sábado, 6 de junho de 2020

FILOSOFIA E RELIGIÃO


O objetivo deste tema é desenvolver as competências e habilidades em relacionar informações, representadas de diferentes formas, e conhecimentos disponíveis em diferentes situações para construir argumentação consistente; identificar marcas do discurso filosófico e do discurso mitológico; ler, compreender e interpretar textos teóricos e filosóficos; expressar-se por escrito e oralmente de forma sistemática; elaborar hipóteses e questões a partir das leituras e dos debates realizados. Para isso, vamos aprofundar a compreensão sobre as características do discurso filosófico, com destaque para a relação entre Filosofia e Mitologia e Filosofia e Religião. Com a ajuda de historiadores da Filosofia, contextualiza-se a origem da Filosofia como processo em diálogo e não em ruptura com a Mitologia. A partir da reflexão sobre os dois discursos, amplia-se a possibilidade de pensar nas aproximações e distanciamentos entre Filosofia e narrativa mitológica.
A filosofia e a religião buscam a resolução do mesmo problema básico, a questão do Ser, do que existe, do homem e seu dilema moral. As explicações e os métodos aplicados são diferentes, mas as respostas que buscam são idênticas. A filosofia que se baseia inteiramente na razão nasceu, quando as academias gregas se afastaram das crenças nos deuses mitológicos, considerando somente argumentos racionais, a busca pela solução dos problemas é somente através do pensamento lógico. A religião é o inverso da filosofia, se baseia na fé, acreditar em algo na qual não se pode comprovar, na crença inabalável de ensinamentos impostos por revelações divinas, o que leva à rotinas e dogmas.
 Explicar a misteriosa origem do universo somente com o uso da razão, sem mostrar o inexplicável como vontade divina, iniciou um diálogo, muitas vezes um confronto entre fé e razão. A filosofia variou entre épocas que acreditava em uma divindade superior e em épocas que não acreditava, essas épocas refletem na busca do homem pelo conhecimento de si mesmo e do mundo onde vive.
 O surgimento da filosofia se deu na tentativa de superar uma fé cega em que os gregos viviam, tentando explicar os fenômenos através de causas racionais e não através dos mitos. Mais tarde, o cristianismo lutou para impor seu domínio ideológico, e logo depois o renascentismo batalhou contra a inquisição da Igreja. O Iluminismo é a maior expressão desse movimento, quando se esperava a superação total das crenças pela razão.
 Porém, alguns filósofos acreditam que o melhor meio de alcançar as divindades é através da razão. Só é possível conhecer o autor do universo pela busca do conhecimento das coisas, assim a religião convidaria os homens ao conhecimento e essa busca seria através da filosofia. Pensadores como Tomás de Aquino e Agostinho acreditam que a filosofia complementa a religião.
Das diferentes classes da filosofia
A Filosofia moral, ou a ciência da natureza humana, pode ser tratada de duas maneiras diferentes; cada uma delas tem seu mérito peculiar e pode contribuir para o entretenimento, instrução e reforma da humanidade. A primeira considera o homem como nascido principalmente para a ação; como influenciado em suas avaliações pelo gosto e pelo sentimento; perseguindo um objeto e evitando outro, segundo o valor que esses objetos parecem possuir e de acordo com a luz sob a qual eles próprios se apresentam. Como se admite que a virtude é o mais valioso dos objetos, os filósofos desta classe pintam-na com as mais agradáveis cores e, valendo-se da poesia e da eloquência, discorrem acerca do assunto de maneira fácil e clara: o mais adequado para agradar a imaginação e cativar as inclinações (...) fazem-nos sentir a diferença entre o vício e a virtude; excitam e regulam nossos sentimentos; e se eles podem dirigir nossos corações para o amor as probidade e da verdadeira honra, pensam que atingiram plenamente o fim de todos os seus esforços.
Os filósofos de outra classe consideram o homem mais um ser racional que um ser ativo, e procuram formar seu entendimento em lugar de melhorar-lhe os costumes. Consideram a natureza humana objeto de especulação e examinam-na com rigoroso cuidado a fim de encontrar os princípios que regulam nosso entendimento, excitam nossos sentimentos e fazem nos aprovar ou censurar qualquer objeto particular, ação ou conduta. Julgam uma desgraça para toda a literatura que a filosofia não tenha estabelecido, além da controvérsia, o fundamento da moral, do raciocínio e da crítica (...). Enquanto tentam realizar esta árdua tarefa, nenhuma dificuldade os desencoraja; passam de casos particulares para princípios gerais, e conduzem ainda mais suas investigações para princípios mais gerais, e não ficam satisfeitos até chegar àqueles princípios primitivos que, em toda ciência, devem limitar toda curiosidade humana.
