quinta-feira, 31 de outubro de 2013

1ª SÉRIE CONTEÚDOS PARA AVALIAÇÃO (1) (4º BIMESTRE)

EE BATISTA RENZI
DISCIPLINA: FILOSOFIA
ÁREA: CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
ETAPA DA EDUCAÇÃO BÁSICA: ENSINO MÉDIO
1ª SÉRIE – VOLUME 4 - 4º BIMESTRE
TEMAS E CONTEÚDOS: DESIGUALDADE SOCIAL E IDEOLOGIA - DEMOCRACIA E JUSTIÇA SOCIAL
PROF. MANOELITO

Este texto apresenta temas e conteúdos da Filosofia política para que você tenha oportunidade de entrar em contato com questões importantes da sociedade contemporânea: a desigualdade, a democracia, os direitos humanos e a ideologia.
Os procedimentos de leitura, compreensão e interpretação propostos enfatizam o estudo da Filosofia a partir do cotidiano vivido, mas sem abrir mão das contribuições de pensadores clássicos como Karl Marx e John Rawls. No caso da Declaração Universal dos Direitos Humanos, você poderá compreender como a Filosofia dos séculos XVII e XVIII influenciou a construção e a sistematização dos valores fundados nos direitos individuais.
Dessa maneira, tomando como base elementos da vida cotidiana e contribuições da tradição filosófica, você poderá exercitar o pensamento crítico, repensar sua condição e rever suas opiniões sobre os temas propostos.
Espera-se que os estudos aqui propostos contribuam para ampliar seu repertório de conhecimentos e habilidades e, assim, aprimorar sua atitude cidadã.
DESIGUALDADE SOCIAL E IDEOLOGIA
O objetivo desta Situação de Aprendizagem é compreender as questões associadas à condição de pobreza material, do ponto de vista da emancipação humana, e por meio da reflexão filosófica. Esse tema também será trabalhado em Sociologia, especialmente no campo da discussão sobre desigualdade social, mas a Filosofia proporcionará outra leitura, com base em uma abordagem diferenciada de algumas questões, como: Por que a maioria das pessoas vive em condições precárias? A que se deve a permanência dessas pessoas nessa situação?
De início vamos propor duas questões de natureza filosófica, uma vez que estas são amplas e ao mesmo tempo fundamentais para a reflexão sobre o tema deste texto.
1. O que é ser pobre? Ou, perguntando de outro modo, quais as características de uma vida materialmente pobre?
2. Por que grande parte dos brasileiros é pobre e parece aceitar isso como natural? Quais hipóteses você apresenta para responder a esta questão?
Leitura e Análise de Texto
Ser pobre é, principalmente, ter acesso precário ou não ter acesso a bens materiais e culturais que permitam o desenvolvimento integral do ser humano. Entre as condições materiais, sobretudo nos centros urbanos, podemos destacar a renda, a alimentação, a moradia, o transporte, a saúde e o trabalho. Os aspectos culturais abrangem, principalmente, as condições de ingresso e permanência em escolas nas quais os alunos realmente aprendam e a participação nas atividades culturais próprias de cada sociedade. Em geral, os especialistas estabelecem os níveis de pobreza baseados em alguns cálculos.
O Banco Mundial propõe a seguinte equação: soma-se a renda da família, divide-se o total pelo número de familiares e, depois, por 30 (os dias do mês). Finalmente, divide-se o resultado pelo valor do dólar. Aqueles que não alcançam a renda de um dólar por dia estão abaixo da linha de pobreza. Vejamos a fórmula:
[(Renda mensal ÷ no de familiares) ÷ 30 dias] ÷ valor do dólar = renda por pessoa/dia
Alguns programas governamentais também apresentam proposta de cálculo ou de critérios para delimitar o que é faixa de pobreza. Segundo um dos chamados Programas de Renda Mínima, definiu-se que serão beneficiadas famílias em situação de pobreza com renda mensal por pessoa na faixa de 70 a 140 reais e famílias em situação de extrema pobreza, quando a renda individual é menor do que 70 reais. Por exemplo: se na família de Marcelo a renda mensal, somando todos os ganhos, consolida-se em 340 reais, dividimos esse valor pelo número de moradores da casa: no caso, 5 (340 ÷ 5 = 68). De acordo com esses cálculos, portanto, a família de Marcelo está posicionada abaixo da linha do índice de pobreza.
Pode-se observar que, segundo o critério do Banco Mundial, a família de Marcelo é “apenas” pobre, enquanto para o programa de renda mínima ela está em situação de extrema pobreza. Por isso, muitos especialistas procuram meios multidimensionais para determinar o nível de pobreza de uma pessoa ou de uma família.
Tomando-se por base a renda, verificamos que a família de Marcelo foi apontada tanto
como pobre (primeiro índice) quanto como se estivesse abaixo da linha de pobreza (segundo índice). Vejamos, agora, como o acesso que essa família tem a algumas necessidades básicas, como, por exemplo, alimentação adequada, serviços de saúde, educação e trabalho, acaba refletindo-se nos fatores que compõem o Índice de Desenvolvimento Humano – o IDH. O índice é medido por três indicadores: o econômico – a renda per capita; o de saúde – a expectativa de vida ao nascer, pois se parte do princípio de que se vive mais quando se tem mais saúde; e o de educação – baseado nas taxas de analfabetismo e de matrículas em todos os níveis de ensino.
Nesse caso, não se pode tomar o caso isolado da família de Marcelo, mas o conjunto de famílias de todo o município, pois o IDH é um indicador que mede o nível de desenvolvimento humano de grupos de pessoas de determinadas regiões geográficas, como municípios, Estados e países.
O IDH pode variar de 0 a 1; quanto mais próximo de 1, maior o índice. Municípios ou grupos com nível mais alto de desenvolvimento são aqueles nos quais:
• a expectativa de vida ao nascer é alta, isto é, em média superior a 70 anos de idade;
• as taxas de analfabetismo são baixas e há um número significativo de matrículas em todos os níveis de ensino;
• a renda per capita é alta.
O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) considera o fator moradia como um dos critérios para dizer se uma pessoa é pobre ou não. Nesse caso, o Pnud verifica se há água encanada e rede de esgoto, luz elétrica, banheiro, telefone, carro, televisão, computador; se na casa vivem, no máximo, duas pessoas por quarto; se a casa é própria (documentada) ou alugada; e se a ocupação é desordenada. As ocupações urbanas não regularizadas, como favelas e cortiços, são indicadores bastante evidentes de pobreza.
Outro critério é o da saúde: Há pessoas doentes na família? Como a família tem acesso a médicos e enfermeiros? No atendimento médico, qual o tamanho da fila e quanto tempo se leva para fazer um exame? O atendimento é prestado próximo à casa? Quando a locomoção é impossível, quanto tempo demora o atendimento? Qual é o gasto com medicamentos?
A alimentação ajuda na manutenção da saúde? O tipo de trabalho prejudica a saúde? Para o Pnud, associa-se à saúde o critério educação. A família apresenta algum nível de escolarização? Quantas vezes as pessoas da família faltam à aula? O desempenho escolar é positivo ou não?
Sobre a renda, o Pnud investiga se crianças e adolescentes são obrigados a trabalhar para ajudar nas despesas da família, uma vez que o trabalho infantil é sinal claro de pobreza, pois crianças devem, principalmente, estudar e brincar, já os adolescentes devem estudar e se preparar para uma profissão, além de participar de atividades artísticas e esportivas.
Pergunta-se, também, se a renda mensal per capita da família é maior do que meio salário mínimo e se o grupo familiar recebe ajuda em dinheiro do governo.
Agora vamos refletir sobre as causas da pobreza. É comum ouvirmos que a pobreza deriva da falta de estudos ou da falta de emprego.
Mas o rigor filosófico exige que perguntemos ainda: “Seriam estas as causas da pobreza, no Brasil e em outros países?”
Algumas pessoas que nunca foram à escola são bem-sucedidas comercialmente ou no esporte, ou, ainda, como artistas. Outras existem, poucas, é claro, que nunca trabalharam e vivem de herança ou do sustento de quem trabalha. De modo que a falta de estudo e a falta de emprego não são causas válidas para explicar a pobreza em todos os casos, pois estas aparecem algumas vezes associadas a pessoas que não são pobres. Além disso, grande número de pessoas que trabalham e que puderam estudar vive também em condições de pobreza, segundo qualquer critério adotado.
A situação de pobreza decorre de distribuição injusta de renda, em que poucos concentram a maior parte da riqueza de um país e a maioria não tem acesso aos bens materiais.
Superar ou eliminar a pobreza não é algo possível de acontecer, simplesmente, por meio da educação e do trabalho, mas pode ser resultado de políticas sociais decorrentes de maior participação de todos na vida política e econômica.
1. Considerando os critérios apresentados no texto para a delimitação do que é pobreza, descreva uma região de sua cidade ou de seu bairro e discuta se a maioria de sua população vive ou não em estado de pobreza.
2. Qual a importância de frequentar a escola e estudar, tendo em vista o argumento de que a falta de estudos não é causa exclusiva da pobreza?
3. Nas aulas de Geografia e de Sociologia, você constrói conhecimentos que auxiliam a compreender não apenas as causas, mas as soluções para o problema da pobreza no Brasil e no mundo.
4. Quais os critérios adotados por diferentes organismos associados à política de superação da pobreza?
5. Qual a causa mais importante para a existência de pobreza?
6 - Faça uma pesquisa nos Cadernos destas disciplinas ou em outras fontes e registre as causas da pobreza no Brasil e as formas de diminuí-la.
Leitura e Análise de Texto
“O valor da força de trabalho era determinado não apenas pelo tempo de trabalho necessário para manter um trabalhador adulto individualmente, mas também pelo tempo necessário para manter sua família.
O maquinário, ao jogar todos os membros dessa família no mercado de trabalho, expande o valor da força de trabalho do homem para toda a sua família, depreciando, assim, sua força de trabalho.
Comprar a força de trabalho de uma família de quatro operários custa, talvez, mais caro do que comprar a força de trabalho do chefe de família no passado, mas, em compensação, quatro dias de trabalho substituem o de um dia, e seu preço cai em proporção ao excedente de trabalho de quatro do que em relação ao excedente de trabalho de um operário. Para que a família possa viver, quatro pessoas precisam agora não apenas trabalhar, mas consumir trabalho excedente para o capitalista. Vemos assim que o maquinário, ao aumentar o material humano que forma o principal objeto da força exploradora do capital, ao mesmo tempo eleva o grau de exploração.”
1 - De que forma o maquinário pode aprofundar ou ampliar a exploração do homem pelo homem?
Neste texto, temos como referência o conceito marxista de ideologia. Aprofunde esta reflexão sobre a palavra “ideologia”, realizando uma pesquisa.
PESQUISA INDIVIDUAL
• Como a referência aqui apresentada é de apenas um autor, o rigor filosófico recomenda que você pesquise outros significados da palavra ideologia, assim como sua origem histórica. Para isso, faça uma busca na internet, em casa ou na escola, ou ainda pesquise em livros na biblioteca da escola ou do bairro. Se em sua cidade existir uma biblioteca municipal, é interessante que você possa conhecê-la e frequentá-la.
• Para aprofundar ainda mais essa reflexão, pesquise imagens e notícias que caracterizem a desigualdade social e analise imagens publicitárias em que se pode observar o discurso ideológico tal como Marx o define.
• Recorte imagens e notícias de revistas e jornais cujo tema revele desigualdade no Brasil. Selecione uma delas, ou no máximo duas, para colar em seu caderno.
Segundo Karl Marx, ideologia é um sistema de ideias e de conceitos que corresponde aos interesses de uma classe social, mesmo que muitos indivíduos desta classe não se identifiquem com este sistema ou não tenham consciência dele. A ideologia, para este autor, decorre da posição que determinada classe ocupa em uma sociedade, uma vez que esta posição constitui o contexto no qual os indivíduos elaboram seus discursos explicativos sobre esta mesma colocação. Indivíduos de uma classe privilegiada tendem a elaborar pensamentos e discursos que justificam sua superioridade econômica em relação aos não privilegiados. Dessa forma, um conjunto de ideias ajuda a preservar a organização social de acordo com o interesse da classe social dominante.
Marx entendia ainda que a ideologia constituía uma consciência especial sobre o real, com ideias que tendem a impor como universais os valores de apenas uma parcela da população, no caso, a classe dominante. Tendem também a distorcer as relações de dominação de uma classe sobre as outras, negando tal dominação e justificando a diferença de classes como processo natural que não exige ser questionado.
1. As notícias e imagens selecionadas apresentam situações de desigualdade. Como é possível verificarmos indiferença por grande parte da população com relação à desigualdade social, se os meios de comunicação divulgam diariamente situações de miséria, de exclusão social de violação de direitos relativos à saúde, à moradia?
2. Cite exemplos de argumentos que indivíduos da classe dominante empregam para justificar sua condição social privilegiada.
3. De que forma alguns argumentos morais, como por exemplo: “sou pobre, mas sou honesto” ou “os pobres não se esforçam o suficiente para sair da pobreza”, colaboram para uma consciência ingênua sobre a pobreza?
4. Leia a seguinte afirmação, de Karl Marx: “O maquinário, ao jogar todos os membros dessa família no mercado de trabalho, expande o valor da força de trabalho do homem para toda a sua família, depreciando, assim, sua força de trabalho”.
Agora, assinale a frase que corresponde às ideias do filósofo.
a) As máquinas valorizam os homens, criando um trabalho mais fácil.
b) As máquinas não colaboram necessariamente para o fim da exploração.
c) As máquinas e a tecnologia são uma maneira de dar emprego a todos e criar a felicidade para as famílias.
d) Os capitalistas inventaram as máquinas para ajudar os trabalhadores, pois eles eram muito explorados no sistema feudal.
e) Com as máquinas, todo mundo sai lucrando, trabalhadores e capitalistas; afinal, é a tecnologia resolvendo os problemas dos homens.

