O
ESTADO - HEGEL
O
Estado como realização da Ideia
Assim, o
terceiro ponto se refere ao fim a ser atingido por esses meios, ou seja, à
forma que ele atinge no domínio do real. Falamos de meios; acontece que a
execução de um objetivo limitado e subjetivo também exige um elemento material,
já presente, ou a ser obtido para servir a essa realização. Com isso, surge a
pergunta: qual é a matéria em que será realizado o objetivo final da Razão?
Antes de mais nada, ela é o próprio agente subjetivo, os desejos humanos, a
subjetividade em geral. No conhecimento e na vontade do ser humano, como base material,
o racional passa a existir. Já examinamos a vontade subjetiva com sua
finalidade, que é a veracidade da existência real, até onde ela é movida por
uma grande paixão histórica mundial. Como vontade subjetiva em paixões
limitadas, ela é dependente, pode satisfazer seus desejos particulares apenas
dentro de sua dependência. Mas a vontade subjetiva também tem uma vida
material, uma realidade onde se movimenta pela região do ser essencial e em que
tem a própria essência como objetivo de sua existência. Este ser essencial é a
união da vontade subjetiva com a vontade racional, é o conjunto moral, o
Estado. É aquela forma de realidade em que o indivíduo tem e goza de sua
liberdade, mas na condição de conhecer, acreditar e desejar o universo. Não se
deve entender isso como se a vontade subjetiva do indivíduo obtivesse satisfação
e prazer através da vontade comum e esta fosse um meio para isso – como se o
indivíduo limitasse sua liberdade entre os outros indivíduos, de maneira a que
essa limitação comum, a repressão comum a todos, pudesse garantir uma liberdade
pequena para todos. (Isto seria apenas uma liberdade negativa.) Em vez disso,
afirmamos que a lei, a moral, o Estado – e só eles – são a satisfação e a
realidade positiva da liberdade. Uma liberdade pequena e limitada é um simples
capricho, que é exercitado na esfera restrita dos desejos particulares e
limitados.
A vontade
subjetiva, paixão, é a força que realiza, que torna real. A Idéia é a energia
interior da ação, o Estado é a vida que existe externamente, autenticamente
moral. Ela é a união da vontade universal e essencial com a vontade subjetiva
e, como tal, ela é Moral. O indivíduo que vive nessa união tem uma vida
moral, ele possui um valor que consiste apenas nesta existência real." A Antígona
de Sófocles diz: "As ordens divinas não são de ontem, nem de hoje; não,
elas têm uma existência infinita e ninguém poderia dizer de onde elas vieram
." 14 As leis da ética não são acidentais, mas são a própria
racionalidade. A finalidade do Estado é fazer prevalecer o material e se fazer
reconhecer nos feitos reais dos homens e nas suas convicções. É de interesse absoluto
da Razão que este todo moral exista; é nisto que está a justificação e o mérito
de heróis que fundaram Estados – não importa quão primitivos fossem. [O que
conta em um Estado é a ação realizada de acordo com uma vontade comum e
adotando os objetivos universais. Mesmo em um Estado primitivo existe a
sujeição de uma vontade sob a outra, mas isto não significa que o indivíduo não
tenha uma vontade própria, e sim, que a sua vontade particular não vale.
Caprichos e ânsias não têm valor. A particularidade da vontade é já haver sido
repudiada em formações políticas primitivas como essas. O que conta é a vontade
coletiva. Sendo suprimido dessa maneira, o indivíduo irá se afastar,
voltando-se para dentro de si mesmo. Esta é a condição necessária para a
existência do universo, a condição do conhecimento e do pensamento – pois é o pensamento
que o homem tem em comum com o divino." Assim ele surge no Estado; apenas
em cima deste solo, ou seja, no Estado, podem existir a arte e a religião. Os
objetos de nossas reflexões são os povos que se organizaram racionalmente.) Na história
do mundo, apenas estes povos que formam Estados podem chamar a nossa atenção. [Não
se deve imaginar que esse tipo de organização poderia surgir em uma ilha deserta
ou no isolamento. Embora seja verdade que todos os homens se tenham formado na
solidão, eles só o fizeram através da assimilação daquilo que o Estado já havia
criado. O universal não deve ser apenas algo que o indivíduo projeta, mas algo
que já existe. Como tal, ele está presente no Estado, é isto que vale nele.
Aqui, a interioridade é ao mesmo tempo realidade. É uma realidade com vários
aspectos exteriores, mas compreendida aqui na universalidade.
A Idéia
universal se manifesta no Estado. A palavra "manifestação" tem aqui
um significado diferente do habitual. Em geral fazemos a distinção entre poder
(potencialidade) e manifestação, como se a primeira fosse a essência e a
última, não essencial, ou exterior. Até agora não há nenhuma determinação real na
própria categoria de poder, ao passo que onde está o Espírito ou o conceito
real a própria manifestação é o elemento essencial. O critério do Espírito é
sua ação, a sua essência ativa. O homem é sua própria ação, a seqüência de suas
ações, aquilo em que ele mesmo está se fazendo. Assim, o Espírito é essencialmente
Energia e, em relação ao Espírito, não se pode deixar de parte sua
manifestação. A manifestação do Espírito é sua autodeterminação real, este é o
elemento de sua natureza concreta. O Espírito que não se determina é uma
abstração da inteligência. A manifestação do Espírito é sua autodeterminação e
é esta manifestação que temos de investigar na forma de Estados e indivíduos.
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