Embora suas especulações pareçam abstratas e mesmo ininteligíveis aos leitores comuns, aspiram à aprovação dos eruditos e dos sábios e consideram-se suficientemente compensados pelo esforço de toda a existência se puderem descobrir algumas verdades ocultas que possam contribuir para o esclarecimento da posteridade.
Certamente a filosofia fácil e dada terá sempre preferência, para a maioria dos homens, sobre a filosofia exata e abstrusa; e por muitos será recomendada, não apenas como a mais agradável, mas também como mais útil que a outra. Ela penetra mais na vida cotidiana, molda o coração e os afetos, e ao atingir os princípios que impulsionam os homens, reforma lhes a conduta e aproxima-os mais do modelo de perfeição que ela descreve. Ao contrário, a filosofia abstrusa, alicerçada numa concepção que não pode penetrar na vida prática e na ação, desvanece quando o filósofo sai da sombra e penetra no dia claro, nem seus princípios podem manter facilmente qualquer influência sobre nossa conduta e nossos costumes. HUME, D. Investigação acerca do Entendimento Humano.
1. Crítica da razão pura, de Immanuel Kant: Da diferença entre o conhecimento puro e o conhecimento empírico. Disponível em:
2. Eros e Psiquê. Disponível em:

3. Entre o Céu e a terra: Disponível em:

Leiam os textos acima, acesse os Links e respondam as seguintes questões:
   1. Qual o objetivo do tema?
       2. Explique o primeiro e o segundo esforço para pensar as relações entre a Filosofia, a Mitologia e a Religião.
3.           3,  O que defendem Historiadores da Filosofia, entre os quais Werner Jaeger?
4.           4. Explique conhecimento a priori e conhecimento a posteriori, segundo Kant.
5.           5. Explique resumidamente as três etapas básicas de como a crescente complexidade das relações entre a produção da vida e dos mitos permitiram o estabelecimento de religiões.
6.            A Filosofia surgiu em contraposição aos mitos? Justifique.
          7. Quem empregou a palavra Filosofia pela primeira vez e qual é o significado dessa palavra?
8.             8. Qual a diferença entre os textos: Filosófico, Religioso e Mitológico.
9.             9.  Pesquisar as diferenças e semelhanças entre a Filosofia e a Religião.
10.     10.  Pesquisar as biografias de Santo Agostinho e Santo Tomás de Aquino.
11.         11. Pesquisar as 5 vias que provam a existência de Deus, segundo Santo Tomás de Aquino.

12                                                                                           Prof.   Manoelito   Boa Sorte!!!!!!!

quinta-feira, 4 de junho de 2020

FILOSOFIA 2ª SÉRIE 2º BIMESTRE TEMA 1. INTRODUÇÃO À TEORIA DO INDIVÍDUO – JOHN LOCKE, JEREMY BENTHAM E STUART MILL




O objetivo deste tema é desenvolver uma reflexão ética a respeito da ação e conceituação do indivíduo. Para isso, apresentaremos o pensamento de John Locke e dos filósofos utilitaristas, Jeremy Bentham e John Stuart Mill.  Com base em um entendimento comum da nossa condição de indivíduos, vamos refletir sobre a convivência. Cada indivíduo é único e tem suas particularidades, historicamente temos ampliado a necessidade de buscar liberdade, autonomia para realizar sonhos, desejos e fazer valer interesses. Mas como realizar as necessidades e os desejos individuais na convivência com os outros que trazem consigo os próprios desejos e necessidades? Com a valorização da subjetividade e com a elevação dos valores individuais, tornou-se importante justificar e argumentar acerca do indivíduo e da convivência. Afinal, o que leva o indivíduo a se organizar em sociedade?
O contrato – John Locke - Para aprofundarmos o tema, vamos refletir sobre os “homens das cavernas”: Que ideia geralmente se tem sobre eles? Na maioria dos casos, são apenas imagens estereotipadas, que os caracterizam como “violentos e brutos, preocupados apenas em satisfazer, imediatamente, seus desejos”. Mas, será que existem outras abordagens sobre os homens das cavernas? Para John Locke, assim como para outros pensadores como Thomas Hobbes e Jean Jacques Rousseau, os homens, antes de se organizarem em sociedade, viviam em uma situação chamada “estado de natureza”. A hipótese de um período originário como esse tem o sentido de auxiliar a refletir sobre os motivos que levaram os homens a se organizar e viver em sociedade. Locke entendia que, para compreender o poder político, deveríamos refletir sobre as motivações que teriam levado os homens a sair do estado de natureza e passar a viver em sociedade com a organização de governos e leis para regular suas relações.
