quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

CONTEÚDOS DAS SITUAÇÕES 1 E 2 - 3ª SÉRIE - 1º BIMESTRE - AVALIAÇÃO 01

O PRECONCEITO EM RELAÇÃO À FILOSOFIA Leitura e Análise de Texto Ideias que as pessoas têm da Filosofia Se fizermos uma rápida pesquisa com as pessoas à nossa volta, indagando o que elas pensam da Filosofia, muito provavelmente ouviremos opiniões diversas. Umas dirão, por exemplo, que a Filosofia é algo muito difícil e que, por isso mesmo, só pode ser praticada por pessoas de inteligência privilegiada, sendo inacessível aos “simples mortais”; outras responderão que a Filosofia é coisa de gente doida, que vive no mundo da lua e que só se preocupa com assuntos abstratos, e que ela, a Filosofia, nada tem a ver com a vida prática; outras, ainda, concordando com essas últimas, emendarão que a Filosofia, por não ter uma aplicação prática imediata, não serve para nada. Pode ser que alguém, remando contra toda essa maré de opiniões pejorativas a respeito da Filosofia, se arrisque a dizer que a considera uma matéria linda, já que permite o contato com o pensamento dos filósofos, expresso em frases de rara profundidade e beleza, ainda que, por vezes, incompreensíveis; por fim, certamente haverá também aquelas que confessarão, com algum sarcasmo ou menosprezo, não ter a menor ideia do que seja a Filosofia. Todas essas opiniões, na realidade, são, pelo menos em certa medida, expressão de um preconceito em relação à Filosofia. Por que preconceito? Porque, em geral, são opiniões emitidas apressadamente, precipitadamente, sem a preocupação de examinar com o devido cuidado o assunto sobre o qual se está opinando a fim de conhecê-lo melhor. E é justamente isso que caracteriza o preconceito. Sempre que fazemos isso corremos mais seriamente o risco de nos enganar em nosso julgamento e até de cometer injustiças com as pessoas. 1. Você se considera preconceituoso em relação a alguma coisa? Argumente. 2. E em relação à Filosofia? Justifique. 3. Cite dois adjetivos que você atribuiria à Filosofia. 4. O que é Filosofia para você? 5. Na sua opinião, para que serve a Filosofia? 6. Na sua opinião, o que faz um filósofo e o que uma pessoa precisa fazer para filosofar? Tales de Mileto: o distraído O preconceito e a hostilidade em relação à Filosofia não são algo novo, recente, mas, ao contrário, remontam às origens da Filosofia na Grécia Antiga. Talvez o registro mais antigo desse preconceito seja aquele de que foi vítima Tales de Mileto, que viveu no século VII a.C. e é considerado o primeiro filósofo da história. A respeito dele contava-se a seguinte anedota, bastante difundida na Grécia Antiga e recuperada por Platão em sua obra Teeteto1: Tales era tão interessado no estudo dos astros que costumava caminhar olhando para o céu. Certo dia, absorto em seus pensamentos e raciocínios, acabou tropeçando e caindo em um poço, sendo motivo de riso e caçoada para uma escrava que ali se encontrava. Espalhou-se, então, o boato de que Tales se preocupava mais com as coisas do céu, esquecendo-se das que estavam debaixo de seus pés. “Essa pilhéria”, adverte Platão, “se aplica a todos os que vivem para a Filosofia.”2 Essa imagem de um homem distraído e trapalhão, porém, não parece condizer com a verdade sobre Tales, que, ao que tudo indica, era uma pessoa bem esperta, viva e inteligente. É o que se conclui, por exemplo, de outra anedota contada sobre ele, registrada por Aristóteles em sua obra A política e atribuída a Tales por causa de sua sabedoria: “Como o censuravam pela pobreza e zombavam de sua inútil filosofia, o conhecimento dos astros permitiu-lhe prever que haveria abundância de olivas. Tendo juntado todo o dinheiro que podia, ele alugou, antes do fim do inverno, todas as prensas de óleo de Mileto e de Quios. Conseguiu-as a bom preço, porque ninguém oferecera melhor e ele dera algum adiantamento. Feita a colheita, muitas pessoas apareceram ao mesmo tempo para conseguir as prensas e ele as alugou pelo preço que quis. Tendo ganhado muito dinheiro, mostrou a seus amigos que para os filósofos era muito fácil enriquecer, mas que eles não se importavam com isso. Foi assim que mostrou sua sabedoria.”3 Na verdade, Tales deve ter gozado de grande prestígio em sua época. Tanto que passou para a posteridade como um dos sete sábios da Grécia4: na política, empenhou-se em organizar as cidades gregas da Jônia para enfrentar a ameaça dos persas; como engenheiro, quis desviar o curso de alguns rios para fins de navegação e irrigação; como pesquisador, investigou as causas das inundações do rio Nilo, rompendo com as explicações míticas que se davam para elas; como astrônomo, previu um eclipse solar e descobriu a constelação denominada Ursa Menor; como matemático e geômetra, teria descoberto um método para medir a altura de uma pirâmide do Egito, do qual teria derivado o famoso “teorema de Tales”. Além disso, não podemos esquecer que Tales foi, segundo Aristóteles, o primeiro a dar uma resposta racional, isto é, sem recorrer aos mitos, para a pergunta que mais incomodava os primeiros filósofos (os chamados pré-socráticos ou filósofos físicos): Qual era o elemento primordial que dava origem a todas as coisas? Para Tales esse elemento era a água, por ela estar presente nos alimentos necessários à vida, pelo fato de as coisas vivas serem úmidas, enquanto as mortas ressecam e porque a Terra repousa sobre as águas. Daí sua conclusão de que ela deve ter sido o elemento primordial. Vemos, portanto, que Tales, ao contrário do que sugere a primeira anedota, não tinha nada de lunático, distraído e desligado dos problemas concretos. Pôs toda a sua inteligência, curiosidade e criatividade a serviço da busca de soluções para eles, sobretudo aqueles mais importantes e urgentes em sua época. Eis por que a tal anedota revela, de fato, um preconceito, isto é, um conceito precipitado e desprovido de fundamentação. 1. Na sua opinião, Tales foi vítima de preconceito? Por quê? 2. De acordo com o excerto de Aristóteles, e baseado nos outros dados do texto analisado, você consideraria a filosofia de Tales como algo sem utilidade? Justifique. 3. E quanto a você? Já sofreu algum preconceito? Se desejar, conte ao grupo. 