segunda-feira, 18 de novembro de 2013

1ª SÉRIE CONTEÚDOS PARA AVALIAÇÃO (2) (4º BIMESTRE)

EE BATISTA RENZI DISCIPLINA: FILOSOFIA ÁREA: CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS ETAPA DA EDUCAÇÃO BÁSICA: ENSINO MÉDIO 1ª SÉRIE – VOLUME 4 - 4º BIMESTRE TEMAS E CONTEÚDOS: OS DIREITOS HUMANOS E PARTICIPAÇÃO POLÍTICA PROF. MANOELITO OS DIREITOS HUMANOS O objetivo deste texto é estudar os Direitos Humanos e refletir sobre eles. PESQUISA INDIVIDUAL 1. Realize uma pesquisa sobre o processo de elaboração do documento que se denomina Declaração Universal dos Direitos Humanos. Os livros didáticos de História e outras obras presentes na biblioteca da escola trazem esta informação, e mesmo na internet você poderá encontrar relatos sobre o contexto no qual se originou o documento em questão. Registre a seguir uma síntese sobre o que encontrar. 2. Além de estudar o processo que deu origem à Declaração Universal dos Direitos Humanos, pesquise a respeito das leis brasileiras que se fundamentam na defesa dos direitos humanos. Procure especificamente a lei de 13/07/1990, sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente, e a lei de 01/10/2003, sobre o Estatuto do Idoso. Registre comentários sobre estas leis e a Declaração dos Direitos Humanos e procure destacar os avanços e as limitações presentes nestes documentos. Declaração Universal dos Direitos Humanos “Adotada e proclamada pela Resolução no 217 A (III) da Assembleia Geral das Nações Unidas em 10 de dezembro de 1948. Preâmbulo Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família humana e de seus direitos iguais e inalienáveis é o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo, Considerando que o desprezo e o desrespeito pelos direitos humanos resultaram em atos bárbaros que ultrajaram a consciência da Humanidade e que o advento de um mundo em que os homens gozem de liberdade de palavra, de crença e da liberdade de viverem a salvo do temor e da necessidade foi proclamado como a mais alta aspiração do homem comum, Considerando essencial que os direitos humanos sejam protegidos pelo Estado de Direito, para que o homem não seja compelido, como último recurso, à rebelião contra tirania e a opressão, Considerando essencial promover o desenvolvimento de relações amistosas entre as nações; que os povos das Nações Unidas reafirmaram, na Carta, sua fé nos direitos humanos fundamentais, na dignidade e no valor da pessoa humana e na igualdade de direitos dos homens e das mulheres, e que decidiram promover o progresso social e melhores condições de vida em uma liberdade mais ampla; que os Estados-Membros se comprometeram a desenvolver, em cooperação com as Nações Unidas, o respeito universal aos direitos humanos e liberdades fundamentais e a observância desses direitos e liberdades; que uma compreensão comum desses direitos e liberdades é da mais alta importância para o pleno cumprimento desse compromisso. A Assembleia Geral proclama a presente Declaração Universal dos Direitos Humanos como o ideal comum a ser atingido por todos os povos e todas as nações, com o objetivo de que cada indivíduo e cada órgão da sociedade, tendo sempre em mente esta Declaração, se esforce, através do ensino e da educação, por promover o respeito a esses direitos e liberdades, e, pela adoção de medidas progressivas de caráter nacional e internacional, por assegurar o seu reconhecimento e a sua observância universais e efetivos, tanto entre os povos dos próprios Estados-Membros quanto entre os povos dos territórios sob sua jurisdição. Leitura e Análise de Texto Artigo I Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotadas de razão e consciência e devem agir em relação umas às outras com espírito de fraternidade. Artigo II Toda pessoa tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição. Artigo III Toda pessoa tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal. Artigo IV Ninguém será mantido em escravidão ou servidão, a escravidão e o tráfico de escravos serão proibidos em todas as suas formas. Artigo V Ninguém será submetido à tortura, nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante. Artigo VI Toda pessoa tem o direito de ser, em todos os lugares, reconhecida como pessoa perante a lei. Artigo VII Todos são iguais perante a lei e têm direito, sem qualquer distinção, a igual proteção da lei. Todos têm direito a igual proteção contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação. Artigo VIII Toda pessoa tem direito a receber dos tribunais nacionais competentes remédio efetivo para os atos que violem os direitos fundamentais que lhe sejam reconhecidos pela Constituição ou pela lei. Artigo IX Ninguém será arbitrariamente preso, detido ou exilado. Artigo X Toda pessoa tem direito, em plena igualdade, a uma audiência justa e pública por parte de um tribunal independente e imparcial, para decidir de seus direitos e deveres ou do fundamento de qualquer acusação criminal contra ele. Artigo XI 1. Toda pessoa acusada de um ato delituoso tem o direito de ser presumida inocente até que a sua culpabilidade tenha sido provada de acordo com a lei, em julgamento público no qual lhe tenham sido asseguradas todas as garantias necessárias à sua defesa. 2. Ninguém poderá ser culpado por qualquer ação ou omissão que, no momento, não constituíam delito perante o direito nacional ou internacional. Tampouco será imposta pena mais forte do que aquela que, no momento da prática, era aplicável ao ato delituoso. Artigo XII Ninguém será sujeito a interferências na sua vida privada, na sua família, no seu lar ou na sua correspondência, nem a ataques à sua honra e reputação. Toda pessoa tem direito à proteção da lei contra tais interferências ou ataques. Artigo XIII 1. Toda pessoa tem direito à liberdade de locomoção e residência dentro das fronteiras de cada Estado. 2. Toda pessoa tem o direito de deixar qualquer país, inclusive o próprio, e a este regressar. Artigo XIV 1. Toda pessoa, vítima de perseguição, tem o direito de procurar e de gozar asilo em outros países. 2. Este direito não pode ser invocado em caso de perseguição legitimamente motivada por crimes de direito comum ou por atos contrários aos propósitos e princípios das Nações Unidas. Artigo XV 1. Toda pessoa tem direito a uma nacionalidade. 2. Ninguém será arbitrariamente privado de sua nacionalidade, nem do direito de mudar de nacionalidade. Artigo XVI 1. Os homens e mulheres de maior idade, sem qualquer restrição de raça, nacionalidade ou religião, têm o direito de contrair matrimônio e fundar uma família. Gozam de iguais direitos em relação ao casamento, sua duração e sua dissolução. 2. O casamento não será válido senão com o livre e pleno consentimento dos nubentes. Artigo XVII 1. Toda pessoa tem direito à propriedade, só ou em sociedade com outros. 2. Ninguém será arbitrariamente privado de sua propriedade. Artigo XVIII Toda pessoa tem direito à liberdade de pensamento, consciência e religião; este direito inclui a liberdade de mudar de religião ou crença e a liberdade de manifestar essa religião ou crença, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pela observância, isolada ou coletivamente, em público ou em particular. Artigo XIX Toda pessoa tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e ideias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras. Artigo XX 1. Toda pessoa tem direito à liberdade de reunião e associação pacíficas. 2. Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de uma associação. Artigo XXI 1. Toda pessoa tem o direito de tomar parte no governo de seu país, diretamente ou por intermédio de representantes livremente escolhidos. 2. Toda pessoa tem igual direito de acesso ao serviço público do seu país. 3. A vontade do povo será a base da autoridade do governo; esta vontade será expressa em eleições periódicas e legítimas, por sufrágio universal, por voto secreto ou processo equivalente que assegure a liberdade de voto. Artigo XXII Toda pessoa, como membro da sociedade, tem direito à segurança social e à realização, pelo esforço nacional, pela cooperação internacional e de acordo com a organização e recursos de cada Estado, dos direitos econômicos, sociais e culturais indispensáveis à sua dignidade e ao livre desenvolvimento da sua personalidade. Artigo XXIII 1. Toda pessoa tem direito ao trabalho, à livre escolha de emprego, a condições justas e favoráveis de trabalho e à proteção contra o desemprego. 2. Toda pessoa, sem qualquer distinção, tem direito a igual remuneração por igual trabalho. 3. Toda pessoa que trabalhe tem direito a uma remuneração justa e satisfatória, que lhe assegure, assim como à sua família, uma existência compatível com a dignidade humana, e a que se acrescentarão, se necessário, outros meios de proteção social. 