DEMOCRACIA E JUSTIÇA SOCIAL
O objetivo deste texto é introduzir o debate sobre a noção de democracia, fundamentada na justiça social, com base nas ideias do filósofo John Rawls. Para ele, só há democracia se houver igualdade de fato. Por isso, todas as autoridades deveriam trabalhar por essa igualdade. Vamos começar estudando as ideias de John Rawls e refletindo sobre elas.
Leitura e Análise de Texto
John Rawls (1921-2002), filósofo americano, produziu uma das teorias mais divulgadas sobre democracia. Para ele, somente as pessoas mais necessitadas de uma sociedade revelam, mais exatamente, o que ela é de fato.
Um conceito fundamental no pensamento de Rawls é a democracia justa, ou seja, um sistema no qual todos são verdadeiramente iguais em direitos e oportunidades. Para ele, a política não deve basear-se em ideias religiosas, econômicas ou filosóficas, mas na justiça como equidade real, vivida no dia a dia. Assim, o mais importante é agir para que as crianças que sobrevivem no cotidiano violento tenham de fato igualdade se comparadas àquelas que têm uma vida confortável, protegida, e que podem estudar para ter perspectiva de futuro melhor.
Segundo o teórico, a democracia moderna que procuramos construir é um grande avanço político, porque se baseia no princípio de que ninguém deve ser escravo de ninguém.
Se os pilares da democracia são a igualdade e a liberdade, somos livres e responsáveis por nossa vida. Se somos livres, somos iguais: ninguém está ou pode estar abaixo de outrem.
Todos têm direito de viver e de ser conforme os próprios desígnios, portanto, o objetivo de cada governo democrático deve ser a construção da igualdade com base na liberdade. Isso, porém, não é possível sem uma convivência cooperativa, um acordo entre os homens, para que cada um possa ser respeitado, desde o nascimento, em sua dignidade humana, em seu direito de ser livre e igual aos demais. Eis o que podemos chamar de influência contemporânea do contratualismo.
Para alcançar a justiça social é preciso garantir equidade de direitos para todos os cidadãos. Nenhum governo que não lute por isso ou que não promova socialmente os mais pobres pode ser considerado democrático. Como já mencionado, a verdadeira democracia (a democracia justa, para Rawls) consiste em dar a todos as mesmas oportunidades.
Sob uma ditadura, as pessoas perdem a liberdade, como aconteceu no Brasil entre 1937 e 1945 (Estado Novo) e 1964 a 1985 (Ditadura Militar). Do mesmo modo, sob um regime político governado por ideias religiosas, aqueles que não aceitam a religião dos governantes também não são livres. O multiculturalismo, entretanto, é indício de que as pessoas estão sendo respeitadas segundo os pilares da democracia. Cada um pode seguir o caminho que constrói para si e cooperar com a sociedade segundo as capacidades individuais, que são diferentes. Dessa forma, o primeiro fruto do sistema democrático é o pluralismo.
Mas, se cada um tem o direito de ser, como é possível conviver com pessoas diferentes?
Para Rawls, devemos ter em mente as seguintes ideias elementares:
• a violência é o único modo de eliminar o pluralismo; qualquer ação contra os valores dos outros é uma violência;
• o verdadeiro poder político de uma democracia está com todos os cidadãos.
Somente essas duas certezas se sobrepõem aos valores particulares e devem nortear todas as instituições. Assim, a liberdade, que consiste na ausência da escravidão, deve compreender o respeito às diferenças entre as pessoas. Sem isso, vive-se em uma sociedade de dominação. Por mais que não concordemos com os outros, é necessário respeitá-los. Do mesmo modo que não queremos que uma doutrina alheia nos governe, não podemos querer governar os outros com nossa doutrina. A resposta a esta questão é a cooperação social.
A possibilidade de que todos possam progredir só é possível se há cooperação social. Cada indivíduo tem uma percepção sobre o que é o bem. Por isso, a justiça deve estar acima da concepção metafísica de bem.
A cooperação social consiste em três aspectos:
• não é um poder central que vai governar as ações sociais nem as individuais, mas, sim, uma construção coletiva;
• na construção coletiva de convívio, cada indivíduo deve participar de maneira equitativa do processo de regramento social, com base na reciprocidade. Só há cooperação se as ações forem pautadas pela reciprocidade: “O que não quero para mim não quero para os outros”;
• a construção coletiva de convívio é racional, pois as pessoas nela engajadas estão ali à procura do seu próprio bem. Para consegui-lo, é preciso respeitar os outros indivíduos.
Além dessas características fundantes da cooperação social, vale ressaltar suas regras básicas: justiça, consenso e discussão pública.
• Justiça: a busca pela igualdade de oportunidade.
• Consenso: respeito às diferenças, tomando-se por base a reciprocidade, a igualdade e a liberdade.
• Discussão pública: ninguém pode ficar de fora, nem por omissão nem por ignorância.
As pessoas devem ser ensinadas a participar da política. Enfim, somente quando chegarmos ao amadurecimento geral da democracia teremos uma sociedade bem organizada, ou melhor, nas palavras de John Rawls, bem-ordenada.
Rawls apresenta importante contribuição para uma teoria da justiça e merece ser conhecido justamente por situar-se no centro de polêmica entre conservadores e questionadores da sociedade capitalista. É criticado pelos conservadores por defender que os desvalidos, os não talentosos, os excluídos da competição imposta pelo mercado de trabalho ou pelo mundo da política recebam benefícios por meios legais para inclusão e participação política, ainda que isso ocorra em detrimento parcial de direitos e privilégios dos bem-sucedidos. Rawls é criticado também por aqueles que propõem o fim da sociedade capitalista desigual e injusta, porque não defende uma transformação revolucionária da sociedade e, sim, mudanças no campo do direito e do preparo de todas as pessoas para superarem o que ele define como o “véu da ignorância que impede o exercício efetivo da democracia”.
1 Contratualismo é o processo pelo qual os Estados Modernos se instalam a partir de contratos entre os cidadãos.
2 Pluralismo é o processo que critica a homogeneização ou padronização cultural com imposição de uma cultura.
Considerando as ideias de John Rawls, elabore uma redação, em folha avulsa, para responder à seguinte pergunta: Por que o convívio com quem é diferente de nós é importante para conseguirmos crescer como indivíduos?
Leitura e Análise de Texto
“Nós poderíamos raciocinar no seguinte sentido: se uma sociedade democrática é uma sociedade de pessoas livres e iguais, fundada na cidadania igual, então ela tem de ser, necessariamente, marcada pela justiça social. O seu sistema político e econômico tem de respeitá-las incondicionalmente e realizar o bem-estar de cada uma delas (oferecer um conjunto de bens sociais primários e de políticas públicas que possibilitem seu desenvolvimento integral). Se não fizer isso, então tal sociedade pode ser tudo, menos democrática e mar cada pela justiça social. Nesse sentido, uma das grandes questões – um dos grandes desafios, na verdade – para se manter a efetividade e o valor da liberdade e da igualdade entre os cidadãos, assim como para permitir que o diálogo, a cooperação e o respeito mútuo sejam características basilares da convivência social, está em impedir que a sociedade se torne oligárquica; em outras palavras, impedir grandes desigualdades de riqueza. A concentração do poder econômico é fatal para a justiça social. Seu efeito imediato – sua exigência basilar – é a concentração do poder político. [...] Uma sociedade democrática justa é uma democracia igualitária e deliberativa, na qual os rumos do sistema político e econômico – da sociedade como um todo – são construídos coletivamente. Nela, os cidadãos têm seus direitos e suas liberdades básicas, respeitados e realizados; eles têm oportunidades para se desenvolver e para produzir [...] e, o que é muito importante, o sistema político e econômico é justo e, por conseguinte, estabelece uma cooperação social baseada no diálogo, na cooperação e no respeito mútuo. Assim, para que as pessoas precisariam roubar? Elas já não passam fome; elas já não são excluídas e marginalizadas; e, por outro lado, há mecanismos de combate à violência classista, à concentração do poder político e econômico por oligarquias.
“Em uma sociedade justa, portanto, já não há motivo para a violência dos excluídos porque a violência classista (isto é, a violência política e econômica) está destruída.”