4. Você acredita que uma pessoa que passe a se interessar pela Filosofia será alvo de preconceito, hostilidade ou rejeição? Por quê? Teme que isso aconteça com você? 5. Faça uma pesquisa sobre Tales e os filósofos pré-socráticos procurando responder às seguintes perguntas: a) Por que são chamados de pré-socráticos? b) Por que Tales é considerado o primeiro filósofo da história? c) Quais são as respostas de outros pré-socráticos para o problema da origem do universo? Sócrates: aquele que vive nas nuvens Outra célebre vítima do preconceito e da intolerância contra a Filosofia foi Sócrates. E neste caso as consequências foram muito mais sérias, visto que o levaram à morte. Na realidade, não há uma imagem única de Sócrates. Isso porque todas as informações que temos dele nos chegaram por testemunhos indiretos, já que ele mesmo nada escreveu. Assim, enquanto seus amigos, admiradores e discípulos, como Xenofonte e Platão, por exemplo, o viam como sábio, patriota, respeitador das leis e da religião, piedoso, justo, valoroso como guerreiro nas batalhas etc., seus críticos o retratavam como uma pessoa esquisita, deslocada, excêntrica, charlatã, corruptor de jovens e ímpio. Leitura e Análise de Texto De todos esses testemunhos pouco elogiosos sobre Sócrates, sem dúvida o mais significativo que chegou até nós foi a imagem dele traçada por Aristófanes na comédia As nuvens. Neste texto, aparece um Sócrates “se movendo livremente, proclamando que caminhava no ar e dizendo uma plêiade de outras tolices” das quais não entende nada. É um Sócrates mestre dos sofistas, isto é, charlatão, enganador e que ensinava às pessoas a arte desse engano. Aliás, essa imagem dos sofistas também era, em boa medida, preconceituosa. Na peça de Aristófanes, ele surge em cena empoleirado em uma cesta suspensa no ar, significando que ele vivia nas alturas, preocupado com questões de cosmologia e de astronomia (movimento dos astros, origem do universo etc.), ou com assuntos sem a menor relevância, como a medida do pulo de uma pulga, ou se o zumbido de um mosquito é produzido por sua tromba ou seu traseiro, ficando totalmente alheio aos problemas realmente importantes da vida dos cidadãos de Atenas. A certa altura, um dos discípulos conta que, certa vez, “uma lagartixa atrapalhou uma indagação transcendental” de Sócrates. Isso aconteceu, segundo o relato, quando ele “observava a lua para estudar o curso e as evoluções dela, no momento em que ele olhava de boca aberta para o céu, do alto do teto uma lagartixa noturna, dessas pintadas, defecou na boca dele”. Essa imagem depreciativa e até cômica de Sócrates provavelmente revela a ideia que a maioria das pessoas tinha a respeito dele e dos filósofos em geral. No entanto, é uma imagem bastante distorcida. Na realidade, Sócrates e os sofistas inauguram um novo período na história da Filosofia em que a reflexão filosófica se desloca da cosmologia e da física (princípio que dá origem a todas as coisas) para as questões relativas à vida concreta na cidade (pólis), isto é, à política, à ética, ao conhecimento. Os assuntos que ele gostava de abordar eram a justiça, a beleza, a coragem, o amor, a educação, entre outros. Vem daí, aliás, a denominação de pré-socráticos atribuída aos filósofos anteriores a ele. Não tanto por razões de cronologia, mas principalmente pela diferença quanto aos temas da reflexão filosófica. Além disso, no que se refere aos sofistas, Sócrates tinha, certamente, muito mais diferenças e mesmo divergências com eles do que semelhanças. Enquanto os sofistas se apresentavam como sábios, isto é, pessoas entendidas em diversos assuntos, especialmente na técnica da retórica, Sócrates dizia: “Sei que nada sei”; enquanto os sofistas cobravam pelos ensinamentos que ministravam, Sócrates condenava essa prática e filosofava com as pessoas gratuitamente na praça (ágora) de Atenas; enquanto os sofistas eram céticos em relação à possibilidade de se conhecer a verdade universal, Sócrates a perseguia incansavelmente; enquanto os sofistas contentavam-se com a opinião (doxa), Sócrates exigia o saber verdadeiro (episteme). A respeito dos sofistas, diz Sócrates ironicamente por ocasião de seu julgamento: “Cada um desses homens [...] é capaz de dirigir-se a qualquer cidade e persuadir os jovens, os quais podem se associar, segundo queiram, com qualquer de seus concidadãos sem pagar, a deixar a companhia dessa pessoa para se juntarem a ele, remunerá-lo e, além disso, mostrar-lhe gratidão”. Vemos, assim, que a imagem de Sócrates traçada por Aristófanes, procurando retratá-lo como alguém que anda nas nuvens, preocupado com assuntos alheios ao cotidiano das pessoas e identificado com os sofistas, não corresponde à verdade sobre ele. Ao contrário, baseia-se em um preconceito, a exemplo do que ocorrera com a anedota sobre Tales. É interessante observar que em seu julgamento Sócrates faz menção à comédia de Aristófanes (As nuvens) como um dos fatores que provocaram as acusações contra ele. PESQUISA 1. O que foi a comédia e qual a sua importância para a democracia ateniense? Cite alguns dos principais comediógrafos e suas obras. 2. Pode-se afirmar que a imagem de Sócrates construída por Aristófanes é preconceituosa? Por quê? Em que sentido? 3. Como era a democracia ateniense e em que ela se diferencia da democracia brasileira atual? 4. Quais são as principais diferenças entre Sócrates, os filósofos pré-socráticos e os sofistas? 5. A comédia e o humor podem ser formas de propagação de preconceitos? Justifique sua resposta e, se possível, dê exemplos. 6. Essas formas de manifestação artística e cultural são importantes para a democracia? Justifique. 3. Você vê alguma semelhança entre o papel da comédia no tempo de Sócrates e o dos programas humorísticos atuais? Dê exemplos e comente. Sócrates Discuta brevemente com um colega sobre a seguinte questão: Como é possível alguém ser a pessoa mais sábia que existe e, ao mesmo tempo, ser também alguém que nada sabe? Utilize o texto a seguir para embasar esta discussão. A morte de Sócrates Leitura e Análise de Texto De acordo com Platão, as acusações contra Sócrates foram: “Sócrates é réu por empenhar-se com excesso de zelo, de maneira supérflua e indiscreta, na investigação de coisas sob a terra e nos céus, fortalecendo o argumento mais fraco e ensinando essas mesmas coisas a outros.” “Sócrates é réu porque corrompe a juventude e descrê dos deuses do Estado, crendo em outras divindades novas.” Levado a julgamento, foi condenado à morte. Como e por que isso ocorreu? Tudo começou quando Sócrates tomou conhecimento de que o oráculo do templo de Delfos, dedicado ao deus Apolo, havia proclamado que ele era o homem mais sábio de Atenas. Não se considerando como tal, mas, ao mesmo tempo, não podendo duvidar da palavra do deus, decidiu investigar o significado de tal revelação. Procurou, então, aqueles cidadãos mais ilustres de Atenas e que eram tidos como os mais sábios da cidade. Eles pertenciam a três categorias sociais: os políticos, os poetas (autores de tragédias, como Aristófanes, e de ditirambos – cantos religiosos em homenagem ao deus Dionísio) e os artesãos. Interrogando esses cidadãos (por meio de seu método dialético), constatou que, na realidade, nada sabiam dos assuntos em que eram tidos como sábios. Ao término da conversa com cada uma dessas pessoas Sócrates concluía: “Sou mais sábio do que esse homem; nenhum de nós dois realmente conhece algo de admirável e bom, entretanto ele julga que conhece algo quando não conhece, enquanto eu, como nada conheço, não julgo tampouco que conheço. Portanto, é provável, de algum modo, que nessa modesta medida seja eu mais sábio do que esse indivíduo – no fato de não julgar que conheço o que não conheço”. Daí a famosa expressão atribuída a Sócrates: “Sei que nada sei”. Acontece que Sócrates praticava esses diálogos em praça pública, à vista de todos. Dentre os presentes havia sempre muitos jovens, filhos de famílias ricas, que dispunham de tempo livre (já que não precisavam trabalhar) e, por isso, podiam acompanhá-lo nessas ocasiões. Eles se divertiam vendo Sócrates “desbancar” os que se julgavam sábios e, mais tarde, punham-se a imitá-lo, interrogando outras pessoas e descobrindo muitas que supunham saber o que de fato não sabiam. Essas pessoas, que em geral eram