quarta-feira, 11 de maio de 2016

O HOMEM COMO SER POLÍTICO


O objetivo é pensar o ser humano como um ser político. Por meio do entendimento geral da palavra “política”, tendo como referências sobre o tema, um breve contato com a filosofia de Platão e Aristóteles. Temas como ensinamento da política, política e bom convívio social, política e justiça e ainda política como marca da natureza humana serão abordados com o auxílio dos textos filosóficos.
O que vocês pensam sobre a palavra política? Essa é uma palavra de presença constante em nosso cotidiano.
Filosofia e política
Segundo a tradição filosófica grega, pode-se destacar, mais uma vez, a contribuição de Platão e Aristóteles para pensarmos a política em uma perspectiva original, distante das conotações assumidas em nossa sociedade e na sociedade brasileira em especial. Recuperar o significado primordial da ideia de política pode ajudar a compreender a importância dessa palavra e de sua prática na história da humanidade.
Como teria surgido a referência à política na história da Filosofia? A origem etimológica da palavra localiza- -se no grego antigo polittique e politikós,  sugerindo arte de governar a cidade e aquele que é da cidade. Em Platão e Aristóteles, a palavra política está associada à vida na cidade. Um dos diálogos de Platão (428 a.C.347 a.C.) apresenta uma das teses mais antigas sobre a arte da política. Além de antiga, ela tornou-se um marco na história da Filosofia. O diálogo chama-se Protágoras, e a tese sobre a virtude política encontra-se no trecho que ficou conhecido como o Mito de Protágoras.
Um jovem chamado Hipócrates pede que Sócrates o apresente a Protágoras (480 a.C.410 a.C.) na esperança de tornar-se seu discípulo, por quem tem grande admiração.  Sócrates leva Hipócrates a uma reunião, na qual Protágoras se exibe para uma pequena plateia de atenienses.

              Protágoras

Sócrates: Vou começar, Protágoras, pela finalidade da nossa visita. Hipócrates, aqui presente, deseja entrar para a tua escola e diz que gostaria de conhecer as vantagens que obteria com teu ensino. Eis tudo o que temos a dizer.

Protágoras: Meu jovem, a vantagem que obterás com minhas lições é que, depois de passares um dia comigo, voltarás para casa melhor do que eras; no dia seguinte a mesma coisa, e assim, todos os dias farás progressos, sempre para melhor.

Sócrates então pede que Protágoras seja mais preciso na sua resposta e este acrescenta: “Eu só ensino a meus discípulos a ciência que eles procuram; esta ciência é a prudência, que lhes ensinará, nos negócios domésticos, a melhor forma de administrar a própria casa, e nos negócios da cidade (pólis) os tornará melhores para agir e falar por ela”.

Sócrates: Terei compreendido bem tua explicação? Referes-te então à arte política e dedicas-te a formar bons cidadãos?

Protágoras: Isso mesmo, Sócrates; esta é a ciência à qual me dedico.

Sócrates, então, passa a questionar Protágoras sobre a real possibilidade de se ensinar a virtude da mesma forma como se ensinam outras artes, como a da medicina, ou a de tocar flauta, e desafia Protágoras a demonstrar que ensinar a arte da política é, de fato, possível.

Protágoras: Pois bem, Sócrates. Mas, o que preferes? Que faça a minha demonstração contando uma fábula, como um avô conta histórias aos netos, ou discutindo a questão, ponto por ponto?

Como os presentes ao diálogo respondessem que Protágoras tratasse a questão como preferisse, Protágoras responde: “Parece que contar a fábula será mais agradável para todos”. E, assim, passa a contar o que se tornou célebre como o “Mito de Protágoras”.

Eis um resumo da história: [...] Os deuses haviam terminado a criação das várias criaturas (animais) do mundo. Mas ainda tinham que dar-lhes vida. Para tanto, chamaram dois irmãos – Prometeu e Epimeteu – para realizarem a seguinte tarefa: distribuir os dons para as diversas espécies, de maneira equitativa para que se garantisse que uma espécie não acabasse por destruir a outra. Epimeteu convence o irmão a deixá-lo fazer a distribuição dos dons e depois chamar Prometeu para conferir a obra. Epimeteu fez a partilha, dando a uns a força, e não a velocidade; a outros, a velocidade, mas não a força; deu recursos a alguns, e não a outros, a quem doou outros meios de sobrevivência. [...] Estes cuidados visavam evitar a extinção de cada raça.

Quando Prometeu veio examinar a distribuição dos recursos, viu as várias criaturas bem providas de tudo, enquanto o homem encontrava-se nu, descalço, sem proteção ou armas. Sem saber o que fazer, roubou dos deuses o domínio do fogo e das artes e presenteou-os ao homem. Assim, o homem ficou com as técnicas para se conservar vivo, mas sem a arte da política.

Por estes favores aos homens, parece que Prometeu foi severamente punido mais tarde. Com o que tinha, o homem articulou a linguagem, construiu casas, inventou a agricultura. Mas, isolados, continuavam frágeis diante dos perigos da natureza. E, quando procuravam reunir-se em segurança, fundando cidades, faziam mal uns aos outros, pois não tinham os saberes da política, e assim, se dispersavam e acabavam por morrer.

Então, Zeus, temendo que a nossa espécie se extinguisse, encarregou Hermes de levar aos homens os dons do pudor e da justiça como norma para a convivência a ligar os homens pelos laços da civilidade. Depois de estabelecer que o pudor e o senso da justiça fossem repartidos a todos os homens sem exceção, ordena que, em seu nome, todo homem incapaz de pudor e justiça “seja exterminado como se fosse uma peste na sociedade”. E assim, a humanidade sobreviveu e progrediu.