Muitas vezes, ouve-se dizer que o Brasil precisa crescer, mas o crescimento e o desenvolvimento de que tanto se fala está, quase sempre, associado à tecnologia e ao dinheiro. Porém, para John Rawls, crescimento significa justiça, e deve incluir necessariamente justiça e igualdade social.
Assim, o Brasil só vai progredir, de fato, quando todo o seu povo tiver seus direitos respeitados.
Com base nessas observações e no texto apresentado, discuta com os colegas, algumas questões essenciais.
1. Por que a democracia não é apenas o ato de votar?
2. Por que, segundo John Rawls, a justiça social pode reduzir a violência?
3. Recorra ao dicionário, à internet e mesmo à biblioteca da escola para pesquisar os significados da palavra “democracia”. Outras disciplinas podem ajudar você a conhecer aspectos históricos relativos à democracia. Verifique o que os Cadernos de Sociologia e de História, por exemplo, contêm a respeito do tema.
4. Outra pesquisa interessante é perguntar o que algumas pessoas do seu cotidiano, sua família, seus amigos e mesmo profissionais e comerciantes do bairro, pensam sobre democracia. Registre em seu caderno algumas respostas e compare as definições dos dicionários, livros e Cadernos com as que foram dadas pelas pessoas. Verifique até que ponto as definições coincidem e em que sentido elas divergem.
5. Por que, segundo John Rawls, é preciso fazer um contrato entre os cidadãos para que seja respeitada a liberdade de cada um?
6. “Um dos grandes desafios, na verdade, para se manter a efetividade e o valor da liberdade e da igualdade entre os cidadãos, assim como para permitir que o diálogo, a cooperação e o respeito mútuo sejam características basilares da convivência social, está em impedir que a sociedade se torne oligárquica; em outras palavras, impedir grandes desigualdades de riqueza. A concentração do poder econômico é fatal para a justiça social.” (DANNER,2006).
Agora, assinale as frases que resumem as principais ideias do texto.
a) O desafio da democracia é fazer que a riqueza não se concentre nas mãos de poucos e seja dividida entre todos.
b) A concentração de poder econômico significa que há uma maioria desprovida de bens, pois estes estão concentrados nas mãos de poucos.
c) Na democracia, não importa que algumas pessoas sejam extremamente ricas, pois não pode haver riqueza para todos.
d) Para impedir grandes desigualdades de riqueza, é necessário que as pessoas trabalhem mais e usem as suas liberdades democráticas para ganhar mais dinheiro.
e) Os pobres devem entender que algumas pessoas nasceram para ser ricas, e outras, para trabalhar. Essa é a única igualdade possível, cada um vivendo em sua condição social, respeitando a condição dos outros, inclusive a dos ricos.
7. Escreva o que você entendeu da afirmação feita com base no pensamento de Rawls: “Em uma sociedade democrática justa, o poder coercitivo do Estado nunca precisará ser acionado, porque as pessoas têm à sua disposição os bens sociais primários, necessários ao seu desenvolvimento”.


terça-feira, 29 de outubro de 2013

2ª SÉRIE - CONTEÚDOS PARA AVALIAÇÃO (1) - (4º BIMESTRE)

EE BATISTA RENZI
DISCIPLINA: FILOSOFIA
ÁREA: CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
ETAPA DA EDUCAÇÃO BÁSICA: ENSINO MÉDIO
2ª SÉRIE – VOLUME 4 - 4º BIMESTRE
TEMAS E CONTEÚDOS: INTRODUÇÃO À BIOÉTICA E A TÉCNICA
PROF. MANOELITO

Este texto trata de questões relativas à qualidade da vida humana diante das possibilidades e dos limites apresentados pela ética e pela tecnologia.
Neste texto, você entrará em contato com a Bioética, seu campo de atuação e suas perspectivas. Terá, também, oportunidade de discutir e refletir sobre a abrangência dos avanços da tecnologia e reconhecer os processos de racionalidade que a subsidiam. Poderá, ainda, pensar a condição humana diante da banalidade de ações cotidianas.
Assim, por meio desses temas e de fundamentos da tradição filosófica, este Caderno oferece subsídios para que você possa refletir sobre aspectos tão diretamente ligados à nossa vida diária e aos nossos sentimentos, que, por vezes, chegam a passar despercebidos.
Espera-se, dessa forma, que este texto possa ajudá-lo a se posicionar com mais clareza acerca das questões que envolvem postura ética em relação à ciência, à tecnologia e à condição humana. E que o estimule a refletir sobre os eventos de sua vida cotidiana e a vivenciá-los com mais responsabilidade.

INTRODUÇÃO À BIOÉTICA

O objetivo é iniciar um debate sobre alguns problemas relacionados à bioética, como saúde pública, conceito de vida humana, de meio ambiente, de ética médica, de medicalização da existência, de corporeidade e de planejamento familiar.
Com os avanços científicos e tecnológicos na área médica, a relação com o corpo e com a saúde experimenta mudanças cada vez mais intensas, impossibilitando que valores seculares respondam a questões absolutamente novas. Enfim, como pensar novos paradigmas éticos diante de um mundo em constante transformação e nem sempre admirável?

Leia com atenção os dois textos a seguir.
Leitura e Análise de Texto
Texto 1 – Leis nazistas sobre a purificação da raça

