domingo, 22 de setembro de 2013

2ª SÉRIE - CONTEÚDOS PARA AVALIAÇÃO (2) - (3º BIMESTRE)

EE Batista Renzi
Disciplina: Filosofia
Área: Ciências Humanas e Suas Tecnologias
Etapa da Educação Básica: Ensino Médio
2ª Série – Volume 3 - 3º Bimestre
Temas e conteúdos: Diferenças e semelhanças entre homens e mulheres
e Filosofia e educação
Prof. Manoelito

Olympe de Gouges
Em meio a Revolução Francesa, foi proclamada a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. Durante os debates sobre esta declaração Olympe de Gouges elaborou aquela que incluía “os Direitos da Mulher e da Cidadã”, pois, apesar de se procurar a igualdade universal, as mulheres não estavam nela inseridas nem mesmo teoricamente.
A sua atitude revela que o direito inscrito em uma lei não significa direitos objetivados no mundo cotidiano. A igualdade da lei pode significar apenas igualdade de alguns. Isso significa que apenas os homens eram cidadãos, e as mulheres não. Era preciso declarar que as mulheres eram cidadãs e deveriam exercer os seus direitos.
Declaração dos direitos da mulher e da cidadã
  Mulher, desperta. A força da razão se faz escutar em todo o universo. Reconhece teus direitos. O poderoso império da natureza não esta mais envolto de preconceitos, de fanatismos, de superstições e de mentiras. A bandeira da verdade dissipou todas as nuvens da ignorância e da usurpação. O homem escravo multiplicou suas forcas e teve necessidade de recorrer as tuas, para romper os seus ferros. Tornando-se livre, tornou-se injusto em relação à sua companheira.

Simone de Beauvoir
A Condição da Mulher
Para Simone de Beauvoir, a condição da mulher é uma escolha dos homens apoiada pela submissão das mulheres. Para a libertação das mulheres, elas devem assumir a responsabilidade de mudar a situação de submissão, pois são seres livres, e só ficarão submetidas ao preconceito social por escolha própria.
A única libertação possível das mulheres virá da política, isto é, da união das próprias mulheres. Elas precisam se encontrar, reconhecer seus problemas, partilhar idéias, o que quer dizer que precisam lutar juntas. Não há como ser diferente, pois não se pode esperar que todos os homens abram mão dos seus privilégios pelas mulheres. Para essa filósofa, não se trata de colocar as mulheres contra os homens, mas de colocá-las contra o machismo. Contra as situações de opressão.

Judith Butler
O que faz um homem ser homem e uma mulher ser mulher – o corpo, o pensamento ou a sociedade?
Quem decide as funções sociais da mulher e do homem – o corpo, o pensamento ou a sociedade?
Para a filósofa Judith Butler, é a sociedade que define as identidades do homem e da mulher. O corpo físico é o espaço em que a sociedade define a sua divisão de trabalho. Homens fazem isso, mulheres aquilo. Em outras palavras, ninguém nasce homem ou mulher, sendo a sociedade a responsável por ensinar as crianças a ser homens e mulheres.
Se um bebe nascer no Brasil, mas for criado por uma família japonesa, como ele verá o mundo? Como brasileiro ou como japonês? E quando estiver fome, vai desejar comer que tipo de comida, japonesa ou brasileira? Assim, acontece com o gênero: ao nascer, ou durante os pré-natais, determina-se o gênero da criança segundo o sexo biológico. Ou seja, como para o senso comum, sexo é igual a gênero, isso determinara o tipo de roupas e brinquedos que a criança vai receber até formar valores que vão sendo destinados a ela. Entretanto, se considerarmos que sexo e gênero são coisas diferentes, a determinação de gênero depende, histórica e socialmente, da cultura social. Será que existe uma determinação genética que afirme que meninas deverão lavar loucas enquanto os irmãos podem jogar bola? Ou que as mulheres não deveriam ocupar cargos de chefia? Quando se divide o mundo em dois gêneros, afirma-se o binarismo do sexo. Ou o individuo se encaixa em um gênero sexual ou em outro.
Cite 10 funções relacionadas aos homens e 10 funções relacionadas às mulheres.
A história tem demonstrado que as funções de homens e mulheres têm mudado com o tempo. Elas não são naturais, não há uma essência feminina ou masculina. Tudo isso é um posicionamento para controlar a vida das pessoas. Os meninos têm de ser sempre fortes, a as meninas, sensíveis. Mas para Butler, meninos e meninas são criações artificiais, e aqueles que conseguem entrar no padrão acabam sendo bem-sucedidos, excluindo-se os demais. Esses encaixes beneficiam principalmente os homens.

Leitura e Análise de Texto
Destacamos parte de uma entrevista concedida por Judith Butler a Baukje Prins e Irene Costera Meijer. Nesta resposta, pode-se perceber o pensamento de Butler sobre as práticas que tornam legítima a classificação dos corpos com exclusão de muitos.
Como os corpos se tornam matéria
“Meu trabalho sempre teve como finalidade expandir e realçar um campo de possibilidades para a vida corpórea. Minha ênfase inicial na desnaturalização não era tanto uma oposição à natureza quanto uma oposição à invocação da natureza como modo de estabelecer limites necessários para a vida gendrada. Pensar os corpos diferentemente me parece parte da luta conceitual e filosófica que o feminismo abraça, o que pode estar relacionado também a questões de sobrevivência. A abjeção de certos tipos de corpos, sua inaceitabilidade por códigos de inteligibilidade, manifesta-se em políticas e na política, e viver com tal corpo no mundo é viver nas regiões sombrias da ontologia. Eu me enfureço com as reivindicações ontológicas de que códigos de legitimidade constroem nossos corpos no mundo; então eu tento, quando posso, usar minha imaginação em oposição a essa ideia.
Portanto, não é um diagnóstico, e não apenas uma estratégia, e muito menos uma história, mas um outro tipo de trabalho que acontece no nível de um imaginário filosófico, que é organizado pelos códigos de legitimidade, mas que também emerge do interior desses códigos como a possibilidade interna de seu próprio desmantelamento”.
Muitas vezes, a sociedade e a cultura tentam encaixar os indivíduos em quadros preestabelecidos por eles. Cada vez que alguém se encaixa nesses espaços é obrigado a assumir uma identidade perante os outros.
Quais são as categorias mais excluídas nas sociedades atuais, principalmente no Brasil; e o que nós podemos fazer para superar a classificação das pessoas a partir dessas categorias, ou seja, como pensar diferente?


Questões.
1. Durante a Revolução Francesa, foram declarados os Direitos Universais do Homem. Identifique as razões da crítica de Olympe de Gouges à sua formulação.
2. Quais políticas públicas poderiam colaborar para a superação da desigualdade social entre homens e mulheres?
3. Assinale, a partir dos conhecimentos desenvolvidos pela leitura e discussão dos textos, valores que podem ser considerados machistas.
a) Homem não chora.
b) As mulheres são bonitas, mas não são inteligentes.
c) Homens e mulheres são definições sociais a partir do corpo.
d) Respeitar a diferença é uma atitude ética e política.


FILOSOFIA E EDUCAÇÃO

Neste texto, vamos pensar de que forma a Filosofia pode ajudar a compreender melhor as questões educacionais.
1. A partir de conversa com seus colegas, em pequenos grupos, elabore uma frase para expressar o que você entende por “educação”. O que essa palavra significa?
2. Por que você vem à escola?
3. Caso você seja obrigado por alguém a vir à escola, por que isso ocorre?
4. Qual é o principal compromisso dos professores?
5. Que tipo de aluno você é? Quais são as suas curiosidades?
6. Fora da escola, o que você tem aprendido?

Muitas vezes, os pais vêem a educação, a escola, o professor e o aluno somente associando tudo e todos ao trabalho, como uma espécie de aprendizado para uma profissão, um pré-requisito para conseguir emprego. O aluno é mandado para a escola para aprender “alguma coisa” que possibilite trabalhar e sustentar a si mesmo ou a sua futura família. Muitas vezes, é necessário que trabalhe para auxiliar pais e irmãos. Os alunos, em geral, enxergam a escola de maneira contraditória, com aspectos que gostam muito e outros nem tanto. Percebem a escola como um lugar para encontrar os seus amigos e se divertir, lugar para fugir dos problemas de casa, lugar onde sentem que estão perdendo tempo, onde encontram dificuldades para valorizar o que se ensina e em alguns casos como lugar onde são humilhados pelos mais variados tipos de exclusão e preconceito.
Há professores que vêem a escola como algo que não dá certo, onde não se tem apoio nem salário, nem instrumentos suficientes para ensinar, o que leva ao desencanto com a profissão. Mas há, também, os otimistas, que gostam do que fazem. Por isso, a sala dos professores torna-se o lugar mais contraditório da escola.
Muitos diretores colocam-se na ponte entre as políticas, os compromissos burocráticos, os problemas rotineiros, os pais, os funcionários, os professores, os alunos, os vizinhos da escola. Enfim, cada agente da educação publica tem os seus problemas e as suas responsabilidades. Seu animo e seu desanimo. O fato é que precisamos encontrar criticamente os fatores e exercer nossas responsabilidades, o que só tem sentido se for feito em conjunto.