4. Toda pessoa tem direito a organizar sindicatos e neles ingressar para proteção de seus interesses. Artigo XXIV Toda pessoa tem direito a repouso e lazer, inclusive a limitação razoável das horas de trabalho e férias periódicas remuneradas. Artigo XXV 1. Toda pessoa tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e a sua família saúde e bem-estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis, e direito à segurança em caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistência fora de seu controle. 2. A maternidade e a infância têm direito a cuidados e assistência especiais. Todas as crianças nascidas dentro ou fora do matrimônio gozarão da mesma proteção social. Artigo XXVI 1. Toda pessoa tem direito à instrução. A instrução será gratuita, pelo menos nos graus elementares e fundamentais. A instrução elementar será obrigatória. A instrução técnico-profissional será acessível a todos, bem como a instrução superior, esta baseada no mérito. 2. A instrução será orientada no sentido do pleno desenvolvimento da personalidade humana e do fortalecimento do respeito pelos direitos humanos e pelas liberdades fundamentais. A instrução promoverá a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e grupos raciais ou religiosos, e coadjuvará as atividades das Nações Unidas em prol da manutenção da paz. 3. Os pais têm prioridade de direito na escolha do gênero de instrução que será ministrada aos seus filhos. Artigo XXVII 1. Toda pessoa tem o direito de participar livremente da vida cultural da comunidade, de fruir as artes e de participar do processo científico e de seus benefícios. 2. Toda pessoa tem direito à proteção dos interesses morais e materiais decorrentes de qualquer produção científica, literária ou artística da qual seja autor. Artigo XXVIII Toda pessoa tem direito a uma ordem social e internacional em que os direitos e liberdades estabelecidos na presente Declaração possam ser plenamente realizados. Artigo XXIX 1. Toda pessoa tem deveres para com a comunidade, em que o livre e pleno desenvolvimento de sua personalidade é possível. 2. No exercício de seus direitos e liberdades, toda pessoa estará sujeita apenas às limitações determinadas pela lei, exclusivamente com o fim de assegurar o devido reconhecimento e respeito dos direitos e liberdades de outrem e de satisfazer às justas exigências da moral, da ordem pública e do bem-estar de uma sociedade democrática. 3. Esses direitos e liberdades não podem, em hipótese alguma, ser exercidos contrariamente aos propósitos e princípios das Nações Unidas. Artigo XXX Nenhuma disposição da presente Declaração pode ser interpretada como o reconhecimento a qualquer Estado, grupo ou pessoa, do direito de exercer qualquer atividade ou praticar qualquer ato destinado à destruição de quaisquer dos direitos e liberdades aqui estabelecidos.” Declaração Universal dos Direitos Humanos. Disponível em: . Acesso em: 23 abr. 2010. Com um colega, escolha dois artigos da Declaração Universal dos Direitos Humanos e analise sua realização prática no Brasil. Para tanto, responda se os artigos são cumpridos ou não, e apresente as hipóteses ou informações para justificar este não cumprimento. Aponte também algumas sugestões para a efetiva realização dos artigos. Registre no seu caderno conteúdo desta análise. 1. Selecione imagens de revistas, da internet e de jornais e, ainda, poesias ou letras de música sobre a violação dos Direitos Humanos no Brasil. Com esse material, você poderá elaborar cartazes para serem afixados em diferentes espaços da escola, contribuindo, assim, para visualização e conscientização dessas violações. 2. Faça uma análise dos programas de televisão a que você gosta de assistir e verifique se eles colaboram ou não para a reflexão sobre a violação dos Direitos Humanos. Registre no caderno seus comentários. 3. Considerando a afirmação presente no Artigo XXVII da Declaração Universal dos Direitos Humanos, de que: “Toda pessoa tem o direito de participar livremente da vida cultural da comunidade, de fruir as artes e de participar do processo científico e de seus benefícios”, comente os impedimentos para que este direito se apresente de forma generalizada para todos os brasileiros. 4. Elabore uma redação sobre o tema: a Declaração dos Direitos Humanos como avanço teórico na perspectiva democrática e as exigências para sua efetiva garantia. Visite os sites aqui listados e confira informações importantes sobre o tema. • BIBLIOTECA Virtual de Direitos Humanos. Disponível em: . Acesso em: 23 abr. 2010. • FóRUM Brasileiro de Segurança Pública. Disponível em: . Acesso em: 23 abr. 2010. • NAÇõES Unidas no Brasil. Disponível em: . Acesso em: 23 abr. 2010. PARTICIPAÇÃO POLÍTICA Neste texto, a discussão central será baseada nas questões relativas à participação política. Vamos iniciar com uma pergunta básica: Como a expressão “participação política” se faz presente em sua experiência de vida? Leitura e Análise de Texto Participação política: bem mais do que um voto A “participação política” é uma expressão que pode ser associada a diferentes práticas, que reúnem pessoas em torno de objetivos comuns para a vida comunitária, quer seja essa comunidade um bairro, quer seja uma aldeia, uma cidade, um Estado ou um país. Em nossa sociedade, a participação política pode ser identificada nas seguintes práticas: • Eleição de representantes para legislar ou executar propostas de interesse geral; exercício do papel de representante; participação em movimentos sociais e partidos políticos; • Participação em entidades como sindicatos, grêmios e diretórios acadêmicos. Para a maioria da população brasileira, a participação política resume-se ao momento da escolha de candidatos como representantes nos Poderes Legislativo e Executivo. O voto torna-se, assim, a principal atividade associada à participação política. Os desafios políticos e sociais próprios da sociedade contemporânea exigem que a participação política se amplie para além do voto, caracterizando-se pelo acompanhamento das ações dos representantes legisladores – vereadores, deputados e senadores – e dos executores de leis e políticas públicas – prefeitos, governadores e o presidente da República – e também pela participação em movimentos sociais, de acordo com interesses da comunidade. Tais desafios constituem as novas relações de trabalho, com o fim de muitas conquistas trabalhistas, e a exclusão de grande número de pessoas em termos do acesso a bens como saúde, educação e moradia. Há também o desafio de controle da corrupção em todos os níveis, mas, sobretudo, no que se refere a desvios de recursos públicos. A participação política adequada para enfrentar todos esses problemas não se limita ao voto, não se limita a eleger um candidato e deixar que ele faça o que bem entender. Trata-se de uma participação política que possa superar o individualismo e as práticas que garantem vantagens materiais e poder para alguns, em detrimento da maioria. 1. Como é possível acompanhar as ações dos representantes eleitos para cargos legislativos e executivos? 2. Por que os desafios do mundo atual exigem mais participação política para garantia dos Direitos Humanos? 3. PESQUISA EM GRUPO Com seu grupo, reflita sobre as respostas obtidas nas entrevistas realizadas sobre as necessidades de sua comunidade. Ouça as respostas obtidas por seus colegas e discuta com eles os problemas que precisam de solução com mais urgência. Em seguida, apresente suas prioridades em um painel que contemple as necessidades de todos os grupos. Após as apresentações, você poderá escolher uma proposta, entre duas possibilidades, para ser negociada com o professor. 4. Como uma das justificativas para a participação política pode ser encontrada na necessidade de melhoria das comunidades, entreviste um morador do seu bairro, que pode ser uma pessoa de sua família ou de seu grupo de amizade, e pergunte: “O que nós precisamos, com urgência, em nossa comunidade? E como poderemos encaminhar essa proposta?” Registre a seguir o resultado da entrevista em seu caderno. • Possibilidade 1 – Eleger uma necessidade indicada por todos os colegas da classe para escrever uma carta e solicitar a uma autoridade, como o prefeito, por exemplo, o encaminhamento de uma solução. • Possibilidade 2 – Eleger uma necessidade por grupo para elaborar a carta para essa mesma autoridade. Considerando qualquer uma das possibilidades, é interessante que você se organize com seus colegas para entrar em contato com movimentos sociais ou partidos políticos de sua cidade. A ideia é apresentar as necessidades priorizadas e também o conjunto levantado durante as entrevistas. Com a vivência desse processo, você estará participando politicamente em uma perspectiva adequada aos desafios de sua cidade ou de seu bairro. 5. A participação política pode ser expressa por meio de diversas práticas. Destaque uma prática com a qual você se identifica e justifique sua resposta. 6. A participação política sempre se fez necessária, porém os problemas do mundo contemporâneo tornam essa participação urgente e levam à perspectiva de superação do individualismo e dos benefícios associados a apenas alguns privilegiados. Por quê?