“Entre 1933 e 1945, ocorreram três fatos importantes que incluíram progressivamente as instituições médicas na formulação e na realização de políticas públicas ‘eugenistas’ e racistas, formuladas desde 1924 por Hitler em seu livro propaganda Mein Kampf (Minha luta).
1 - Lei de 14 de julho de 1933, sobre a esterilização – ‘lei para a prevenção contra uma descendência hereditariamente doente’ –, que estabelecia uma ligação estreita entre médicos e magistrados, por meio de um ‘tribunal de saúde hereditária’, e que seria complementada, em 1935, pelas leis de Nuremberg – ‘Lei da Cidadania do Reich’ e ‘Lei para a Proteção do Sangue e da Honra Alemães’ –, relativas, sobretudo a populações judias e ciganas e à interdição de casamento entre pessoas de ‘raças diferentes’.
2 - Circular de outubro de 1939 sobre a eutanásia a ser praticada em doentes considerados incuráveis, isto é, de ‘vidas que não valiam a pena serem vividas’, criando seis institutos para a prática da eutanásia por injeção de morfina escopolamina ou, quando julgada ineficaz, por sufocamento em câmaras de gás por meio de monóxido de carbono e do inseticida Zyklon B (que foi amplamente utilizado em Auschwitz a partir de 1941), decidido e controlado por médicos.
3 - Criação, a partir de 1941, dos campos de extermínio, organizados e controlados pelos mesmos responsáveis pelo programa de morte por eutanásia.”
Leis nazistas sobre a purificação da raça. Adaptado de PALÁCIOS, M.; REGO, S.; SCHRAMM, F. R. A regulamentação brasileira em ética em pesquisa envolvendo seres humanos. In: MEDRONHO, R. et al. (Orgs.). Epidemiologia. São Paulo: Atheneu, 2002.1
1 Dois anos depois do fim da Segunda Guerra Mundial, em 19 de agosto de 1947, ocorreu o julgamento de médicos nazistas no Tribunal de Nuremberg. Nesse tribunal, 20 médicos e três administradores foram julgados por “assassinatos, torturas e outras atrocidades cometidas em nome da ciência médica”, como também foram levantadas questões éticas sobre experimentação em seres humanos, com as quais a nova ciência médica iria se defrontar cada vez mais nos anos seguintes.
Texto 2 – Algumas experiências com seres humanos
 “1932–1972 – Três casos mobilizaram a opinião pública americana:
a) em 1963, no Hospital Israelita de Doenças Crônicas, em Nova York, foram injetadas células cancerosas vivas em idosos doentes;
b) entre 1950 e 1970, no Hospital Estadual de Willowbrook, em Nova York, injetaram o vírus da hepatite em crianças com deficiência mental;
c) em 1932, no Estado do Alabama, no que foi conhecido como o caso Tuskegee, 400 negros com sífilis foram recrutados para participarem de uma pesquisa de história natural da doença e foram deixados sem tratamento. Em 1972 a pesquisa foi interrompida após denúncia no The New York Times. Restaram 74 pessoas vivas sem tratamento [...].”
Algumas experiências com seres humanos. Adaptado, para fins didáticos, de Bioética e Medicina. Rio de Janeiro: Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro, 2006. Disponível em: <http://www.cremerj.org.br/publicacoes/86.PDF>. Acesso em: 18 jun. 2010.
Sugestão de Filme: Mar adentro - Direção: Alejandro Amenábar.
Espanha/França/Itália, 2004. 125 min. Drama. 12 anos. Assista ao filme que conta a história de Ramón Sampedro, um tetraplégico que, incapacitado de mover partes do corpo, à exceção da cabeça, deseja pôr fim a essa situação. O filme trata, diretamente, da questão da eutanásia, envolvendo temas que a Filosofia pode debater.
Após a leitura, discuta com os colegas e responda às questões a seguir.
1.      Cabe a quem decidir sobre o direito à vida? Ao Estado, à ciência ou à religião?
Em princípio, toda sociedade em suas diferentes áreas pode e deve discutir sobre direitos que garantam vida a todos. A vida de cada indivíduo, porem, é de sua total responsabilidade, não podendo ser submetida a interesses alheios.
2. Como considerar a decisão de cada um?
A decisão de cada um deve de alguma forma, encontrar respaldo no contexto ético, moral e legal da sociedade
3 - Com base na “Lei para a prevenção contra uma descendência hereditariamente doente” (14/7/1933), que conferia ao Tribunal Superior de Saúde Hereditária, da Alemanha nazista, o direito de decidir qual pessoa deveria ser esterilizada ou passar por procedimentos indicados pelos médicos, mesmo sem o consentimento do paciente, analise a relação entre médicos e magistrados deste período.
Esses programas nazistas tiveram a participação de médicos e juristas tanto no planejamento como na execução. Com isso, eles pretendiam garantir a “legitimidade” científica e moral das ações do Estado totalitário, sem qualquer consideração pela opinião das pessoas que seriam submetidas à esterilização. Além disso, essas ações envolviam recursos públicos destinados à pesquisa científica, entre as quais aquelas que consistiam em provocar doença no indivíduo para que pudesse ser investigada.

Leitura e Análise de Texto
O primado da vida

“Com a Aids disseminada, é hora de o magistério católico se perguntar se o preservativo não seria mesmo ‘um mal menor’.” (Frei Betto)
Doutrina e teologia da Igreja Católica conheceram consideráveis avanços neste século, sobretudo a partir do Concílio Vaticano 2o (196265).
Outrora, o planejamento familiar dependia da abstinência sexual; o carinho dentro do casal era pecado; protestantes e judeus, abominados; o ecumenismo, impensável; o latim, obrigatório nas missas; a batina, única indumentária social do padre. Hoje, celebra-se em língua vernácula; o papa reúne-se com representantes de diversas religiões e visita a sinagoga de Roma, é fotografado em trajes esporte ao esquiar e pede perdão pelo antissemitismo da igreja, pelos erros da Inquisição, pela condenação de Galileu e das teorias de Darwin.
Mesmo a Teologia da Libertação, encarada com suspeita na década de 80, incorpora-se agora aos discursos papais. Basta reler seus pronunciamentos em Cuba (98) e no México (99), condenando o neoliberalismo e a globalização, bem como seus insistentes apelos em prol da reforma agrária e da suspensão do pagamento da dívida externa.
A cidadela inexpugnável é, ainda, a teologia moral. Sobretudo o capítulo concernente à moral sexual, que proíbe relações sexuais sem finalidade procriatória; condena o homosse xualismo; impede os casais de segundas núpcias, exceto na viuvez, de acesso aos sacramentos e veta o uso de preservativos, malgrado a Aids ter tirado a vida, em 1999, de cerca de 4 milhões de pessoas.
As autoridades da igreja, felizmente, demonstram maior tolerância nesse mundo pluralista, em que não se pode pretender que a moral preceituada à instituição seja imposta à sociedade. Talvez isso explique o fato de João Paulo 2º, em sua última visita ao Rio, ter acolhido no altar cantores que já passaram por vários casamentos [...].
Frente à ameaça da Aids, o que o padre Valeriano Paitoni declarou [...] à Folha (2/7) em nada destoa do que antes dissera dom Paulo Evaristo Arns: que o preservativo é “um mal menor”.
O magistério eclesiástico sabe que é direito e dever dos teólogos – pois é esse o carisma deles: debater todas as questões concernentes à vida de fé – e que “os pastores nem sempre perceberam todos os aspectos e todas as complexidades de algumas questões” (Congregação para a Doutrina da Fé, 1990).
A questão sexual à luz das fontes da revelação cristã situa-se num contexto mais amplo, que engloba desde o papel da mulher na igreja[...] até o fim do celibato obrigatório para os padres seculares, bem como a volta ao ministério dos que se encontram casados. Como uma lente que se abre progressivamente, tais temas devem ser tratados com menos preconceito e mais estudos bíblicos, menos autoritarismo e mais diálogo com a comunidade dos fiéis, como fez dom Cláudio Hummes, ao receber, semana passada, entidades solidárias aos portadores do vírus HIV.
A tradição ou história da igreja é uma boa mestra quando não se quer repetir equívocos. Os irmãos Cirilo e Metódio evangelizaram a Morávia, no século 9º. Criaram o alfabeto cirílico, base do russo atual. Traduziram para o eslavo os textos bíblicos. Os bispos alemães protestaram, alegando que Deus só podia ser louvado nas três línguas da cruz: hebraico, latim e grego. Cirilo morreu em 869. Metódio foi preso por ordem dos bispos alemães.
O papa João 8º negociou sua libertação em troca do latim na liturgia. Metódio recusou-se a abrir mão do eslavo. Dois anos depois, o papa cedeu e, séculos adiante, João Paulo 2º exaltaria os dois irmãos [...]. Condenada pela igreja, ela foi queimada viva, em 1431, como “herege e idólatra [...]”. Camponesa e analfabeta, tinha 19 anos, vestia-se de homem e andava armada. Canonizada em 1920, hoje é venerada como santa Joana d’Arc. Na encíclica “Mirarivos”, de 1832,
Gregório 16 condenou o mundo moderno, as liberdades de consciência e de imprensa e a separação entre igreja e o Estado. Em 1864, [...] Pio 9º reafirmou a sentença [...]. Continua vigente o decreto do Santo Ofício assinado por Pio 12, em 1949, e confirmado por João 23, em 1959, pelo qual os católicos que votarem ou se filiarem a partidos comunistas, escreverem livros ou artigos filocomunistas estão excluídos dos sacramentos.
“Ninguém pode, ao mesmo tempo, ser bom católico e socialista verdadeiro”, disse Pio 11. Hoje, João Paulo 2º admite que “o socialismo continha sementes de verdade”, visita Cuba, [...] mostra-se encantado com a Internet, louva os progressos científicos e técnicos e percorre o mundo em viagens aéreas. “Eppur si muove”, malgrado o decreto de 1616, do Santo Ofício, condenando aqueles que diziam que a Terra se move. Não só o planeta, mas os costumes e a hermenêutica dos fundamentos da doutrina.
Jesus não condenou a adúltera (Jo 7) nem a samaritana que estava no sexto marido (Jo 4) nem deixou de escolher Pedro para chefiar o grupo apostólico porque ele era casado (Mc 1). Cobriuos de compaixão, revelando-lhes o coração amoroso de Deus.
É hora de o magistério católico se perguntar se o preservativo pode ser descartado, quando se sabe que até mulheres casadas são infectadas por seus maridos pelo vírus da Aids.
O preceito evangélico da vida como bem maior de Deus e o princípio tomista da legítima defesa não se aplicariam aí?
Frei Betto. O primado da vida. Folha de S.Paulo, 30 de julho de 2000.
1. Qual a polêmica central apresentada pelo autor?
2. Qual é seu posicionamento, ou de seu grupo, em relação a essa polêmica? Justifique.

PESQUISA INDIVIDUAL

A bioética é um tema de extrema atualidade. Para aprofundar seu conhecimento, realize uma pesquisa na biblioteca da escola ou, se possível, na internet.
Pesquise com o objetivo de responder: Quais as principais polêmicas enfrentadas pela bioética no mundo contemporâneo? Depois de fazer a pesquisa sobre bioética, registre no seu caderno a resposta para a pergunta que orientou a sua investigação: Quais as principais polêmicas enfrentadas pela bioética no mundo contemporâneo? Destaque, ainda, uma descoberta dessa pesquisa que você considera interessante e justifique sua escolha.