gente importante e de prestígio na cidade, sentindo-se constrangidas, tornavam-se furiosas não contra esses jovens, mas contra aquele que consideravam responsável por tê-los ensinado tal comportamento; e passavam a propagar que: “Sócrates é o mais pestilento dos indivíduos e está corrompendo a juventude”. Na verdade, quando indagadas, tais pessoas não conseguiam provar tal acusação. Mas para esconder seu constrangimento, lançavam mão daquelas acusações que sempre são usadas contra todo “filósofo, ou seja, que [ensina] ‘as coisas no ar e as coisas sob a terra’ e ‘não crê nos deuses’, e ‘torna mais forte o argumento mais fraco’.” Esta é a origem das “inimizades, a um tempo implacáveis e aflitivas”, do ódio, das “calúnias” e das acusações contra Sócrates e que acabaram por levá-lo à morte. No fundo, Sócrates foi condenado porque, na democracia ateniense, os assuntos mais importantes da vida da cidade eram decididos em assembleias (ekklesía) nas quais cada cidadão podia expressar livremente sua opinião a favor ou contra uma determinada posição. Era, pois, um regime político sustentado pela crença no valor das opiniões. Ora, o que Sócrates fazia com sua dialética era justamente pôr em cheque as opiniões, mostrando que, muitas vezes, elas refletiam um conhecimento falso sobre o assunto em questão. Assim, para as pessoas importantes da cidade que costumavam discursar nessas assembleias, a “má” influência de Sócrates, sobretudo sobre os jovens, representava uma ameaça ao sistema democrático do qual se beneficiavam. Eis aí a natureza política da condenação de Sócrates. 1. Leia o texto a seguir, extraído do artigo intitulado “Errar é humanas”, de Gustavo Ioschpe, articulista da revista Veja. Em seguida, considerando também o ocorrido com Sócrates, escreva uma breve reflexão (10 a 15 linhas) sobre o tema: “A natureza política do preconceito e da intolerância com a Filosofia”. Leitura e Análise de Texto “Errar é humanas” “[...] É impossível estudar filosofia se você não sabe ler. Essas aulas serão apenas uma maneira mais escancarada de se praticar o doutrinamento do marxismo que impera em nossas escolas. Eu particularmente ficaria muito contente se os nossos alunos saíssem do ensino médio ignorantes de filosofia e sociologia, mas conseguindo ler um texto e entendendo-o, para que tomassem suas próprias conclusões filosóficas ao lerem seus próprios livros.” 1. Pesquise na internet, ou em outras fontes, piadas sobre a Filosofia e os filósofos. Transcreva pelo menos uma e leve para a aula seguinte para ser objeto de discussão em sala. Prof. Manoelito SITUAÇÃO DE APRENDIZAGEM 2 FILOSOFIA: DEFINIÇÃO E IMPORTÂNCIA PARA O EXERCÍCIO DA CIDADANIA As frases a seguir são expressões corriqueiras, extraídas da linguagem cotidiana. “O essencial é invisível aos olhos.” “As aparências enganam.” “A justiça tarda, mas não falha.” “Todos somos iguais perante a lei.” “É preferível a democracia à ditadura.” “A liberdade exige responsabilidade.” “A felicidade não se compra.” “O amor é lindo.” 1. Discuta com seus colegas e responda: a) O que os termos destacados significam para você? b) Você sabia que esses termos são, na verdade, conceitos filosóficos que se tornaram senso comum? c) Cite mais algumas expressões do senso comum que contenham conceitos filosóficos. Texto 1 – Todos os homens são “filósofos” Leitura e Análise de Texto Antonio Gramsci, um filósofo italiano do século passado, já alertava para a necessidade de se combater o preconceito muito difundido de que a Filosofia é uma atividade intelectual muito difícil e, por isso, restrita a uma minoria de inteligência supostamente privilegiada. Isso porque, para ele, num certo sentido, “todos os homens são ‘filósofos’”, pois, de algum modo, todas as pessoas, sem distinção, independentemente de seu grau de escolaridade, lidam, convivem, trabalham com a Filosofia e a utilizam no seu dia a dia, mesmo que não se apercebam disso. Afinal, a Filosofia está presente “na linguagem, no senso comum, no bom senso, na religião”, enfim, “em todo sistema de crenças, superstições, opiniões, modos de ser e agir” que caracteriza o que convencionalmente se denomina de “folclore” e do qual todos participam. A Filosofia está presente na linguagem porque esta não é pura e simplesmente um amontoado de “palavras gramaticalmente vazias de conteúdo”. Ao contrário, ela é um “conjunto de noções e conceitos determinados”, muitos dos quais derivados da Filosofia, como vimos nas frases apresentadas. Portanto, a Filosofia está presente na linguagem que utilizamos, mesmo que não tenhamos consciência disso. Daí por que, para Gramsci: “Linguagem significa também cultura e filosofia (ainda que no nível do senso comum)”. O senso comum é o conjunto de valores, crenças, opiniões, preferências, que constitui a nossa visão de mundo e que orienta nossas ações e escolhas cotidianas. Em geral é assimilado acriticamente, sem qualquer questionamento. A exemplo do que acontece com a linguagem, muitos desses valores e crenças têm origem na Filosofia, mas nós os assimilamos espontaneamente, sem nos darmos conta de sua origem. Simplesmente pensamos e vivemos de uma determinada maneira, acreditamos em certo grupo de valores, defendemos alguma posição política, ideológica ou religiosa, e assim por diante, sem, no entanto, nos preocuparmos em fundamentar nossas opiniões. Ao contrário, contentamo-nos com argumentos superficiais, muitas vezes até inconsistentes ou contraditórios. O “bom senso”, por sua vez, “é algo que se contrapõe ao senso comum” e, nesse sentido, “coincide com a filosofia”. Enquanto o senso comum é acrítico, espontâneo, irrefletido, o bom senso implica refletir, tomar consciência de que os acontecimentos possuem uma dimensão racional e que, portanto, devem ser compreendidos e enfrentados também de forma racional, a fim de se obter uma orientação consciente para a ação, evitando se deixar levar por “impulsos instintivos e violentos”. Esse “bom senso” é o que Gramsci chamou de “núcleo sadio do senso comum”. Ou seja, mesmo no nível do senso comum é possível refletir, pensar de maneira crítica sobre a realidade, tomar consciência dela e agir de modo coerente com essa consciência. E isso, de certo modo, já é “filosofar”, pelo menos um filosofar ao nível do senso comum. De fato, não é raro vermos pessoas simples, às vezes com pouca ou nenhuma escolaridade, que revelam um entendimento aguçado e bem elaborado da realidade em que vivem. Finalmente a Filosofia está presente na religião porque também na experiência religiosa nos deparamos com questões e conceitos (Deus, alma, morte etc.) que foram e continuam sendo objeto da reflexão e da elaboração dos filósofos. Portanto, se a Filosofia está contida na linguagem, no senso comum, no bom senso e na religião, podemos dizer então que ela está presente em todas as dimensões da vida humana, sendo, portanto, familiar a todas as pessoas. Afinal, toda atividade humana, mesmo aquelas que são predominantemente práticas (as diversas formas de trabalho manual, por exemplo), é sempre acompanhada de um pensar, de um saber, em suma, de um trabalho intelectual, racional, reflexivo. É nesse sentido que podemos afirmar que “todos os homens são ‘filósofos’”. Texto 2 – Bom conselho Chico Buarque Ouça um bom conselho Que eu lhe dou de graça Inútil dormir que a dor não passa Espere sentado Ou você se cansa Está provado Quem espera nunca alcança Venha meu amigo Deixe esse regaço Brinque com meu fogo Venha se queimar Faça como eu digo Faça como eu faço Aja duas vezes Antes de pensar Corro atrás do tempo Vim de não sei onde Devagar é que não se vai longe Eu semeio vento Na minha cidade Vou pra rua e bebo a tempestade 1. À luz dos conceitos de senso comum e bom senso extraídos do texto apresentado, comente o significado que têm para você os seguintes ditados: Se conselho fosse bom não se dava de graça. É só dormir que a dor passa. Quem brinca com fogo acaba se queimando. Quem espera sempre alcança. Faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço. Pense duas vezes antes de agir. Devagar se vai ao longe. Quem semeia vento colhe tempestade. 