Tipos de Escolas
Escola Tradicional: Esta escola se originou na ideia de que o professor fala e os alunos aprendem. O esforço maior é o uso da memória, é preciso acumular conhecimentos, decorando nomes, datas, formulas e tradições. O professor ensina, o aluno decora, o professor cobra na prova, oferecendo prêmios aos melhores e incentivando a competitividade. Outro lado importante é a disciplina rígida. Ao se comportar mal, o aluno é excluído e punido e não educado, ou seja, não é considerado como aluno a ser orientado tendo em vista mudanças cognitivas e de atitudes.
Escola Nova: O aluno é o centro do processo, a partir da compreensão do seu aspecto psicológico. A escolha dos conteúdos visa ao interesse dos alunos. O professor é um facilitador, ele desperta a curiosidade e o aluno sai ao encalço de sua descoberta. O fundamental é a compreensão, e não a memorização dos conteúdos, isto é, aprender fazendo. As avaliações não supõem competitividade, mas cooperatividade. O mais importante é um ajudar o outro. A prática do dia a dia se dá em laboratórios, hortas, passeios, jogos, oficinas e outros. A disciplina é construída em processo de valorização da autonomia, o aluno deve entender que é o protagonista de como alcançar seus objetivos.
Escola Técnica: Esta escola quer dar ao aluno o suporte para trabalhar na sociedade industrial. Seu objetivo é transformar o estudante em Mao de obra qualificada. Seu principal conteúdo é cientifico e tecnológico, sem tratar com profundidade a subjetividade. O importante é aprender uma profissão, ser cobrado objetivamente seu uso. O grande problema desse estilo de escola é a razão instrumental que submete a vida ao mercado. O aluno não é mais uma pessoa, é um funcionário, um técnico ou um profissional.

Educação e emancipação
“É bastante conhecida a minha concordância com a crítica ao conceito de modelo ideal. Esta expressão se encaixa com bastante precisão na esfera do jargão da autenticidade que procurei atacar em seus fundamentos. Em relação a essa questão, gostaria apenas de atentar a um momento específico no conceito de modelo ideal, o da heteronomia, o momento autoritário é imposto a partir do exterior. Nele existe algo de usurpador. É de se perguntar de onde alguém se considera no direito de decidir a respeito da orientação da educação dos outros. As condições – provenientes no mesmo plano de linguagem e de pensamento ou de não pensamento – em geral também correspondem a esse modo de pensar. Encontram-se em contradição com a ideia de um homem autônomo, emancipado, conforme a formulação definitiva de Kant na exigência que todos os homens tenham que se libertar de sua auto inculpável menoridade.
A seguir, e assumindo o risco, gostaria de apresentar minha concepção inicial de educação. Evidentemente, não a assim chamada modelagem de pessoas, porque não temos o direito de modelar pessoas a partir do seu exterior; mas também não a mera transmissão de conhecimentos, cuja característica de coisa morta já foi mais do que destacada, mas a produção de uma consciência verdadeira. Isso seria inclusive da maior importância política; sua ideia, se é permitido dizer assim, é uma exigência política, isto é, uma democracia com o dever de não apenas funcionar, mas também operar conforme o seu conceito, demanda pessoas emancipadas. Uma democracia efetiva só pode ser imaginada em uma sociedade de quem é emancipado.
Numa democracia, quem defende ideais contrários à emancipação, e, portanto, contrários à decisão consciente independente de cada pessoa em particular, é um antidemocrata, até mesmo se as ideias que correspondem a seus desígnios são difundidas no plano formal da democracia. As tendências de apresentação de ideias exteriores que não se originam a partir da própria consciência emancipada, ou melhor, que se legitimam diante dessa consciência, permanecem sendo coletivistas-reacionárias. Elas apontam para uma esfera a que deveríamos nos opor não exteriormente pela política, mas também em outros planos muito mais profundos”.
ADORNO, Theodor. Educação e emancipação. Tradução Wolfgang leo Maar. 2. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995. p 141-142.
Adorno se refere ao texto de Kant em resposta à pergunta: O que é esclarecimento? Segundo o qual um homem emancipado é um homem sem guia, isto é, minoridade é viver sem a independência que vem do uso da racionalidade.
O que impede o homem de assumir a sua maioridade é a preguiça e a covardia. Preguiça de ler, de aprender, de pesquisar, de ouvir e de se cansar em busca de uma maneira melhor de viver. Covardia em não enfrentar os problemas, os erros, as decepções, conduzindo à preferência de se manter como uma espécie de criança imatura. Para tudo se necessita de3 outro conduzindo o que se deve ser e fazer.
Para quem perguntamos as coisas fundamentais da vida? Quem é o guia? Algum familiar, como pai ou mãe? O professor, o pastor, o padre, o político, o livro, o filme?
A minoridade é uma prisão. A maioridade é a libertação. A liberdade vem a partir do momento em que se assume a racionalidade, ou melhor, o esclarecimento. A escola deve ser o palco do esclarecimento para, então, se tornar geradora de cidadania. O sinal de que isso está acontecendo é o uso publico da razão. Isso significa assumir posições refletidas, o que é diferente do uso privado da razão, que é responder racionalmente a situações corriqueiras, como se calar diante da autoridade. Quem tem coragem de usar a razão? Quem tem vontade de superar a si mesmo? Quem usa a razão só para não ter problemas pessoais (uso privado da razão)? Quem usa a razão enfrentando o mundo para melhorá-lo (uso publico da razão)?
Os oficiais dizem: não questione, pague;
Os religiosos dizem não questione creia;
A televisão diz não questione, assista, compre e seja;
O político diz não questione, vote.
Entretanto, a pessoa emancipada questiona abertamente, sabe o que quer e precisa disso para ser livre. Ela quer saber o motivo, ela precisa entender para aceitar ou não o que lhe é falado, ordenado. Ela usa os estudos, o raciocínio, a imaginação e a critica para seguir seu caminho. Dessa maneira, a melhor escola é aquela que permite questionamentos mais profundos.
Após a leitura dos textos, elabore uma redação com, no mínimo 20 linhas, com o seguinte tema: “A ESCOLA DOS MEUS SONHOS”. As melhores, serão publicadas na Revista “ExPOR” E NO BLOG.

EXERCICIO

1. Qual é a diferença do uso privado da razão e do uso público da razão?
2. Segundo Theodor Adorno, o que é educação?
3. O que significa ser emancipado?
a) Ter maioridade, sendo o seu próprio guia.
b) Fazer 18 anos.
c) Obedecer à interpretação que os outros fazem da religião.
d) Seguir os conselhos dos mais velhos.
e) Nunca reclamar e fazer o melhor para manter o mundo como está.
4. De quem é a responsabilidade social pela educação?
a) Dos professores.
b) Dos alunos.
c) De todas as pessoas.
d) Dos empresários.
e) Dos pais.


quinta-feira, 19 de setembro de 2013

1ª SÉRIE CONTEÚDOS PARA AVALIAÇÃO (2) (3º BIMESTRE)

EE Batista Renzi
Disciplina: Filosofia
Área: Ciências Humanas e Suas Tecnologias
Etapa da Educação Básica: Ensino Médio
1ª Série – Volume 3 - 3º Bimestre
Temas e conteúdos: Filosofia Política
Dois Modelos de Estado: Liberal e Anarquista; Capitalismo segundo Marx
Prof. Manoelito