Segundo Locke, no estado de natureza os homens eram livres e, dessa forma, não dependiam de outros homens para conduzir a própria vida. Todos eram iguais, pois nenhum possuía nada a mais que outro, recebendo todos as mesmas vantagens da natureza e as mesmas faculdades. No estado de natureza, para Locke, os homens vivem em situação de paz. Porém, quando um homem procura submeter outro à sua vontade, instala-se o estado de guerra que só pode ser amenizado e/ou evitado com a adesão de todos os homens a um contrato. Dessa forma, os governos são criados pelos homens para que a vida e a liberdade sejam garantidas. Contudo, se os governos falham nessa missão, os homens, segundo Locke, podem se revoltar. Na qualidade de livres por natureza, podem contestar um governo injusto e não são obrigados a acatar as suas decisões.
Do estado de natureza “Para compreender corretamente o poder político e deduzi-lo a partir de sua origem, devemos considerar em qual estado se encontram naturalmente todos os homens, ou seja, um estado de liberdade perfeita para ordenar suas ações e regular suas posses e pessoas como acharem conveniente, dentro dos limites da lei da natureza, sem necessidade de pedir permissão ou depender da vontade de outro homem.
Um estado, também, de igualdade, no qual todo poder e justiça são recíprocos, sem que um tenha mais do que outro; evidentemente, seres da mesma espécie e posição, nascidos aleatoriamente para usufruir de todos os benefícios da natureza e do uso das mesmas faculdades, devem também ser iguais entre si, sem que haja subordinação ou sujeição, exceto quando o senhor e mestre de todos eles expresse seu desejo por meio da declaração de sua vontade de colocar um acima do outro e conferir ao primeiro, por meio de uma designação clara e evidente, o direito ao domínio e à soberania.”[...]
Do estado de guerra [...] “E, portanto, aquele que tentar submeter outro homem ao seu poder absoluto coloca-se, dessa forma, em estado de guerra com esse homem. Essa atitude deve assim ser entendida como uma declaração de que visa a controlar sua vida. Pois tenho razão em concluir que aquele que me subjuga em seu poder, sem meu consentimento, faria uso de mim como desejasse quando me encontrasse sob seu poder e também iria me destruir quando assim desejasse fazê-lo, pois ninguém pode desejar subjugar-me a seu poder absoluto, exceto para forçar-me a fazer algo que é contra meu direito de liberdade, isto é, fazer de mim um escravo.
Estar livre de tal força é a única garantia de minha preservação e a razão faz-me percebê-lo como um inimigo de minha preservação, alguém que me privaria daquela liberdade que protege tal preservação; logo, aquele que tentar escravizar-me irá colocar-se, dessa forma, em estado de guerra comigo. Aquele que, no estado de natureza, retirasse a liberdade que pertence a qualquer um em tal estado deve necessariamente ser considerado como possuidor de um desejo de retirar todas as demais coisas, já que a liberdade é o alicerce de tudo o que existe. Tal como aquele que no estado de sociedade retirasse a liberdade pertencente aos membros daquela sociedade ou do bem comum deve ser considerado como alguém que deseja tirar deles tudo o que resta, e assim ser visto como em estado de guerra.” [...]
Da propriedade [...] “Apesar de a terra e todas as demais criaturas serem comuns a todos os homens, cada homem possui uma propriedade sobre sua própria pessoa. A ela, ninguém tem direito, exceto ele próprio. O trabalho de seu corpo e a criação de suas mãos, podemos dizer, são apropriadamente seus. Qualquer coisa que ele retire do estado em que a natureza a tenha criado e dessa forma deixado revela a mescla de seu esforço a tal coisa, transformando-a em algo que agora lhe pertence, tornando-a assim sua propriedade. Por ter sido retirada do estado comum no qual a natureza a colocou e porque algo foi adicionado a tal coisa por meio do trabalho, isso exclui o direito comum de outros homens. Por ser tal esforço de propriedade inquestionável de seu executor, nenhum homem além dele pode ter direito ao que ele criou, ao menos enquanto houver o bastante e enquanto boas condições forem deixadas em comum para outros homens.” L0CKE, John. Segundo tratado sobre o governo civil.
Direito natural e direito positivo - Direito natural e direito positivo. Esses dois conceitos são fundamentais para a sua formação cidadã. O direito natural seria uma derivação da razão correta, assim como a natureza tem suas leis, o homem também teria, por natureza, as suas. Já o direito positivo seria o conjunto de leis que os homens criam para conviver em sociedade. Em Locke, a liberdade, a propriedade e a vida são constitutivos do direito natural de cada indivíduo. No entanto, para mantê-lo, o homem precisa conviver com outros que têm o mesmo direito natural; então, para que o convívio seja possível, os homens necessitam produzir leis positivas – no sentido de inventá-las – para manutenção desses mesmos direitos naturais. Assim, com base no direito natural de cada um, cria-se o direito positivo a que todos têm de obedecer.