2. Em seguida, compare-os à versão em que aparecem na canção Bom conselho, de Chico Buarque, e responda: a) O que a inversão, efetuada por Chico Buarque, provoca nos ditados? b) O que foi preciso ao compositor para chegar ao resultado por ele obtido? c) Como os conceitos de senso comum e bom senso podem ser associados a essas duas versões dos ditados? PESQUISA INDIVIDUAL 1. Encontre o poema Operário em construção, de Vinicius de Morais, e, valendo-se dos conceitos de senso comum e bom senso, analise a trajetória percorrida pela consciência do operário. 1. Reflita por alguns instantes sobre o significado da afirmação: Em seguida, responda: Você vê alguma relação entre a frase anterior e a formulada por Gramsci? 2. Observe que a palavra “filósofos” aparece entre aspas. O que isso quer dizer? Todo brasileiro é um técnico de futebol, embora nem todos exerçam essa função profissionalmente. Todos os homens são “filósofos”. Leitura e Análise de Texto Filósofos e “filósofos” Se “todos os homens são ‘filósofos’”, como quer Gramsci, qual é, então, a diferença entre o filosofar de uma pessoa comum e o de um filósofo profissional ou especialista? O próprio autor esclarece: “O filósofo profissional ou técnico não só ‘pensa’ com maior rigor lógico, com maior coerência, com maior espírito de sistema do que os outros homens, mas conhece toda a história do pensamento, isto é, sabe as razões do desenvolvimento que o pensamento sofreu até ele e está em condições de retomar os problemas a partir do ponto em que eles se encontram após terem sofrido a mais alta tentativa de solução etc. Ele tem, no campo do pensamento, a mesma função que nos diversos campos científicos têm os especialistas.”1 Trocando em miúdos, podemos dizer que o filósofo especialista: pensa, reflete, raciocina observando mais cuidadosamente as regras da lógica e os procedimentos metodológicos que utiliza; conhece a história do pensamento, isto é, a história da Filosofia; é capaz de analisar os problemas de seu tempo à luz da contribuição dos filósofos do passado que já se debruçaram sobre eles. Mas se existe essa diferença entre o filósofo especialista e o não especialista, por que então afirmar que “todos os homens são ‘filósofos’?” Justamente para combater e destruir aquele preconceito de que a Filosofia é uma atividade muito difícil e restrita a uma minoria. É importante perceber que a propagação desse preconceito cumpre uma função política conservadora, na medida em que afasta a Filosofia do contato com as massas, com o povo, com as pessoas mais simples. Dessa forma, impedidas de se apropriar dos conceitos e das teorias elaboradas pelos filósofos, as pessoas ficam desprovidas dessas ferramentas intelectuais que lhes permitiriam superar mais facilmente o senso comum e adquirir um conhecimento mais crítico e elaborado da realidade em que vivem. Além disso, cabe afirmar que todos os homens são “filósofos” para deixar claro que todas as pessoas são potencialmente capazes de avançar de um “filosofar” espontâneo, assistemático, restrito ao senso comum, para um filosofar mais elaborado e rigoroso, semelhante ao praticado pelos filósofos especialistas. Para isso, é necessário que a Filosofia e os filósofos estejam em permanente contato com o povo, a fim ajudarem a promover um avanço cultural de massa e não apenas de pequenos grupos intelectuais. Só através desse contato é que uma filosofia se torna “histórica”, depura-se de elementos intelectualistas de natureza individual e se transforma em “vida”. 1. Leia atentamente o texto apresentado e responda: a) Qual é a diferença entre o “filósofo” e o filósofo especialista, segundo Gramsci? b) Qual é o objetivo de Gramsci ao afirmar que todos os homens são “filósofos”? c) Explique por que a ideia de que a Filosofia é uma atividade muito difícil e acessível apenas a poucos privilegiados é politicamente conservadora. 2. Para você, o ensino de Filosofia na escola pode ser uma forma de aproximá-la do povo e de promover um avanço de massa? Justifique. Leia o texto a seguir e, com base no que estudou, explique o sentido das palavras do autor Leitura e Análise de Texto “É preciso destruir o preconceito, muito difundido, de que a filosofia é algo muito difícil pelo fato de ser a atividade intelectual própria de uma determinada categoria de cientistas especializados ou de filósofos profissionais e sistemáticos. É preciso, portanto, demonstrar, preliminarmente, que todos os homens são ‘filósofos’, definindo os limites e as características dessa ‘filosofia espontânea’ peculiar a ‘todo mundo’, isto é, da filosofia que está contida: 1) na própria linguagem, que é um conjunto de noções e de conceitos determinados e não, simplesmente, de palavras gramaticalmente vazias de conteúdo; 2) no senso comum e no bom senso; 3) na religião popular e, consequentemente, em todo o sistema de crenças, superstições, opiniões, modos de ser e de agir que se manifestam naquilo que se conhece geralmente por ‘folclore’.” A Filosofia como amor pelo saber 1. Interprete e escreva o que entendeu sobre a frase: O filósofo é aquele que se situa entre a ignorância e a sabedoria. 2. Com base no que estudou até aqui, escreva uma breve definição de Filosofia. A Filosofia é: 3. Qual é a diferença entre saber alguma coisa e opinar sobre ela? Leitura e Análise de Texto O que é, afinal, a Filosofia? Comecemos pela origem da palavra. Filosofia vem do grego (philo = amigo ou amante + sophia = saber, sabedoria) e significa amor ou amizade pelo saber. Quem ama sente-se carente do objeto amado e, por isso, vai à sua procura. No caso do filósofo, como o objeto de seu desejo é o saber, o conhecimento, é este que ele busca. Para explicar o sentido dessa atitude de busca do saber, própria da Filosofia, Platão, em sua obra O banquete, recria, pela boca de Sócrates, o mito do nascimento do Amor. Quando nasceu Afrodite, conta Sócrates, os deuses deram um banquete para celebrar a ocasião. Entre eles, encontrava-se também Recurso, filho de Prudência. Quando o jantar terminou, Pobreza chegou e postou-se à porta para esmolar. Recurso havia se embriagado e, dirigindo-se ao jardim de Zeus, adormeceu. Pobreza, aproveitando-se da situação, deitou-se ao seu lado e concebeu o Amor. Assim, gerado no dia do nascimento de Afrodite, Amor tornou-se seu companheiro e servo e, ao mesmo tempo, amante do belo, pois Afrodite é bela. Por ser filho de Pobreza