2ª SÉRIE - CONTEÚDOS PARA AVALIAÇÃO (2) - (4º BIMESTRE)

EE BATISTA RENZI DISCIPLINA: FILOSOFIA ÁREA: CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS ETAPA DA EDUCAÇÃO BÁSICA: ENSINO MÉDIO 2ª SÉRIE – VOLUME 4 - 4º BIMESTRE TEMAS E CONTEÚDOS: A CONDIÇÃO HUMANA E A BANALIDADE DO MAL PROF. MANOELITO A CONDIÇÃO HUMANA E A BANALIDADE DO MAL *Neste texto, vamos abordar a condição humana e a banalidade do mal com base em contribuições de Hannah Arendt. A partir disso, você será convidado a refletir sobre sua ação em meio à sociedade. Almeja-se com esse tema dar a vocês a possibilidade do exercício da reflexão crítica para pensar a condição humana. Começaremos a nossa reflexão analisando a letra da música “Comida” de Arnaldo Antunes, Marcelo Fromer e Sérgio Britto. Comida Bebida è água. Comida é pasto. Você tem sede de que? Você tem fome de que? A gente não quer só comida, A gente quer comida, diversão e arte. A gente não quer só comida, A gente quer saída para qualquer parte. A gente não quer só comida, A gente quer bebida, diversão, bale. A gente não quer só comida. A gente quer a vida como a vida quer. Bebida é água. Comida é pasto. Você tem sede de que? Você tem fome de que? A gente não quer só comer, A gente quer comer e quer fazer amor. A gente não quer só comer, A gente quer prazer pra aliviar a dor. A gente não quer só dinheiro, A gente quer dinheiro e felicidade. A gente não quer só dinheiro, A gente quer inteiro e não pela metade. A música é uma reflexão sobre o fato de que os seres humanos não se reduzem às suas necessidades materiais. Dialogar e ler - A condição humana Qual é a condição humana? O que é isso? Para Hannah Arendt, a condição de homens e mulheres consiste em três atividades fundamentais da "vida ativa", sem as quais não há sobrevivência. O labor consiste na atividade biológica do corpo, produção e consumo próprio do mundo privado. O trabalho consiste na atividade com que os homens transformam o ambiente natural em artificial. Garante estabilidade diante da instabilidade da natureza. A ação consiste na atividade em relação a outros homens; efetivamente, é a experiência política. Especificamente humana, a ação tem como condição a pluralidade de atos e palavras. Diretamente, cada uma dessas atividades é associada a outros elementos: o Labor ao Eu, o Trabalho ao Mundo e a Ação ao Outro. Essas três atividades estão intimamente ligadas ao nascimento e à morte, à natalidade e à mortalidade. O labor não apenas assegura a vida do indivíduo, mas o perpetua a espécie. Com o trabalho, a vida pode durar mais, pois os benefícios e o conforto gerados criam um mundo mais adaptado para a vida humana. Por mais que a vida seja efêmera, o trabalho permite maior permanência desta mesma vida. Pela ação, fundada na memória e na linguagem, criam-se a história e o encontro político entre os seres humanos. A ideia de natalidade ou nascimento é muito importante no pensamento de Hannah Arendt. Cada bebê traz a certeza de um mundo novo, uma nova maneira de agir. Cada nascimento é uma nova possibilidade para o mundo. A condição humana consiste na afirmação de que homens e mulheres são seres condicionados, porque tudo aquilo com o que entram em contato torna-se uma condição para a sua existência, tanto em si mesmos quanto no mundo e com os outros. Por isso, a condição humana não deve ser confundida com a natureza humana. São categorias totalmente diferentes. A condição humana se refere ao condicionamento dos homens para a manutenção de sua existência, em face de si mesma, do mundo e dos outros. Já a natureza humana seria a essência do homem, impossível de ser alcançada pelo próprio homem. A vitória do Labor Para Hannah Arendt, o homem moderno experimenta o problema de ter a dimensão do labor como a mais importante. A relação com os outros e com o mundo acaba substituída pela imediata satisfação das necessidades básicas. A vida, quando privilegia o labor, os prazeres biológicos, comer, dormir, beber, ter relações sexuais, trabalhar, apenas com o objetivo de sobrevivência, torna-se tão básica quanto estas necessidades. Quando tratamos o mundo como uma forma de alcançar nossos objetivos imediatos, o que chamamos de trabalho deixa de ser transformação para ser labor; ele vira repetição sem fim, na desgastante rotina dos trabalhadores: alienação. O agir também se reduz ao labor, na me-dida em que nossa relação com os outros não é nem de gratuidade nem de busca política, como o desenvolvimento humano de todos. Os outros são meros objetos, por meio dos quais nossas satisfações são realizadas, e a política deve ser orientada para o labor, para o básico, e nada mais. Segundo Hannah Arendt, a tarefa da educação é introduzir os novos num mundo que é mais velho. As crianças, que ainda não assumem responsabilidade pelo mundo, precisam apropriar-se dos saberes para que, futuramente, possam agir no mundo. Quando isto não ocorre, a escola não é espaço de agir em busca de uma comunidade mais sábia. E o que dizer da família, das associações, dos amigos, dos colegas, das festas, dos encontros, das artes? Cada um desses espaços coletivos deveria abarcar o agir em função da felicidade de todos. Mas o agir assim caracterizado não é predominante e sofre limitação dos objetivos que cercam o labor. Agora, você pode indicar a leitura do seguinte texto. Como você sabe, o texto é fundamental para o aprofundamento no que diz respeito à leitura filosófica. "Se compararmos o mundo moderno com o mundo do passado, veremos que a perda da experiência humana acarretada por esta marcha de acontecimentos é extraordinariamente marcante. Não foi apenas, e nem sequer basicamente, a contemplação que se tornou experiência inteiramente destituída de significado. O próprio pensamento, ao tornar-se mera 'previsão de consequências', passou a ser função do cérebro, com o resultado de que se descobriu que os instrumentos eletrônicos exercem essa função muitíssimo melhor do que nós. A ação logo passou a ser, e ainda é concebida em termos de fazer e de fabricar, exceto que o fazer, dada a sua mundanidade e inerente indiferença à vida, é agora visto como apenas outra forma de labor, como função mais complicada, mas não mais misteriosa, do processo vital. No entretempo, demonstramos ser suficientemente engenhosos para descobrir meios de atenuar as fadigas e penas da vida, ao ponto em que a eliminação do labor do âmbito das atividades humanas já não pode ser considerada utópica. Pois, mesmo agora, 'labor' é uma palavra muito elevada, muito ambiciosa para o que estamos fazendo ou pensamos que estamos fazendo no mundo em que passamos a viver. O último estágio de uma sociedade de operários, que é a sociedade de detentores de empregos, requer de seus membros um funcionamento puramente automático, como se a vida individual realmente houvesse sido afogada no processo vital da espécie, e a única decisão ativa exigida do indivíduo fosse deixar-se levar, por assim dizer, abandonar a sua individualidade, as dores e as penas de viver ainda sentidas individualmente, e aquiescer num tipo funcional de conduta entorpecida e 'tranquilizada'. O problema das modernas teorias do behaviorismo não é que estejam erradas, mas sim que podem vir a tornar-se verdadeiras, que realmente constituem as melhores conceituações possíveis de certas tendências óbvias da sociedade moderna. É perfeitamente concebível que a era moderna - que teve início com um surto tão promissor e tão sem precedentes de atividade humana - venha a terminar na passividade mais mortal e estéril que a História jamais conheceu."ARENDT, Hannah. A condição humana. Tradução Roberto Raposo. 10. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2007. p. 335. Quais as limitações que o labor oferece para o agir, de acordo com o pensamento de Hannah Arendt? O labor na sociedade moderna apresenta limites ao agir quando, em nossa relação com o outro, nós nos comportamos como se ele fosse um objeto para nos servir. Qual o principal ensinamento presente na contribuição de Hannah Arendt sobre a condição humana? As releituras sempre permitem a identificação dos ensinamentos, mas uma ideia é fundamental: nem todas as práticas ou ações humanas são voltadas para o que a autora chama de agir, que é o processo de construção da felicidade de todos. Dialogar - A banalidade do mal O que vem a ser o mal? O mal sempre foi uma reflexão importante para a filosofia. Mas como entendê-lo tomando-se por base o pensamento reflexivo e critico? A pergunta de Hannah Arendt orbita em torno dessa formulação. Como é possível que no século XX, os homens convivam com um mal como o nazismo, por exemplo? Pensando nos campos de extermínio nazistas, que mataram milhões de pessoas por motivos banais, entender que foram tão poucos os que a eles se opuseram? Os nazistas associavam sinais aos prisioneiros durante a Segunda Guerra Mundial. Os prisioneiros eram escravizados, torturados e assassinados por não serem, conforme estabeleciam as normas nazistas - arianos, heterossexuais, racionais, racistas e, em suma, nazistas. Conforme seu nascimento, sua religião, orientação sexual e postura política, o indivíduo era violentamente arrancado de sua casa, sem que seus amigos ou vizinhos se opusessem. Analise o cartaz que traz os símbolos nazistas para identificação dos prisioneiros dos campos de concentração. Os símbolos eram usados nos campos de extermínio nazistas para marcar os prisioneiros e indicar o tipo de violência a eles destinada. Chamar Auschwitz ou Treblinka de campos de concentração acaba escondendo sua mórbida finalidade que consistia em exterminar pessoas, e não em reuní-las em uma comunidade. Esses símbolos, em sua maioria, marcavam pessoas comuns, presas e condenadas sem julgamento justo. Embora não seja difícil desaprovar uma forma de "justiça" que condena pessoas à morte por motivos religiosos, étnicos, por orientação sexual e outras razões igualmente injustificáveis. Hannah Arendt foi além, mostrando que esse mal não estava apenas nos soldados assassinos ou em Hitler, mas em todos os que não usavam, para combatê-lo, sua faculdade mais sublime, que é o pensamento. A banalização do mal está, justamente, no fato de que as pessoas são apenas supérfluas e não criticas, fingindo que aquilo não lhes diz respeito, pensando somente em si. Eichmann, durante seu julgamento, ao fim do qual foi condenado à morte por crimes contra a humanidade. Ao contrário de muitos que viam em Eichmann a personificação do mal, Arendt viu nele uma figura banal. Para ela, são as pessoas banais que se omitem ou fazem as piores atrocidades. O mal não é sedutor nem monstruoso, como a mitologia pinta, mas banal, comum, ordinário. Eichmann não era um pivô, uma parte fundamental, mas apenas uma peça na engrenagem nazista, que poderia ser muito bem ser substituída por outra. Por ser peça de uma engrenagem, Eichmann apenas viveu a atividade do labor. Procurou apenas sobreviver, sem refletir sobre o modo como vivia. Sem aprofundar sua sobrevivência, apenas executou ordens, obedeceu e lucrou com isso, enquanto pôde. Mas suas ordens faziam parte de um sistema de destruição: matou crianças, mães, pais, jovens, idosos, sem questionar se aquilo, realmente, era ou não um mal. E, se o fez, não assumiu outras dimensões da vida ativa, como o trabalho e a ação; trabalho, como construção de um mundo, e ação, como o que permite que esse mundo seja melhor. Banalidade do mal na democracia Eichmann matou e deixou morrer por "obedecer a ordens". Durante o nazismo, o povo alemão matou e deixou morrer "por não saber o que acontecia". Os judeus foram mortos, mas também deixaram morrer, porque muitos não se revoltaram, não reagiram. Enfim, Hannah Arendt aponta para uma dimensão terrível do mal, terrível porque ele, não está apenas nos grandes assassinos da história, nos vilões, mas em todas as pessoas que não se comprometem com a vida, em todas as pessoas que matam ou deixam morrer. Ainda segunda essa ótica, como encarar as pessoas que votam em políticos corruptos por causa da propaganda, ignorando os fundamentos críticos da vida política (ação)? Ora, a corrupção começa no instante em que as pessoas não se importam com a política. Cada indivíduo que não procura entender a política, escondendo-se atrás de desculpas, é culpado pela corrupção. Como a corrupção mata? Com a diminuição do número de hospitais, centros de alimentação, casas de acolhida para adolescentes e crianças; com escolas mal aparelhadas, professores mal pagos, empresas que adulteram remédios e alimentos; com o aumento da falta de segurança nas ruas do número de policiais mal remunerados e correndo risco de morrer; com cadeias superlotadas que não recuperam ninguém... Enfim, se alguém morre por algum dos efeitos do desvio de verbas, o eleitor também é responsável por essa morte. Para quem banaliza o mal, é fácil culpar apenas um ou outro político. Mas o que se deve pensar é como cada um age. Muitos políticos envolvidos em sucessivos escândalos continuam a ganhar eleições - eis uma banalidade do mal: votar sem analisar e desconfiar, dar o voto a gente suspeita. O que significa a ideia de que o labor venceu o agir e o trabalho. O homem e seus atos passam a ser entendidos como alguma coisa automática, “como se a vida individual realmente houvesse sido afogada no processo vital da espécie”. No limite, a condição humana é confundida com a natureza humana. O que significa a expressão "banalidade do mal”. A “banalidade do mal” é uma expressão associada à crítica de Hannah Arendt à ausência de reflexão que leva à reprodução de ações violentas. Podem-se utilizar o exemplo dos nazistas e, também,os exemplos da sociedade atual. Releia este trecho de Hannah Arendt: "[...] O último estagio de uma sociedade de operários, que é a sociedade de detentores de empregos, requer de seus membros um funcionamento puramente automático, como se a vida individual realmente houvesse sido afogada no processo vital da espécie, e a única decisão ativa exigida do indivíduo fosse deixar-se levar, por assim dizer, abandonar a sua individualidade, as dores e as penas de viver ainda sentidas individualmente, e aquiescer (consentir, ceder) num tipo funcional de conduta entorpecida e tranquilizada” (ARENDT,2009). Este trecho trata da: a) Vida ativa; b) Vitória do labor; c) Atividade do trabalho; d) Atividade do