Em nações onde a baixa escolaridade e a pouca
educação política são largas, é lastimavelmente comum ouvirmos, em todas as
camadas sociais: que é desgastante acompanhar o cotidiano político; que é inútil
fiscalizar as finanças públicas e o desempenho parlamentar, ante a permanência
das coisas e da corrupção; que é melhor cada um cuidar de si próprio, trabalhar
e viver sua vida, pois “é assim mesmo, no nosso país”. Não é agradável, sem
dúvida, ter contato com os fatos de corrupção e improbidade que acontece, no
mundo todo [não sendo privilégio nosso]; é, verdadeiramente, um desgaste
emocional. Mas é necessário e é o único modo de exercer uma cidadania
vigilante, consciente, ativa, capaz de influenciar a mudança das coisas.
Dir-se-á e com razão, que “uma andorinha só não faz
verão”; legítimo e correto. Mas as coisas começam de um, do menor; as coisas
começam em mim, em
você. Madre Teresa de Calcutá foi questionada por uma
autoridade policial que recebera acusação de que ela invadira um templo
abandonado e lá acomodara “seus doentes mungidos”: – A senhora não sabe que há
mais de um milhão de leprosos na ruas? ”Ao que ela disse: “- Para se contar até
um milhão, começa-se do um, senhor.”
Assim se dá na vigilância da opinião pública, também.
É necessário, imprescindível, que cada qual de nós – num país que tem mais de
quarenta milhões de usuários de internet, por exemplo, e que tem a maior média
mundial de horas de uso – se manifeste, de algum modo, e direcione sua opinião
e suas críticas aos órgãos da Cidade, às suas ouvidorias, aos seus endereços
eletrônicos etc.
E não nos iludamos: nossos e-mails aos políticos
podem até não serem todos lidos [muito menos por eles], mas seus assessores
lhes repassam os informes, as estatísticas e, assim, a decantada e pouco
compreendida “opinião pública” se faz ouvir para além das crônicas de revistas
[muitas vezes comprometidas com certos grupos políticos ou ideologias].
É preciso agir, fiscalizar, cobrar. É a nossa vida
que está em jogo; o salário que ganho, o nível do serviço de saúde que utilizo,
a fluidez do tráfego, a atuação dos órgãos de segurança pública, tudo pode ser
influenciado pelo meu aparentemente desvalido e-mail de fim de noite, após eu
ter “cuidado dos meus assuntos”. Daqui, evoluiremos até a – por hora – utopia
da multiplicação das ações populares, onde nós mesmos não ficaremos mais à
espera do Ministério Público ou da Ordem dos Advogados do Brasil: iremos
adiante com as próprias pernas…
Enquanto não aceitarmos e entendermos que a política
também faz parte dos nossos assuntos, esta cidade não muda.
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