque, graças a este sistema de privilégios, ela poderia transformar
um verdadeiro gênio num charlatão, desmoralizá-lo, animalizá-lo; e, enfim,
porque ela daria a si um senhor”.
A
principal mensagem do texto pode ser identificada na afirmação do autor de que não
nega toda a autoridade, mas não se deixa dominar por apenas uma, comparando orientações
de diversas autoridades e especialistas em determinado assunto. Não se deixa
dominar refletindo e analisando o que dizem diferentes autoridades, mas
buscando sua própria resposta ou solução.
CAPITALISMO
SEGUNDO MARX
Neste
texto, vamos estudar a filosofia elaborada por Karl Marx para compreender o ser
humano e a sociedade humana.
Como
reflexão inicial, pense sobre a seguinte questão: Como o homem se distingue dos
animais? Aponte algumas características exclusivas do ser humano. Uma distinção
importante entre homens e animais está na palavra, na linguagem falada e na
construção de culturas que as linguagens faladas e escritas permitem.
Trabalho e modos
de produção
De
acordo com Marx e Engels, podem-se distinguir os homens dos animais de
diferentes maneiras: por exemplo, pelo fato de terem consciência, religião ou
qualquer outra característica que se queira mencionar (a linguagem, a
racionalidade etc.). No entanto, eles próprios começam a se distinguir a partir
do momento em que passam a produzir os meios necessários à conservação de sua
vida1. “Pode-se referir a consciência, a religião e tudo o que se quiser como
distinção entre os homens e os animais; porém, esta distinção só começa a
existir quando os homens iniciam a produção dos seus meios de vida, passo em
frente que é consequência da sua organização corporal. Ao produzirem os seus
meios de existência, os homens produzem indiretamente a sua própria vida
material.”2
De
fato, diferentemente dos outros animais, que necessitam se adaptar à natureza para
sobreviver, o ser humano é capaz de transformá-la e adaptá-la às suas
necessidades (de alimentação, de proteção contra predadores e intempéries da
natureza, de reprodução da espécie etc.), produzindo, assim, ele próprio, as
condições necessárias à sua existência. Para tanto, o homem é capaz de produzir
ferramentas e técnicas que ele vai aperfeiçoando ao longo do tempo e que
facilitam e tornam mais produtivo o seu trabalho de transformação da natureza e
satisfação de suas necessidades. É nesse sentido que, como lembra Marx,Benjamin
Franklin definiu o homem como “a toolmaking animal ”, isto é, “um animal que faz
instrumentos de trabalho”.3
As
formas como os homens produzem coletivamente os bens necessários à sua
sobrevivência variaram ao longo da história da humanidade, dando origem aos
diferentes modos de produção, tais como: o modo de produção primitivo, o
escravista, o asiático, o feudal, o capitalista, o socialista.
Em
geral, os modos de produção se constituem de dois elementos fundamentais: as forças
produtivas e as relações de produção.
Por
forças produtivas entende-se o conjunto dos agentes que impulsionam o processo produtivo.
Incluem:
•
os meios de produção: instrumentos, ferramentas, utensílios, terra, edifícios, instalações,
máquinas, matéria-prima etc.;
•
a força de trabalho: a energia muscular e cerebral com a qual os trabalhadores,
valendo-se dos meios de produção, possibilitam que o processo produtivo
aconteça.
Quanto
mais desenvolvidas as forças produtivas, maior a produtividade do trabalho.
Leitura e
Análise de Texto
As
relações de produção são as relações que os homens estabelecem entre si e com a
natureza no processo produtivo. De um modo geral, elas são determinadas pela
forma de propriedade dos meios de produção. Por exemplo, no modo de produção
primitivo a propriedade dos meios de produção era coletiva, o que permitia que
todos participassem da produção e do consumo dos bens necessários à comunidade.
Nesse tipo de sociedade predominavam relações sociais mais igualitárias, de
cooperação e ajuda mútua. Por outro lado, em um modo de produção em que os
meios de produção são de propriedade privada ou particular e no qual os seus
proprietários se apropriam do produto do trabalho dos não proprietários, as
relações sociais predominantes são de conflito e antagonismo. Tem-se, nesse
caso, uma sociedade de classes: a dos proprietários e a dos não proprietários
dos meios de produção. Pode-se dizer, portanto, que a origem da sociedade de
classes, ou da desigualdade social, está na propriedade privada dos meios de
produção.