Na filosofia de John Locke, há a valorização do indivíduo como agente histórico e jurídico. Por isso, toda ação depende necessariamente do indivíduo. O tipo de governo que ele deixa existir, o tipo de relações sociais sob as quais viverá, o conhecimento que deverá produzir; enfim, sua felicidade ou tristeza não competem mais ao rei ou ao senhor feudal, mas somente ao indivíduo.
O indivíduo utilitaristaBentham - Aqui, trataremos do indivíduo concebido pelo utilitarismo, que se diferencia do indivíduo pensado por Locke. Para isso, vamos ler um excerto de Bentham.
“I. [...] Prazeres e dores são instrumentos com os quais o legislador tem de trabalhar: é necessário, assim, que ele compreenda sua força, o que significa, novamente, conhecer seu valor.
I I. Para um indivíduo considerando a si mesmo, o valor do prazer ou da dor considerados em si mesmos será maior ou menor, de acordo com as seguintes quatro circunstâncias: 1. Sua intensidade. 2. Sua duração. 3. Sua certeza ou incerteza. 4. Sua proximidade ou distanciamento.
I II. Essas são as circunstâncias que devem ser levadas em conta quando se estima prazer ou dor considerados em si mesmos separadamente.
 Mas quando o valor de um prazer ou uma dor é considerado com o propósito de estimar a tendência de qualquer ato pelo qual é produzido, existem duas outras circunstâncias que devem ser observadas.
São elas: 5.  Sua fecundidade, ou a possibilidade de ser seguida por sensações do mesmo tipo, ou seja, prazeres, no caso de um prazer, dores, no caso de uma dor. 6. Sua pureza, ou a possibilidade de não ser seguida por sensações do tipo oposto, ou seja, dores no caso de um prazer, prazeres, no caso de uma dor. BENTAM, Jeremy. Uma introdução aos princípios da moral e da legislação.”  
Para o utilitarismo, o homem é um ser que só é livre quando se desenvolve intelectualmente e é capaz de fazer escolhas morais, diferentemente dos preceitos de Locke, que afirmava a liberdade do homem com base na natureza. Bentham não via coerência entre a teoria empirista de Locke e a doutrina do direito natural, pois, por não se tratar de um dado histórico, mostra-se insatisfatória. A existência de tal contrato, fundado por meio de uma reconstituição hipotética e não tendo validade histórica, não poderia dar fundamento ao direito natural.
Bentham considerava ainda que, mesmo que o direito natural, reconhecido pelo contrato, tivesse fundamento histórico, não há qualquer garantia de que os homens agiriam segundo o direito natural e segundo o contrato que o reconhece. Segundo Bentham, a única garantia de compromisso entre homens ou que um contrato social poderia ter é de apresentar as vantagens da vida em sociedade. Essa perspectiva leva ao entendimento de que a obediência às leis passa pela satisfação que pode ser proporcionada por ela. Assim, Bentham acreditava que, em vez de apelarem ao direito natural e à ação que promove a sua existência, os homens deveriam apelar para a utilidade de uma ação ou de uma norma.
Para o utilitarismo, o homem é um ser que necessita vivenciar seus desejos e, com isso, vivenciar o prazer, o fim último de todos os seres vivos. Ele é um ser passional, não apenas racional ou natural. Para ajudar o homem, os utilitaristas pensaram em criar uma ciência moral tão exata quanto a Matemática, até mesmo para dar conta de um de seus problemas fundamentais, qual seja: Como alcançar o prazer, sem produzir dor?
De fato, quando se considera o prazer como finalidade ética, temos aquilo que se chama hedonismo. No entanto, o hedonismo utilitarista está fundamentalmente preocupado com a vida em sociedade. Portanto, a noção de prazer e dor deve ser compartilhada, surgindo dessa partilha a verdadeira moral. Para o utilitarismo, prazer e utilidade são compatíveis, sendo que a utilidade depende da relação social.
John Stuart Mill - Defensor da causa da liberdade, teve como mestre Jeremy Bentham. Ou seja, sua defesa da liberdade passava pelos princípios utilitaristas. Contudo, a sua adesão ao utilitarismo não agregava todos os princípios pronunciados por seu mestre. Para Mill, mais importante do que calcular quanto de felicidade é necessária para afastar-se da dor é saber como a felicidade é construída.