1.      Leia com atenção o texto:

 “Nas últimas duas décadas, os problemas éticos da Medicina e das ciências biológicas explodiram em nossa sociedade com grande intensidade. Isso mudou as formas tradicionais de fazer e decidir utilizadas pelos profissionais da Medicina. Constitui um desafio para a ética contemporânea providenciar um padrão moral comum para a solução das controvérsias provenientes das ciências biomédicas e das tecnologias aplicadas à saúde.
A bioética, nova imagem da ética médica, é o estudo sistemático da conduta humana na área das ciências da vida e cuidado da saúde, enquanto essa conduta é examinada à luz dos valores e princípios morais.”
CLOTET, J. Por que Bioética? Disponível em:
<http://www.ufrgs.br/bioetica/bioetpq.htm>. Acesso em: 18 jun. 2010.
Considerando o que nos propõe o autor e as discussões desenvolvidas neste texto, analise as seguintes informações:
I. Mais do que nunca, é preciso preservar as formas tradicionais de fazer e decidir utilizadas pelos profissionais da medicina.
II. As pesquisas nas áreas biomédicas devem ser conduzidas livremente, independentemente de qualquer consideração de ordem moral.
III. A medicina, como ciência da vida, não deve ser submetida a critérios éticos de avaliação e controle.
IV. As questões que dizem respeito à pesquisa nas áreas da biologia e da medicina não têm qualquer reflexo sobre a vida social.
V. A solução das controvérsias provenientes das ciências biomédicas e das tecnologias aplicadas à saúde não constitui um desafio para a ética contemporânea.
Estão incorretas:
a) Todas as proposições.
b) Apenas I, II, IV e V.
c) Apenas I, III, IV e V.
d) Apenas IV e V.
e) Nenhuma das proposições.
3. Sobre a decisão tomada no Hospital Estadual de Willowbrook, em Nova York, entre 1950 e 1970, de injetar o vírus da hepatite em crianças com deficiência mental, é possível afirmar que:
I. O Estado agiu de forma correta, já que cabe a ele decidir sobre as “vidas que merecem ser vividas”, na medida em que ele decide sobre o uso dos recursos públicos.
II. A contaminação das crianças deficientes foi positiva, visto que poderia resultar na cura de pessoas saudáveis.
III. A decisão contraria os princípios que devem orientar as pesquisas científicas, uma vez que o ser humano não pode ser alvo de experiências que o coloquem em risco de vida ou de doença.
Sob o ponto de vista ético, estão corretas as alternativas:
a) Todas as proposições.
b) Apenas I e III.
c) Apenas I e II.
d) Apenas II e III.
e) Apenas III.

A TÉCNICA
Leia com atenção os dois textos a seguir e responda às questões.
Texto 1 – Razão instrumental

“No mundo esclarecido, a mitologia invadiu a esfera profana. A existência expurgada dos demônios e de seus descendentes conceituais assume em sua pura naturalidade o caráter numinoso que o mundo de outrora atribuía aos demônios. Sob o título de fatos brutos, a injustiça social da qual esses provêm é sacramentada hoje como algo eternamente intangível e isso com a mesma segurança com que o curandeiro se fazia sacrossanto sob a proteção de seus deuses. O preço da dominação não é meramente a alienação dos homens com relação aos objetos dominados; com a coisificação do espírito, as próprias relações dos homens foram enfeitiçadas, inclusive as relações de cada indivíduo consigo mesmo. Ele se reduz a um ponto nodal das reações e funções convencionais que se esperam dele como objetivo. O animismo havia dotado a coisa de uma alma, o industrialismo coisifica as almas. O aparelho econômico, antes mesmo do planejamento total, já provê espontaneamente as mercadorias dos valores que decidem sobre o comportamento dos homens. A partir do momento em que as mercadorias, com o fim do livre intercâmbio, perderam todas as suas qualidades econômicas, salvo seu caráter de fetiche, este se espalhou como uma paralisia sobre a vida da sociedade em todos os seus aspectos.”
ADORNO, T. W.; HORKHEIMER, M. Dialética do esclarecimento: fragmentos filosóficos. Tradução Guido Antonio de Almeida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1985. p. 35.

Texto 2 – Técnica e dominação

Com a modernidade, valorizou-se sobremaneira o progresso técnico e a autonomia com relação à natureza e mesmo com relação aos outros homens, levando as pessoas a considerar a racionalidade como meio para atingir o progresso de forma individual. No entanto, no momento em que os homens buscam a autonomia, acabam sendo subordinados a uma racionalidade que não pretende fazê-los progredir como homens, mas como objetos coisificados. Em suma, tornam-se submissos à racionalidade técnica e ao objetivo de controle social e da natureza.
A razão instrumental refere-se ao processo de conhecimento que pretende a dominação do mundo, que pretende o controle total da natureza. Pela razão instrumental, o conhecimento e a técnica assumem objetivos de controle e dominação dos homens sobre a natureza e dos homens entre si.
É um ideal da modernidade a transformação da natureza e dos demais seres humanos em algo que se pode usar ou não. Não apenas a natureza, tudo se torna um objeto que se pode usar e descartar, inclusive os homens e as mulheres.
Não se faz nada que não tenha um objetivo, uma função. Em tudo se pergunta: “Para que serve?” Tudo e todos têm uma utilidade. Tudo e todos são instrumentos.
1. Qual a diferença entre instrumentos como um garfo, um computador e um carro e o ser humano?
2. Quais as consequências da transformação de homens e mulheres em instrumentos?

Leitura e Análise de Texto
Texto 1 – Heidegger e a técnica

O filósofo alemão Martin Heidegger considera como vida autêntica a do homem ou da mulher que buscam pensar o ser das coisas, que buscam o ser do mundo, que buscam perguntar sobre o que existe além da aparência. Nisso consiste a diferença com relação a todos os outros entes: homens e mulheres podem expressar o ser, podem pensá-lo, podem perguntar sobre ele e questioná-lo para além da aparência.
Do ponto de vista ético, essa diferença constitui para Heidegger a dignidade do ser humano e consiste, também, em uma forma sublime de existência. O que verdadeiramente diferencia o homem de todos os outros entes não é a busca de técnicas para poder sobreviver, como as abelhas e suas colméias, os leões e suas caças, as aranhas e suas teias ou as plantas carnívoras e suas armadilhas. Entes vivem apenas conforme a relação de causa e efeito, tentando apenas conhecer o mundo e dele tirar sua sobrevivência; não fazem o salto mais sublime que consiste em perguntar pelo ser, desvelar o ser.
Pelas técnicas e pelas tecnologias, os entes e os que vivem de maneira inautêntica, sem se perguntar pelos seres das coisas, procuram suprir suas necessidades, e até mesmo criam formas tecnológicas de pensar. No entanto, as técnicas são apenas eficazes para pensar os entes e neles agir. Viver apenas sob o domínio do pensamento tecnológico levará todos ao esquecimento do ser e, portanto, ao esquecimento da própria essência sublime dos homens.
A essência do pensamento não se deve limitar aos raciocínios simplórios, como aqueles que apenas resolvem problemas passageiros, pensamentos maquínicos, como um motor ou uma ferramenta.
Mas será que todos nós nos resumimos a problemas e soluções? O que poderíamos pensar além disso? O que poderíamos vivenciar além das ideias submetidas a interesses muito simples? Quais novas formas de pensar ainda não experimentamos? Quais limites ainda não superamos? Como revelar o ser em nossa vida cotidiana?

O  Texto 2 é do próprio Heidegger.

“Estamos ainda longe de pensar, com suficiente radicalidade, a essência do agir. Conhecemos o agir apenas como o produzir de um efeito. Sua realidade efetiva é avalia da segundo a utilidade que oferece. Mas a essência do agir é o consumar. Consumar significa: desdobrar alguma coisa até a plenitude de sua essência; levá-la à plenitude, producere. Por isso, apenas pode ser consumado, em sentido próprio, aquilo que já é. O que, todavia ‘é’, antes de tudo, é o ser. Pensar consuma a relação do ser com a essência dos homens e das mulheres. O pensar não produz nem efetua esta relação. Ele apenas oferece-a ao ser, como aquilo que a ele próprio foi confiado pelo ser. Esta oferta consiste no fato de, no pensar o ser, ter acesso à linguagem. A linguagem é a casa do ser. Nesta habitação do ser mora o homem.
Os pensadores e os poetas são os guardas desta habitação. A guarda que exercem é o consumar a manifestação do ser, na medida em que levam à linguagem e nela a conservam.
Não é por ele irradiar um efeito ou por ser aplicado que o pensar se transforma em ação.
O pensar age enquanto se exerce como pensar. Este agir é provavelmente o mais singe lo e, ao mesmo tempo, o mais elevado, porque interessa à relação do ser com o homem. Toda eficácia, porém, funda-se no ser e se espraia sobre o ente; o pensar, pelo contrário, deixa-se requisitar pelo ser para dizer a verdade do ser. O pensar consuma este deixar.
[...]
Caso o homem encontre, ainda uma vez, o caminho para a proximidade do ser, então deve antes aprender a existir no inefável. Terá que reconhecer, de maneira igual, tanto a sedução pela opinião pública quanto a impotência do que é privado. Antes de falar, o homem deve novamente escutar, primeiro o apelo do ser, sob risco de, dócil a este apelo, pouco ou raramente algo lhe restar a dizer. Somente assim será devolvido à palavra o valor de sua essência e o homem será gratificado com a devolução da habitação para o residir na verdade do ser.”HEIDEGGER, Martin. Conferências e escritos filosóficos. Tradução e notas Ernildo Stein. São Paulo: Nova Cultural, 1979. p. 149 e 152.

1. O que a leitura dos dois textos faz você pensar sobre a relação do ser humano com a técnica?
2. O que a reflexão sobre a Razão instrumental nos ensina?
3. Segundo Heidegger, qual é a essência do homem?

