quarta-feira, 5 de outubro de 2016

DESIGUALDADE SOCIAL E IDEOLOGIA



O objetivo é leva-os a refletir sobre as questões que cercam a condição de pobreza na qual vive grande parte da população mundial. Por que a maioria das pessoas vive em condições precárias? A que se deve a permanência dessas pessoas nessa situação? Para se pensar as diversas formas de justificativas para a manutenção das condições de pobreza, vamos partir do conceito de ideologia segundo Karl Marx.

A reflexão sobre a pobreza será baseada em dados e critérios utilizados como referência para a proposição de políticas públicas que objetivam a superação da miséria. Nesse sentido, o que é ser pobre? Ou, perguntando de outro modo, quais são as características de uma vida materialmente pobre? Para obter a resposta desta pergunta, leiam o texto: “O que é ser pobre”, disponível no caderno do aluno.

Em um país que apresenta uma das piores concentrações de renda do mundo, onde a renda dos 20% mais ricos é 32 vezes maior que aquela dos 20% mais pobres, a distribuição da educação e do analfabetismo não poderia ser diferente. [...]. Assim, para o País como um todo, enquanto a taxa de analfabetismo nos domicílios cujo rendimento é superior a dez salários mínimos é de apenas 1,4%, naqueles cujos rendimentos é inferior a um salário mínimo é de quase 29%. [...] Distribuição de renda e de educação são duas ações que caminham juntas. Políticas estruturais de distribuição de renda (como a reforma agrária) assim como as emergenciais (como os programas de renda mínima) aumentam as chances de permanência das crianças e jovens nas escolas. Por sua vez, crianças e jovens com maior escolaridade passam a ocupar empregos mais bem remunerados. Os ganhos sociais advindos de ações dessa natureza, com certeza, trarão impactos muito positivos na sociedade brasileira”.

Por que parece normal algumas pessoas viverem em conforto, sem problemas materiais, enquanto outras passam dificuldades durante toda a vida? O que haveria de errado com o ser humano? Por que há fartura e fome em um mesmo país, e tantas diferenças até entre vizinhos? Temos ao menos duas possibilidades de resposta que merecem reflexão. A primeira pode ser resumida nesta fórmula: “Isso ocorre porque as pessoas não têm estudos”, o que transfere a responsabilidade para quem não estudou. A segunda diz respeito ao trabalho, ao se responsabilizar quem não trabalha. Em ambas as respostas, a responsabilidade é dos próprios pobres. Enfim, em muitos casos, aponta-se a falta de vontade das pessoas de trabalhar ou de estudar, desenhando-se, assim, a preconceituosa e estigmatizada figura do marginalizado.

A respeito do primeiro argumento, não há dúvida de que a pobreza dos indivíduos pode ser atrelada à falta de estudo, porém, não em uma perspectiva individual e, sim, social. A responsabilidade, neste caso, é do Estado, em primeiro lugar, e, em segundo, de toda a sociedade, pois sem uma adequada política educacional, bem estabelecida e duradoura, torna-se mais difícil uma educação para a participação política, base para a construção da democracia. Ainda, é necessária uma crítica a respeito do comportamento de todos em relação à educação, o que inclui pais, professores e funcionários da escola, além dos alunos.

Se, por um lado, responsabilizar apenas o Estado é anular completamente o compromisso de outros agentes da educação, por outro, restringir a responsabilidade a esses agentes indica falta de reflexão e de entendimento sobre o papel do Estado na implantação de políticas públicas que favoreçam a todos. A estrutura educacional está permeada de problemas éticos e políticos. Éticos, porque exigem o compromisso social dos agentes: professores são postos entre os alunos e as limitadas condições gerais de trabalho; funcionários e diretores dividem-se entre as rotinas burocráticas da escola.

A educação integral ao aluno, as boas condições de trabalho e a formação continuada do professor são percebidas pelos pais como meios determinantes para a formação pessoal e profissional do estudante. Este fato, todavia, implica respeitar a instituição escolar, sobretudo, reconhecer a importância do trabalho do professor bem como a participação da família e da comunidade ao longo do processo formativo do discente, ou seja, desenvolver as habilidades e competências dos alunos em sua totalidade. No que diz respeito aos problemas políticos, a relação é bem mais ampla e exige o compromisso de todos os agentes. Por exemplo, no sentido da construção democrática da vida escolar e do bom uso do dinheiro público. Enfim, da necessidade de vigilância constante da sociedade em relação à melhoria da escola.