A
seguir vamos examinar um pouco mais de perto o modo de produção capitalista, à luz
das análises que dele foram feitas por Karl Marx.
1 MARX, K; ENGELS, F. A ideologia alemã. p. 4.
Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.
do?select_action=&co_obra=2233>.
Acesso em: 11 jan. 2010.
2 Idem, ibidem.
3 MARX, Karl. O capital. Parte III, cap. 7: Processo
de trabalho e processo de produção de mais-valia. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=2433>.
Acesso em: 11 jan. 2010.
1.
O que significa a expressão de Benjamin Franklin: o homem é “a toolmaking
animal”, isto é, “um animal que faz instrumentos de trabalho”? A expressão
toolmaking animal significa que o ser humano é capaz de produzir ferramentas e
técnicas que ele vai aperfeiçoando ao longo do tempo e ampliando sua capacidade
de transformação da natureza.
2.
Em folha avulsa, registre a partir do que foi entendido sobre os conceitos
“modo de produção”, “forças produtivas”, “meios de produção”, “força de
trabalho” e “relações de produção”.
O modo de
produção capitalista e suas classes fundamentais
Vimos
que os modos de produção se constituem por forças produtivas e relações de produção,
sendo essas determinadas pela forma de propriedade dos meios de produção.
Leitura e
Análise de Texto
No
caso do modo de produção capitalista, ele se caracteriza pela propriedade
privada dos meios de produção, da qual decorre a existência de duas classes
sociais fundamentais:
A
burguesia ou classe capitalista (proprietária), numericamente minoritária, e o
proletariado ou classe trabalhadora, isto é, a classe dos que, desprovidos dos
meios de produção, são obrigados, para garantir sua sobrevivência, a vender sua
força de trabalho à burguesia em troca de um salário. Poder-se-ia falar, ainda,
em uma classe intermediária, formada por indivíduos que nem possuem meios de
produção, nem trabalham para aqueles que os possuem. Seriam os profissionais
liberais de todo tipo (médicos, engenheiros, advogados etc.) e os que atuam no
setor de serviços. Contudo, o que determina o caráter do modo de produção
capitalista são as duas classes fundamentais – burguesia e proletariado – mais diretamente
envolvidas no processo produtivo.
Uma
vez que detém o poder econômico e, consequentemente, o poder político, a
burguesia se constitui como classe dominante, ao passo que o proletariado se
configura como classe dominada.
O
principal objetivo do capitalista como classe social é obter lucro, isto é, uma
soma de dinheiro superior à que ele investiu na produção de mercadorias. Isso
acontece da seguinte maneira.
Inicialmente,
o capitalista emprega certa quantidade de dinheiro (D) para comprar as
mercadorias (M) de que precisa para produzir, tais como máquinas, ferramentas,
instalações, prédios, energia elétrica, combustível, água, matéria-prima, entre
outras. Em suma, ele adquire os meios de produção. Além disso, precisa comprar
também a força de trabalho que vai interagir com as máquinas e com os
equipamentos e impulsionar a produção.
(Como
veremos adiante, no capitalismo a força de trabalho, isto é, o trabalhador, também
se converte em mercadoria, e numa mercadoria muito especial.) Ao final do
processo, as mercadorias produzidas deverão ser vendidas por um valor superior
ao que o capitalista investiu (D’), proporcionando a ele o lucro desejado. A
fórmula que expressa esse movimento é: D → M → D’.
O
dinheiro usado pelo capitalista para comprar as mercadorias (incluindo a força
de trabalho) de que precisa para produzir outras mercadorias cuja venda lhe
trará mais dinheiro do que tinha antes (lucro) é denominado capital. Portanto,
ao contrário do que muitos pensam, não é qualquer dinheiro acumulado que pode
ser chamado de capital. O dinheiro que alguém guarda na poupança para comprar
um bem de que necessita, por exemplo, não é propriamente capital. Nas palavras
de Marx:
“A
primeira distinção que notamos entre dinheiro que é apenas dinheiro e dinheiro que
é capital está na sua forma de circulação.