Em seguida, Protágoras apresenta seus argumentos, tratando a questão “ponto por ponto”. Afirma que, em relação às artes, concorda que os profissionais não admitam que amadores deem palpite. “Mas, quando se delibera sobre política, que se apoia no senso da justiça e na temperança, é adequado admitir todo o tipo de gente a opinar. Pois é necessário que todos tenham parte na virtude da civilidade. Senão, não poderia existir a cidade.”

Depois, quanto à possibilidade de se ensinar a virtude política, oferece outros argumentos: “No ensino da virtude, a tarefa dos pais começa desde os primeiros anos e estende-se até a morte [...]. Cada ato, cada palavra serve de ocasião para uma lição: ‘Isto é justo, dizem-lhe, aquilo injusto; isto é belo, aquilo vergonhoso; isto agrada aos deuses, aquilo desagrada; faça isto, não faça aquilo’. [...] Depois, os pequenos são mandados à escola [...]. Ali conhecem as muitas normas, muitas histórias de louvor aos heróis antigos. É que se espera que a criança os imite e busque se assemelhar a eles.”

“Pelo fato de todos ensinarem a virtude, cada um na sua oportunidade, parece que ninguém a ensina. É o mesmo que se dá ao procurar um professor específico para ensinar a falar o grego (nossa língua materna). Não existe tal professor.”

Depois da exposição da fábula e dos argumentos, Sócrates vira-se para o candidato a discípulo de Protágoras e exclama: “Hipócrates, filho de Apolodoro, como agradeço me fazeres vir a este encontro! Por nada no mundo trocaria o prazer de ter ouvido este discurso de Protágoras.” PLATÃO. Protágoras.

O texto que segue traz um pouco da contribuição de Aristóteles (384 a.C.-322 a.C.) para o entendimento da importância da política. Aristóteles escreveu A política, obra organizada em oito livros. Destacamos o livro primeiro para leitura, pois nele o autor defende a ideia de que a política integra a natureza humana, decorrente de outras características também definidoras da espécie humana: o dom da fala e a necessidade de associação para além do núcleo familiar, constituindo, assim, as vilas, as cidades e os Estados.

A política - Aristóteles

Se as primeiras comunidades são um fato da natureza, também o é a cidade, porque ela é o fim daquelas comunidades, e a natureza de uma coisa é o seu fim: aquilo que cada coisa se torna quando atinge seu completo desenvolvimento, nós chamamos de natureza daquela coisa, quer se trate de um homem, de um cavalo ou de uma família. Além disso, a causa final e o fim de uma coisa é o que é o melhor para ela; ora, bastar-se a si mesma é, ao mesmo tempo, um fim e um bem por excelência.

Essas considerações tornam evidente que a cidade é uma realidade natural e que o homem é, por natureza, um animal político. E aquele que, por natureza e não por mero acidente, não faz parte de uma cidade é ou um ser degradado ou um ser superior ao homem [...] um tal homem é, por natureza, ávido de combates, e é como uma peça isolada no jogo de damas. É evidente, assim, a razão pela qual o homem é um animal político em grau maior que as abelhas ou todos os outros animais que vivem reunidos. Dizemos, de fato, que a natureza nada faz em vão, e o homem é o único entre todos os animais a possuir o dom da fala. Sem dúvida os sons da voz exprimem a dor e o prazer e são encontrados nos animais em geral, pois sua natureza lhes permite experimentar esses sentimentos e comunicá-los uns aos outros. Mas quanto ao discurso, ele serve para exprimir o útil e o nocivo e, em consequência, o justo e o injusto. De fato, essa é a característica que distingue o homem de todos os outros animais: só ele sabe discernir o bem e o mal, o justo e o injusto, e os outros sentimentos da mesma ordem; ora, é precisamente a posse comum desses sentimentos que engendra a família e a cidade.

A cidade, portanto, é por natureza anterior à família e a cada homem tomado individualmente, pois o todo é necessariamente anterior à parte; assim, se o corpo é destruído, não haverá mais nem pé nem mão, a não ser por simples analogia, como quando se fala de uma mão de pedra, pois uma mão separada do corpo não será melhor que essa. Todas as coisas definem-se sempre pelas suas funções e potencialidades; por conseguinte, quando elas não têm mais suas características próprias, não se deve dizer mais que se trata das mesmas coisas, mas apenas que elas têm o mesmo nome. É evidente, nessas condições, que a cidade existe naturalmente e que é anterior aos indivíduos, pois cada um destes, isoladamente, não é capaz de bastar-se a si mesmo e está, em relação à cidade, na mesma situação que uma parte em relação ao todo; o homem que é incapaz de viver em comunidade, ou que disso não tem necessidade porque basta-se a si próprio, não faz parte de uma cidade e deve ser, portanto, um bruto ou um deus. ARISTÓTELES. A política

Após fazer a leitura dos texto  respondam as seguintes questões:
1.      Segundo Protágoras, quais as vantagens que o jovem Hipócrates, obteria com o seu ensino? 
2.      Qual a ciência a que Protágoras se dedicou? 
3.      Explique, enumerando passo a passo, o “Mito de Protágoras”.
4.      Explique o que Aristóteles chama de natureza daquela coisa.
5.      Explique o que Aristóteles chama de causa final.
6.      Por que, segundo Aristóteles, o homem é, por natureza, um animal político?
7.      Explique a característica que distingue o homem de todos os outros animais, segundo Aristóteles.
8.      Por que o homem que é incapaz de viver em comunidade, ou é um bruto ou um deus, segundo Aristóteles?
9.      Pesquisar a “Teoria das ideias” de Platão.

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