“Sendo essas razões que tornam imperativo que os seres humanos devam ser livres para formar opiniões, e para expressá-las sem reservas e sendo essas as danosas consequências para a natureza moral do homem, a menos que esta liberdade seja concedida, ou restaurada a despeito da proibição, vamos agora examinar se as mesmas razões não requerem que os homens devam ser livres para agir de acordo com suas opiniões – para mantê-las em suas vidas, sem impedimentos físicos ou morais, causados pelos seus companheiros, desde que o risco seja por sua própria conta. Essa última cláusula é evidentemente indispensável. Ninguém acha que as ações devam ser tão livres quanto as opiniões. Ao contrário, mesmo as opiniões perdem suas imunidades quando as condições em que são expressas são tais que exprimi-las leva a uma instigação de algum ato maléfico. [...] Atos que de uma maneira qualquer e sem causa justificável causam danos a outras pessoas podem ser – e nos casos mais importantes é imperativo que o sejam controlados por sentimentos que lhes são desfavoráveis e, quando tal for necessário, pela interferência ativa da humanidade. A liberdade do indivíduo deve ser limitada dessa maneira; ele não deve tornar a si mesmo um problema para as outras pessoas. ” MILL, J. Stuart. Sobre a liberdade. Tradução Ari R. Tank. São Paulo: Hedra, 2010.

1.      Como viviam os homens das cavernas?
2.      Como viviam os homens, antes de se organizarem em sociedade, segundo John Locke, Thomas Hobbes e Jean Jacques Rousseau?
3.      O que deveríamos fazer para compreender o poder político, segundo Locke?
4.      Segundo Locke, como viviam os homens no estado de natureza? Explique.
5.      Explique Direito natural e direito positivo.
6.      Fale sobre o homem e a liberdade segundo o utilitarismo.
7.      Qual a diferença entre os pensamentos de Locke, Bentham e John Stuart Mill.
8.      Pesquisar sobre a vida e a obra de John Locke, John Stuart Mill, Jeremy Bentham. E os termos “” Subjetividade”, Utilitarismo”, “Indivíduo”, “Contratualismo” e “Teoria Liberal”.


PROF. MANOELITO

FILOSOFIA 1ª SÉRIE 2º BIMESTRE TEMA 1. A FILOSOFIA E OUTRAS FORMAS DE CONHECIMENTO: MITO, CULTURA, RELIGIÃO, ARTE E CIÊNCIA.


O objetivo é desenvolver uma imagem crítica da Ciência, com base no pensamento de Karl Popper e Thomas Kuhn, desdobrando a questão para tratar de temas como indução e dedução. Nas primeiras aulas, vamos discutir o problema da indução como base de verdade; logo após, apresentaremos o chamado falsificacionismo, como alternativa para tratar do problema da indução, e discutiremos o paradigma de Kuhn.
Bloco 1: Todos os homens vivos respiram. / Meu irmão é um homem vivo. / Portanto, meu irmão respira.
Bloco 2: Meu irmão respira. / Meu irmão é um homem vivo. / Portanto, todos os homens vivos respiram.
No segundo caso, o argumento não está completo: as duas afirmações (meu irmão respira e meu irmão é ser vivo) não permitem afirmar de forma generalizada que todos os homens respiram. O argumento é inválido, porque a conclusão toma por verdade apenas uma possibilidade: por mais verdadeiras que sejam as inferências, a conclusão pode não ser verdadeira.
Para muitos filósofos, na Ciência, a dedução toma o seguinte sentido: temos um conhecimento teórico e por ele agimos, ou por ele conhecemos outras dimensões do mundo. Por exemplo, a lei da gravitação Universal de Isaac Newton diz que todos os corpos se atraem segundo uma força derivada de suas massas e sua distância. Desse modo, quando um objeto qualquer cai, na verdade, ele foi atraído pelo planeta. A massa do objeto é atraída pela massa do planeta. Portanto, ao soltar uma bolsa, ela será atraída pela força gravitacional da Terra.
Por dedução, podemos dizer que os objetos, como a bolsa, são atraídos pelo planeta; por isso, de alguma forma, acreditamos que tudo cai, porque sabemos que há uma Lei da gravidade e, com base nela, é possível prever um acontecimento. Além disso, ela é logicamente válida.
A seguir, vamos refletir sobre a possibilidade de chegar a teorias e leis que valem tanto para a realidade como para a lógica; desse modo, será possível compreender melhor o que são indução e dedução.
ü  Indução, ou dados obtidos a partir de experiências - O livro de Matemática tem exercícios com frações.
ü  Criação da lei ou teoria - Exercícios com frações são difíceis.
ü  Exercício de dedução - Logo, os livros de Matemática são difíceis, porque têm exercícios com frações.
O conceito não crítico de Ciência, isto é, aquele que se utiliza da indução.
ü  Com base na observação de grande número de experiências, por meio dos cinco sentidos, cria-se uma lei ou uma teoria;
ü  Ao se repetirem as condições enunciadas nessa lei, pode-se prever um acontecimento.
ü  Isso garantiria a objetividade do conhecimento científico, isto é, ele não dependeria da opinião das pessoas, mas poderia ser comprovado por todos os seres humanos.