DOIS MODELOS DE ESTADO: LIBERAL E ANARQUISTA
Muitos filósofos trataram do tema Estado, como fruto de um pacto ou contrato a partir da união dos indivíduos. Em geral, esses filósofos se basearam no direito natural, ou seja, no jusnaturalismo. Hobbes, Rousseau e Locke discordaram do significado exato desses direitos, mas, de qualquer forma, muitas de suas teorias filosóficas foram bem-aceitas por uma classe tipicamente moderna, que é a burguesia. Em síntese, esse ideário ajudou a burguesia a se libertar da mediação política da tradição medieval e da Igreja Católica. De modo especial, John Locke, ao se referir aos direitos naturais, pensava que todos nascem com direito: à vida; à liberdade; à propriedade.
Por isso, é função do Estado fazer com que a vida, a liberdade e a propriedade de cada um sejam respeitadas. Dessa maneira, a burguesia, que estava em plena ascensão entre os séculos XVII e XVIII, encontrou nessa teoria uma das bases para a legitimação de seu poder. Com a teoria do indivíduo proprietário e livre para lucrar com o comércio e a indústria, constituiu-se o fundamento do liberalismo. No liberalismo, o Estado é responsável pela guarda das propriedades particulares contra os pobres, já que esses teriam perdido sua propriedade por usarem mal a própria liberdade. Assim, a pobreza é tida como responsabilidade do pobre, que deve usar a sua liberdade para o trabalho como fonte de novas propriedades.
1.      Quais são os direitos que os seres humanos têm pelo simples fato de nascerem?
O direito à vida, que primordialmente inclui direito a alimentação, saúde, cuidados maternos, afeto, acolhimento pelos adultos, garantia de desenvolvimento saudável física, intelectual e emocionalmente.
2.      Se todos os seres humanos nascem iguais, por que há tanta desigualdade entre eles?
Pode-se orientar essa resposta valendo-se da contribuição de Hobbes: no estado de natureza, os homens apresentam instintos que os levam a disputar com outros homens territórios, fêmeas, alimentos, abrigos. Essa disputa implica vitórias de alguns, que passam a se distinguir por serem proprietários ou por conseguirem impor sua dominação sobre os demais.
Existem profundas diferenças entre os homens. Mas, em vez de causas naturais, essas diferenças têm causas sociais. Alguns se alimentam bem todos os dias, têm muito dinheiro, trabalham poucas horas e dispõem de tempo e condições para desfrutar das mais variadas formas de lazer. Enquanto isso, outros vivem situações absolutamente inversas.
La Boétie procurou explicar o motivo pelo qual as pessoas obedecem o tirano. Suas observações e reflexões o levaram a afirmar que a sujeição de muitos por um tirano está relacionada muito mais com desejo do que com medo. Essa é a fonte do poder tirano: o desejo de poder de quem ele subjuga. Isso porque os menos favorecidos que se sujeitam ao tirano desejam também o poder porque este é o meio de ter posses. Para garantir a posse dos bens, deseja-se a tirania e, para tê-la, acaba-se por obedecer ao tirano. Dessa maneira, as pessoas perdem sua liberdade no momento em que obedecem às outras, em busca da tirania para alcançar seus bens. Para La Boétie, essas pessoas se tornam escravas por livre vontade, vivendo uma verdadeira servidão voluntária.
Segundo La Boétie, elas entregam a sua liberdade e se tornam escravas por um salário bem baixo para um dia poderem conseguir bens. É o desejo de bens e de riqueza que torna esses indivíduos servos voluntários, e não simplesmente a luta pela sobrevivência. Por isso, se o poder de quem está no topo da pirâmide social é alimentado pelo desejo de bens das pessoas que estão abaixo, contra isso só há uma maneira para alcançar de novo a liberdade: não desejar mais bens desnecessários. Dessa forma, não há mais a busca e/ou aceitação da tirania de outras pessoas.
Dialogar – O anarquismo
No senso comum, o anarquismo é algo sem organização, em que qualquer um pode fazer o que bem entende. A teoria anarquista não defende que cada um possa fazer o que bem entende, mas sim que a organização política deva ser de modo tal que cada indivíduo possa participar do poder sem a instalação de um Estado que governe a todos. Os anarquistas têm como centro da ação política o indivíduo livre, autônomo, ou seja, capaz de se autogovernar e de participar de sociedade na qual a descentralização do poder é um princípio fundamental. A autonomia no anarquismo exige que o indivíduo livre exerça a sua própria autoridade, sendo essa a única possível. Ou seja, no anarquismo, espera-se que as pessoas não precisem de governo para poder viver, pois se acredita que os seres humanos tenham a capacidade de viver em paz e em liberdade.
Por isso, os anarquistas combateram o Estado. Para eles, o Estado não garante a liberdade; pelo contrário, provoca a escravidão, pois controla a vida de todos, desde o nascimento até a morte. Por exemplo, quando nascemos, temos de ser registrados e, depois, temos de tirar vários documentos. No caso dos homens, aos 18 anos, é obrigatória a apresentação para o serviço militar. Finalmente, precisamos de autorização até mesmo para o sepultamento, quando ganhamos mais um documento – o atestado de óbito –, para provar que estamos mortos. Para os anarquistas, o Estado destrói a vida das pessoas, quer pela burocracia, quer pelo uso da força, como é o caso da polícia. Quanto à democracia burguesa, merece ser criticada e superada por favorecer a desigualdade social e não permitir a construção de uma sociedade de liberdade para todos.
O movimento anarquista surgiu na metade do século XIX. Anarquismo pode ser definido como uma doutrina que defende o fim de qualquer forma de autoridade e dominação política, econômica, social e religiosa. Os anarquistas defendem uma sociedade baseada na liberdade e na responsabilidade. O anarquismo é contrário à existência de governo, e de qualquer tipo de instituição que envolva relação de autoridade. Defendem também o fim do sistema capitalista, da propriedade privada e do Estado. Os anarquistas defendem uma sociedade baseada na liberdade dos indivíduos, solidariedade e apoio mútuo, coexistência harmoniosa, propriedade coletiva, autodisciplina, responsabilidade e forma de governo baseada na autogestão, por meio de conselhos comunitários com participação de todos nas decisões políticas.
Liberdade e responsabilidade
Poderíamos resumir a ação direta do anarquismo nessas duas palavras: liberdade e responsabilidade, uma vez que seu ideário propõe a eliminação de toda forma de hierarquia entre os homens. Em vez de existirem o Estado e as fronteiras, os seres humanos viveriam em comunidades autogovernadas que decidiriam quem seria responsável por resolver os problemas (o que não significa atribuir-lhes autoridade). Para facilitar, os esquemas a seguir permitem visualizar, mais claramente, a concepção de política anarquista em comparação à concepção liberal de Estado.
Autoridade
“Decorre daí que rejeito toda autoridade? Longe de mim este pensamento. Quando se trata de botas, apelo para a autoridade dos sapateiros; se trata de uma casa, de um canal ou de uma ferrovia, consulto a do arquiteto ou a do engenheiro. Por tal ciência especial, dirijo-me a este ou àquele cientista. Mas não deixo que me imponham nem o sapateiro, nem o arquiteto, nem o cientista. Eu os aceito livremente e com todo o respeito que me merecem sua inteligência, seu caráter, seu saber, reservando, todavia, meu direito incontestável de crítica e de controle. Não me contento em consultar uma única autoridade especialista, consulto várias; comparo suas opiniões, e escolho aquela que me parece a mais justa. Mas não reconheço nenhuma autoridade infalível, mesmo nas questões especiais; consequentemente, qualquer que seja o respeito que eu possa ter pela humanidade e pela sinceridade deste ou daquele indivíduo, não tenho fé absoluta em ninguém. Tal fé seria fatal à minha razão, à minha liberdade e ao próprio sucesso de minhas ações; ela me transformaria imediatamente num escravo estúpido, num instrumento da vontade e dos interesses de outrem. [...] Inclino-me diante da autoridade dos homens especiais porque ela me é imposta por minha própria razão. Tenho consciência de só poder abraçar, em todos os seus detalhes e seus desenvolvimentos positivos, uma parte muito pequena da ciência humana. A maior inteligência não bastaria para abraçar tudo. Daí resulta, tanto para a ciência quanto para a indústria, a necessidade da divisão e da associação do trabalho. Recebo e dou, tal é a vida humana. Cada um é dirigente e cada um é dirigido por sua vez. Assim, não há nenhuma autoridade fixa e constante, mas uma troca contínua de autoridade e de subordinação mútuas, passageiras e, sobretudo, voluntárias. Esta mesma razão me proíbe, pois, de reconhecer uma autoridade fixa, constante e universal, porque não há homem universal, homem que seja capaz de aplicar sua inteligência, nesta riqueza de detalhes sem a qual a aplicação da ciência a vida não é absolutamente possível, a todas as ciências, a todos os ramos da atividade social. E, se uma tal universalidade pudesse ser realizada em um único homem, e se ele quisesse se aproveitar disso para nos impor sua autoridade, seria preciso expulsar esse homem da sociedade, visto que sua autoridade reduziria inevitavelmente todos os outros à escravidão e à imbecilidade. Não penso que a sociedade deva maltratar os gênios como ela o fez até o presente momento; mas também não acho que os deva adular demais, nem lhes conceder quaisquer privilégios ou direitos exclusivos; e isto por três razões: inicialmente porque aconteceria com frequência de ela tomar um charlatão por um gênio; em seguida porque, graças a este sistema de privilégios, ela poderia transformar um verdadeiro gênio num charlatão, desmoralizá-lo, animalizá-lo; e, enfim, porque ela daria a si um senhor”.
A principal mensagem do texto pode ser identificada na afirmação do autor de que não nega toda a autoridade, mas não se deixa dominar por apenas uma, comparando orientações de diversas autoridades e especialistas em determinado assunto. Não se deixa dominar refletindo e analisando o que dizem diferentes autoridades, mas buscando sua própria resposta ou solução.
CAPITALISMO SEGUNDO MARX
Neste texto, vamos estudar a filosofia elaborada por Karl Marx para compreender o ser humano e a sociedade humana.
Como reflexão inicial, pense sobre a seguinte questão: Como o homem se distingue dos animais? Aponte algumas características exclusivas do ser humano. Uma distinção importante entre homens e animais está na palavra, na linguagem falada e na construção de culturas que as linguagens faladas e escritas permitem.
Trabalho e modos de produção
De acordo com Marx e Engels, podem-se distinguir os homens dos animais de diferentes maneiras: por exemplo, pelo fato de terem consciência, religião ou qualquer outra característica que se queira mencionar (a linguagem, a racionalidade etc.). No entanto, eles próprios começam a se distinguir a partir do momento em que passam a produzir os meios necessários à conservação de sua vida1. “Pode-se referir a consciência, a religião e tudo o que se quiser como distinção entre os homens e os animais; porém, esta distinção só começa a existir quando os homens iniciam a produção dos seus meios de vida, passo em frente que é consequência da sua organização corporal. Ao produzirem os seus meios de existência, os homens produzem indiretamente a sua própria vida material.”2
De fato, diferentemente dos outros animais, que necessitam se adaptar à natureza para sobreviver, o ser humano é capaz de transformá-la e adaptá-la às suas necessidades (de alimentação, de proteção contra predadores e intempéries da natureza, de reprodução da espécie etc.), produzindo, assim, ele próprio, as condições necessárias à sua existência. Para tanto, o homem é capaz de produzir ferramentas e técnicas que ele vai aperfeiçoando ao longo do tempo e que facilitam e tornam mais produtivo o seu trabalho de transformação da natureza e satisfação de suas necessidades. É nesse sentido que, como lembra Marx,Benjamin Franklin definiu o homem como “a toolmaking animal ”, isto é, “um animal que faz instrumentos de trabalho”.3
As formas como os homens produzem coletivamente os bens necessários à sua sobrevivência variaram ao longo da história da humanidade, dando origem aos diferentes modos de produção, tais como: o modo de produção primitivo, o escravista, o asiático, o feudal, o capitalista, o socialista.
Em geral, os modos de produção se constituem de dois elementos fundamentais: as forças produtivas e as relações de produção.
Por forças produtivas entende-se o conjunto dos agentes que impulsionam o processo produtivo. Incluem:
• os meios de produção: instrumentos, ferramentas, utensílios, terra, edifícios, instalações, máquinas, matéria-prima etc.;
• a força de trabalho: a energia muscular e cerebral com a qual os trabalhadores, valendo-se dos meios de produção, possibilitam que o processo produtivo aconteça.
Quanto mais desenvolvidas as forças produtivas, maior a produtividade do trabalho.
Leitura e Análise de Texto
As relações de produção são as relações que os homens estabelecem entre si e com a natureza no processo produtivo. De um modo geral, elas são determinadas pela forma de propriedade dos meios de produção. Por exemplo, no modo de produção primitivo a propriedade dos meios de produção era coletiva, o que permitia que todos participassem da produção e do consumo dos bens necessários à comunidade. Nesse tipo de sociedade predominavam relações sociais mais igualitárias, de cooperação e ajuda mútua. Por outro lado, em um modo de produção em que os meios de produção são de propriedade privada ou particular e no qual os seus proprietários se apropriam do produto do trabalho dos não proprietários, as relações sociais predominantes são de conflito e antagonismo. Tem-se, nesse caso, uma sociedade de classes: a dos proprietários e a dos não proprietários dos meios de produção. Pode-se dizer, portanto, que a origem da sociedade de classes, ou da desigualdade social, está na propriedade privada dos meios de produção.
A seguir vamos examinar um pouco mais de perto o modo de produção capitalista, à luz das análises que dele foram feitas por Karl Marx.
1 MARX, K; ENGELS, F. A ideologia alemã. p. 4. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.
do?select_action=&co_obra=2233>. Acesso em: 11 jan. 2010.
2 Idem, ibidem.
3 MARX, Karl. O capital. Parte III, cap. 7: Processo de trabalho e processo de produção de mais-valia. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=2433>. Acesso em: 11 jan. 2010.
1. O que significa a expressão de Benjamin Franklin: o homem é “a toolmaking animal”, isto é, “um animal que faz instrumentos de trabalho”? A expressão toolmaking animal significa que o ser humano é capaz de produzir ferramentas e técnicas que ele vai aperfeiçoando ao longo do tempo e ampliando sua capacidade de transformação da natureza.
2. Em folha avulsa, registre a partir do que foi entendido sobre os conceitos “modo de produção”, “forças produtivas”, “meios de produção”, “força de trabalho” e “relações de produção”.
O modo de produção capitalista e suas classes fundamentais
Vimos que os modos de produção se constituem por forças produtivas e relações de produção, sendo essas determinadas pela forma de propriedade dos meios de produção.
Leitura e Análise de Texto
No caso do modo de produção capitalista, ele se caracteriza pela propriedade privada dos meios de produção, da qual decorre a existência de duas classes sociais fundamentais:
A burguesia ou classe capitalista (proprietária), numericamente minoritária, e o proletariado ou classe trabalhadora, isto é, a classe dos que, desprovidos dos meios de produção, são obrigados, para garantir sua sobrevivência, a vender sua força de trabalho à burguesia em troca de um salário. Poder-se-ia falar, ainda, em uma classe intermediária, formada por indivíduos que nem possuem meios de produção, nem trabalham para aqueles que os possuem. Seriam os profissionais liberais de todo tipo (médicos, engenheiros, advogados etc.) e os que atuam no setor de serviços. Contudo, o que determina o caráter do modo de produção capitalista são as duas classes fundamentais – burguesia e proletariado – mais diretamente envolvidas no processo produtivo.
Uma vez que detém o poder econômico e, consequentemente, o poder político, a burguesia se constitui como classe dominante, ao passo que o proletariado se configura como classe dominada.
O principal objetivo do capitalista como classe social é obter lucro, isto é, uma soma de dinheiro superior à que ele investiu na produção de mercadorias. Isso acontece da seguinte maneira.
Inicialmente, o capitalista emprega certa quantidade de dinheiro (D) para comprar as mercadorias (M) de que precisa para produzir, tais como máquinas, ferramentas, instalações, prédios, energia elétrica, combustível, água, matéria-prima, entre outras. Em suma, ele adquire os meios de produção. Além disso, precisa comprar também a força de trabalho que vai interagir com as máquinas e com os equipamentos e impulsionar a produção.
(Como veremos adiante, no capitalismo a força de trabalho, isto é, o trabalhador, também se converte em mercadoria, e numa mercadoria muito especial.) Ao final do processo, as mercadorias produzidas deverão ser vendidas por um valor superior ao que o capitalista investiu (D’), proporcionando a ele o lucro desejado. A fórmula que expressa esse movimento é: D → M → D’.
O dinheiro usado pelo capitalista para comprar as mercadorias (incluindo a força de trabalho) de que precisa para produzir outras mercadorias cuja venda lhe trará mais dinheiro do que tinha antes (lucro) é denominado capital. Portanto, ao contrário do que muitos pensam, não é qualquer dinheiro acumulado que pode ser chamado de capital. O dinheiro que alguém guarda na poupança para comprar um bem de que necessita, por exemplo, não é propriamente capital. Nas palavras de Marx:
“A primeira distinção que notamos entre dinheiro que é apenas dinheiro e dinheiro que é capital está na sua forma de circulação.
A forma mais simples de circulação de mercadorias é M – D – M, a transformação da mercadoria em dinheiro e a transformação do dinheiro novamente em mercadoria; ou vender para comprar. Mas ao lado dessa forma encontramos uma outra forma especificamente diferente: D – M – D, a transformação de dinheiro em mercadoria e a transformação de mercadorias novamente em dinheiro; ou, comprar para vender. Dinheiro que circula nesta