e Recurso, ele é, por parte de mãe, “sempre pobre”, carente e padecedor de muitas necessidades; por parte de pai, porém, “ele é insidioso com o que é belo e bom, e corajoso, decidido e enérgico, caçador terrível, sempre a tecer maquinações, ávido de sabedoria e cheio de recursos, a filosofar por toda a vida, terrível mago, feiticeiro, sofista.” Por essa sua natureza dividida, Amor está no meio entre a sabedoria e a ignorância. A sabedoria é a condição daquele que já possui o saber e, por isso, não sente necessidade de buscá-lo. É o caso dos deuses. Por isso os deuses não filosofam. Os ignorantes, por sua vez, embora nada saibam, julgam saber o suficiente e, por isso, não anseiam por saber mais. Logo, também não filosofam. Quem então filosofa?, pergunta Sócrates. Aqueles que estão entre esses dois extremos: a sabedoria e a ignorância. Um deles é o Amor. “Com efeito, uma das coisas mais belas é a sabedoria, e o Amor é amor pelo belo, de modo que é forçoso o Amor ser filósofo e, sendo filósofo, estar entre o sábio e o ignorante. E a causa dessa sua condição é a sua origem: pois é filho de um pai sábio e rico e de uma mãe que não é sábia, e pobre.” Mas o saber que o filósofo almeja não é de um tipo qualquer. Não é, por exemplo, aquele do senso comum que se expressa como opinião e ao qual os gregos antigos denominavam doxa. O saber buscado pelo filósofo é Sophia, isto é, um saber bem fundamentado, amparado em demonstrações racionais, consistentes e passível de ser considerado verdadeiro, independentemente das opiniões particulares. O mesmo tipo de saber buscado por Sócrates por meio de seu método dialético. Não fosse assim o termo philosopho (amante do saber) deveria ser substituído por philodoxo (amante da opinião). Com base na leitura do texto apresentado, responda: 1. Em que sentido Platão afirma que filosofam aqueles que se encontram entre a sabedoria e a ignorância? 2. Em que consiste a diferença entre o philósopho e o philodoxo? 3. Qual desses adjetivos se aplica melhor a você? Justifique. A Filosofia como reflexão 1. Comente o significado da citação: “Se toda reflexão é pensamento, nem todo pensamento é reflexão.” 2. Em seguida, contemplando a obra de arte O pensador, responda: O que ela lhe diz sobre o conceito de reflexão? Leitura e Análise de Texto A Filosofia como reflexão Vimos que etimologicamente a palavra filosofia significa busca do conhecimento verdadeiro, ou seja, busca da verdade. A forma pela qual a Filosofia realiza essa busca da verdade é por meio da reflexão. Mas o que é refletir? Como nos lembra o professor Dermeval Saviani1: “se toda reflexão é pensamento, nem todo pensamento é reflexão”. O pensamento é um ato corriqueiro, singelo, espontâneo, que realizamos descompromissadamente a todo instante, até mesmo sem perceber. A reflexão, por sua vez, é uma atitude mais consciente, mais comprometida, que implica pensar mais profundamente sobre um determinado assunto, repensá-lo, problematizá-lo, submetendo-o à dúvida, à crítica, à análise, buscando seu verdadeiro significado. 1. Explique o significado da frase: Assim, o pensamento pode ser reflexivo ou não. Acontece que nem toda reflexão é filosófica. Segundo Saviani, para isso ela precisa satisfazer, ao mesmo tempo, a pelo menos três exigências: • ser radical, isto é, analisar em profundidade o problema em questão, buscando chegar às suas raízes, aos seus fundamentos; • ser rigorosa, ou seja, proceder com coerência, de forma sistemática, segundo um método bem definido para propiciar conclusões válidas e bem fundamentadas; • e ser de conjunto, isto é, tomar o objeto em questão não de forma isolada e abstrata, mas numa perspectiva de totalidade, ou seja, levando em consideração os diversos fatores que, num dado contexto, o determinam e condicionam. Além disso, vale lembrar que filosofar implica questionar o senso comum. Para tanto, é preciso utilizar certos conceitos e teorias necessários para a compreensão mais aprofundada dos temas e problemas sobre os quais se vai refletir. Ora, como estes conceitos e teorias estão contidos nas obras dos filósofos, é importante estudar tais obras, não para memorizar mecanicamente, mas para compreendê-las e a partir desta compreensão questionar o senso comum e transformar nossas representações primeiras sobre diferentes temas da vida cotidiana, da vida em sociedade. Mas, ao entrarmos em contato com a obra de um filósofo, não apreendemos apenas os conceitos por ele desenvolvidos. Apreendemos também o seu jeito de pensar, de raciocinar, de argumentar, de organizar as ideias, enfim, o seu “estilo reflexivo”2, o que também nos ajuda a melhorar cada vez mais nosso próprio jeito de pensar. É dessa forma, estudando o pensamento dos filósofos e nos exercitando mais e mais na prática da reflexão, que nos tornamos cada vez mais filósofos. A filosofia é uma “reflexão (radical, rigorosa e de conjunto) sobre os problemas que a realidade apresenta”. 2. Com base na definição de Filosofia proposta por Saviani, responda: Quem pode, afinal, filosofar? Leitura e Análise de Texto Para que serve a Filosofia? Qual é sua utilidade? Para responder a essa pergunta precisamos antes fazer algumas outras: O que entendemos por útil? Quem nos dá os critérios a partir dos quais consideramos algumas coisas úteis e outras inúteis? Conhecemos de fato esses critérios? Paramos para pensar sobre eles? Tomamos conscientemente a decisão de aceitá-los? Por que perguntamos sobre a utilidade de certas coisas e não de outras? Haveria pessoas ou grupos interessados em mostrar algumas coisas como úteis e outras como inúteis? Quando dizemos que, para nós, uma determinada coisa não serve para nada, estamos expressando um conhecimento efetivo sobre essa coisa ou, na verdade, apenas reproduzimos a “opinião” geral, o “senso comum”, a visão hegemônica a respeito dela? Estamos agindo com autonomia e liberdade? Poderíamos formular ainda inúmeros outros questionamentos derivados daquele inicialmente apresentado. E, ao fazê-lo, já estaríamos nos situando dentro da Filosofia, isto é, já estaríamos, num certo sentido, filosofando. Afinal, filosofar é, também, não aceitar como verdadeira qualquer ideia sem antes submetê-la à dúvida, à investigação, à reflexão crítica e rigorosa. Ora, isso significa que, para demonstrar com consistência a utilidade ou inutilidade da Filosofia, ou de qualquer outra coisa, já teríamos que filosofar. “[...] é preferível ‘pensar’ sem disto ter consciência crítica, de uma maneira desagregada e ocasional, isto é, ‘particular’ de uma concepção do mundo ‘imposta’ mecanicamente pelo ambiente exterior, ou seja, por um dos vários grupos sociais nos quais todos estão automaticamente envolvidos desde sua entrada no mundo consciente [...] ou é preferível elaborar a própria concepção do mundo de uma maneira crítica e consciente e, portanto, em ligação com este trabalho próprio do cérebro, escolher a própria esfera de atividade, participar ativamente na produção da história do mundo, ser o guia de si mesmo e não aceitar do exterior, passiva e servilmente, a marca da própria personalidade?” Com base na leitura dos excertos apresentados, discuta com seus colegas: 1. Para que serve, afinal, a Filosofia? 2. É importante estudar Filosofia na escola?