De certa forma, a discussão sobre a educação abrange aspectos relativos também ao trabalho. Isso porque o acesso ao mercado de trabalho e os níveis salariais estão diretamente associados ao nível de escolaridade dos indivíduos. Considerando a importância dos três indicadores (renda nacional bruta per capita, saúde e educação) para a superação da pobreza, é importante ponderar que eliminar a pobreza depende de políticas sociais decorrentes de maior participação de todos quanto a decisões sobre distribuição de renda. É fundamental que a educação promova a superação da ideia de que a pobreza se deve a um destino ou à inaptidão para o trabalho, bem como da instituição de uma política de educação que possibilite a formação adequada dos cidadãos.

Para Marx, a necessidade de sobrevivência do nosso corpo exige que produzamos, por meio do trabalho, as condições de nossa existência. Ou seja, para comer, dormir, curar nossas doenças, morar, todas as pessoas precisam produzir os meios para sua sobrevivência. No entanto, há pessoas que vivem à custa do trabalho dos outros, ao explorar o trabalho alheio e provocar a separação entre o homem que trabalha e o fruto de seu trabalho, que passa a ter como finalidade beneficiar outros. Os indivíduos que vivem da alienação do trabalho de outros, para Marx, criaram um sistema de crenças que mantém e perpetua seu poder sobre a maioria. Em vez do uso puro e simples da força, criaram um discurso capaz de justificar a exploração do trabalho alheio. Tal discurso justificador da exploração alheia é a ideologia, segundo Marx. Assim, as pessoas acabam por considerar que é natural e justo o sofrimento decorrente de seu lugar na sociedade. Ainda segundo Marx, a sociedade é dividida entre aqueles que vendem sua força de trabalho e os que compram essa força de outrem.

Os proprietários dos meios de produção – como a terra, o comércio, as indústrias, as empresas em geral –, e, ainda, no caso da sociedade contemporânea, os proprietários de bancos e dos grandes veículos de comunicação, não precisam vender a força de trabalho para ninguém, ou seja, não se tornam mercadorias. Os que não são proprietários destes mesmos meios de produção precisam vender a sua força de trabalho, tornando-se mercadoria. A ideologia que justifica a manutenção dessa diferença entre os proprietários e os não proprietários colabora para uma sociedade na qual, em outras palavras, os ricos continuam ricos e os pobres permanecem pobres.

O que é ideologia, Segundo Karl Marx? Para obter essa resposta, leiam o texto disponível no caderno do aluno. A ideologia é um sistema que produz valores, representações e desejos, muitos dos quais apenas reproduzem relações sociais sem questioná-las, justificando, assim, as condições de desigualdade social. Como é possível enxergarmos as desigualdades e, mesmo assim, elas continuarem a existir? O que podemos fazer? Considere a importância de discutir a questão dos discursos ideológicos, aqueles que acabam por ajudar a manter tais condições perversas de vida. Muitos desses discursos estão presentes na lei, na religião e na moral.

Argumentos da lei – As pessoas têm o direito à propriedade e o direito de consegui-la como resultado de seu esforço. A lei garante a defesa da propriedade e não permite que ninguém a tome. Dessa forma, o sistema legal defende a existência de propriedade por parte de alguns, e não de todos. O rigor e o cumprimento da lei podem sugerir que não se deva questionar ou criticar o fato de alguns serem proprietários e outros não.

Argumentos religiosos – Para algumas religiões, o importante é o espírito, e se dá pouco valor ao corpo. Para outras, o corpo é sagrado por ser a morada do espírito. Independentemente da exaltação do corpo assumida por uma ou outra religião, aqui interessa a reflexão sobre alguns argumentos religiosos que justificam a pobreza. Quando se valoriza a fé como a única ferramenta para conseguir melhores condições de vida, temos uma compreensão de natureza religiosa que precisa ser analisada com cuidado, para não se correr o risco de anular a importância da organização e da participação de movimentos de luta por direitos como moradia, saúde, alimentação, educação. A pobreza pode ser vista, em termos religiosos, até como virtude, ou o seu contrário, como castigo. Virtude, porque é bom ser pobre, desapegado dos bens terrenos, porque o mais importante é a oportunidade de crescimento e a construção de riqueza espiritual. Castigo, sob outros aspectos, também religiosos, porque as grandes fortunas são vistas como uma dádiva divina, sem o questionamento de que resultam, na maioria das vezes, da exploração de trabalhadores e geram desigualdade social.