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

3ª SÉRIE - CONTEÚDOS PARA AVALIAÇÃO (1) 4º - BIMESTRE

EE BATISTA RENZI
DISCIPLINA: FILOSOFIA
ÁREA: CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
ETAPA DA EDUCAÇÃO BÁSICA: ENSINO MÉDIO
3ª SÉRIE – VOLUME 4 - 4º BIMESTRE
TEMAS E CONTEÚDOS: FILOSOFIA E LITERATURA -  A FELICIDADE SEGUNDO O ESTOICISMO E O EPICURISMO

Prof. Manoelito
Este texto apresenta dois temas centrais: a relação entre Filosofia e Literatura e as indicações que a Filosofia tem feito, ao longo do tempo, acerca da felicidade.
Dessa maneira, você terá oportunidade de comparar e relacionar a produção literária com a filosófica e será convidado a pensar sobre as diferentes formas de produção de um discurso filosófico. Enfim, um exercício semelhante ao que você fez ao estabelecer relações entre a reflexão filosófica e a Ciência nas atividades propostas anteriormente.
O tema da felicidade será pensado não apenas por meio de tradição filosófica, a partir de teorias como o epicurismo e o estoicismo, mas também pela experiência vivencial.
Com a discussão desses temas, espera-se contribuir para que você se sinta mais preparado para ler, interpretar e dar significado às diferentes produções humanas.
E também para efetivar novas formas de experimentar e buscar as condições éticas para viver e conviver, formas estas que permitam a conquista da felicidade nas suas diferentes dimensões.
Este texto propõe o estudo de dois temas centrais: a relação entre Filosofia e Literatura e entre Filosofia e Felicidade.
FILOSOFIA E LITERATURA
Nas primeiras páginas, você vai entrar em contato com aproximações e diferenças entre Filosofia e Literatura e, assim, conhecer um pouco mais as características do discurso filosófico.
Deus triste – o modo de dizer da Filosofia
Leitura e Análise de Texto
Deus triste
Deus é triste.
Domingo descobri que Deus é triste pela semana afora e além do tempo.
A solidão de Deus é incomparável.
Deus não está diante de Deus.
Está sempre em si mesmo e cobre tudo [tristinfinitamente.
A tristeza de Deus é como Deus: eterna.
Deus criou triste.
Outra fonte não tem a tristeza do homem.
ANDRADE, Carlos Drummond de. Deus é triste In: As impurezas do branco. Rio de Janeiro: Record. Carlos Drummond de Andrade © Graña Drummond. <http://www.carlosdrummond. com.br>.
1 - Leia com atenção o poema e, em folha à parte, escreva um breve texto filosófico que contemple as ideias nele presentes. O desafio é você elaborar um texto de Filosofia sobre o tema do poema.
2 - Atividade oral: compare o seu texto com os dos colegas de seu grupo. Destaque diferenças e semelhanças e verifique se conseguiram aproximar-se de um modo de escrever da Filosofia.
R. Argumentação reflexiva; esforço de identificar causas dos fenômenos; questionamento aprofundado e radical sobre diversos temas da realidade sociocultural e também sobre processos de construção de conhecimentos.
3 - Atividade escrita: compare agora os textos de Filosofia escritos por você com o poema. Registre as diferenças em folha à parte.
R. É preciso que sejam destacadas na comparação marcas próprias do poema e do texto do aluno, o qual deve chegar próximo à construção de texto filosófico, com argumentos reflexivos e afirmações que explicitem a busca de respostas para cada questionamento.

Leitura e Análise de Texto
A leitura dos textos filosóficos
“Queremos aqui caracterizar aquelas produções textuais que classificamos como textos de Filosofia. Num romance, como Madame Bovary, os personagens são seres humanos, reais ou fictícios, como Ema Bovary, Monsieur Homais, o Doctor Bovary etc. No texto filosófico, os personagens são as teses defendidas. Essas teses estão apoiadas sobre argumentos. O texto filosófico é um texto de tipo argumentativo. Mas essa é ainda uma caracterização muito geral, pois um ensaio sociológico, um editorial de jornal, um sermão, são também textos argumentativos. De maneira que essa descrição é insuficiente, a menos que precisemos, com mais exatidão, quais são os traços específicos da argumentação filosófica. O que dificulta ir além daquela caracterização muito geral é o fato de o discurso filosófico manifestar-se através de uma grande variedade de gêneros textuais diferentes2.
Antes de Sócrates, a Filosofia usou como forma de expressão a poesia, e ainda no período romano-helenístico encontramos De rerum natura, de Lucrécio, como exemplo de poema filosófico. Platão e também Aristóteles usaram o diálogo como veículo para expressar suas ideias. O diálogo filosófico está presente até na Idade Moderna, lembremos, por exemplo, o Diálogo sobre a conexão entre as ideias e as palavras, de Leibniz, e os Três diálogos entre Hilas e Filonius, de Berkeley. As cartas têm servido como instrumento de expressão de ideias filosóficas. Podemos citar exemplos célebres como a correspondência entre Leibniz e Clark sobre a natureza do espaço e do tempo, a correspondência entre Leibniz e Arnauld sobre a noção de substância, as cartas a Lucílio de Sêneca etc. A autobiografia tem sido usada para expressar concepções filosóficas, assim são As confissões, de Santo Agostinho, e as de Rousseau. Os filósofos também se apropriaram do gênero apologético e, como mostra disso, encontramos a Apologia de Sócrates, de Platão, A cidade de Deus, de Santo Agostinho, e Os pensamentos, de Pascal. O tratado científico foi introduzido por Aristóteles como gênero textual para a expressão de filosofemas. Existem também textos filosóficos formados a partir de aforismos, como o Tractatus, de Wittgenstein. Em face dessa grande variedade de gêneros textuais usados pelos filósofos, perguntamo-nos sobre a justificativa para colocar produções pertencentes a gêneros tão diferentes sob o rótulo comum de texto filosófico.
Podemos, então, afirmar o seguinte: parece difícil apontar a priori um conjunto de marcas necessárias e suficientes que outorguem uma especificidade ao texto filosófico.
Não podemos definir o texto filosófico por meio de uma cláusula do tipo ‘texto filosófico é ABC e somente aquilo que seja ABC... poderá ser chamado de texto filosófico’. No entanto, pensamos que, malgrado a impossibilidade de definir diretamente o que é um texto filosófico, podemos obter luz sobre o nosso tema, comparando o discurso filosófico com outros tipos de discursos: o científico, o jurídico, o teológico e o literário.
Diferenciar a Filosofia da Literatura é mais difícil, e tememos que qualquer critério de demarcação que seja dado entre as duas disciplinas possa ser sempre impugnado.
Platão considerava que a Poesia busca comover e que a Filosofia procura a verdade3. O bom poeta, segundo ele, é aquele que sabe provocar em nós as emoções apropriadas.
Aristóteles considerava o discurso poético como aquele que representa coisas fictícias como possíveis, enquanto a Filosofia é um discurso que expressa o que é, da forma que ele é. Ou, dito de outra forma, o discurso filosófico descreve como é o que existe4.
Hegel considerava que a arte representa o universal sob a forma da sensibilidade, ao passo que a Filosofia representa o universal sob a forma de conceito5.
Agamêmnon representa a hybris ou desmesura comum a vários governantes;
Antígona e Creonte, o conflito entre a razão de Estado e a piedade familiar;
Dom Quixote, o espírito sonhador e aventureiro. Personagens da literatura representam conceitos ou situações universais. Então, baseados naqueles três filósofos, podemos dizer que o discurso literário se diferencia do filosófico pelo fato que: I) ele busca suscitar em nós emoções; II) ele tem um caráter fictício; III) ele representa situações universais (o universal) sob a forma de um conjunto de representações individuais.”
Em grupo, discuta:
Destaque uma diferença apontada no texto entre Literatura e Filosofia.
Das diferenças apontadas no texto, uma é o caráter fictício da literatura, lembrando-se de que filósofos podem fazer uso de situações fictícias para construir argumentação. Outra das diferenças é que o discurso da literatura busca provocar emoções, e o da filosofia suscita reflexões.
Segundo o texto, por que é difícil distinguir a diferença entre Filosofia e Literatura? A dificuldade reside justamente no fato de que a literatura também provoca reflexões, e o texto filosófico muitas vezes faz uso de narrativas fictícias para seus argumentos.
Jean-Paul Sartre (1905-1980) foi um filósofo que fez da literatura um meio de expressão para seu pensamento filosófico. Ele escreveu o romance A náusea, de 1938, e também uma trilogia de romances: A idade da razão, de 1945, Sursis, de 1947, e Com a morte na alma, de 1949. Outro filósofo que escolheu a literatura para expor seu pensamento educacional foi Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) em sua obra ficcional Emílio ou Da Educação, de 1762.
PESQUISA INDIVIDUAL
Pesquise outros filósofos que se expressaram por meio da literatura e registre em folha à parte o nome dos filósofos e suas principais obras literárias.
A FELICIDADE SEGUNDO O ESTOICISMO E O EPICURISMO
Nestes textos, serão analisadas duas teorias da história da Filosofia que ajudam a pensar as questões da felicidade. Por meio de leituras e reflexões você vai compreender essas teorias.
Reunido com seus colegas, responda:
1. O que é felicidade para você? Apresente uma definição.
2. O que é preciso para ser feliz no mundo de hoje?
3. E quanto a você, considera-se feliz? Por quê?
4. As frases a seguir traduzem pensamentos do senso comum a respeito da felicidade. Comente-as, posicionando-se em relação a elas e justificando seus argumentos.
a) Felicidade não existe. Só existem momentos felizes.
b) O dinheiro não traz felicidade.
c) A felicidade está dentro de cada um de nós.
Leitura e Análise de Texto
A felicidade como tema da Filosofia
Se há algo nesta vida que todos, sem exceção, desejamos, sem dúvida, é ser feliz.
Quem nunca se perguntou: O que é a felicidade? O que é preciso para alcançá-la? Ela existe realmente, ou podemos ter apenas momentos felizes?
Se procurarmos no dicionário, veremos que a felicidade é identificada como o “estado de uma consciência plenamente satisfeita; satisfação, contentamento, bem-estar”.
Mas será que basta para ser feliz satisfazer a consciência? O “bem-estar” a que se refere a definição acima não implica, também, outros níveis de satisfação, como, por exemplo, a das condições materiais básicas, necessárias a uma vida digna e confortável? O Dicionário Básico de Filosofia parece ampliar um pouco a noção de felicidade, concebendo-a como: “Estado de satisfação plena e global de todas as tendências humanas”. Como, porém, atingir tal grau de satisfação? Isso é possível?
Desse modo, a questão da felicidade não é tão simples como à primeira vista pode parecer. Enfrentá-la exige reflexão cuidadosa, sistemática, profunda e crítica, ou seja, precisa da ajuda da filosofia. E, de fato, ao longo da história da Filosofia ela foi objeto da preocupação de inúmeros pensadores, que, instigados por questões como as enunciadas acima, se aventuraram a apontar alguns caminhos que, na visão deles, poderiam levar à felicidade.
Nestes textos, vamos estudar duas correntes filosóficas que se ocuparam desse tema – o estoicismo e o epicurismo – e que surgiram em um mesmo momento histórico: o período romano-helenístico. Elas foram escolhidas em virtude de estarem entre as que exerceram e continuam a exercer grande influência sobre nossa cultura, contribuindo significativamente para a formação das ideias que temos acerca da felicidade. Para compreendê-las melhor, porém, é importante recordar brevemente o que foi esse período histórico.
Tradicionalmente, o helenismo foi o processo de fusão da cultura grega com a dos povos orientais, com predomínio da primeira sobre a última, fusão esta propiciada pelas conquistas de Alexandre Magno. Esse processo teve início com a tomada da Grécia pela Macedônia, no século IV a.C., marcando o fim da época clássica.
Do ponto de vista político, a principal consequência da invasão macedônica foi a dissolução da pólis, isto é, da cidade-Estado grega, que, pouco a pouco, foi perdendo sua autonomia. Antigas instituições, como a assembleia dos cidadãos e a democracia ateniense, deixaram de existir. Não havia mais espaço para a participação ativa dos cidadãos nas decisões mais importantes da vida da população. A rigor, não havia mais cidadãos, no sentido pleno da palavra, mas apenas “súditos” de um monarca estrangeiro. As cidades outrora soberanas eram, agora, subjugadas por uma potência invasora.
No século II a.C. foi a vez de Roma conquistar a Grécia, transformando-a em província do Império Romano e subtraindo-lhe definitivamente a liberdade.
Nesse contexto tumultuado, de decadência da pólis e dos valores políticos e morais tradicionais, de perda da liberdade, de sincretismo e de conflitos culturais causados pelo contato com outros povos de tradições e crenças diferentes, de insegurança constante provocada pela dominação estrangeira, de medo da morte iminente, enfim, neste ambiente de crise generalizada, era natural que a Filosofia também sofresse significativas transformações, mudando o foco de suas preocupações.
De fato, no período clássico a política era um dos temas centrais da reflexão filosófica.
Basta lembrar a importância fundamental que ela tivera para Sócrates, Platão e Aristóteles, que se ocuparam de questões de natureza essencialmente política, tais como: “Qual a melhor forma de governo?”; “O que é uma cidade justa?”; “Quais as virtudes que devem prevalecer na pólis?”; “Como deve ser a educação dos cidadãos?”; “Que papel cumprem as leis?” No helenismo, por outro lado, os assuntos políticos são postos de lado, cedendo lugar às questões da vida privada e interior de cada indivíduo, especialmente aos problemas morais. Agora, o que se espera da Filosofia é que ela aponte caminhos (por exemplo, por meio da indicação de regras morais práticas) para a eliminação do sofrimento humano e para a conquista da felicidade, ambos, sofrimento e felicidade, entendidos como problemas meramente individuais, subjetivos.
Assim, a felicidade passa a ser um tema central da Filosofia, como resultado das condições impostas pela nova realidade social, política e cultural vivida pelos gregos naquele momento histórico.