ü  Com a indução, parte-se do particular para o universal; esse conceito utiliza a generalização para criar leis e teorias científicas.
ü  Com as leis e as teorias científicas, é possível, por meio da dedução, prever e explicar acontecimentos.
A Ciência é uma atividade racional e, por isso, vale-se das regras da lógica para fundamentar seus conhecimentos. No entanto, a indução não parte das regras lógicas para se legitimar. Ela parte da experiência. A experiência pode parecer racional, mas não é, pois está envolvida com os sentidos, e não com o raciocínio.
Leiam o texto e analisem como David Hume propôs o problema
Mas nós ainda não atingimos algo minimamente satisfatório com relação à questão primeiramente proposta. Cada solução ainda levanta uma nova questão tão difícil quanto a que a precede, e nos leva a mais questionamentos. Quando se pergunta, qual a natureza de todos nossos argumentos com relação a fatos reais? a resposta adequada parece ser a que eles são baseados na relação de causa e efeito. Quando novamente se pergunta, qual a fundamentação de todos os nossos argumentos e conclusões referentes a tal relação? pode-se responder em uma só palavra: experiência. Mas se ainda quisermos dar continuidade a nosso humor investigativo, e perguntarmos qual a fundamentação de todas as conclusões baseadas na experiência? isso implicaria uma nova questão, que pode ser de mais difícil solução e explicação.
Filósofos, que se dão ares de sabedoria e suficiência superiores, têm uma árdua tarefa quando encontram pessoas com disposição investigativa, que os empurram para fora de todos os cantos em que se recolhem, e que certamente trazem a eles algum dilema perigoso. O melhor expediente para prevenir essa confusão é sermos modestos em nossas pretensões; e até mesmo descobrir a dificuldade nós mesmos antes de esta nos ser direcionada. Desse modo, podemos fazer de nossa ignorância uma espécie de mérito. HUME, David. An enquiry concerning human understanding. Essays and treatises on several subjects. p. 42. Disponível em: <http://goo.gl/b6NXkl>. Acesso em: 29 out. 2013. Tradução Eloisa Pires.
Vamos rever o que é a indução, agora com um exemplo dado por Bertrand Russell. “Certo peru foi alimentado, durante um ano, às 9 horas (dado). Ele criou, então, uma lei: sou alimentado todos os dias às 9 horas (teoria).  Amanhã, às 9 horas, serei alimentado (previsão).
No entanto, houve um problema com a previsão do peru, pois, no dia seguinte à sua previsão, ele foi degolado porque era véspera de Natal e ele seria servido na ceia.”
Por que a previsão do peru falhou? Porque leis e teorias são questionáveis, nada na natureza tem o dever de seguir nossas leis científicas. Por isso, se um dia o Sol se puser e, no outro, não amanhecer, o que impediria a ocorrência? Ora, as leis da natureza são as interpretações que fazemos dela. Cada princípio científico pode ser contrariado pela natureza porque não é fundamentado pela razão, mas pela experiência. Nós prevemos alguns eventos como se fosse um hábito psicológico. Por exemplo, o que garante que, ao soltar um lápis, ele vai cair? A Lógica não pode garantir isso; afinal, ela trata de palavras e conhecimentos, e nunca da realidade. A experiência é sempre única, e a queda de um lápis não tem relação com a queda de outro. Em resumo, nada garante que o lápis vá cair. Por isso, quando consideramos a Ciência como uma garantia da verdade, temos uma visão acrítica dela. Há, ainda, dois outros problemas que precisamos discutir a respeito da indução, como fundamento da Ciência. São eles:
A observação como fonte objetiva; e a relação teoria-experiência. Afirma-se, constantemente, que da observação das experiências tiramos os conhecimentos. Mas será que cada um de nós observa da mesma maneira? Será que nossa visão, nossa audição, nosso paladar, nosso tato e nosso olfato são iguais aos dos outros seres humanos? As pessoas podem observar uma mesma situação de modos diferentes.
Quais são os limites da observação? As percepções que vêm dos sentidos não são as mesmas para todos, já que as pessoas podem observar uma mesma situação de formas diferentes.
Enfim, a observação tem problemas em relação à objetividade da Ciência, e também com a crença de que dela derivam todas as teorias. Seria muito difícil acreditar que, quando um cientista realiza uma experiência, ele o faça partindo do nada. Ele tem muitas teorias anteriores à experiência, e, algumas vezes, é com base nelas que ele irá produzir a própria experiência a ser observada. Isso aparece principalmente quando, durante a observação, o cientista usa o vocabulário de uma teoria para expressar sua percepção. Por exemplo, para explicar a experiência de um livro que foi solto no solo, um físico poderia dizer, em sua observação, que a força gravitacional da massa do planeta Terra é que atraiu para ele, segundo sua distância, a massa do livro. Onde está a palavra “força” no ato de soltar um livro? E “atração”? Todas essas palavras estão na mente do cientista antes da experiência.