1.                             Identifique e defina as classes sociais fundamentais do modo de produção capitalista. Burguesia e proletariado são as classes fundamentais do capitalismo. Burguesia é classe detentora dos meios de produção e que acumula capital e proletariado são os trabalhadores.
2.                             Qual é a diferença entre dinheiro como dinheiro e dinheiro como capital?
O dinheiro como dinheiro não é utilizado para obtenção de lucro, sendo utilizado numa forma de circulação de mercadorias M-D-M, ou seja, vende-se uma mercadoria para a obtenção de dinheiro para a compra de outra mercadoria. O dinheiro como capital visa a obtenção de lucro. Circula sob forma D-M-D, ou seja, compra-se uma mercadoria para vendê-la com valor maior, assim com lucro.

3.                              Considere as seguintes situações hipotéticas:

• João quer comprar um tênis novo. Para tanto, resolve juntar algum dinheiro. Ao atingir a soma necessária, dirige-se à loja de calçados e adquire o tênis desejado.
• O proprietário de uma fábrica de calçados lança mão de uma certa quantidade de dinheiro para comprar couro de um curtume para usá-lo em sua produção. Ao vender os calçados fabricados, espera ter lucro e acumular mais dinheiro.
Pergunta: O dinheiro usado por João e pelo proprietário da fábrica de calçados pode ser chamado de capital? Justifique.
R. O dinheiro usado por João não é capital, mas o dinheiro do proprietário com o qual compra o couro é capital, como elucidam os textos anteriormente estudados.