CONTEÚDOS DAS SITUAÇÕES 1 E 2 - 2ª SÉRIE - 1º BIMESTRE - AVALIAÇÃO 01

O EU RACIONAL Leitura e Análise de Texto Não sei se vos devo falar das primeiras meditações que aqui fiz, pois elas são tão metafísicas e tão pouco comuns que talvez não sejam do agrado de todos. No entanto, a fim de que se possa julgar se os fundamentos que tomei são bastante firmes, acho-me, de certa forma, obrigado a falar delas. Há muito tempo eu notara que, quanto aos costumes, por vezes é necessário seguir, como se fossem indubitáveis, opiniões que sabemos serem muito incertas, como já foi dito acima; mas, como então desejava ocupar-me somente da procura da verdade, pensei que precisava fazer exatamente o contrário, e rejeitar como absolutamente falso tudo em que pudesse imaginar a menor dúvida, a fim de ver se, depois disso, não restaria em minha crença alguma coisa que fosse inteiramente indubitável. Assim, porque os nossos sentidos às vezes nos enganam, quis supor que não havia coisa alguma que fosse tal como eles nos levam a imaginar. E, porque há homens que se enganam ao raciocinar, mesmo sobre os mais simples temas de geometria, e neles cometem paralogismos, julgando que eu era tão sujeito ao erro quanto qualquer outro, rejeitei como falsas todas as razões que antes tomara como demonstrações. E, finalmente, considerando que todos os pensamentos que temos quando acordados também nos podem ocorrer quando dormimos, sem que nenhum seja então verdadeiro, resolvi fingir que todas as coisas que haviam entrado em meu espírito não eram mais verdadeiras que as ilusões de meus sonhos. Mas logo depois atentei que, enquanto queria pensar assim que tudo era falso, era necessariamente preciso que eu, que o pensava, fosse alguma coisa. E, notando que esta verdade – penso, logo existo – era tão firme e tão certa que todas as mais extravagantes suposições dos cépticos não eram capazes de a abalar, julguei que podia admiti-la sem escrúpulo como o primeiro princípio da filosofia que buscava. Depois, examinando atentamente o que eu era e vendo que podia fingir que não tinha nenhum corpo e que não havia nenhum mundo, nem lugar algum onde eu existisse, mas que nem por isso podia fingir que não existia; e que, pelo contrário, pelo próprio fato de eu pensar em duvidar da verdade das outras coisas, decorria muito evidentemente e muito certamente que eu existia; ao passo que, se apenas eu parasse de pensar, ainda que tudo o mais que imaginara fosse verdadeiro, não teria razão alguma de acreditar que eu existisse; por isso reconheci que eu era uma substância, cuja única essência ou natureza é pensar, e que, para existir, não necessita de nenhum lugar nem depende de coisa alguma material. De sorte que este eu, isto é, a alma, pela qual sou o que sou, é inteiramente distinta do corpo, e até mais fácil de conhecer que ele, e, mesmo se o corpo não existisse, ela não deixaria de ser tudo o que é. Depois disso, considerei, de modo geral, o que uma proposição requer para ser verdadeira e certa; pois, já que eu acabava de encontrar uma que sabia ser tal, pensei que também deveria saber em que consiste essa certeza. E, tendo notado que em penso, logo existo nada há que me garanta que digo a verdade, exceto que vejo muito claramente que para pensar é preciso existir, julguei que podia tomar por regra geral que as coisas que concebemos muito clara e distintamente são todas verdadeiras, havendo, porém, somente alguma dificuldade em distinguir bem quais são as que concebemos distintamente. [...] DESCARTES, René. Discurso do método. São Paulo: Martins Fontes, 2009. p. 57, 58, 59, 60 e 61. A Filosofia cartesiana do "eu penso" nos ajudará na construção do sujeito ético, pois a compreensão de nossas ações, bem como a construção de relações sociais de acordo com referências democráticas, por exemplo, exigem reflexões que se fundamentam em nossa capacidade de cogitar, isto é, de questionar o que vivemos e o que desejamos viver. A Filosofia exige a habilidade da reflexão, que também é critério absoluto do agir ético. O individuo consciente de sua capacidade e de sua necessidade de pensar pode exercitá-las, na medida em que aprende como fazer. A importância do "eu penso" cartesiano é uma tentativa de criar condições para o desenvolvimento racional do indivíduo ético. Como pensamos? Há várias maneiras de dividir as atividades do intelecto. Para efeito didático, escolhemos, da tradição filosófica, as seguintes: juízo, percepção e razão. A partir da ideia do "eu penso", reflitam sobre seus pensamentos, segundo as funções intelectuais assim consideradas: • Juízo - atividade intelectual de escolha, avaliação e decisão (Aristóteles, Da Alma, III, 495). Da pergunta fundamental - "Qual o critério ou a regra dos nossos juízos?" -, podemos derivar outras tantas, como: por que escolhemos isto e não aquilo? Por que achamos mais importante isto e não aquilo? Por que tomamos esta decisão e não outra? • Percepção - Lembrando que percepção é o exame das sensações, podemos partir disso para conhecer o mundo. Por meio da percepção, nós não apenas ouvimos o som em uma festa, mas podemos compreender o ritmo, verificar se as pessoas estão felizes e enxergar seus movimentos de dança etc. Assim, as questões de caráter ético que podemos fazer agora são: como melhorar a percepção do mundo? Como sentir melhor e distinguir o que nos cerca? Por que um entendimento errado ou um mau juízo podem produzir tanto mal? • Razão - Por meio da razão, que é lógica, nós temos a regra para os cálculos em nosso pensamento. O que julgamos, percebemos, lembramos e até imaginamos, em geral, podem obedecer às regras da lógica. Assim, a pergunta ética que podemos propor é: como aprofundar nossa racionalidade, visando a fazer o bem? FACULDADES DO INTELECTO - FUTEBOL - PAQUERA - ENTREVISTA DE EMPREGO Juízo - Decidir para qual jogador passar a bola. Escolher a hora de driblar o zagueiro. Escolher com quem você quer jogar. Decidir a hora certa de se aproximar da pessoa. Escolher o assunto para começar a conversa. Julgar se você vai ou não ficar com essa pessoa. Decidir com que roupa ir para a entrevista. Decidir a melhor maneira de cumprimentar o entrevistador. Julgar o que ressaltar no currículo. Percepção - Tentar sentir o time adversário, o que os deixa desanimados, tensos ou os estimula a jogar melhor. Perceber como é o árbitro, se ele é exigente, se é justo, se é rápido. Sentir a vibração ou descontentamento da torcida. Sentir se a pessoa em quem você está interessado tem ou não interesse por outra pessoa. Sentir se, neste momento, a pessoa está preparada para o que você tem a dizer. Sentir se ficar com essa pessoa realmente vai ser legal. Perceber qual a personalidade do entrevistador, se ele curte brincadeiras ou piadinhas. Sentir se o entrevistador está gostando do que você fala durante a entrevista. Razão - Como organizar todas essas