O objetivo deste tema
é discutir o trabalho como mediação entre o ser humano e a natureza. “O trabalho na Antiguidade estava associado a
esforço físico, cansaço e penalização. A origem da palavra, no latim vulgar,
associa trabalho/tripalium a um instrumento de tortura feito de três varas
cruzadas ao qual os réus eram presos. O trabalho representava uma atividade
indigna, reservada aos escravos. Aos que viviam livremente, a subsistência vinha
da coleta de frutos, da caça e outras atividades; o tempo do trabalho era o da
natureza – dia ou noite, com sol ou chuva. [...] Na era moderna, o trabalho
teve o seu significado transformado, passou de atividade desprezada à condição
de expressão da própria humanidade, fonte de produtividade e riqueza. Com as
mudanças sociais, econômicas, políticas e culturais, no século XX, a ideia do
trabalho firmou-se como uma atividade valorizada”.
O que é trabalho? Na
civilização ocidental, a percepção de que o trabalho é algo que traz sofrimento
é reforçada por outras ideias influenciadas pelas tradições greco-romana e
judaico-cristã. Para os gregos, de uma
forma geral, o trabalho era visto como algo que “embrutecia os espíritos” e
tornava o ser humano incapaz da prática da virtude; era um mal que a elite
deveria evitar. Por isso, era executado por escravos, ficando a cargo dos
cidadãos as atividades mais nobres, como a política. No cristianismo, o
episódio bíblico da expulsão de Adão e Eva do Paraíso, como consequência do
pecado original, condenando-os ao trabalho, a ganhar o “pão com o suor do
rosto”, ampliou a conotação negativa do trabalho. Assim, ele apresenta, em
nossa sociedade, também os sentidos de fadiga, luta, dificuldade e punição.
Trabalho: conjunto de
atividades, produtivas ou criativas, que o homem exerce para atingir
determinado fim. Essa definição enfatiza que o trabalho é uma atividade humana,
ou seja, só os seres humanos trabalham. Você conhece outros seres vivos que
também empregam suas forças e faculdades para conseguir um objetivo? Alguns
animais também trabalham: as aranhas tecem teias, as abelhas constroem as
colmeias, as formigas constroem os formigueiros etc. Vocês conhecem a fábula “A
cigarra e a formiga”. Existem várias versões dessa fábula, mas a sinopse pode
ser uma só: a história da cigarra que só queria cantar e se divertir e da
formiga que só trabalhava. Um dia, elas se encontram e a cigarra questiona o
porquê de a formiga trabalhar. Esta responde que precisava trabalhar naquele
momento para ter alimento no inverno. Como era verão, a cigarra riu da formiga
e replicou que o inverno estava longe demais para que ela se preocupasse.
Passados alguns meses, chegou o inverno e a cigarra quase morreu de frio e
fome. Quando estava com pouca força, bateu à porta da formiga e pediu ajuda.
Esta a ajudou, mas lembrou-lhe da importância de trabalhar e poupar.
Alguns animais são
vistos, pelo senso comum, como animais trabalhadores. Mas, na perspectiva
sociológica, os animais não trabalham, só o ser humano trabalha. O trabalho é
visto como uma atividade que ajuda o ser humano a construir a sua condição
humana. Para esclarecer a questão do trabalho como atividade do ser humano,
recorreremos aos textos I e II de Karl Marx.
“Karl Marx nasceu na Alemanha, em 1818. Considerado um dos maiores
filósofos alemães, realizou estudos importantes também para a Economia e a
Sociologia. Tendo como base a dialética1, desenvolveu o método que permite a explicação da história
das sociedades humanas a partir das relações sociais de produção. Radical tanto
na teoria como na militância, participou ativamente de diversas organizações
operárias clandestinas, tendo sido expulso de alguns países. Exilado na
Inglaterra, passou por muitas dificuldades financeiras, sendo socorrido por
amigos, como Friedrich Engels. Morreu em
Londres, em 1883. 1 Dialética é o método de
explicação da realidade que tem por base o princípio lógico da contradição, ou
seja, a contraposição de ideias ou situações que leva a uma nova ideia ou
situação.
TEXTO 1 O conceito é
ambíguo e disputado, indicando diferentes atividades em diferentes sociedades e
contextos históricos. Em seu sentido mais amplo, trabalho é o esforço humano
dotado de um propósito e envolve a transformação da natureza através do
dispêndio de capacidades mentais e físicas. Tal interpretação, contudo,
conflita com o significado e a experiência mais limitados do trabalho nas
atuais sociedades capitalistas. Para milhões de pessoas trabalho é sinônimo de
emprego remunerado, e muitas atividades que se qualificariam como trabalho na
definição mais ampla são descritas e vivenciadas como ocupações em horas de
lazer, como algo que não significa verdadeiramente trabalho. OUTHWAITE,
William; BOTTOMORE, Tom. Dicionário do pensamento social do século XX. Rio de Janeiro: Zahar, 1996. p. 773.
TEXTO 2 Uma aranha
executa operações que se assemelham às de um tecelão, e a abelha, na construção
de suas colmeias, deixa envergonhado mais de um arquiteto. Mas o que distingue
o pior arquiteto da melhor das abelhas é isso: o arquiteto projeta sua obra
antes de construí-la na realidade. No final de todo processo de trabalho, temos
um resultado que já existia na imaginação do trabalhador desde o seu começo. MARX, Karl. Capital – A Critique of Political Economy.