agir; e) Banalidade do mal. Assinale as alternativas corretas a respeito do pensamento de Hannah Arendt: a) O labor é a atividade humana referente às necessidades biológicas. b) O trabalho é a atividade humana referente à construção do mundo humano, que não é somente trabalhar para ganhar dinheiro, e sim construir melhorias, como a arte. c) A ação diz respeito à relação entre as pessoas; é a dimensão política por excelência. d) O labor é a parte fundamental da vida humana e por isso Arendt vê com bons olhos a sua vitória sobre as outras dimensões da vida ativa. e) A banalidade do mal significa a ação de pessoas que agem de forma monstruosa. Releia com atenção o seguinte trecho de Hannah Arendt: "É perfeitamente concebível que a era moderna, que teve início com um surto tão promissor e tão sem precedentes de atividade humana, venha a terminar na passividade mais mortal e estéril que a História jamais conheceu." Para a autora, essa "passividade mais mortal'' significa que: a) O homem moderno está centrado apenas nas necessidades básicas, ou seja, na vitória do labor; b) O homem não reage contra as adversidades; c) Por causa da poluição as pessoas estão ficando estéreis; d) Ninguém procura se aprofundar sobre a existência, privilegiando a prática mais imediata e se esquecendo do trabalho de transformar o mundo e da ação política; e) A história moderna inicia com um surto e acaba calma e tranquila. Faça um resumo sobre os conceitos de condição humana e banalidade do mal. Com base em uma questão da sociedade brasileira atual, escrevam um texto sobre a banalidade do mal, (exemplos: a violência contra os mendigos, um episódio de racismo e/ou preconceito, o desrespeito aos indígenas, o trabalho infantil, a morte de bebes em maternidades, a adulteração de remédios ou alimentos) Prof. Manoelito Boas Férias

3ª SÉRIE - CONTEÚDOS PARA AVALIAÇÃO (2) 4º - BIMESTRE

EE BATISTA RENZI DISCIPLINA: FILOSOFIA ÁREA: CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS ETAPA DA EDUCAÇÃO BÁSICA: ENSINO MÉDIO 3ª SÉRIE – VOLUME 4 - 4º BIMESTRE TEMAS E CONTEÚDOS: SER FELIZ É PRECISO E FELICIDADE E COMPROMISSO: CONSIGO E COM O OUTRO SER FELIZ É PRECISO Neste texto, vamos trabalhar a Filosofia em relação a algumas questões próprias do cotidiano atual dos jovens brasileiros e que cercam o tema felicidade. Tais questões referem-se às representações que associamos à ideia de felicidade, como o prazer imediato, o consumo, como levar vantagens em diferentes situações competitivas, ter sucesso e reconhecimento social, e ainda como viver a vida densa de glamour que é propagandeada em anúncios nos meios de comunicação de forma geral. Diante de tudo isso, uma pergunta fundamental é: "Quais os fetiches associados à ideia de felicidade em nosso cotidiano cultural?" Competências e habilidades a serem desenvolvidas: relacionar informações, representadas de formas variadas, com conhecimentos disponíveis em diferentes situações, para construir argumentação consistente (Enem); problematizar o tema felicidade, tendo em vista questões da sociedade brasileira contemporânea, e sensibilizar-se quanto à relevância de refletir de forma sistemática e rigorosa sobre tais questões; ler, compreender e interpretar textos teóricos e filosóficos; expressar-se por escrito e oralmente de forma sistemática; elaborar hipóteses e questões sobre leituras e debates realizados. Abordaremos também a relação entre o tema felicidade e as questões destacadas neste texto. Então, propomos a leitura de uma poesia bastante conhecida de Manuel Bandeira: Vou-me embora pra Pasárgada. Vou-me embora pra Pasárgada Lá sou amigo do rei Lá tenho a mulher que eu quero Na cama que escolherei Vou-me embora pra Pasárgada Vou-me embora pra Pasárgada Aqui eu não sou feliz Lá a existência é uma aventura De tal modo inconseqüente Que Joana a Louca de Espanha Rainha e falsa demente Vem a ser contraparente Da nora que nunca tive E como farei ginástica Andarei de bicicleta Montarei em burro brabo Subirei no pau-de-sebo Tomarei banhos de mar! E quando estiver cansado Deito na beira do rio Mando chamar a mãe-d'água Pra me contar as histórias Que no tempo de eu menino Rosa vinha me contar Vou-me embora pra Pasárgada Em Pasárgada tem tudo É outra civilização Tem um processo seguro De impedir a concepção Tem telefone automático Tem alcalóide à vontade Tem prostitutas bonitas Para a gente namorar E quando eu estiver mais triste Mas triste de não ter jeito Quando de noite me der Vontade de me matar — Lá sou amigo do rei — Terei a mulher que eu quero Na cama que escolherei Vou-me embora pra Pasárgada. Texto extraído do livro "Bandeira a Vida Inteira", Editora Alumbramento – Rio de Janeiro, 1986, pág. 90 Após a leitura do poema Vou-me embora pra Pasárgada, de Manuel Bandeira, responda em seu caderno: Quais imagens associadas à palavra felicidade estão presentes na poesia? Leitura e Análise de Texto: Entraves à felicidade “A humanidade pode contar com diversos lugares imaginários como Pasárgada, nos quais a felicidade plena e eterna existe. Além de Manuel Bandeira, Luís de Camões, no poema épico Os lusíadas, descreve a Ilha dos Amores, lugar da satisfação do desejo e da utopia. A ideia de um paraíso ou de um lugar especial, no qual realizamos todos os nossos desejos, faz parte do imaginário humano, justamente porque em nosso cotidiano, em nossa experiência de vida, encontramos diversos entraves para a realização dos nossos desejos. Além desse lugar imaginário, integram nossa cultura as fantasias em torno do que faríamos se ganhássemos na loteria, por exemplo. Imaginar um lugar de felicidade eterna ou uma condição material capaz de comprar tudo o que necessitamos e desejamos são fantasias diretamente relacionadas ao fato de que nossos desejos sofrem limitações ou entraves que geram frustrações. Faz parte de um bom processo de maturidade aprender a lidar com essas frustrações. A reflexão filosófica pode ajudar na identificação dos limites ou entraves aos nossos desejos e na compreensão sobre o modo como lidamos com eles. A felicidade depende mais da maneira como nos relacionamos com esses limites e entraves do que, propriamente, da satisfação dos nossos desejos. Pode-se afirmar, sem medo de errar, que a história da Filosofia é marcada pela preocupação dos filósofos a respeito das condições dos seres humanos para o enfrentamento de seus sofrimentos, de suas frustrações, de suas inquietações e para a compreensão dos próprios limites. Grande parte da produção em Filosofia e em Psicologia ajuda os seres humanos a compreender que nem sempre desejo e necessidade andam juntos. No mundo contemporâneo, sob o efeito da publicidade e de todo o apelo da sociedade de consumo, somos cada vez mais influenciados a desejar o que não necessitamos ou a acreditar que necessitamos o que nos ensinam a desejar. Filósofos contemporâneos como Jean Baudrillard (1929-2007), Walter Benjamin (1892-1940), Friedrich Nietzsche (1844-1900) e Jean-Paul Sartre (1905-1980) produziram reflexões sobre temas como consumo, prazer, convívio social e limites à felicidade humana. São autores que problematizam o tema felicidade no âmbito da Filosofia”. Após a leitura do texto "Entraves à felicidade", respondam às seguintes questões: 1. No plano biológico, quais são os desejos, as necessidades e os entraves relativos ao nosso corpo? 