Para refletir:
1. Como se pode explicar a mudança de eixo que ocorre com o helenismo?
2. Você considera que a Filosofia pode contribuir para o enfrentamento do problema da felicidade?                   Exercício
O fragmento a seguir é conhecido como Oração da serenidade. Dialogando com seus colegas, analise-o cuidadosamente e responda, individualmente, às questões em seu caderno.
“Concede-me, Senhor, a serenidade necessária para aceitar as coisas que não posso modificar, coragem para modificar as que eu posso e sabedoria para distinguir umas das outras.” Frase atribuída a Reinhold Niebuhr.
1. Há coisas que não podemos modificar e há coisas que podemos? Quais são elas?
2. Como podemos distinguir umas das outras?
3. O que significa aceitar com serenidade as coisas que não podemos modificar?
Leitura e Análise de Texto
O estoicismo e a felicidade como resignação
O nome estoicismo vem do termo grego stoa, que significa “pórtico”. Isso porque Zenão de Cício, fundador dessa escola filosófica, costumava ensinar nas proximidades do Pórtico de Poikilé (o qual fora ornamentado pelo pintor Polignoto), em Atenas.
Trata-se de uma corrente de pensamento que se estendeu do século IV a.C. ao século II d.C., e que repercute até os dias atuais.
Deixando de lado algumas diferenças entre os pensadores do estoicismo, podemos dizer que, de modo geral, para os estóicos existe uma Razão Divina (o Logos, ou Deus) que rege todo o universo, imprimindo-lhe uma ordem necessária (isto é, que não pode ser de outro jeito) e perfeita. Este Logos, ou Deus, entretanto, não é um ser pessoal e transcendente que existiria em algum lugar fora do mundo e de onde exerceria seu governo sobre a natureza e os seres humanos. Antes, trata-se de um Deus imanente, ou seja, inseparavelmente integrado ao mundo físico e material. Daí a ideia de que Deus está em tudo, Deus é tudo. É a doutrina do panteísmo, segundo a qual Deus e o universo são concebidos como realidades intrinsecamente entrelaçadas ou mesmo como “uma única realidade integrada”.
Ora, se a ordem do universo é regida por um Deus imanente, e se esse Deus é identificado com o Logos, isto é, com a Razão, pode-se concluir que há no universo (repleto do Deus-Logos) uma ordem racional necessária e perfeita. Em outras palavras, as coisas são (e não poderiam deixar de ser) como a Razão Divina quer que elas sejam. Por isso, elas são precisamente como devem ser e como é bom que sejam. Se um determinado acontecimento – por exemplo, uma doença –, visto isoladamente, parecer sinal de imperfeição ou irracionalidade, tomado em sua articulação com o todo, veremos que, na realidade, contribui para a realização da perfeição desse todo.
Há, portanto, no estoicismo certa noção de Providência Divina, embora não no sentido de uma providência transcendente, praticada por um Deus pessoal, como no Cristianismo, por exemplo. A providência dos estóicos assemelha-se mais à ideia de Destino, no sentido de que, se tudo deriva do Logos Divino, então tudo é necessário, ou seja, tudo é como deve ser, sem nenhuma possibilidade de que seja de outro jeito. E é bom que seja assim, visto que a origem, em última instância, está em Deus, na Razão Divina.
Mas, se tudo é necessário, como fica a liberdade humana? Para os estoicos, a verdadeira liberdade, aquela praticada pelos sábios, consiste em adequar a vontade ao Destino, desejando aquilo que ele prepara para cada um. Afinal, se o destino é obra da Providência Divina e se Deus é o Logos, então desejar o que o Destino traz é o mesmo que se deixar guiar pela Razão Divina. E isso é sabedoria.
Essa é a chave para a felicidade, segundo o estoicismo. Se desejarmos algo contrário ao nosso destino e que, portanto, não poderemos alcançar, certamente ficaremos frustrados e infelizes. Por outro lado, se conformarmos nossa vontade ao Destino, desejando apenas o que efetivamente está ao nosso alcance, nossas chances de felicidade serão muito maiores.
A felicidade, para o estoicismo, consiste também em buscar o bem, isto é, a virtude, e evitar o mal, ou seja, o vício. Bem e mal, portanto, são entendidos num sentido puramente moral. As coisas relativas ao corpo, independentemente de serem nocivas ou saudáveis, não são em si boas nem más, mas indiferentes. Como explica Zenão: “Os entes dividem-se em bons, maus e indiferentes. Bons (os bens) são os seguintes: inteligência, temperança, justiça, fortaleza e tudo aquilo que é virtude ou participa da virtude. Maus (ou males) são os seguintes: idiotice, dissolução, injustiça, vileza e tudo aquilo que é vício ou participa do vício. Indiferentes são: a vida e a morte, a celebridade e a obscuridade, a dor e o prazer, a riqueza e a pobreza, a doença e a boa saúde, e coisas semelhantes a estas.”
Além disso, como diz Epicteto, a felicidade também está ligada à nossa capacidade de discernir entre as coisas que dependem de nós e as que não dependem, buscando apenas as primeiras e permanecendo indiferentes em relação às segundas. Caso contrário, seremos infelizes, pois não temos poder algum sobre as coisas que não dependem de nós. Nas palavras do autor: “Sob nosso controle estão as nossas opiniões, aspirações, desejos e as coisas que nos causam repulsa ou nos desagradam. Essas áreas são justificadamente da nossa conta, porque estão sujeitas à nossa influência direta. Temos sempre a possibilidade de escolha quando se trata do conteúdo e da natureza de nossa vida interior.
Fora do nosso controle, entretanto, estão coisas como o tipo de corpo que temos, se nascemos ricos ou se enriquecemos de repente, a maneira como somos vistos pelos outros ou qual é a nossa posição na sociedade. Devemos lembrar que essas coisas são externas e, portanto, não dependem de nós. Tentar controlar ou mudar o que não podemos só resulta em aflição e angústia.
Lembre-se: as coisas sob nosso poder estão naturalmente à nossa disposição, livres de qualquer restrição ou impedimento. As que não estão, porém, são frágeis, sujeitas a dependência ou determinadas pelos caprichos ou ações dos outros. Lembre-se também do seguinte: se você achar que tem domínio total sobre coisas que estão naturalmente fora do seu controle, ou se tentar assumir as questões de outros como se fossem suas, sua busca será distorcida e você se tornará uma pessoa frustrada, ansiosa e com tendência para criticar os outros.”
A felicidade, segundo os estóicos, exige também que adotemos uma atitude de apatia em relação às paixões, pois estas, em geral, são causa de perturbação e infelicidade para nossa alma. Sentimentos como medo, dor, piedade, inveja, ciúme, aflição, ansiedade, cobiça, raiva, amor (especialmente quando não correspondido), ódio, volúpia, entre outros, nos aprisionam, nos atribulam e nos impedem de ter paz de espírito. Suprimi-los, portanto, é a atitude do sábio e o caminho para a ataraxia, isto é, o estado de imperturbabilidade da alma necessário à conquista da felicidade.
Em suma, a felicidade estóica consiste em não desejar mais do que se pode ter, conformar-se com o Destino, discernir entre as coisas que dependem e as que não dependem de nós, tornando-nos indiferentes a estas últimas, e renunciar às paixões que são causa de dor e sofrimento. É, pois, uma disposição da vontade individual. Sou eu quem decide ser feliz, disciplinando meus desejos através de minha razão. Trata-se, portanto, de uma concepção idealista da felicidade, que desconsidera a influência de fatores externos que a determinam e que, por isso mesmo, conduz ao conformismo, à resignação, à apatia. Num contexto de tantas turbulências como o do helenismo, compreende-se por que os preceitos do estoicismo lograram tamanha aceitação, sobrevivendo com vigor até os nossos dias.
Responda às questões em seu caderno.
1. Quais são as recomendações do estoicismo para a conquista da felicidade? Você concorda com elas? Justifique.
2. Você considera que a morte, a saúde, a doença, a beleza, a feiúra, a riqueza, a pobreza, a escravidão e a liberdade não dependem de nós? Justifique.
Exercícios
1. Você tem medo da morte? E de Deus? Discuta com seus colegas e justifique, individualmente, anotando suas ideias em folha à parte.
2. Caso tenha esses medos, acredita que eles sejam obstáculos à sua felicidade? Por quê? O que pensam os colegas sobre esse medo?
3. Para você, que papel tem o prazer na conquista da felicidade?