A
forma mais simples de circulação de mercadorias é M – D – M, a transformação da
mercadoria em dinheiro e a transformação do dinheiro novamente em mercadoria;
ou vender para comprar. Mas ao lado dessa forma encontramos uma outra forma
especificamente diferente: D – M – D, a transformação de dinheiro em mercadoria
e a transformação de mercadorias novamente em dinheiro; ou, comprar para
vender. Dinheiro que circula nesta
1.
Identifique
e defina as classes sociais fundamentais do modo de produção capitalista.
Burguesia
e proletariado são as classes fundamentais do capitalismo. Burguesia é classe
detentora dos meios de produção e que acumula capital e proletariado são os
trabalhadores.
2.
Qual
é a diferença entre dinheiro como dinheiro e dinheiro como capital?
O dinheiro como dinheiro não é utilizado
para obtenção de lucro, sendo utilizado numa forma de circulação de mercadorias
M-D-M, ou seja, vende-se uma mercadoria para a obtenção de dinheiro para a
compra de outra mercadoria. O dinheiro como capital visa a obtenção de lucro.
Circula sob forma D-M-D, ou seja, compra-se uma mercadoria para vendê-la com
valor maior, assim com lucro.
3.
Considere as seguintes situações hipotéticas:
•
João quer comprar um tênis novo. Para tanto, resolve juntar algum dinheiro. Ao
atingir a soma necessária, dirige-se à loja de calçados e adquire o tênis
desejado.
•
O proprietário de uma fábrica de calçados lança mão de uma certa quantidade de
dinheiro para comprar couro de um curtume para usá-lo em sua produção. Ao
vender os calçados fabricados, espera ter lucro e acumular mais dinheiro.
Pergunta: O dinheiro usado por
João e pelo proprietário da fábrica de calçados pode ser chamado de capital?
Justifique.
R. O dinheiro
usado por João não é capital, mas o dinheiro do proprietário com o qual compra
o couro é capital, como elucidam os textos anteriormente estudados.
LEITURA E ANÁLISE DE TEXTO
A mais-valia
Vimos
que, nas relações sociais capitalistas, o trabalhador (proletário) precisa
vender sua força de trabalho que, desse modo, converte-se em mercadoria. Mas a
força de trabalho tem uma peculiaridade que a torna especial comparativamente
às demais mercadorias.
Vejamos por quê:
O
valor de uma mercadoria é determinado pela quantidade média de trabalho que ela
contém, isto é, pela quantidade de trabalho socialmente necessária para sua
produção. Essa quantidade é medida pelo tempo de duração desse trabalho,
expresso em horas, dias etc.
Os
meios de produção adquiridos pelo capitalista são mercadorias já produzidas pelo
trabalho de outrem. Por isso, o trabalho que há nelas é denominado por Marx
trabalho pretérito ou trabalho morto realizado pela máquina a um custo menor e
com o mesmo efeito no mercado. Essas mercadorias possuem um valor constante
que, uma vez pago, não mais se altera significativamente. Por isso, o capital
usado na sua compra denomina-se capital constante. Seu custo é repassado
gradativamente para os produtos, permitindo que o capitalista recupere o
investimento realizado. Essas mercadorias, portanto, não são capazes de criar
mais valor do que aquele que possuíam originalmente.
A
mercadoria força de trabalho também possui um valor específico, representado pelo
salário. Esse valor, como o de qualquer outra mercadoria, é determinado pelo
tempo de trabalho socialmente necessário à sua produção. Mas o que significa
produzir a mercadoria força de trabalho? Significa garantir ao trabalhador as
condições necessárias à sua existência, o que implica satisfazer suas
necessidades fisiológicas (reprodução, alimentação, vestuário, habitação,
saúde, transporte, segurança etc.) e culturais (educação, qualificação, lazer
etc.).