Na vida cotidiana, podemos encontrar vários exemplos de percepções com vocabulário derivado de outras teorias. Por exemplo, se dissermos: “o vento empurrou o lixo para dentro da sala”, já apresentamos teorias. Inicialmente, que o lixo pode ser empurrado, e que o ato de ele entrar na sala foi em função de algo externo, uma vez que não seria capaz de entrar na sala sozinho: temos, aqui, uma teoria da inércia do lixo. Segundo, mesmo sem podermos ver, sabemos que o vento é capaz de movimentar outras coisas: temos, aqui, uma teoria da capacidade de o vento empurrar. Se, no cotidiano, temos teorias, seria absurdo imaginar que os cientistas gastariam montanhas de dinheiro para fazer pesquisas sem uma teoria prévia do que eles pretendem experimentar.
Como exemplo, observem pequenos fenômenos na sala de aula. Os fenômenos, como “o Sol atravessa o vidro e aquece a carteira”.  Percebam as pequenas teorias que acompanham essa afirmação. Por exemplo, o Sol é quente e emite raios de calor; o vidro é transparente e permite a passagem de calor e de luz; a carteira recebe calor e fica aquecida. Assim, por meio da percepção, do vocabulário de outras teorias e de inferências, é possível elaborar pequenas teorias. Nesse contexto, podemos afirmar que a Ciência é uma atividade humana que contempla, entre outros procedimentos, observações, interpretações e análises de fenômenos (no exemplo mencionado, os raios solares incidem verticalmente sobre um material sólido e transparente, atravessando-o e incidindo sobre objetos).
O falsificacionismo, Karl Popper - Depois de termos visto alguns problemas sobre a indução, vamos estudar agora alguns filósofos que reconheceram a importância da atividade científica. Embora admita-se que ela não é capaz de dar todas as respostas e se entenda que é baseada na indução, acreditamos que, ainda assim, a Ciência oferece as melhores respostas disponíveis.
Para os falsificacionistas – entre os quais Karl Popper que é um dos mais importantes –, o valor de um conhecimento científico não vem da observação de experiências, mas da possibilidade de a teoria ser contrariada, ou melhor, falseada. Em um primeiro momento, acreditava-se que a Ciência comportaria todas as verdades, com base na criação de teorias e leis que surgiriam pela observação de experiências – essa é a crença de indutivistas. Com a ideia de que a teoria precede a experiência, os falsificacionistas admitem que toda explicação científica é hipotética; no entanto, é o melhor que temos.
Quanto mais uma teoria pode ser falseada, melhor seria ela. Por exemplo, ignorando a pressão atmosférica e outros fatores, se dissermos que “a água ferve a 100 graus Celsius”, qual é a contradição possível, ou melhor, o que tornaria falsa essa afirmação? A resposta seria: ao chegar a 100 graus Celsius, a água não ferveria, ou ferveria antes. No momento em que uma teoria é falseada, o cientista tentará melhorá-la ou a abandonará. Mas, enquanto ela não é falseada, permanece seu valor explicativo. O fundamental é que tenhamos em mente o seu limite. As teorias têm de dizer algo bem objetivo sobre o mundo, para sermos capazes de conceber sua falsificabilidade.
Critérios para uma boa teoria: 1 - Tem de ser clara e precisa, não pode ser obscura nem deixar margem para várias interpretações. Quanto mais específica, melhor. 2 - Deve permitir a falsificabilidade; quanto mais, melhor. 3 - Deve ser ousada, para conseguir progredir em busca de um conhecimento mais aprofundado sobre a realidade.
Teorias que não podem ser falseadas não são boas teorias. Por exemplo, se alguém disser que “o ladrão rouba”, não estará dizendo muita coisa sobre o mundo. Apesar de parecer clara, essa afirmação não pode ser falseada; afinal, está contida na palavra “ladrão” a ideia de que ela qualifica os seres que roubam. Ninguém precisa dizer “o ladrão rouba” para sabermos que ele rouba. É impossível contradizer essa afirmação, pois é completamente irracional pensarmos em um ladrão que não rouba.
Outro exemplo: se dissermos “é possível ter sorte no esporte”, também não diremos muita coisa. Não estamos sendo precisos, uma vez que muitas outras coisas são possíveis no esporte. A própria ideia de que algo é possível permite quase tudo, mas como medir a sorte ou saber que não foi o acaso? Essa frase serve tanto para perder quanto para ganhar, não é capaz de ser falseada. Pode ser a sorte de um time ou de outro; pode ser até mesmo a sorte dos dois, mas nunca deixará de ser sorte de alguém.