4. Você reconhece traços do estoicismo na Oração da serenidade, apresentada anteriormente? Explicite-os.
5. Indique pelo menos uma situação do cotidiano que possa ser interpretada à luz do estoicismo.
6. Analise o texto a seguir e identifique nele traços de estoicismo. Você concorda com o preceito por ele expresso? Justifique.
“Não exijas aconteça como tu desejas aconteça. Antes queiras aconteçam as coisas como acontecem – e quão feliz, então, não serás tu!”
Leitura e Análise de Texto
A felicidade segundo o epicurismo
Epicuro (341-270 a.C.) nasceu na ilha grega de Samos, mas passou boa parte de sua vida em Atenas, onde fundou uma escola filosófica, mais tarde denominada epicurismo. A escola funcionava no jardim de sua casa e, por isso, ficou conhecida como “Jardim de Epicuro”.
Uma de suas principais preocupações era com a questão da felicidade. Em sua famosa Carta a Meneceu, ou mais conhecida como Carta sobre a felicidade, ele nos revela alguns ensinamentos para que a alcancemos e a conservemos ao longo de nossas vidas.
Logo de início, ele enaltece a utilidade da filosofia para a obtenção da “saúde do espírito”, isto é, da felicidade. Isso porque é filosofando que aprendemos a distinguir entre as coisas que dela nos aproximam e as que dela nos distanciam, optando pelas primeiras e evitando as segundas. Diz o autor:
 “Que ninguém hesite em se dedicar à filosofia enquanto jovem, nem se canse de fazê-lo depois de velho, porque ninguém jamais é demasiado jovem ou demasiado velho para alcançar a saúde do espírito. Quem afirma que a hora de dedicar-se à filosofia ainda não chegou, ou que ela já passou, é como se dissesse que ainda não chegou ou que já passou a hora de ser feliz.”
Em seguida, Epicuro faz algumas recomendações para quem deseja ter uma vida feliz. Em primeiro lugar, é preciso afastar as falsas opiniões que, em geral, temos sobre os deuses e que nos levam a temê-los, pois esse temor também é causa de infelicidade. Por exemplo, a crença de que “eles causam os maiores malefícios aos maus e os maiores benefícios aos bons”. Para o autor, os deuses existem realmente, são imortais e bem-aventurados, mas vivem num mundo supra-humano e em nada interferem em nossa vida, nem para nos socorrer nem para nos castigar. Por isso, não há motivos para temê-los. Pela mesma razão, preces, sacrifícios e louvores são inúteis e desnecessários.
Em segundo lugar, temos de nos libertar do medo da morte, outro obstáculo à nossa felicidade. E, de fato, segundo Epicuro, não há por que temê-la, pois não temos como saber se ela é um bem ou um mal. Ora, sabemos se uma coisa é boa ou ruim pelas sensações que ela nos provoca. A morte, porém, nada mais é do que a ausência de toda e qualquer sensação. Portanto, a morte não é nada para nós. Na realidade, nunca a encontraremos, pois enquanto estamos vivos ela está ausente e, quando ela chegar, nós é que não estaremos presentes, já que não teremos mais nenhuma sensação. É tolice, portanto, nos angustiarmos pela espera da morte, pois “aquilo que não nos perturba quando presente não deveria afligir-nos enquanto está sendo esperado”. Essa consciência de que a morte nada significa para nós é importante para que aproveitemos melhor a vida enquanto a temos e sejamos felizes no momento presente. Essa é a atitude do sábio, que nem desdenha a vida (como se ela fosse um fardo insuportável) nem se apega a ela em demasia (a ponto de desejar a imortalidade), mas que sabe vivê-la bem. “Assim”, diz Epicuro acerca do sábio, “como opta pela comida mais saborosa e não pela mais abundante, do mesmo modo ele colhe os doces frutos de um tempo bem vivido, ainda que breve”.
Em terceiro lugar, Epicuro recomenda que não acreditemos no destino e na sorte, como se deles dependesse nossa felicidade, pois essa crença também pode ser motivo de perturbação de nossa alma: “Nunca devemos nos esquecer de que o futuro não é nem tolamente nosso nem totalmente não nosso, para não sermos obrigados a esperá-lo como se estivesse por vir com toda a certeza nem nos desesperarmos como se não estivesse por vir jamais”.
Em quarto lugar, precisamos, também, para ser felizes, conhecer bem os nossos desejos e direcionar nossa escolha para aqueles que contribuem para “a saúde do corpo e para a serenidade do espírito, visto que esta é a finalidade da vida feliz”6. O critério dessa escolha é, em última instância, a distinção entre prazer e dor. De fato, para Epicuro, a principal finalidade da vida humana é o prazer. Mas não se trata de qualquer prazer:
 “Há ocasiões em que evitamos muitos prazeres, quando deles nos advêm efeitos o mais das vezes desagradáveis; ao passo que consideramos muitos sofrimentos preferíveis aos prazeres, se um prazer maior advier depois de suportarmos essas dores por muito tempo.
Portanto, todo prazer constitui um bem por sua própria natureza; não obstante isso, nem todos são escolhidos; do mesmo modo, toda dor é um mal, mas nem todas devem ser sempre evitadas. Convém, portanto, avaliar todos os prazeres de acordo com o critério dos benefícios e dos danos.”
Além disso, como nem tudo o que desejamos está ao nosso alcance, devemos aprender a extrair prazer daquilo que temos, das “coisas simples e fáceis de obter”, em vez de sofrer pela falta daquilo que não podemos ter. É o que Epicuro chama de “autossuficiência”.
Para ele: “Os alimentos mais simples proporcionam o mesmo prazer que as iguarias mais requintadas, desde que se remova a dor provocada pela falta: pão e água produzem o prazer mais profundo quando ingeridos por quem deles necessita”.
O prazer, portanto, para Epicuro não se confunde com a busca irrefletida e desenfrea da do “gozo dos sentidos”; trata-se, antes, do prazer entendido como “ausência de sofrimentos físicos e de perturbações da alma”, único capaz de nos proporcionar a verdadeira felicidade. Nas palavras do autor:
“Não são, pois, bebidas nem banquetes contínuos, nem a posse de mulheres e rapazes nem o sabor dos peixes ou das outras iguarias de uma mesa farta que tornam doce uma vida, mas um exame cuidadoso que investigue as causas de toda escolha e de toda rejeição e que remova as opiniões falsas em virtude das quais uma imensa perturbação toma conta dos espíritos.”
Portanto, o prazer, para ser de fato fonte de felicidade, precisa ser buscado com “prudência”, que, para Epicuro, é o “supremo bem”, a primeira de todas as virtudes.
Ora, nada melhor do que a Filosofia para nos ajudar a empreender esse “exame cuidadoso” que nos permite distinguir as coisas que verdadeiramente nos trazem prazer e as que nos provocam dor e viver segundo a prudência. Eis, portanto, a importância fundamental da Filosofia para a conquista da felicidade, segundo Epicuro.
1. Considerando as situações descritas a seguir, como cada uma delas se relaciona com a doutrina de Epicuro? Você concorda com as atitudes tomadas? Justifique sua posição.
a) Uma pessoa é diabética e, por isso, abstém-se de comer doces.
b) Os encarcerados decidem fazer greve de fome para chamar a atenção da população e das autoridades para o problema da superlotação da penitenciária.
c) O jovem deixa de viajar com os amigos no feriado prolongado para estudar para o vestibular.
d) O pai desempregado corta gastos supérfluos para garantir o que é básico para a sobrevivência da família.
e) A jovem diz “não” ao namorado por ele insistir em não usar preservativo.
2. Descreva, em seu caderno, uma situação vivida ou presenciada por você na qual tenha ocorrido a privação deliberada de um prazer a fim de evitar um sofrimento, ou alcançar um prazer ainda maior. Você concorda com essa atitude? Justifique.
3. Em seu caderno, resuma os conselhos de Epicuro para se alcançar a felicidade.
4. Que papel Epicuro atribui à Filosofia na busca da felicidade? Você concorda com ele? Justifique.
5. Cite e explique, em seu caderno, pelo menos três recomendações de Epicuro que mostrem como chegar à felicidade. Você concorda com elas? Por quê?
6. Você concorda com as concepções de felicidade do estoicismo e do epicurismo? Justifique em seu caderno.
PESQUISA INDIVIDUAL
Escolha uma música de sua preferência que fale sobre felicidade. Transcreva a letra, em folha à parte, e leve-a para a sala de aula para discutir com seus colegas o conceito de felicidade adotado pelo compositor.


Prof. Manoelito