Argumentos morais – A resposta moral diz que as pessoas são pobres por causa da maldade dos ricos e pelo fato de elas não lutarem para conseguir melhores condições de vida. Ou seja, ganância de uns, e indolência de outros. Por outro lado, afirma-se, os pobres não trabalham o suficiente para enriquecer. Afinal, se trabalhassem e estudassem, para além do que muitos já fazem, seriam bem-sucedidos. Em relação ao pobre, a moral ainda ensina que é melhor ser pobre do que ganancioso: “Sou pobre, mas sou honesto”. Aqui, além de confundir pobreza com honestidade, o sofrimento da pobreza acaba compensado por uma autoimagem positiva, mas que não garante qualquer acesso aos bens sociais.

Em síntese, o discurso ideológico justifica a preservação de uma sociedade de pobres e ricos, ainda que atualmente possamos identificar muitas camadas ou muitos matizes no interior da classe dos trabalhadores e no interior da classe daqueles que são donos dos meios de produção e vivem do trabalho alheio. Afirmações como estas – “o trabalho torna-se a saída para a pobreza”; “a lei tem de defender o que as pessoas conseguiram com muito esforço”; “precisamos fazer doações” – não são absolutamente falsas, mas não dizem tudo sobre as desigualdades, sobre o que as provoca, sobre quais seriam as possíveis soluções. São meias verdades que constituem a ideologia. Se as elites falassem apenas absurdos, seria fácil perceber suas estratégias. No entanto, a justaposição de meias verdades cria uma possibilidade de crença, de confiança, de justificativa. Por exemplo, quando se afirma que “o trabalho dignifica o homem”, isso não é mentira, mas o trabalho que dignifica o homem também pode degradá-lo e fazê-lo sofrer, por alcançar pequenos resultados ao longo de sua vida e por beneficiar mais outro homem do que a si mesmo.

Qual o valor da força de trabalho? Para obter a resposta, leiam o texto disponível no caderno do aluno. De que forma o maquinário pode aprofundar ou ampliar a exploração da força de trabalho? Segundo Karl Marx: “O maquinário, ao jogar todos os membros dessa família no mercado de trabalho, expande o valor da força de trabalho do homem para toda a sua família, depreciando, assim, sua força de trabalho”, por isso, as máquinas não colaboram necessariamente para o fim da exploração.

Questões:

1.      O que é ser pobre?

2.      Em geral, os especialistas estabelecem os níveis de pobreza com base em alguns cálculos. Explique quais e como.

3.      Fale sobre o Brasil sobre os seguintes problemas: concentração de renda; educação e analfabetismo; Distribuição de renda; empregos.

4.      Por que parece normal algumas pessoas viverem em conforto, sem problemas materiais, enquanto outras passam dificuldades durante toda a vida? O que haveria de errado com o ser humano? Por que há fartura e fome em um mesmo país, e tantas diferenças até entre vizinhos?

5.      Como está a estrutura educacional no Brasil?

6.      A educação integral ao aluno, as boas condições de trabalho e a formação continuada do professor são percebidas pelos pais como meios determinantes para a formação pessoal e profissional do estudante. O que este fato implica?

7.      Considerando a importância dos três indicadores (renda nacional bruta per capita, saúde e educação) para a superação da pobreza, o que é importante ponderar e é fundamental?

8.      Para Marx, o que é a ideologia?

9.      O que Marx entendia da ideologia?

10.  Considere a importância de discutir a questão dos discursos ideológicos, aqueles que acabam por ajudar a manter tais condições perversas de vida. Muitos desses discursos estão presentes na lei, na religião e na moral. Explique os argumentos de cada um deles.

11.  Como era determinado o valor da força de trabalho, segundo Marx?

12.  Para que a família possa viver, quatro pessoas precisam agora não apenas trabalhar, mas consumir trabalho excedente para o capitalista. Vemos assim que?

13.  Responder o caderno do aluno da página 39 a 47.


Um comentário:

  1. Adorei muito o blog me ajudou muito na hora de fazer um trabalho espero ver novas pastagens com outros
    temas interessantes

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