O progresso da ciência - Para os falsificacionistas, a Ciência progride pela tentativa de superação das teorias. Com base nas considerações de Alan Chalmers, no livro “O que é Ciência afinal”? Podemos pensar o progresso da Física segundo os falsificacionistas.
O primeiro grande físico seria o filósofo Aristóteles. Sua teoria explicava por que os objetos caíam (para encontrar seu lugar natural) ou, também, como funcionava o sifão (a impossibilidade do vácuo). A física de Aristóteles foi falseada várias vezes. A física de Newton era capaz de explicar melhor do que a física de Aristóteles diversos fenômenos; por exemplo, a lei da gravidade era melhor que a teoria da Posição Natural, esta refutada há bastante tempo. No entanto, a física de Newton não explicava alguns fenômenos, como a órbita do planeta Mercúrio. A física de Albert Einstein, por sua vez, era capaz de explicar não só os pontos em que a física de Newton era bem-sucedida, como o que foi refutado dessa teoria. Agora, os cientistas procuram ir além. A teoria de Einstein é melhor que a de Aristóteles e que a de Newton; no entanto, apesar de ser a melhor disponível, poderá ser superada um dia, pois o melhor que temos não é o definitivo.
O não científico na ciência - Muitos filósofos se interessaram em pensar de forma crítica a Ciência, seus fundamentos, seus limites e seu progresso. Agora, vamos discutir a reflexão de Thomas Kuhn a respeito da Ciência, vista por ele como uma construção histórica. Em primeiro lugar, é importante salientar que a Ciência é uma atividade racional e humana. Como muitas outras, é influenciada por problemas humanos de natureza variada, como emocionais, políticos, linguísticos, sociais e religiosos.
Kuhn percebeu que essas influências são inerentes à racionalidade humana e se propôs a pensar a Ciência com base nelas e de acordo com a seguinte linha de desenvolvimento:  1. Pré-Ciência, 2. Ciência normal, 3. Crise, 4. Revolução científica e 5. Nova Ciência normal.  O conceito mais importante para Kuhn é o de paradigma, que é o modelo da Ciência normal. Durante um tempo, todos os cientistas procuram orientar suas pesquisas com base em um modelo, de maneira a preservar a verdade científica. O que não se encaixar nesse modelo será excluído; será considerado anomalia, mas isso também pode indicar que o cientista não aplicou corretamente o modelo e sua metodologia. Para Kuhn, o determinante das normas da Ciência é o paradigma aceito pelos cientistas. Mas, por motivos nem sempre racionais, os cientistas mudam de paradigma, após uma crise da Ciência normal, o que, em geral, é fundamentado na anomalia, isto é, quando a Ciência normal não consegue responder a alguns problemas, como a órbita de Mercúrio para a física newtoniana.
Essa crise estende-se até uma revolução científica, quando a maneira de fazer Ciência muda completamente. Quando ocorre essa mudança, segundo Kuhn, chega-se a uma nova Ciência normal, praticada, a partir desse momento, de acordo com um novo paradigma.
É preciso considerar que a racionalidade científica encontra problemas dentro e fora de seu espaço de ação. Dentro desse espaço são as anomalias e, fora dele, são as necessidades humanas da pesquisa científica. Instituições, empresas e governos procuram fazer que a Ciência seja orientada por seus interesses, não apenas por mera curiosidade.
1.      Qual o objetivo do tema?
2.      Qual é a natureza de todos os nossos raciocínios sobre os fatos, segundo Hume?
3.      De acordo com Hume, qual é o fundamento de todos os nossos raciocínios e conclusões sobre a relação de causa e efeito?
4.      Por que Hume vê um problema na fundamentação das conclusões por meio da observação da experiência?
5.      Para muitos filósofos, na Ciência, que sentido a dedução toma?
6.      Por que a previsão do peru falhou?
7.      Quais são os problemas que precisamos discutir a respeito da indução, como fundamento da Ciência.
8.      Por que as percepções que vêm dos sentidos não são as mesmas para todos?
9.      Os fenômenos, como “o Sol atravessa o vidro e aquece a carteira”. Nesse contexto, o que podemos afirmar?
10.  Para os falsificacionistas, entre os quais Karl Popper é um dos mais importantes, de onde vem o valor de um conhecimento científico?
11.  Para os falsificacionistas, quais são os critérios para uma boa teoria cientifica?
12.  Para os falsificacionistas, como a Ciência progride?
13.  Explique a linha de desenvolvimento da ciência proposta por Thomas Kuhn.
14.  O que é um paradigma, segundo Thomas Kuhn?
15.  Pesquisar vida e obras de Karl Popper, Thomas Kuhn, David Hume e as expressões: “Ciência”, “termo científico”, “Hipótese”, “tese”, “Indução” e “Dedução”.

Prof. Manoelito
Boa Sorte!!!!!!!