2. No plano psicológico/emocional, quais são os desejos, as necessidades e os entraves? 3. No plano social, quais são os desejos, as necessidades e os entraves? Após responder as questões, façam uma síntese do exercício atentando para a importância de compreender que muitos de nossos desejos são primordiais, relativos à nossa condição biológica ou psicológica, mas muitos deles são associados aos valores de cada momento histórico e, se em um passado não muito distante éramos capazes de viver sem telefones celulares, atualmente esse objeto é tido por uma grande maioria das pessoas como de extrema necessidade, além de se constituir num sonho de consumo de muita gente. De maneira geral, na nossa sociedade, associamos a felicidade à prosperidade econômica como crescimento constante de consumo de bens ou como adoção de um padrão de vida e um comportamento que nos conduziria para a felicidade. Mas será que a nossa felicidade pode ser resumida a um consumo sempre crescente, à adoção de uma imagem ou a um padrão de comportamento idealizado? Para refletir sobre o assunto, sugerimos a leitura do trecho que segue. O hedonismo moderno: uma arma trágica de dois gumes Indubitavelmente, vivemos em uma época na qual a promessa de felicidade [...] estaria no final da trilha de um comportamento que chamaríamos de hedonista. O hedonismo não é invenção moderna. E pode ter tido, ao longo da história, várias versões. [...] Em termos genéricos, poderíamos dizer que o hedonismo que se nos apresenta hoje em dia propõe extrair da liberdade individual o máximo de prazer disponível, o que seria o equivalente a ser feliz. Emprego o termo disponível para sinalizar a possibilidade de consumo de todas as benesses que o progresso tecnológico nos põe à disposição. Quanto mais pudermos consumir, mais seremos felizes. Essa é a promessa embutida na crença propagada pelos meios de produção. [...] Essa proposta hedonista se insere dentro de uma arquitetura de "razões", algumas explícitas, outras implícitas. É importante não só assinalá-las, como discutir suas consequências. A primeira delas aponta não apenas que podemos ser felizes, mas que devemos ser felizes. [...] A segunda "razão" formula, generosamente, em termos explícitos, as trilhas e as atitudes que todas as pessoas devem adotar para chegarem "lá". O que fica implícito (ou oculto) na proposta é a contradição nela embutida: que a decantada liberdade individual na escolha dos prazeres fica tolhida, quando não negada, pelo fato de se imporem às pessoas padrões de consecução de prazer. Exemplos: a mulher feliz é a que...; o homem de sucesso é aquele que...; [...] A obrigação de ser feliz é também condicionada à posse de um corpo cujas características estéticas estão determinadas, a priori, por padrões preestabelecidos. Quem não se enquadrar nesse padrão, trate de alcançá-lo, senão... [...] Estamos aqui em plena vigência de outra contradição: os mesmos modelos ofertados para se alcançar uma felicidade padronizada, idealizada, acabam arrastando a pessoa para frustração, culpa e sensação de exclusão do paraíso. [...] 1. E possível a felicidade sem a aquisição de determinados padrões de consumo e de comportamento? 2. De que forma somos levados a idealizar e adotar padrões de consumo, de vida e comportamento? No próximo texto, veremos outro tema fundamental que se desdobra da reflexão sobre felicidade: a morte. Como nos relacionamos com essa que é a única certeza da existência de todos os seres vivos? Para tanto, inicialmente leiam o texto Morte, de Aguinaldo Pavão, que é professor de Filosofia da Universidade Estadual de Londrina. Morte Parece-me que o dia 2 de novembro reforça a necessidade em mini de pensar sobre a morte. Eu fico muito triste quando penso na minha morte. Por outro lado, é desconfortável a ideia de que poderia não morrer, de que poderia ser eterno. Que graça teria a vida se nós não morrêssemos? A ânsia de viver, de gozar a vida, parece só ter sentido porque sabemos que vamos morrer. Sei que esta é uma filosofia meio barata (contudo, não esqueçamos que, no fundo, a filosofia é apenas uma sofisticação do senso comum). De fato, não precisamos de profundidade para fazer essa reflexão desconcertante. A morte é desesperadora. A morte é o fim das leituras, o fim das viagens, o fim do amor, o fim do sexo, o fim da música, o fim de tudo. Todavia, é ótimo que haja morte. Nós temos de assumir nossa mortalidade. Quanto mais assumirmos isso, mais poderemos degustar a vida. Precisamos lembrar de Aquiles, o herói grego: os deuses é que devem invejar os mortais, pois é a nossa condição de mortais que permite sentir a importância de cada momento. Mas talvez haja vida após a morte. Contudo, se me fosse dada a oportunidade, na hipótese de haver vida após a morte, eu gostaria de dizer que renuncio à eternidade. Eu devolveria o bilhete. A eternidade me cansa. Seria um tédio insuportável viver para sempre. Só a ideia já me cansa. E eu quero ter um corpo, e parece difícil a ideia de que meu corpo também sobreviverá. Ele ficará imperecível, insuscetível à ação do tempo? Se eu não quero aqui a eternidade, lá eu também não quero. Porque se eu não a desejo aqui, não vejo razões para mudar de ideia lá. Se eu fosse um outro eu, talvez a quisesse, mas aí já não seria mais eu, e não sendo mais eu, não saberia como esse outro eu agiria, como ele sentiria as coisas. Se houvesse vida após a morte, eu seria condenado à eternidade? Ao que parece sim, embora isso não seja necessário. Mas se fosse eterno, isto é, se minha vida pós-morte implicasse uma duração infinita no tempo, eu mais perderia do que ganha-ria. Ora, eu não escolho nascer, mas posso escolher me matar. Se fosse eterno não teria essa liberdade. PAVÃO, Aguinaldo. Morte. Disponível em: .Acesso em: 2 maio 2013. FELICIDADE E COMPROMISSO: CONSIGO E COM O OUTRO Leitura e Análise de Texto O bem e o mal dependem, sobretudo, da ideia que fazemos deles “Os homens, diz uma antiga sentença grega, são atormentados pelas opiniões que têm sobre as coisas, não pelas próprias coisas. Seria de fato um importante passo, para o alívio de nossa miserável condição humana, se pudéssemos estabelecer a verdade desta opinião em todas as situações. Pois se é apenas o nosso julgamento que permite que os males nos adentrem, parece que poderíamos desprezá-los ou transformá-los em bem. Se as coisas se rendem à nossa vontade, por que não tratá-las como dono ou acomodá-las em nosso favor? Se o que chamamos de “mal” ou de “tormento” não é nem mal nem tormento em si, mas é a nossa imaginação que lhe atribui este caráter, temos o poder de mudá-lo. E já que temos a escolha, é completamente tolo atermo-nos à opção que nos é mais incômoda e darmos às doenças, à indigência e ao desprezo um gosto amargo e mau, quando podemos lhes dar um gosto bom e, o destino nos fornecendo simplesmente a matéria, nos cabe lhe dar forma.” MONTAIGNE, Michel de. Les Essais, Livre I. Chapitre XL. Tradução Renée Barata Zicman. Disponível em francês em: . Acesso em: 23 abr. 2010. 