informações. Montar uma estratégia com o time, de forma que todas as informações que temos nos ajudem a ganhar. Falar de forma clara para os atacantes: como eles devem se posicionar e qual o esquema de jogo. Como elaborar uma estratégia para conquistar a pessoa. Deixar claras as suas intenções. Saber articular as palavras, para que não fique nada que deixe a pessoa constrangida. Deduzir o que realmente o entrevistador deseja. Não se mostrar confuso na hora de responder às perguntas. Mostrar que sabe articular ideias e, assim, convencer o entrevistador a respeito da sua inteligência, merecendo, portanto, o emprego. INTRODUÇÃO À ÉTICA CINCO JOVENS DE CLASSE ALTA AGRIDEM DOMÉSTICA. Uma empregada doméstica, de 32 anos, foi espancada e roubada, na manhã do dia 24 de junho de 2007, quando saía do seu trabalho. Os espancadores eram cinco jovens ricos, todos estudantes. Eles não apresentavam sinais de ter ingerido álcool ou outra substância química. A mulher relatou à polícia que, por volta das 6h30, estava em um ponto de ônibus, perto do apartamento onde trabalha e mora, para ir a uma consulta médica. De repente, saindo de um automóvel, os cinco jovens começaram a xingá-la e a chutá-la na cabeça e na barriga. Depois, roubaram sua bolsa, com seus documentos, 47 reais e um celular, que nem tinha sido completamente pago. Após a agressão, ela voltou ao prédio em busca de ajuda. Um taxista, que estava próximo ao local do crime, anotou a placa do carro e notificou a polícia, que prendeu os jovens. Os agressores confessaram o crime, mas nada falaram sobre os motivos que os levaram a cometer o ato de crueldade. DIFERENÇAS ENTRE MORAL E ÉTICA. MORAL E ÉTICA A moral é um conjunto de princípios e regras socialmente definidos e que devem ser inculcados nos indivíduos para padronizar condutas, costumes e valores. Cada cultura tem uma moral, isto é, regras sobre o bem e o mal, o permitido e o proibido. A reflexão ética deve questionar, problematizar as normas morais e, por isto, a ética não é essencialmente normativa. A ética deve refletir sobre as regras morais para garantir solidariedade, respeito, e, em última análise, a preservação da vida. VÍCIOS E VIRTUDES EM ARISTÓTELES (Vício por deficiência) – (Virtudes - atitudes que nos levam à felicidade) – (Vício por excesso) Covardia: ter medo de tudo ou deixar que o medo o domine. Coragem: saber enfrentar os medos e perigos, calculando a hora de agir. Temeridade: não ter medo de nada e se arriscar em todas as situações de perigo. Insensibilidade: não desejar nada e ser insensível. Temperança: saber usar os prazeres sem se prejudicar. Libertinagem: viver somente atrás de prazeres. Avareza: jamais gastar o dinheiro e querer guardar sempre o que tem, além de ganhar mais. Liberalidade: saber gastar o dinheiro, escolhendo onde gastá-lo. Esbanjamento: nunca economizar com nada, gastar sem pensar. Vileza: nunca usar nada bonito – roupa, por exemplo – e criticar os outros por isso. Magnificência: saber usar coisas bonitas. Vulgaridade: exagerar nas coisas bonitas. Modéstia: achar que é menor que os outros, ou mais feio, ou errado. Respeito próprio: reconhecer seus defeitos e qualidades e não deixar as pessoas diminuírem sua autoestima. Vaidade: preocupar-se apenas com sua grandiosidade e jamais aceitar seus defeitos. Indolência: nunca fazer nada para si e para os outros, procurando só o que é mais fácil. Prudência: saber a hora e como agir para alcançar seus objetivos. Ambição: ir atrás de suas coisas, sem pensar em nada. Indiferença: ignorar as pessoas completamente. Gentileza: ser agradável com todas as pessoas, conter a raiva. Irascibilidade: deixar que as emoções tomem conta, a ponto de ser violento com as pessoas, nas palavras e nas ações. Descrédito próprio: Não se achar bom em nada. Veracidade: ser verdadeiro e receber crédito por isso, saber seus limites, saber que é bom em alguma coisa e que não é bom em outras. Orgulho: achar-se melhor que os outros, nunca aceitar que precisa dos outros. Rusticidade: nunca usar a inteligência para viver, agindo sempre por instinto. Agudeza de espírito: saber usar a inteligência de modo brilhante. Zombaria: humilhar quem não tem as habilidades intelectivas. Enfado: ser chato, pesado, incapaz de dizer uma coisa boa para as pessoas. Amizade: saber se relacionar com as pessoas por meio do afeto e da inteligência. Condescendência: querer ser amigo de todos, perdoar tudo de todos, nunca ver maldade nos outros. Desavergonhamento: mostrar tudo o que tem a ponto de não sobrar nada para si. Comedimento: saber como se mostrar para os outros. Timidez: ter medo de mostrar seus sentimentos e seus pensamentos para os outros. Malevolência: não se importar com a maldade e usá-la a seu favor. Justa indignação: saber quando uma coisa está certa ou errada. Inveja: não aceitar que as pessoas tenham sucesso. ALGUMAS MÁXIMAS DE EPICURO I. Aquele que dispõe de plenitude e de imortalidade não tem inquietações nem perturba os outros; por isso está isento de impulsos de cólera ou de benevolência, já que tudo isso é próprio de quem tem fraquezas. II. A Morte nada é para nós. Com efeito, aquilo que está decomposto é insensível e a insensibilidade é o nada para nós. III. O limite da amplitude dos prazeres é a supressão de tudo que provoca dor. Onde estiver o prazer, e durante o tempo em que ele ali permanecer, não haverá lugar para a dor corporal ou o sofrimento mental, juntos ou separados. IV. A dor contínua não dura longamente na carne. A que é extrema permanece muito pouco tempo e a que ultrapassa um pouco o prazer corporal não persiste muitos dias. Quanto às doenças que se prolongam, elas permitem à carne sentir mais prazer do que dor. [...] VIII. Nenhum prazer é em si mesmo um mal, mas aquilo que produz certos prazeres acarreta sofrimentos bem maiores do que os prazeres. IX. Se todo prazer pudesse ter se acumulado, não só persistindo no tempo, mas também percorrendo a inteira composição do nosso corpo, ou pelo menos as principais partes de nossa natureza, então os prazeres não difeririam entre si. [...] XVII. O justo desfruta de plena serenidade; o injusto, porém, está cheio de maior perturbação. [...] XXIII. Se combates todas as tuas sensações, nada disporás de referência nem mesmo para discernir corretamente aquelas que julgas deverem ser rejeitadas. [...] XXVII. De tudo aquilo de que dispõe a sabedoria para a felicidade de toda nossa vida, de longe o mais importante é a preservação da amizade. EPICURO FEZ, AINDA, RECOMENDAÇÕES PRECISAS SOBRE COMO CHEGAR À FELICIDADE: 1. Não tenha medo dos deuses. Os deuses são felizes, e seres felizes não estão preocupados com a vida dos outros. 2. Não tenha medo da morte. A morte nada mais é do que a separação dos átomos. 3. O prazer está à disposição de todos. Ele é o fim das dores e o sossego. 4. O mal dura pouco. O mal é a dor e dura pouco; o máximo que ela pode fazer é levar à morte, que, no fundo, é nada. Quando a dor termina, começa o prazer. Prof. Manoelito