Ocorre
que a força de trabalho possui uma qualidade que a distingue de todas as outras
mercadorias: sendo trabalho vivo, ao ser utilizada pelo capitalista ela cria
valor, ou seja, ela produz mais valor do que o necessário para sua produção e
reprodução. Em outras palavras, ela gera para o capitalista um valor maior do
que o do salário que ele lhe paga. Por isso o capital empregado na sua compra
denomina-se capital variável. Como ocorre esse processo de criação de valor?
Digamos
que para produzir o equivalente ao valor de seu salário um trabalhador
precisasse trabalhar quatro horas diárias. No entanto, é obrigado a trabalhar
oito horas. As quatro horas excedentes correspondem ao valor a mais por ele
produzido e que não lhe retorna na forma de salário. Esse valor excedente
produzido pelo trabalhador é o que se denomina mais-valia. Apropriada pelo
capitalista, é ela que lhe permite cobrir os custos da produção e, ainda,
auferir lucros e acumular capital para continuar investindo e enriquecendo.
Trata-se,
no fundo, de uma troca bastante desigual: os trabalhadores recebem um valor x e
entregam ao capitalista um valor y muitas vezes superior a x. Esse processo de
extração da mais-valia constitui a essência do modo de produção capitalista,
sua lógica interna de funcionamento. Não há capitalismo sem mais-valia. Graças
a ela, por mais bem remunerado que seja um trabalhador, seu salário será sempre
inferior ao valor total produzido ao longo de sua jornada de trabalho. Eis por
que a sociedade capitalista é, por natureza, fundada na exploração do trabalho
e geradora de desigualdade. Não foi à toa que Marx comparou o capital aos
vampiros:
“Mas
o capital tem um único impulso vital, a tendência para criar valor e
mais-valor, para fazer sua parte constante, os meios de produção, absorver a
maior quantidade de mais-trabalho possível.
O
capital é trabalho morto que, como vampiro, vive apenas de sugar trabalho vivo,
e vive tanto mais quanto mais trabalho suga”.1
Se
a desigualdade é inerente à sociedade capitalista, a sua eliminação definitiva
supõe, necessariamente, a abolição desse modo de produção e a construção de
novos tipos de relações de produção.
1.
Em que sentido a força de trabalho é uma mercadoria especial? A força de
trabalho é uma mercadoria especial, no sentido de criar valor, ou seja, gera
para o capitalista um valor maior do que o salário que ele paga, pois, se o trabalhador
precisa trabalhar 4 horas para produzir o valor do seu trabalho, ao trabalhar 8
horas ele produz o valor excedente que permite ao capitalista cobrir custos e
obter lucros.
2.
Você concorda com a comparação feita por Marx entre o capital e os vampiros?
Justifique. Resposta
aberta, a depender da concordância ou discordância do aluno. Espera-se a
compreensão sobre comparação presente no texto e registre seu posicionamento a
respeito justificando o mesmo.
3.
Analise o significado das frases a seguir, posicionando-se em relação a elas.
a)
Todo trabalho dignifica o homem? Resposta aberta, a depender da discussão do
grupo. É importante lembrar que nem todo trabalho dignifica o homem.
b)
Todos os homens são iguais perante a lei? Resposta aberta, a depender da
discussão do grupo. Um comentário importante é que, apesar dessa igualdade
prevista pela lei, na prática temos desigualdades verificadas em diversos
campos da vida social: saúde, educação, trabalho, lazer.
c)
O salário do trabalhador corresponde à quantidade de horas por ele trabalhadas?
Nem sempre o salário corresponde à quantidade de horas trabalhadas. Nem todos
os trabalhadores recebem por hora trabalhada e, além disso, a maioria trabalha
mais do que seria necessário para pagar seu salário, o que permite a geração de
valor de capital que abarca lucro e custos do empregador.
d)
O lucro das empresas se deve à inteligência, à competência e ao espírito
empreendedor dos empresários? O lucro não depende da inteligência, da competência
e do espírito empreendedor do empresário e, sim, do fato de que este mesmo
lucro que é acumulado em suas mãos não é distribuído entre os trabalhadores que
produziram sua riqueza e resulta da mais-valia, ou seja, do fato de o empregado
trabalhar mais do que o necessário para cobrir o valor de seu salário.