1. Qual a diferença entre aceitar uma frustração, uma perda, sem se deixar derrotar psicologicamente por ela, e o conformismo, ou seja, a desistência de lutar pelo que se quer? A frustração produzida pela morte de uma pessoa querida não pode ser incluída nesse questionamento. Trata-se de uma situação na qual a sabedoria de aceitação de nossa natureza mortal pode ajudar no enfrentamento desse tipo de perda em especial. 2. Qual a diferença entre não ser escravo do desejo e lutar pelo que se quer? 3. Qual a diferença entre não se ver como centro do mundo e a baixa autoestima? 4. Qual a diferença entre respeitar as próprias emoções e deixar-se levar por elas? 5. O que as frases a seguir sugerem em relação à felicidade? a) Na vida, como na selva, vale a lei do mais forte. Os fracos não sobrevivem. b) O mundo é dos espertos. c) O importante é levar vantagem em tudo. 6. Analise e comente a letra da música a seguir, associando-a ao tema felicidade. Cada um por si Renato Martins Todo mundo sabe: pra nascer tem que ter [sorte E quem tem sorte escapa até mesmo da[morte É, todo mundo sabe, de um ou de outro [jeito, O cada um por si é o que vai ser Todo mundo ouviu e viu pela tevê O golpe que me deram Eu dei outro em você E assim as coisas vão Infelizmente pra nós dois O cada um por si é que é a lei Eu sei Fraternidade só existe é em mensagens de [cartão-postal Eu não queria que o mundo fosse assim Infelizmente não depende só de mim Parabéns pra mim, a vitória está comigo O sucesso vem pr’aquele que é seu próprio [e melhor amigo E a humanidade onde entra nisso? O cada um por si é que é a lei E não fui eu que quis assim Eu tentei ser diferente Mas quanto mais tentava Menos era respeitado por toda a gente E pensei Se o cada um por si é que é legal É o que vai ser Eu sei Fraternidade só existe é em mensagens de [cartão-postal Eu não queria que o mundo fosse assim Infelizmente não depende só de mim Fraternidade só existe é em mensagens de [cartão-postal Eu não queria que o mundo fosse assim Infelizmente não depende só de mim Cada um por si é o que vai ser Cada um por si é que é a lei Cada um por si é o que vai ser Cada um por si é que é a lei © Deck Produções Artísticas Ltda. Leitura e Análise de Texto A dimensão social da felicidade Ao contrário do que muitos pensam, a realização da felicidade não depende apenas da vontade e da atitude de cada pessoa, por mais esforçada e determinada que ela seja. Isso porque ninguém é autossuficiente para satisfazer suas necessidades subjetivas e objetivas. Como constatamos em anteriormente, o homem é um animal político, isto é, um ser que, pela sua própria natureza, só existe em sociedade na convivência com seus semelhantes, havendo entre todos uma relação de dependência recíproca no atendimento a essas necessidades. Do ponto de vista objetivo, por exemplo, precisamos de uma infinidade de coisas que são fruto do trabalho de outras pessoas: alimentos, roupas, calçados, diversos utensílios do nosso dia a dia, livros, cadernos, lápis, canetas, transporte, atendimento médico, odontológico e psicológico, segurança, espaços para lazer e prática esportiva etc. A lista não teria fim. Na realidade, como diz o professor Dalmo de Abreu Dallari, a vida em sociedade é uma constante “troca de bens e serviços”1, de modo que cada pessoa depende do trabalho das demais. Ora, se todas essas coisas são necessárias à felicidade, então ela depende da ação coletiva de um número imensurável de pessoas que produzem esses bens e prestam esses serviços. O mesmo vale para as necessidades subjetivas. Todos precisamos de amor, carinho, respeito, afeição, consideração, atenção, ternura, cordialidade, hospitalidade, cuidado, prazer, conhecimento, liberdade, espaço para pensar, criar, sentir, crer, enfim, de uma infinidade de elementos relacionados à nossa vida interior, os quais somos incapazes de obter sozinhos. Também aqui precisamos da colaboração das pessoas a nossa volta. A felicidade, por conseguinte, tanto no seu aspecto objetivo quanto no subjetivo, é sempre produto de uma ação coletiva dos membros de uma dada sociedade. Em outras palavras, podemos dizer que a felicidade é socialmente produzida e, portanto, tem um caráter social. Afinal, como diz a letra de uma conhecida canção, “é impossível ser feliz sozinho”. Por essa razão, não faz sentido buscá-la no individualismo ou no egoísmo, isto é, agindo de acordo com nossos interesses particulares, procurando tirar vantagem das diversas situações, sem nos preocuparmos com as consequências de nossos atos. Ocorre, porém, que egoísmo e individualismo são justamente os valores mais estimula dos por nossa sociedade quando o assunto é a busca da felicidade. Aprendemos desde muito cedo que o sucesso ou o fracasso na escola, na profissão, na vida dependem de nosso esforço individual; que no mundo prevalecem as leis do “cada um pra si” ou do “salve-se quem puder”; que precisamos nos preparar para enfrentar a grande competitividade do vestibular e, depois dele, do mercado de trabalho; que, uma vez empregados, devemos disputar com nossos colegas pela ascensão na carreira, por status e poder; que ao nosso lado há não um amigo ou um companheiro, mas um adversário, um concorrente, alguém que para nós representa uma ameaça. Se ele desistir, tanto melhor, pois nossas chances de sucesso serão maiores. Aqui, aliás, encontramos outro sentido que nos possibilita dizer que a felicidade tem um caráter social: em grande parte, é a sociedade que produz dela a imagem que assimilamos e que transformamos em objeto de nossos maiores anseios, muitas vezes sem questionar. Numa sociedade em que as pessoas são mais valorizadas e reconhecidas pelo que possuem do que pelo que são, a felicidade tende a ser identificada com a posse de bens materiais e de dinheiro, que é o meio pelo qual se adquirem esses bens. Por esse raciocínio, quanto mais posses tiver uma pessoa, mais feliz ela será. Quanto menos posses, mais infeliz. Assim, esse passa a ser o ideal dominante de felicidade que vai mobilizar o desejo e os sonhos da maioria das pessoas. Ocorre que, em se tratando de uma sociedade com profundas desigualdades de classe e na qual o ter mais de alguns se viabiliza à custa do ter menos ou do não ter dos demais, esse ideal de felicidade se revela, na prática, inatingível para a grande maioria das pessoas (os pobres) e privilégio de poucos (dos ricos). Por outro lado, numa sociedade organizada de maneira diferente, na qual as pessoas fossem mais valorizadas pelo que são do que pelo que possuem, certamente prevaleceria outro ideal de felicidade. A construção de um novo modelo de sociedade, que proporcione condições mais igualitárias de acesso à felicidade, é, sem dúvida, responsabilidade de todos nós. Mas, enquanto isso não se viabiliza plenamente, talvez possamos nos empenhar em mudar desde já alguns valores, rejeitando a imposição do individualismo e do egoísmo e procurando construir relações mais ancoradas na amizade, na solidariedade e na cooperação, antecipando aqui e agora, na medida do possível, a utopia de uma sociedade feliz. 1. O que significa dizer que ninguém é capaz de satisfazer suas necessidades subjetivas e objetivas? 