CONTEÚDOS DAS SITUAÇÕES 1 E 2 - 1 ª SÉRIE - 1º BIMESTRE - AVALIAÇÃO 01

CRIANDO UMA IMAGEM CRÍTICA DA FILOSOFIA Leitura e Análise de Texto “Por toda parte eu vou persuadindo a todos, jovens e velhos, a não se preocuparem exclusivamente, e nem tão ardentemente, com o corpo e com as riquezas, como devem preocupar-se com a alma, para que ela seja quanto possível melhor, e vou dizendo que a virtude não nasce da riqueza, mas da virtude vem, aos homens, as riquezas e todos os outros bens, tanto públicos como privados.”PLATÃO. Apologia de Sócrates. Tradução Maria Lacerda de Souza. Disponível em: . Acesso em: 6 out. 2009. Leitura e Análise de Texto “Ao considerar o conhecimento como se encontrando entre as coisas mais belas e dignas do maior valor, sendo umas mais penosas do que outras, quer em virtude do seu rigor, quer em virtude de dizer respeito a coisas mais belas e elevadas, decidimos, devido a essas duas mesmas causas, considerar toda a investigação respeitante à alma como sendo de importância fundamental. Além disso, parece esta investigação também constituir uma contribuição especial para todo o conhecimento da verdade, particularmente para o estudo da natureza – a alma é, com efeito, o princípio de todos os seres vivos. Por isso procuramos, ao investigar, examinar a natureza e a essência da alma em primeiro lugar e, depois, os seus atributos fundamentais.” ARISTÓTELES. Da alma. Tradução Carlos Humberto Gomes. Lisboa: Edições 70, 2001. p. 23. Para os gregos, a “alma” era o lugar onde se situavam as ideias; mais tarde, esse “espaço” para ideias foi chamado de intelecto. Diferente do corpo, o intelecto é inteligível. Mas, assim como o corpo, ele pode ser melhorado. REFLEXÃO DO ESPELHO X A REFLEXÃO INTELECTUAL Reflexão do espelho: Necessita somente de luz - Apenas reflete o que está à sua frente - Apenas reflete as imagens presentes - Apenas reflete o que é visível - Caso não funcione direito, pode ser descartado - Não pode refletir a si mesmo. A reflexão intelectual: precisa de ideia e conhecimento. O intelecto pode refletir sobre coisas escondidas ou ausentes, assim como pessoas que moram longe e de quem gostamos; "Reflete sobre coisas do passado e pensa o futuro. em relação ao presente, ela trata dos sentidos, dos valores e das interpretações que fazemos do que podemos ver e do que apenas percebemos da realidade; Reflete sobre coisas “invisíveis”, ou abstratas, como o amor, a saudade ou as ideias, sem esquecer a Filosofia. COMO FUNCIONA O INTELECTO? INTRODUÇÃO AO EMPIRISMO E AO CRITICISMO JOHN LOCKE Leitura e Análise de Texto “Suponhamos, pois, que a mente é, como dissemos, um papel branco, desprovida de todos os caracteres, sem quaisquer ideias; como ela será suprida? De onde lhe provém este vasto estoque, que a ativa e que a ilimitada fantasia do homem pintou nela com uma variedade quase infinita? De onde apreende todos os materiais da razão e do conhecimento? A isso respondo, numa palavra: da experiência. Todo o nosso conhecimento está nela fundado, e dela deriva fundamentalmente o próprio conhecimento. Empregada tanto nos objetos sensíveis externos como nas operações internas de nossas mentes, que são por nós mesmos percebidas e refletidas, nossa observação supre nosso entendimento com todos os materiais do pensamento. Dessas duas fontes de conhecimento jorram todas as nossas ideias, ou as que possivelmente teremos. Primeiro, nossos sentidos, familiarizados com os objetos sensíveis particulares, levam para a mente várias e distintas percepções das coisas, segundo os vários meios pelos quais aqueles objetos a impressionaram. Recebemos, assim, as ideias de amarelo, branco, quente, frio, mole, duro, amargo, doce e todas as ideias que denominamos qualidades sensíveis. Quando digo que os sentidos levam para a mente, entendo com isso que eles retiram dos objetos externos para a mente o que produziu estas percepções. A esta grande fonte da maioria de nossas ideias, bastante dependente de nossos sentidos, dos quais se encaminham para o entendimento, denomino sensação. A outra fonte pela qual a experiência supre o entendimento com ideias é a percepção das operações de nossa própria mente, que se ocupa das ideias que já lhe pertencem. Tais operações, quando a alma começa a refletir e a considerar, suprem o entendimento com outra série de ideias que não poderia ser obtida das coisas externas, tais como a percepção, o pensamento, o duvidar, o crer, o raciocinar, o conhecer, o querer e todos os diferentes atos de nossas próprias mentes. [...] Mas, como denomino a outra de sensação, denomino esta de reflexão: ideias que se dão ao luxo de serem tais apenas quando a mente reflete sobre as próprias operações”. LOCKE, John. Ensaio acerca do entendimento humano. Tradução Anoar Aiex e E. Jacy Monteiro. São Paulo: Nova Cultural, 1983. (Os Pensadores). p. 159-160. A TELEVISÃO OU O RÁDIO X O ENTENDIMENTO OU O INTELECTO A televisão ou o rádio: Capta o mundo pela antena ou cabo. Decodifica o sinal. Depois de decodificar, transforma o sinal em imagem ou som. Só decodifica o sinal dos canais. Não aprende nada com o que capta. Não pode refletir sobre o que capta. O entendimento ou o intelecto: Capta o mundo pelos cinco sentidos. Analisa e interpreta as experiências. Depois de interpretá-las, transforma as experiências em ideias. Interpreta tudo o que aparece aos sentidos e pode experimentar outras coisas. Aprende ou pode aprender com tudo o que capta. Pode refletir sobre o que consegue captar e, inclusive transmitir para outras pessoas os conhecimentos. Leitura e Análise de Texto Introdução Podemos afirmar que todos os nossos conhecimentos têm origem em nossa experiência. Se fosse ao contrário, por meio do que a faculdade de conhecimento deveria ser exercitada senão por objetos que tocam nossos sentidos e em parte produzem por si mesmos representações, em parte colocam em movimento a atividade do nosso entendimento para compará-las, reuni-las ou separá-las e, dessa maneira, proceder à elaboração da matéria informe das impressões sensíveis até um conhecimento das coisas, o que se denomina experiência? Portanto, no tempo nenhum conhecimento antecede a experiência; todos começam por ela. Porém, nosso conhecimento empírico é formado pelo que recebemos das impressões e pelo que a nossa faculdade de conhecer lhe adiciona estimulada pelas impressões dos sentidos; aditamento que somente distinguimos por longa prática que nos capacite a separar esses dois elementos. Eis aí uma questão que merece reflexão: Existe mesmo um conhecimento que não depende da experiência e das impressões dos sentidos? KANT, Immanuel, Crítica da razão pura. Tradução Lucimar A. Coghi Anselmi; Fulvio Lubisco. São Paulo: Icone, 2007. p. 5 (Coleção Fundamentos do Direito). Prof. Manoelito