A ideologia
Leitura e Análise de Texto
Vimos
que o modo de produção capitalista funda-se na exploração do trabalho da maioria
pela minoria, mediante o processo de extração da mais-valia. Poder-se-ia,
então, perguntar: como essa situação se sustenta? Por que as massas exploradas
não se revoltam e não transformam essa realidade?
Em
grande parte porque os interesses particulares da classe dominante (mais-valia,
lucro, acumulação de capital) são apresentados como universais, isto é, como se
fossem interesses de toda a sociedade. Como dizem Marx e Engels:
“Com
efeito, cada nova classe no poder é obrigada, quanto mais não seja para atingir
os seus fins, a representar o seu interesse como sendo o interesse comum a
todos os membros da sociedade ou, exprimindo a coisa no plano das ideias, a dar
aos seus pensamentos a forma da universalidade, a representá-los como sendo os
únicos razoáveis, os únicos verdadeiramente válidos”.1
Isso
acontece porque a classe que domina a produção econômica em uma determinada sociedade
domina também a produção das ideias que circulam nessa sociedade, de modo que
as suas ideias se tornam as ideias dominantes. Como dizem Marx e Engels:
“Os
pensamentos da classe dominante são também, em todas as épocas, os pensamentos dominantes,
ou seja, a classe que tem o poder material dominante numa dada sociedade é
também a potência dominante espiritual. A classe que dispõe dos meios de
produção material dispõe igualmente dos meios de produção intelectual, de tal
modo que o pensamento daqueles a quem são recusados os meios de produção
intelectual está submetido igualmente à classe dominante”.2
Esse
processo pelo qual a classe dominante confere um caráter universal aos seus
interesses e às suas ideias é o que se denomina ideologia. Os meios de produção
espiritual de que falam os autores são os diversos veículos pelos quais a
classe dominante produz e difunde as ideias, os valores, as visões de mundo que
lhe interessam: os meios de comunicação de massa (TV, rádio, jornais, revistas
etc.), a escola, os livros, as religiões, entre outros.
Em
suma, o papel da ideologia (na concepção aqui apresentada) é produzir uma visão
distorcida da realidade, mostrando como universais os interesses particulares
da classe dominante, a fim de legitimar e perpetuar as relações de produção
capitalistas.
Algo
semelhante ocorre com o Estado. Para Marx e Engels, a ideia de que ele é
formado por um conjunto de instituições (governo, forças armadas, sistema
jurídico, funcionalismo público etc.) que governam uma nação em prol do bem
comum não passa de ilusão, de uma falsa universalidade. Na realidade, porém, o
Estado “não é mais do que a forma de organização que os burgueses constituem
pela necessidade de garantirem mutuamente a sua propriedade e os seus
interesses”.3
1 MARX, Karl;
ENGELS, F. A ideologia alemã. p. 30. Disponível em:
<http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.
do?select_action=&co_obra=2233>. Acesso em: 11
jan. 2010.
2 Idem, p. 29.
3 Idem, p. 59.
1.
Você diria que as frases apresentadas na atividade anterior são ideológicas? Em
que sentido? Justifique. As
frases apresentadas são ideológicas, porque justificam a exploração capitalista
do trabalho e do trabalhador. Não apresentam todos os lados da questão
levantada, mas afirmam parte de uma realidade como se fosse sua totalidade.
2.
Cite outra frase que, a seu ver, pode ser ideológica, justificando sua
indicação.
VOCÊ APRENDEU?
1.
Descreva o processo pelo qual se dá a obtenção de lucro no capitalismo.
2.
De que forma a filosofia marxista colabora para a compreensão do capitalismo?
A
filosofia de Marx colabora para a compreensão do capitalismo ao perguntar pelos
mecanismos de exploração capitalista; ao analisar o processo de transformação
da força de trabalho em mercadoria; e ao questionar a divisão da sociedade em
classes e a propriedade dos meios de produção.
Prof.
Manoelito
2. Cite outra frase que, a seu ver, pode ser ideológica, justificando sua indicação.
ResponderExcluir1. Descreva o processo pelo qual se dá a obtenção de lucro no capitalismo.
essas duas nao estao respondidas, respostas por favor
grato. ainda hoje.