2. Em que sentido se pode afirmar que a felicidade tem um caráter social? 3. Em que se baseia a afirmação de que não tem lógica buscar a felicidade no individualismo e no egoísmo? 4. Na sociedade em que vivemos, é possível superar a influência do egoísmo e do individualismo? Como? 5. Leitura e Análise de Texto A dimensão política da felicidade Vimos que, pela própria natureza política do ser humano, a felicidade possui um caráter social, no sentido de que as condições objetivas e subjetivas necessárias à sua realização são coletivamente produzidas. Por sua vez, a existência ou não dessas condições, bem como o número de pessoas que terão acesso a elas, depende, em grande parte, das políticas governamentais implementadas nas diversas áreas da administração pública. Temos, por exemplo, políticas para a saúde, a educação, a habitação, o transporte, a segurança, o emprego, os direitos humanos, as mulheres, os negros, os povos indígenas, os portadores de necessidades especiais, o meio ambiente, o emprego e muitas outras. Ora, se a presença de certas condições necessárias à felicidade resulta de políticas governamentais, então podemos concluir que a felicidade ou a infelicidade da população depende, ao menos em parte, da ação dos governantes. Ocorre que, numa democracia, os que governam nas diversas instâncias (municipal, estadual e federal) são eleitos pelo voto direto dos cidadãos. Isso significa que, em alguma medida, todos os que votam (ou deixam de votar) são corresponsáveis por essas políticas e, por conseguinte, também pela realização ou não realização da felicidade da população. Eis a dimensão política, em sentido mais estrito, da felicidade. Daí a importância da participação política consciente, sobretudo em relação ao voto. Mais do que um direito, essa participação é também um dever de cada cidadão, pois dela derivam consequências que afetam a vida de toda a sociedade. No entanto, muitas pessoas ainda se recusam a participar politicamente, dizendo que não gostam ou não entendem de política e que preferem cuidar da própria vida, dos assuntos particulares. Muitos se negam a discutir questões políticas, temerosos das possíveis consequências do confronto de ideias. Justificam sua indiferença com o famoso ditado: “Política, religião e futebol não se discutem”. Outros, ainda, alegam que política é coisa suja, que todo político é corrupto e que, por isso, preferem permanecer distantes para não se contaminarem. Quem adota essa atitude está, na verdade, expressando uma consciência ingênua e alienada em relação à política. Isso porque, na prática, a abstenção política é impossível. Pelo simples fato de fazer parte de uma sociedade, sofremos as influências do contexto em que vivemos, como também exercemos influência sobre ele, mesmo sem perceber. Daí por que, como diz Dalmo de Abreu Dallari, não se podem separar radicalmente os interesses particulares dos interesses públicos. Posso, por exemplo, desistir de votar numa determinada eleição, por motivos particulares, mas essa minha atitude, somada às dos demais eleitores, não deixará de repercutir proporcionalmente no resultado eleitoral, assim como este não deixará de repercutir em minha vida privada. Além disso, abdicar da política é uma forma de apoiar as ações governamentais, o que também constitui uma atitude política que nada tem de neutralidade. Na verdade, o desinteresse do povo pela política só interessa a certos governantes, que o querem distante das decisões, para que possam favorecer os próprios interesses. Engana-se redondamente, portanto, quem acredita que pode permanecer alheio à política. A rigor, a participação política não é necessariamente algo que se faça por prazer (embora isso seja perfeitamente possível), mas por necessidade, pois, querendo ou não, participamos de um jeito ou de outro. Aliás, é bastante provável que, para muitos, ela não seja mesmo prazerosa. Mas aqui talvez valha o ensinamento de Epicuro de que, às vezes, é preferível aceitar certos sofrimentos (como o fazer algo de que não se gosta), se este for o caminho para se obter um prazer maior (por exemplo, condições sociais mais favoráveis à felicidade de todos). Do contrário, nossa omissão pode resultar em grande infelicidade, inclusive para nós mesmos. Há várias formas de participação política. Votar conscientemente é apenas uma delas. Na verdade, é o mínimo que se pode exigir de um cidadão numa democracia. E, para que o voto seja de fato consciente, é preciso que o eleitor esteja bem informado sobre as atribuições dos cargos em disputa, as características dos candidatos e partidos, os principais problemas que deverão ser enfrentados pelos eleitos e as possíveis soluções para eles. Além disso, o eleitor consciente deve agir com liberdade e responsabilidade social, não aceitando jamais vender ou trocar o seu voto nem oferecê-lo em retribuição a algum favor ou para agradar alguém. Além do voto, há outras formas de participação política: a individual e a coletiva. Do ponto de vista individual, há uma enorme gama de ações que cada um pode praticar. Por exemplo: dialogar em casa, na escola, no trabalho, ou em qualquer outro lugar sobre os problemas da cidade, do Estado ou do país, buscando adquirir e também despertar nos outros uma consciência mais crítica sobre tais problemas; escrever em jornais, revistas e outros meios de comunicação, denunciando situações de injustiça; enviar e-mails para as autoridades cobrando providências e seus compromissos de campanha; manter-se informado sobre a realidade do país, pela leitura de jornais e revistas; defender e pôr em prática no dia a dia valores como a solidariedade, o respeito e a cordialidade, como forma de combater o individualismo e o egoísmo reinantes; entre outras. Por outro lado, a participação coletiva do indivíduo ocorre por meio do envolvimento em partidos políticos, associações, organizações não governamentais, sindicatos, grêmios estudantis, movimentos, enfim, em qualquer agrupamento que tenha objetivos bem definidos. Vale lembrar que o grupo, sobretudo quando bem organizado, é sempre mais forte que o indivíduo. Muitas coisas exteriores a nós, que influem em nossa felicidade ou infelicidade, dependem direta ou indiretamente de nós e da forma como participamos politicamente. Nesse sentido, podemos dizer que a felicidade tem também uma natureza política que não pode ser desconsiderada. É evidente que as diversas formas de participação são muito facilitadas num regime democrático. Daí também a importância da democracia para a construção da felicidade. Reflexões sobre política 1. O que você entende por política? 2. Você tem algum tipo de participação política? Por quê? Em caso afirmativo, descreva-a. 3. O que você pensa do ditado: “Política, futebol e religião não se discutem”? Justifique sua resposta. 4. Em que sentido pode-se dizer que o desejo de abstenção política reflete uma consciência ingênua e alienada? Você concorda? Por quê? 5. O que significa a afirmação de que a felicidade tem uma dimensão política? Você concorda? Justifique. Lembrem-se a leitura é a senha para o acesso ao conhecimento Prof. Manoelito!!! Sejam felizes!!!