LEITURA E ANÁLISE DE TEXTO
A mais-valia
Vimos que, nas relações sociais capitalistas, o trabalhador (proletário) precisa vender sua força de trabalho que, desse modo, converte-se em mercadoria. Mas a força de trabalho tem uma peculiaridade que a torna especial comparativamente às demais mercadorias.
Vejamos por quê:
O valor de uma mercadoria é determinado pela quantidade média de trabalho que ela contém, isto é, pela quantidade de trabalho socialmente necessária para sua produção. Essa quantidade é medida pelo tempo de duração desse trabalho, expresso em horas, dias etc.
Os meios de produção adquiridos pelo capitalista são mercadorias já produzidas pelo trabalho de outrem. Por isso, o trabalho que há nelas é denominado por Marx trabalho pretérito ou trabalho morto realizado pela máquina a um custo menor e com o mesmo efeito no mercado. Essas mercadorias possuem um valor constante que, uma vez pago, não mais se altera significativamente. Por isso, o capital usado na sua compra denomina-se capital constante. Seu custo é repassado gradativamente para os produtos, permitindo que o capitalista recupere o investimento realizado. Essas mercadorias, portanto, não são capazes de criar mais valor do que aquele que possuíam originalmente.
A mercadoria força de trabalho também possui um valor específico, representado pelo salário. Esse valor, como o de qualquer outra mercadoria, é determinado pelo tempo de trabalho socialmente necessário à sua produção. Mas o que significa produzir a mercadoria força de trabalho? Significa garantir ao trabalhador as condições necessárias à sua existência, o que implica satisfazer suas necessidades fisiológicas (reprodução, alimentação, vestuário, habitação, saúde, transporte, segurança etc.) e culturais (educação, qualificação, lazer etc.).
Ocorre que a força de trabalho possui uma qualidade que a distingue de todas as outras mercadorias: sendo trabalho vivo, ao ser utilizada pelo capitalista ela cria valor, ou seja, ela produz mais valor do que o necessário para sua produção e reprodução. Em outras palavras, ela gera para o capitalista um valor maior do que o do salário que ele lhe paga. Por isso o capital empregado na sua compra denomina-se capital variável. Como ocorre esse processo de criação de valor?
Digamos que para produzir o equivalente ao valor de seu salário um trabalhador precisasse trabalhar quatro horas diárias. No entanto, é obrigado a trabalhar oito horas. As quatro horas excedentes correspondem ao valor a mais por ele produzido e que não lhe retorna na forma de salário. Esse valor excedente produzido pelo trabalhador é o que se denomina mais-valia. Apropriada pelo capitalista, é ela que lhe permite cobrir os custos da produção e, ainda, auferir lucros e acumular capital para continuar investindo e enriquecendo.
Trata-se, no fundo, de uma troca bastante desigual: os trabalhadores recebem um valor x e entregam ao capitalista um valor y muitas vezes superior a x. Esse processo de extração da mais-valia constitui a essência do modo de produção capitalista, sua lógica interna de funcionamento. Não há capitalismo sem mais-valia. Graças a ela, por mais bem remunerado que seja um trabalhador, seu salário será sempre inferior ao valor total produzido ao longo de sua jornada de trabalho. Eis por que a sociedade capitalista é, por natureza, fundada na exploração do trabalho e geradora de desigualdade. Não foi à toa que Marx comparou o capital aos vampiros:
“Mas o capital tem um único impulso vital, a tendência para criar valor e mais-valor, para fazer sua parte constante, os meios de produção, absorver a maior quantidade de mais-trabalho possível.
O capital é trabalho morto que, como vampiro, vive apenas de sugar trabalho vivo, e vive tanto mais quanto mais trabalho suga”.1
Se a desigualdade é inerente à sociedade capitalista, a sua eliminação definitiva supõe, necessariamente, a abolição desse modo de produção e a construção de novos tipos de relações de produção.
1. Em que sentido a força de trabalho é uma mercadoria especial? A força de trabalho é uma mercadoria especial, no sentido de criar valor, ou seja, gera para o capitalista um valor maior do que o salário que ele paga, pois, se o trabalhador precisa trabalhar 4 horas para produzir o valor do seu trabalho, ao trabalhar 8 horas ele produz o valor excedente que permite ao capitalista cobrir custos e obter lucros.
2. Você concorda com a comparação feita por Marx entre o capital e os vampiros? Justifique. Resposta aberta, a depender da concordância ou discordância do aluno. Espera-se a compreensão sobre comparação presente no texto e registre seu posicionamento a respeito justificando o mesmo.
3. Analise o significado das frases a seguir, posicionando-se em relação a elas.
a) Todo trabalho dignifica o homem? Resposta aberta, a depender da discussão do grupo. É importante lembrar que nem todo trabalho dignifica o homem.
b) Todos os homens são iguais perante a lei? Resposta aberta, a depender da discussão do grupo. Um comentário importante é que, apesar dessa igualdade prevista pela lei, na prática temos desigualdades verificadas em diversos campos da vida social: saúde, educação, trabalho, lazer.
c) O salário do trabalhador corresponde à quantidade de horas por ele trabalhadas? Nem sempre o salário corresponde à quantidade de horas trabalhadas. Nem todos os trabalhadores recebem por hora trabalhada e, além disso, a maioria trabalha mais do que seria necessário para pagar seu salário, o que permite a geração de valor de capital que abarca lucro e custos do empregador.
d) O lucro das empresas se deve à inteligência, à competência e ao espírito empreendedor dos empresários? O lucro não depende da inteligência, da competência e do espírito empreendedor do empresário e, sim, do fato de que este mesmo lucro que é acumulado em suas mãos não é distribuído entre os trabalhadores que produziram sua riqueza e resulta da mais-valia, ou seja, do fato de o empregado trabalhar mais do que o necessário para cobrir o valor de seu salário.
A ideologia
 Leitura e Análise de Texto
Vimos que o modo de produção capitalista funda-se na exploração do trabalho da maioria pela minoria, mediante o processo de extração da mais-valia. Poder-se-ia, então, perguntar: como essa situação se sustenta? Por que as massas exploradas não se revoltam e não transformam essa realidade?
Em grande parte porque os interesses particulares da classe dominante (mais-valia, lucro, acumulação de capital) são apresentados como universais, isto é, como se fossem interesses de toda a sociedade. Como dizem Marx e Engels:
“Com efeito, cada nova classe no poder é obrigada, quanto mais não seja para atingir os seus fins, a representar o seu interesse como sendo o interesse comum a todos os membros da sociedade ou, exprimindo a coisa no plano das ideias, a dar aos seus pensamentos a forma da universalidade, a representá-los como sendo os únicos razoáveis, os únicos verdadeiramente válidos”.1
Isso acontece porque a classe que domina a produção econômica em uma determinada sociedade domina também a produção das ideias que circulam nessa sociedade, de modo que as suas ideias se tornam as ideias dominantes. Como dizem Marx e Engels:
“Os pensamentos da classe dominante são também, em todas as épocas, os pensamentos dominantes, ou seja, a classe que tem o poder material dominante numa dada sociedade é também a potência dominante espiritual. A classe que dispõe dos meios de produção material dispõe igualmente dos meios de produção intelectual, de tal modo que o pensamento daqueles a quem são recusados os meios de produção intelectual está submetido igualmente à classe dominante”.2
Esse processo pelo qual a classe dominante confere um caráter universal aos seus interesses e às suas ideias é o que se denomina ideologia. Os meios de produção espiritual de que falam os autores são os diversos veículos pelos quais a classe dominante produz e difunde as ideias, os valores, as visões de mundo que lhe interessam: os meios de comunicação de massa (TV, rádio, jornais, revistas etc.), a escola, os livros, as religiões, entre outros.
Em suma, o papel da ideologia (na concepção aqui apresentada) é produzir uma visão distorcida da realidade, mostrando como universais os interesses particulares da classe dominante, a fim de legitimar e perpetuar as relações de produção capitalistas.
Algo semelhante ocorre com o Estado. Para Marx e Engels, a ideia de que ele é formado por um conjunto de instituições (governo, forças armadas, sistema jurídico, funcionalismo público etc.) que governam uma nação em prol do bem comum não passa de ilusão, de uma falsa universalidade. Na realidade, porém, o Estado “não é mais do que a forma de organização que os burgueses constituem pela necessidade de garantirem mutuamente a sua propriedade e os seus interesses”.3
1 MARX, Karl; ENGELS, F. A ideologia alemã. p. 30. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.
do?select_action=&co_obra=2233>. Acesso em: 11 jan. 2010.
2 Idem, p. 29.
3 Idem, p. 59.
1. Você diria que as frases apresentadas na atividade anterior são ideológicas? Em que sentido? Justifique. As frases apresentadas são ideológicas, porque justificam a exploração capitalista do trabalho e do trabalhador. Não apresentam todos os lados da questão levantada, mas afirmam parte de uma realidade como se fosse sua totalidade.
2. Cite outra frase que, a seu ver, pode ser ideológica, justificando sua indicação.
VOCÊ APRENDEU?
1. Descreva o processo pelo qual se dá a obtenção de lucro no capitalismo.
2. De que forma a filosofia marxista colabora para a compreensão do capitalismo? A filosofia de Marx colabora para a compreensão do capitalismo ao perguntar pelos mecanismos de exploração capitalista; ao analisar o processo de transformação da força de trabalho em mercadoria; e ao questionar a divisão da sociedade em classes e a propriedade dos meios de produção.


Prof. Manoelito


terça-feira, 17 de setembro de 2013

“Três concepções de liberdade – Libertarismo, determinismo e Dialética”


O DETERMINISMO

Neste texto, vamos continuar aprofundando a discussão sobre liberdade, abordando um tema de grande relevância para a Filosofia, que é o determinismo.
Segundo a concepção determinista, o mundo, os acontecimentos e até o comportamento humano são regidos por leis necessárias e imutáveis, que escapam ao controle dos homens, de modo que a liberdade é impossível.
1. As coisas acontecem porque têm que acontecer ou somos nós que fazemos com que aconteçam? Justifique.
2. No dia a dia, fazemos inúmeras escolhas a todo momento: da roupa, do calçado ou do corte de cabelo que usamos; do livro que pegamos para ler; da notícia de jornal que privilegiamos; dos valores, das crenças e das opiniões que adotamos; das músicas que preferimos sintonizar no rádio ou baixar da internet; dos programas de TV a que assistimos; da profissão que almejamos no futuro; da pessoa com quem desejamos namorar ou casar etc. Enumere mais algumas escolhas do seu cotidiano e, em seguida, responda:
É você mesmo quem escolhe com liberdade ou você é induzido a preferir determinadas coisas e produtos em detrimento de outras?
Leia o texto com muita atenção e proponha uma solução para o dilema entre libertarismo e determinismo nas linhas que se seguem ao texto. Afinal, tanto um quanto outro apresentam aspectos positivos, mas também sérios problemas. Como então solucionar o impasse? Haveria uma posição conciliatória?
Determinismo e liberdade
Se procurarmos no dicionário, veremos que determinismo é a concepção segundo a qual “tudo no universo, até mesmo a vontade humana, está submetido a leis necessárias e imutáveis, de tal forma que o comportamento humano está totalmente predeterminado pela natureza, e o sentimento de liberdade não passa de uma ilusão subjetiva”. Portanto, se o comportamento humano é determinado, a liberdade torna-se impossível.
Se tudo é determinado, a rigor não há ato voluntário nem escolha. Como tudo é movido por uma causa que se encontra fora de nós, não podemos evitar agir como agimos. Daí também não podermos ser moralmente responsabilizados pelo que fazemos, visto que não poderíamos tê-lo feito de outro modo.
Este parece ser o caso, por exemplo, do cangaceiro Severino, personagem do filme O auto da compadecida. A certa altura da história, os protagonistas morrem, indo se encontrar no Juízo Final. Entre todos, porém, apenas Severino é absolvido de imediato e enviado para o Céu. A justificativa é a de que, pela vida miserável que levara, vítima de extrema violência e pobreza, não poderia ser culpabilizado pelos crimes e pecados que cometera. Seu destino fora estabelecido pelas condições em que viveu, sem que tivesse qualquer possibilidade de escolha.
O determinismo não significa que exista uma força coercitiva que nos obriga a agir de certa maneira. Na realidade, são as circunstâncias em que nos encontramos que produzem este agir. Assim, não sou eu quem escolhe (não há escolha livre), mas as circunstâncias escolhem por mim, compelindo-me a agir.
Como vemos, o determinismo cai no extremo oposto em relação ao libertarismo. Enquanto para este as circunstâncias externas são totalmente desconsideradas, em nome da preservação da liberdade, no determinismo elas são as únicas que contam, sacrificando-se a dimensão subjetiva e individual das escolhas humanas e, em última instância, a própria liberdade.
Ora, abdicar da liberdade é justamente o problema do determinismo. De fato, as circunstâncias externas determinam, em alguma medida, o comportamento humano, mas isso não significa que o homem seja mera vítima dessas circunstâncias.
Não se trata de negar a determinação do homem pelas circunstâncias externas, regressando ao libertarismo, mas de reconhecer essa determinação sem, contudo, considerá-la incompatível com a liberdade.
Aqui, porém, já estamos falando de outra posição sobre o problema da liberdade: a posição dialética, que será objeto de estudo mais adiante.
Pesquise na biblioteca, na internet ou em outras fontes, o que foi a Tragédia Grega e que papel ela cumpria na sociedade ateniense da época clássica.
Desafio!
1. O que é que vive na Terra e pela manhã possui quatro pés, dois ao meio-dia, e três à tarde? Justifique sua resposta.
2. Você acredita que existe um destino previamente traçado para cada pessoa e que não pode ser mudado? Justifique.