The labour-process and the process of producing surplus-value. Vol. 1, Part
III, Section 1, cap. VII. Tradução Heloísa Helena Teixeira de Souza Martins.
Disponível em: <http://www. marxists.
org/archive/marx/works/1867-c1/index.htm>.
Acesso em: 3 dez. 2013.
O trabalho humano
distingue-se do trabalho animal, pois o homem planeja antes de executar uma
atividade. Ele concebe o trabalho antes de executá-lo. Já os outros animais não
possuem essa capacidade. Eles “trabalham” de forma instintiva. Na verdade, é
equivocado usar o termo trabalho para se referir às atividades realizadas pelos
outros animais. Estes executam tarefas guiados pelo instinto. A abelha faz o
mel e constrói a colmeia instintivamente. Por isso, todas as colmeias de uma
mesma espécie de abelha seguem a mesma configuração. A formiga também constrói
instintivamente os formigueiros, e, por isso, eles seguem a mesma estrutura. O
mesmo processo ocorre com o joão-de-barro e sua casa.
Os animais só mudam
sua maneira de agir quando ocorre alguma alteração no meio, o que os leva a se
adaptar, mas eles não mudam suas atitudes intencionalmente. Só o ser humano tem
essa capacidade, as outras espécies, não. Com o objetivo de conseguir os meios
que garantam a sua sobrevivência, o ser humano age sobre a natureza, transformando-a.
Ele se apropria dos materiais existentes na natureza e cria objetos, inventa
coisas e se relaciona com outros seres humanos por meio do trabalho. Desse
modo, o trabalho é uma atividade de mediação entre o ser humano e a natureza.
O ser humano emerge
gradualmente, desenvolve-se e adquire a sua humanidade no exercício de sua
atividade, de seu trabalho, da sua produção social. Nesse sentido, pode-se
dizer que, ao trabalhar, o ser humano se constrói como ser humano, pois ele age
de forma deliberada e consciente sobre a natureza. É por isso que o trabalho é
visto como uma atividade que ajuda o ser humano a construir sua condição
humana.
Como o conceito de
trabalho é ambíguo, pode ter diferentes significados. Para muitas pessoas,
trabalho é sinônimo de emprego, como se só trabalhasse quem tem emprego.
Distinção entre
trabalho e emprego. O trabalho sempre existiu, sob diferentes formas, ao longo
da história da humanidade, já que é toda a atividade humana que envolve a
transformação da natureza para atingir um fim. Entretanto, emprego é uma
relação social de trabalho muito recente, que surge a partir do momento em que
o ser humano deixa de ser escravo ou servo e se transforma em um ser humano
livre. Livre para vender o seu trabalho e estabelecer um contrato com um
comprador, em troca de um salário que lhe permita adquirir os meios de vida
necessários à sua sobrevivência. Emprego pressupõe trabalho assalariado –
portanto, ele é algo característico da sociedade capitalista.
“O
trabalho livre sucedeu historicamente a outras formas de trabalho, como a
escravidão e a servidão. Na Grécia Antiga, o trabalho era uma atividade
exercida pelos escravos. Na Idade Média, as pessoas trabalhavam nos campos,
ligadas a um senhor feudal, ou moravam nos burgos e eram artesãos. Em todos
esses momentos da história, as pessoas executavam algum trabalho, mas não
tinham emprego. O emprego só se disseminou com o capitalismo, quando o
trabalhador passou a vender a sua força de trabalho (física ou mental) em troca
de um salário. Ao conseguir o emprego, o trabalhador assina um contrato de
trabalho que especifica suas funções. Ao contrário do que ocorria na
Antiguidade, em que os escravos eram uma propriedade, e na Idade Média, em que
os trabalhadores eram servos presos à terra do senhor feudal, no capitalismo os
trabalhadores são “livres” para procurar outras condições de trabalho em um
novo emprego”.
A liberdade no
capitalismo para muitos dos trabalhadores é relativa, uma vez que a maioria não
pode escolher a quem, quando e, muitas vezes, onde procurar emprego. Mas o
significado mais importante do trabalho livre ou da liberdade do trabalhador é
dado pelo fato de que, com o esfacelamento do sistema feudal de produção, o
servo libertou-se das amarras que o prendiam ao senhor feudal, mas perdeu o
acesso aos meios de produção (terra, matéria-prima, instrumentos de trabalho).
Então, passou a dispor de uma única propriedade: a sua força de trabalho.
Questões:
1.
Explique
origem da palavra trabalho e a que estava associado.
2.
Como
o trabalho era visto, para os gregos?
3.
Qual
definição enfatiza que o trabalho é uma atividade humana, ou seja, só os seres
humanos trabalham.
4.
Explique
trabalho em seu sentido mais amplo, trabalho.
5.
O
que distingue o pior arquiteto da melhor das abelhas, segundo Karl Marx?
6.
Por
que, o trabalho humano distingue do trabalho animal?
7.
Por
que o trabalho é uma atividade de mediação entre o ser humano e a natureza?
8.
Qual
a diferença entre trabalho e emprego?
Prof. Manoelito
Nenhum comentário:
Postar um comentário