Leitura e Análise de Texto
No Brasil, há alguns anos, havia um programa de TV de perguntas e respostas, no qual o participante que acertasse todas as respostas ganharia 1 milhão de reais. Certa vez, um senhor aposentado chegou até a pergunta final, que era a seguinte: “Quantas letras há no lema da bandeira brasileira?” Se desistisse de responder, ganharia R$ 500 mil. Se errasse, sairia quase sem nada. O senhor decidiu encarar o desafio, mas errou a resposta.
Em vez de 15, contou 16 letras. Pensou em “Ordem ou progresso” em vez de “Ordem e progresso”. Saiu do programa com apenas 300 reais, valor que todos os participantes recebiam. Indagado sobre como se sentia após o ocorrido, afirmou que não estava “triste nem desapontado”. E completou: “As folhas não caem de uma árvore se Deus não quiser.
Ele julgou que não deveríamos vencer. Eu aceito. Talvez o dinheiro nos trouxesse problemas. Além do que, não perdi nada. Só deixei de ganhar”.
1. Você aceita como válida a explicação dada pelo senhor para o fato de não ter acertado a resposta? Justifique.
2. Você conhece situações em que as pessoas respondem, de forma semelhante à descrita no texto apresentado? Relate-as sumariamente e as comente, posicionando-se.

Leitura e Análise de Texto
“Sobre o destino”
Uma das formas mais comuns de manifestação do determinismo é o fatalismo, que consiste na concepção segundo a qual as coisas acontecem porque têm de acontecer, porque foram fixadas pelo destino, sem que se possa mudar o rumo dos acontecimentos.
Mas será que existe mesmo um destino previamente traçado e do qual não podemos escapar? Essa pergunta, que ainda intriga muita gente nos dias atuais, já era feita pelos gregos na Antiguidade. E, a julgar pela sina de Édipo, descrita na tragédia de Sófocles, a resposta, para eles, era afirmativa. Vejamos, então, um breve resumo dessa história.
Laio era rei de Tebas e Jocasta, a rainha. Não conseguiam ter filhos, por isso o rei decidiu ir a Delfos consultar o oráculo e receber orientações para ter um sucessor ao seu trono. A resposta do Oráculo transtorna Laio: se tiver um filho, este matará o pai e se casará com a mãe. Mortificado, Laio decide não ter filhos. Porém, em um momento de embriaguez ama Jocasta e a engravida. Os reis tornam-se pais de um menino, confiado a um pastor, que deveria levá-lo para uma montanha e matá-lo, para evitar a realização da profecia.
Ao chegar à montanha, porém, o pastor se comove com o olhar do menino e decide entregá-lo a outro pastor que, por sua vez, entregou-o ao rei Pólibo e à rainha Peribeia, de Corinto, que não tinham filhos e desejavam um. Adotam o filho de Laio e Jocasta com o nome de Édipo. Embora ele próprio desconhecesse sua origem, as pessoas do lugar sabiam que não era filho biológico do rei. Édipo ouvia comentários sobre não ser filho de Pólibo e, intrigado e insatisfeito, vai a Delfos consultar o oráculo para saber sua origem. O oráculo responde-lhe com a profecia que fizera a Laio: ele matará seu pai e se casará com sua mãe. Horrorizado, Édipo decide se exilar para o mais longe possível a fim de proteger aqueles a quem tinha como pais. Assim, em vez de voltar para Corinto, dirige-se a Tebas, sem saber que estava regressando à sua terra natal.
Tebas vivia uma epidemia de peste terrível. Preocupado, o rei Laio (pai biológico de Édipo) decide ir a Delfos pedir conselhos ao oráculo. No caminho, depara-se com Édipo (sem saber que se tratava de seu filho), justamente numa parte estreita da estrada em que só era possível passar uma carruagem de cada vez. Laio, na condição de soberano, julga ter prioridade na passagem e ordena a seu cocheiro que mande Édipo se afastar. O cocheiro obedece, demonstrando certa violência. Édipo reage e, na luta, mata o cocheiro e também Laio. Um dos membros do séquito real, porém, consegue fugir e retorna para Tebas.
Édipo, considerando que agiu em legítima defesa, segue seu caminho. Tempos depois, ao chegar à cidade, descobre que ela está sob a ameaça da Esfinge: um monstro com cabeça e seios de mulher e patas de leoa que se alojara às portas da cidade e se divertia propondo enigmas aos jovens tebanos. Quando não conseguiam responder, devorava-os. Creonte, irmão da rainha Jocasta, governava Tebas após a morte do rei. Ao se deparar com Édipo, alimenta a esperança de que talvez este jovem fosse capaz de resolver um enigma apresentado pela Esfinge, libertando a cidade dos males que estava sofrendo.
Propõe-lhe, então, que, se derrotar o monstro, poderá se casar com a rainha Jocasta. Édipo aceita o desafio. A Esfinge pergunta: “Quem, entre os que vivem na Terra, de manhã tem quatro pés, dois pés ao meio-dia e três à tarde?” Édipo responde que é o homem.
Quando criança ele engatinha, na idade adulta é bípede e na velhice usa uma bengala. A Esfinge, derrotada, atira-se do alto do rochedo e morre.
Édipo é recebido na cidade como herói e, como recompensa, casa-se com Jocasta, ignorando tratar-se de sua mãe e tornando-se rei de Tebas. Durante anos tudo corre muito bem e o casal tem quatro filhos. Até que, de repente, uma outra peste se abate sobre a cidade. As crianças nascem deformadas ou mortas. Uma doença misteriosa ataca homens, mulheres, crianças e idosos.
Creonte resolve mandar alguém a Delfos para saber do oráculo a origem dessa epidemia. A resposta é que a peste duraria enquanto o assassinato de Laio não fosse vingado.
Édipo, então, sem saber que o assassino era ele próprio, assume o compromisso de achar o culpado e inicia uma investigação. Nesse meio tempo, chega a Tebas um mensageiro, vindo de Corinto, trazendo uma triste notícia para o rei: a de que seus pais, o rei e a rainha de Corinto, haviam morrido. Triste e com sentimento de culpa por estar longe dos pais, Édipo justifica-se dizendo que saíra de Corinto por causa da previsão do oráculo de que mataria seu pai e se casaria com sua mãe. Ao ouvir isso, o mensageiro lhe revela que isso não seria possível, pois Pólibo e Peribeia não eram seus pais biológicos. Édipo, estarrecido, pergunta ao mensageiro como ele poderia saber de tudo aquilo. Ao que ele responde: “Eu sei porque fui eu quem entregou você a meus patrões”. “E quem te deu esta criança?”, pergunta Édipo. O mensageiro aponta para um dos presentes, reconhecendo o pastor de Laio que lhe havia entregue o menino. Édipo, então, se dirige ao pastor perguntando quem lhe dera a criança. Ele responde: “Jocasta”.
Édipo percebe que a profecia do oráculo se cumprira: ele era filho da mulher com quem se deitara e cujo marido, seu pai, fora morto por suas mãos. Feito um louco, corre para o palácio à procura de Jocasta e a encontra morta, enforcada com seu cinto. Inconformado e apavorado, fura os próprios olhos com as presilhas do vestido de sua mãe/esposa.
Resumo do mito narrado por Sófocles (dramaturgo grego que viveu entre 496 a.C. e 406 a. C.): Édipo Rei. Disponível em: <http://
www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=2255>. Acesso em: 12 jan. 2010.
1. Qual era a mensagem desta tragédia para a sociedade ateniense daquela época em relação à questão do destino? Justifique sua resposta.
2. Na história de Édipo ocorre uma sucessão de “acasos” que o conduzem à realização da profecia do oráculo: a bebedeira do pai, a fertilidade da mãe justamente naquele dia, a presença do outro pastor, o desejo dos reis de Corinto de ter um filho, o encontro com Laio na parte estreita da estrada, a fuga de um dos acompanhantes do rei, a Esfinge, a resposta ao enigma, a peste em Tebas, a chegada do mensageiro de Corinto etc. Esse determinismo presente nas narrativas trágicas mostra um encadeamento de eventos que condicionam um determinado fim, mas o determinismo está presente também nas explicações científicas, o chamado determinismo científico.
Converse com seus professores e colegas, consulte a internet e os livros disponíveis na biblioteca e indique exemplos de determinismo nas ciências.


Sugestão de Filme
• Quem quer ser um milionário (Slumdog Millionaire), Direção: Danny Boyle. Inglaterra, 2008. 120 min. 16 anos. Drama. O filme vencedor do Oscar de 2009, apresenta um jovem indiano, chamado Jamal, morador de uma favela e que trabalha servindo chá em um call center, que decide participar de um programa de TV homônimo ao filme.
Para a estupefação de todo o país, o jovem consegue chegar à última pergunta, ficando prestes a ganhar o prêmio máximo: 20 milhões de rúpias.
Após assistir ao filme, reflita: Você vê semelhanças entre as histórias do protagonista Jamal, do senhor que participou do programa brasileiro de perguntas e respostas e de Édipo? Quais?



Leitura e Análise de Texto
Música: Partido alto

Diz que deu, diz que dá
Diz que Deus dará
Não vou duvidar, ô nega
e se Deus não dá
Como é que vai ficar, ô nega
Diz que Deus diz que dá
E se Deus negar, ô nega
Eu vou me indignar e chega
Deus dará, Deus dará
Deus é um cara gozador, adora brincadeira
Pois pra me jogar no mundo, tinha o mundo
[inteiro
Mas achou muito engraçado me botar
[cabreiro
Na barriga da miséria, eu nasci batuqueiro
Eu sou do Rio de Janeiro
Jesus Cristo inda me paga, um dia inda
[me explica
Como é que pôs no mundo esta pobre

[coisica
Vou correr o mundo afora, dar uma
[canjica
Que é pra ver se alguém se embala ao
[ronco da cuíca
E aquele abraço pra quem fica
Deus me fez um cara fraco, desdentado
[e feio
Pele e osso simplesmente, quase sem
[recheio
Mas se alguém me desafia e bota a mãe
[no meio
Dou pernada a três por quatro e nem me
[despenteio
Que eu já tô de saco cheio
Deus me deu mão de veludo pra fazer
[carícia
Deus me deu muitas saudades e muita
[preguiça
Deus me deu pernas compridas e muita
[malícia
Pra correr atrás de bola e fugir da polícia
Um dia ainda sou notícia.
Chico Buarque
1972 © Marola Edições Musicais ltda.



Com base na letra da música, responda às questões:

1. Você vê alguma relação entre a música e o conteúdo do texto apresentado? Fundamente sua
resposta.
2. A seu ver, as situações descritas na música podem ser atribuídas a Deus? Justifique.
Leitura e Análise de Texto
Liberdade humana e providência divina
Outra forma de manifestação do determinismo é a doutrina da providência divina. Providência vem do latim providentia e significa conhecer, ver ou descobrir antecipadamente.
Nesse sentido, essa doutrina se assemelha bastante ao fatalismo, com a diferença de que ela possui um caráter mais explicitamente religioso. Em linhas gerais, consiste em afirmar que Deus é o criador da ordem do mundo e responsável pela condução dos acontecimentos.
Em outras palavras, o mundo possui uma ordem racional que vem de Deus e que compreende tanto os acontecimentos quanto as ações dos homens. De modo geral, a doutrina da providência implica negar a possibilidade da liberdade humana, pois ao homem cabe apenas adequar-se aos desígnios divinos.
O tema da providência foi objeto da preocupação de vários filósofos ao longo da história. Alguns deles, porém, procuraram conciliar a tese da ordenação divina com a liberdade do homem. Um desses foi o inglês Thomas Hobbes, que viveu entre os séculos XVI e XVII.
Em sua obra Leviatã, na qual expõe suas teses políticas, dedica o capítulo XXI à questão da liberdade dos súditos. Inicia definindo a liberdade: “liberdade significa, em sentido próprio, a ausência de oposição (entendendo por oposição os impedimentos externos do movimento)”. 1
Em seguida, apresenta alguns exemplos de situações em que não há liberdade: quando alguém está “amarrado ou envolvido de modo a não poder mover-se”; as “criaturas vivas, quando se encontram presas ou limitadas por paredes ou cadeias”; “as águas, quando são contidas por diques ou canais”.2
No caso do conceito de “livre-arbítrio”, Hobbes atribui a ele um significado um pouco diferente. Assim como quando dizemos “o caminho está livre” não pretendemos afirmar a liberdade do caminho propriamente dito, mas sim das pessoas que por ele passam, assim também, quando falamos em livre-arbítrio não podemos inferir dessa expressão a “liberdade da vontade, do desejo ou da inclinação, mas apenas a liberdade do homem”.3 Esta “consiste no fato de ele não deparar com entraves ao fazer aquilo que tem vontade, desejo ou inclinação”.4 Em outras palavras, o homem é livre para fazer o que tem vontade, mas não é livre para escolher a vontade, o desejo e a inclinação que tem. A vontade, o desejo e a inclinação que há no homem derivam de outras causas, alheias a ele. Mais precisamente, derivam de uma cadeia de causas, cuja origem está em Deus, que é a causa primeira de tudo.
Assim, Hobbes procura conciliar liberdade e necessidade: “A liberdade e a necessidade são compatíveis: tal como as águas não tinham apenas a liberdade, mas também a necessidade de descer pelo canal, assim também as ações que os homens voluntariamente praticam, dado que derivam de sua vontade, derivam da liberdade; ao mesmo tempo que, dado que os atos da vontade de todo homem, assim como todo desejo e inclinação, derivam de alguma causa, e esta de uma outra causa, numa cadeia contínua (cujo primeiro elo está na mão de Deus, a primeira de todas as causas), elas derivam também da necessidade. De modo tal que para quem pudesse ver na conexão dessas causas a necessidade de todas as ações voluntárias dos homens pareceria manifesta”.5
Se, em última instância, a origem da vontade humana encontra-se em Deus, então a ideia de providência divina fica preservada: “Portanto Deus, que vê e dispõe todas as coisas, vê também que a liberdade que o homem tem de fazer o que quer é acompanhada pela necessidade de fazer aquilo que Deus quer, e nem mais nem menos do que isso. Porque, embora os homens possam fazer muitas coisas que Deus não ordenou, e das quais portanto não é autor, não lhes é possível ter paixão ou apetite por nada de cujo apetite a vontade de Deus não seja a causa”.6
Não fosse assim, a liberdade do homem “seria uma contradição e um impedimento à onipotência e liberdade de Deus”.7
É, pois, por esse raciocínio que Hobbes procura conciliar a liberdade do homem com a providência divina. Trata-se, porém, de uma liberdade limitada pelo fato de ser a vontade humana, necessariamente, derivada da vontade de Deus.
Ora, entre os atributos de Deus estão a sapiência, a bondade, o amor, a justiça. Assim, atribuir a ele a causa da vontade humana como da ordem do mundo e dos acontecimentos não seria uma forma de minimizar a responsabilidade do homem pelas circunstâncias em que vive? Não seria uma estratégia eficaz para sacralizar e legitimar o mundo e a ordem social vigente? Nesse sentido, não haveria na tese da providência divina, pelo menos na forma acrítica em que ela comumente é apresentada, um sentido politicamente conservador?
1 HOBBES, Thomas. Leviatã ou Matéria, forma e poder de um Estado eclesiástico e civil. Tradução João P. Monteiro e Maria B. N. da Silva. São Paulo: Nova Cultural, 1983. p. 129. (Os Pensadores).
Após a leitura dos textos, responda as seguintes questões:
1. Em que consiste a tese da providência divina?
2. O que pensa Hobbes sobre a liberdade?
3. O que é determinismo?
4. Como Hobbes procura eliminar a contradição entre providência divina e livre-arbítrio? Você concorda? Justifique.
5. Em folha avulsa, elabore uma breve dissertação comparando libertarismo e determinismo, com base nos autores estudados.


A CONCEPÇÃO DIALÉTICA DA LIBERDADE
Neste texto será abordada uma concepção de liberdade que busca superar a contradição entre o libertarismo e o determinismo. Para tanto, iniciaremos com a análise da letra da música Como uma onda (Zen Surfismo), de Nelson Motta e Lulu Santos, e com a leitura do texto A dialética.
Leitura e Análise de Texto
Música: Como uma onda (Zen Surfismo) Composição: Nelson Motta/lulu Santos.
Como uma onda

Nada do que foi será
De novo do jeito que já foi
um dia
Tudo passa, tudo sempre
passará
A vida vem em ondas,
como um mar
Num indo e vindo
infinito
Tudo que se vê não é
Igual ao que a gente viu há
um segundo
tudo muda o tempo todo no
mundo
Não adianta fugir
Nem mentir pra si mesmo
agora
Há tanta vida lá fora
Aqui dentro sempre
Como uma onda no mar
Como uma onda no mar
Como uma onda no mar


A dialética
Vimos que tanto o libertarismo como o determinismo levantam aspectos importantes sobre o problema da liberdade, mas não oferecem respostas suficientes para ele. Enquanto o primeiro desconsidera a influência das circunstâncias em nossas decisões, o segundo enfatiza de tal maneira essa influência que chega a negar a liberdade. Mas haverá uma posição capaz de incorporar a contribuição positiva dessas duas concepções da liberdade e, ao mesmo tempo, superar suas limitações? Uma posição que admita os condicionamentos externos sem abrir mão da liberdade? Uma possível resposta parece estar na concepção dialética da liberdade.
Mas o que vem a ser dialética? De acordo com o Dicionário Houaiss, “em sentido bastante genérico”, a palavra está associada à ideia de “oposição, conflito originado pela contradição entre princípios teóricos ou fenômenos empíricos”.1
Um dos primeiros a desenvolver essa forma de pensar foi Heráclito (séculos VI e V a.C.), filósofo grego do período pré-socrático que viveu na cidade de Éfeso. Para ele, nada é imóvel, imutável, isto é, nada permanece aquilo que é; ao contrário, tudo está em movimento, tudo muda, tudo flui, tudo se transforma, tudo é devir. Por isso, ele teria dito:
“Não se pode entrar duas vezes no mesmo rio”, porque tanto as águas como a pessoa que nelas entra novamente já não são as mesmas.
O motor dessa transformação é a contradição que está contida em todas as coisas. Isso quer dizer que, no interior de cada coisa, há forças opostas em luta entre si e que fazem com que ela deixe de ser o que é e se torne outra coisa. Em outras palavras, cada coisa é uma “unidade de contrários”. Dia e noite, vida e morte, luz e escuridão, tristeza e alegria, quente e frio, amor e ódio, acaso e necessidade, beleza e feiura, enfim, qualquer que seja a dupla de contrários que se imagine, cada elemento da contradição traz dentro de si a sua negação (o seu contrário) e nele se transforma, num movimento infinito.
No tempo de Sócrates e Platão, a palavra “dialética” designava certo modo de discutir ou dialogar que tinha por objetivo explicitar as contradições presentes no raciocínio dos interlocutores, a fim de superar as divergências das opiniões particulares e atingir o conhecimento verdadeiro.2 Portanto, também aí o conceito de dialética estava associado à ideia de contradição, de conflito, de antagonismo e de busca de sua superação. No caso da dialética socrática e platônica, tratava-se da contradição presente no pensamento e no discurso, responsável por produzir um conhecimento falso ou, pelo menos, impreciso (opinião – doxa) e que precisava ser substituído por outro, considerado verdadeiro (ciência – episteme).
De lá para cá, ao longo da história da Filosofia, inúmeros filósofos fizeram uso do conceito de dialética, atribuindo a ele diferentes conotações, mas sempre enfatizando o aspecto da contradição. Esta, portanto, constitui um elemento fundamental na perspectiva dialética.
Mas quem de fato sistematizou a dialética como método de interpretação da realidade foi um filósofo alemão idealista, dos séculos XVIII e XIX, chamado Georg Wilhelm Friedrich Hegel. De modo muito simplificado, podemos dizer que Hegel, retomando a tese de Heráclito da luta dos contrários, concebe a História como um processo que resulta das contradições presentes no pensamento. Analisando a evolução do pensamento humano, Hegel percebeu que ela ocorre por um processo que envolve três momentos: o da tese (afirmação de uma ideia ou posição), o da antítese (afirmação da ideia contrária à primeira) e o da síntese (conclusão derivada da superação da contradição entre as duas primeiras). Esta conclusão, uma vez estabelecida, se transformará numa nova síntese, recomeçando-se o processo. É o que ocorre, por exemplo, segundo ele, com os sistemas filosóficos que ao longo da história sucederam-se uns aos outros por um processo de tese, antítese e síntese. Como, porém, Hegel considerava o pensamento (as ideias, a consciência, o espírito) o motor da História, sua filosofia tem caráter idealista.
Marx absorve o núcleo dialético do pensamento hegeliano, mas confere a ele um caráter materialista. Para ele, a realidade, o mundo, a sociedade também estão permeados por contradições, mas estas não derivam do pensamento, e sim do modo como os homens produzem a sua existência material e do tipo de relações sociais que estabelecem entre si nesse processo produtivo. Por exemplo, no modo de produção capitalista, as relações sociais dominantes ocorrem entre capitalistas (proprietários dos meios de produção) e proletários (proprietários da força de trabalho). Entre estas duas classes sociais, há uma relação de contradição, de antagonismo, pois a realização dos interesses de uma (exploração do trabalho e obtenção da mais-valia) implica a negação dos interesses da outra (libertação da exploração). Assim, uma das principais contradições da sociedade é justamente a luta de classes, que, na visão de Marx e Engels, não é exclusiva da sociedade capitalista, mas algo que se verifica em toda a história da humanidade e que, para eles, atua como motor das transformações que se sucederam ao longo desta história. Nas palavras dos autores:
“A história de todas as sociedades que existiram até nossos dias tem sido a história das lutas de classes. Homem livre e escravo, patrício e plebeu, barão e servo, mestre de corporação e companheiro, numa palavra, opressores e oprimidos, em constante oposição, têm vivido numa guerra ininterrupta, ora franca, ora disfarçada; uma guerra que terminou sempre ou por uma transformação revolucionária, da sociedade inteira, ou pela destruição das duas classes em luta.
Nas primeiras épocas históricas, verificamos, quase por toda parte, uma completa divisão da sociedade em classes distintas, uma escala graduada de condições sociais. Na Roma Antiga encontramos patrícios, cavaleiros, plebeus, escravos; na Idade Média, senhores, vassalos, mestres, companheiros, servos; e, em cada uma destas classes, gradações especiais.
A sociedade burguesa moderna, que brotou das ruínas da sociedade feudal, não aboliu os antagonismos de classe. Não fez senão substituir novas classes, novas condições de opressão, novas formas de luta às que existiram no passado”.3
Assim, para Marx e Engels, não é o pensamento que, organizando-se de forma contraditória (tese, antítese e síntese), produz a realidade material, mas, sim, a realidade que, por força das contradições nela inerentes (como a luta de classes, por exemplo), gera as diferentes formas de pensamento. Dizendo de outra maneira: “Não é a consciência que determina a vida, mas, sim, a vida que determina a consciência”.4
Eis, portanto, o materialismo de Marx e Engels. Mas, como se trata de um materialismo dialético, isto é, que afirma a existência da contradição, da luta dos contrários, essa relação de determinação também é contraditória, de modo que, se, de um lado, a consciência é determinada pela vida, de outro lado, esta também é determinada por aquela. Há, na realidade, uma “ação recíproca” de mútua determinação entre os elementos opostos. Daí a conclusão dos autores para todo esse raciocínio de que “é tão verdade serem as circunstâncias a fazerem os homens como a afirmação contrária”.5
Esta última afirmação já nos sugere um caminho alternativo para superar a contradição entre determinismo e libertarismo.

Questões:
1. Que relação a música Como uma onda (Zen Surfismo) pode ter com a noção de dialética? Justifique.
2. Como se pode definir a dialética em um sentido mais geral?
3. Qual é o significado da frase atribuída a Heráclito: “Não se pode entrar duas vezes no mesmo rio”? Você concorda com ele?
4. Que sentido tinha o termo “dialética” para Sócrates e Platão?
5. Qual é a principal diferença entre a dialética de Hegel e a de Marx e Engels?
6. Analise e comente o significado da frase de Marx e Engels: “A história de todas as sociedades que existiram até nossos dias tem sido a história das lutas de classes”.

Dialética e liberdade
O problema da liberdade diz respeito à concepção que se tem do homem e de seu papel (ativo ou passivo) na história. Ora, na perspectiva do materialismo histórico dialético, o homem não pode ser concebido como um ser abstrato, isolado, destacado do mundo concreto em que vive (como faz, por exemplo, o libertarismo). Ele é, “em sua realidade, o conjunto das relações sociais”1, diz Marx. Afirmar que o homem é “o conjunto das relações sociais” é reconhecer que ele não é um indivíduo isolado, abstrato, pura subjetividade, imune às circunstâncias em que vive e às relações sociais que estabelece com seus semelhantes.
Pelo contrário, ele é, em grande medida, produto dessas relações e transforma-se continuamente com as transformações dessas relações. O homem da sociedade capitalista não é o mesmo do feudalismo, que, por sua vez, não é o mesmo do escravismo, que não é o mesmo das comunidades primitivas. Podemos dizer, portanto, que o homem é determinado pelas relações sociais ou que ele é socialmente determinado.
Mas, como vimos, a dialética supõe a contradição e a ação recíproca entre os elementos de uma dupla de contrários. Portanto, conceber o homem dialeticamente implica entender que a relação dele com a História, com a sociedade, com a natureza, com os outros homens, enfim, com a realidade que o cerca é também contraditória e de mútua determinação.
Assim, se as relações sociais produzem os homens, assim também os homens produzem as relações sociais que vivenciam. Ou, mais fielmente às palavras de Marx e Engels: “É tão verdade serem as circunstâncias a fazerem os homens como a afirmação contrária”.2
Assim, do ponto de vista da dialética, o homem tem um papel ativo na determinação das circunstâncias em que vive. Mas, como ele é também socialmente determinado, cabe perguntar: Em que medida ele é realmente capaz de alterar as relações sociais de que participa? Até onde vai o seu poder de fazer a História? Com que grau de liberdade ele o exerce? De acordo com Marx: “Os homens fazem sua própria história, mas não a fazem como querem; não a fazem sob circunstâncias de sua escolha e, sim, sob aquelas com que se defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado”.3 Não se trata, portanto, de um poder ilimitado, absoluto, tampouco de um poder irrisório, insignificante, nulo.
Concluindo, podemos dizer que a perspectiva dialética permite superar tanto a onipotência do libertarismo quanto a impotência do determinismo, colocando sobre nossos ombros a exata medida de responsabilidade que nos cabe na construção de nosso destino.
De fato, não podemos tudo. Mas há algo que podemos, a partir das condições objetivas em que nos encontramos. E é nesta margem relativa de possibilidades limitadas que podemos fazer valer a nossa liberdade.

Questões:
1. O que significa dizer que o homem é um “conjunto de relações sociais”?
2. Como a concepção dialética procura superar a contradição entre libertarismo e determinismo? Posicione-se.
3. De que forma o conceito de ação recíproca pode questionar o determinismo?
4. Apresente a diferença entre a concepção de dialética dos diferentes autores analisados.
5. Elabore, em folha avulsa, uma dissertação sobre o tema “a concepção dialética de liberdade” como forma de superação do libertarismo e do determinismo.

LIÇÃO DE CASA
Analisem, em folha avulsa, as letras das músicas, procurando explicitar e discutir a concepção de liberdade nelas subjacente. As músicas são “O sal da Terra”, de Beto Guedes e Ronaldo Bastos, e “O amanhã, de João Sérgio”, apresentada a seguir.

Música: O sal da Terra
Composição: Beto Guedes/Ronaldo Bastos
Leitura e Análise de Texto

O Sal da Terra
Beto Guedes
Anda!
Quero te dizer nenhum segredo
Falo nesse chão, da nossa casa
Vem que tá na hora de arrumar...
Tempo!
Quero viver mais duzentos anos
Quero não ferir meu semelhante
Nem por isso quero me ferir

Vamos precisar de todo mundo
Prá banir do mundo a opressão
Para construir a vida nova
Vamos precisar de muito amor
A felicidade mora ao lado
E quem não é tolo pode ver...
A paz na Terra, amor
O pé na terra
A paz na Terra, amor
O sal da...
Terra!
És o mais bonito dos planetas
Tão te maltratando por dinheiro
Tu que és a nave nossa irmã
Canta!
Leva tua vida em harmonia
E nos alimenta com seus frutos
Tu que és do homem, a maçã...
Vamos precisar de todo mundo
Um mais um é sempre mais que dois
Prá melhor juntar as nossas forças
É só repartir melhor o pão
Recriar o paraíso agora
Para merecer quem vem depois...
Deixa nascer, o amor
Deixa fluir, o amor
Deixa crescer, o amor
Deixa viver, o amor
O sal da terra


“O amanhã, de João Sérgio”

O Amanhã
A cigana leu o meu destino
Eu sonhei!
Bola de cristal
Jogo de búzios, cartomante
E eu sempre perguntei
O que será o amanhã?
Como vai ser o meu destino?
Já desfolhei o malmequer
Primeiro amor de um menino...
E vai chegando o amanhecer
leio a mensagem zodiacal
E o realejo diz
Que eu serei feliz
Como será amanhã?
Responda quem puder
O que irá me acontecer?
O meu destino será
Como Deus quiser
João Sérgio
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Prof. Manoelito