O
Objetivo é pensar nas semelhanças e diferenças entre o discurso filosófico e o
discurso científico.
FILOSOFIA
E CIÊNCIA: UMA ORIGEM COMUM E UM DESTINO DE SEPARAÇÃO
No
momento de origem da Filosofia, na Antiguidade Grega, não havia distinções
entre Filosofia e Ciência. Filosofia era considerada o conjunto de todos os
conhecimentos: físicos e metafísicos. A leitura dos textos de Aristóteles, por
exemplo, revela que este autor escreveu sobre a alma e sobre a natureza, sem
distinguir os campos de conhecimento científicos e filosóficos como fazemos
atualmente.
O
saber filosófico contemplava uma enorme diversidade de conhecimentos, uma vez
que os primeiros filósofos colocavam-se questões relativas aos campos que hoje
são identificados como Matemática, Biologia, Física, lógica, Música, Teatro,
Astronomia, Política e Ética. O mundo a ser compreendido abarcava questões em
torno de dois grandes temas: a natureza e o homem. E como não havia acúmulo de
conhecimentos associados a nenhum dos dois temas, a Filosofia foi se
constituindo como um campo amplo de perguntas e respostas sobre o mundo natural
e o mundo humano. Essa abordagem ampla da Filosofia preservou-se até o período
medieval, quando a Teologia se constitui como campo dos estudos sobre Deus e
sobre a fé.
A
partir do Renascimento e durante a Idade Moderna, Física, Matemática, Química e
Biologia foram conquistando autonomia em relação à Filosofia e delimitando
campos específicos de investigação de seus objetos num processo que se estende
por séculos. Newton e Descartes são autores cujas obras registraram aspectos
que sugerem uma transição, na qual a Filosofia se separa da Ciência. O livro em
que Newton apresenta leis da mecânica chama-se Princípios matemáticos de
filosofia natural. Um livro de Descartes, que se chama Princípios de Filosofia,
está dividido em quatro partes, denominadas, Dos princípios do conhecimento
humano, Dos princípios das coisas materiais, Do mundo visível e A Terra.
Foi
fundamental para a separação entre Filosofia e Ciência a formulação sobre o
método científico, que tem início no Renascimento, nos séculos XIV, XV e XVI, e
se consolida nos séculos XVII, XVIII e XIX. Essa formulação entende que os
conhecimentos sobre a natureza devem ser passíveis de observação e
experimentação para verificação de hipóteses. O próprio conceito de Ciência
ganha essa forte significação de conhecimentos, que podem ser observados e
experimentados para comprovação ou negação.
Outra
ideia formulada no interior das Ciências, sobretudo a partir do século XIX,
serve para especificá-la diante da Filosofia: a neutralidade do cientista em
relação ao objeto de conhecimento. Segundo essa concepção, de que é preciso ser
neutro diante do objeto investigado, o cientista não deveria interpretar e
decidir quais dados selecionar entre aqueles que vai encontrando no processo de
pesquisa científica. Essa concepção contemplava a visão de que os dados
deveriam falar por si próprios, sendo o papel do cientista evidenciá-los. Muitas
vezes, diante dessa perspectiva, considera-se que, de modo geral, os filósofos
posicionam-se pensando seus temas valendo-se de sua visão de mundo, a qual
condiciona sua interpretação, o que contrastaria com a neutralidade da Ciência.
Filosofia e Ciência deveriam, assim, construir caminhos separados para o
conhecimento.
Em
síntese, pode-se afirmar que Filosofia e Ciência nascem juntas como conjunto de
conhecimentos sobre a natureza e a sociedade humana e separam-se de forma vagarosa,
ao longo de pelo menos seis séculos, nos quais uma determinada visão de
Ciência, baseada na observação, experimentação, comprovação de hipóteses e
suposta neutralidade, contribuiu para essa separação e caracterização dos
discursos filosóficos e científicos, com a qual nos ocupamos neste Caderno.
Aliada a essa visão de Ciência, tivemos ainda a crescente especialização dos
saberes e a criação de campos de disciplinas como conhecemos atualmente. Nos
séculos XIX e XX, uma nova visão de Ciência é formulada, baseada na ideia de
que nem sempre são possíveis comprovações ou experimentações e é impossível a
neutralidade do cientista, uma vez que ele necessariamente interpreta,
seleciona e se posiciona de forma interessada diante de seus dados.
Como
aproximações entre discurso filosófico e discurso científico, podemos destacar:
•
a curiosidade e o conjunto de perguntas sobre a realidade que inspiram ambas as
investigações;
•
o esforço de explicitação de ideias que filósofos e cientistas empreendem;
•
a construção de argumentação que permita a comunicação dos saberes formulados,
investigados;
•
a utilização de metáforas para oferecer imagens mais próximas a saberes já
conhecidos no esforço de comunicação dos novos conhecimentos.
Como
diferenças, podemos destacar:
•
a Filosofia utiliza diversos gêneros textuais para expressar suas ideias:
cartas, poemas, diálogos, ensaios. A Ciência não faz uso de tão diverso
universo de gêneros textuais e seu gênero é o relatório de pesquisa e o artigo
científico. A Filosofia questiona métodos e finalidades da Ciência. A Ciência
utiliza instrumentos para construir dados e a Filosofia não está associada ao
uso de instrumentos;
•
as definições dos termos em Ciência são especificadas de forma que se
generalize seu significado e, em Filosofia, um termo ou expressão pode ter
diferentes significados, a depender do contexto e da formulação argumentativa
do autor. Exemplo: a palavra “átomo”, em Química, e a palavra “sujeito”, em
Filosofia. É comum usarmos as expressões: “Marx entende o sujeito como...”;
“Para Foucault, o significado da palavra sujeito é...”; “Em Deleuze, o sujeito
é...”; ou “Descartes afirmava que o sujeito constitui-se em...”.
Vamos
realizar uma comparação entre esses dois tipos de discurso. Para isso, faremos
a leitura dos próximos dois textos: um filosófico, de Michel de Montaigne, e
outro tipicamente científico, retirado de um relatório sobre violência no
Brasil.
DE
COMO FILOSOFAR É APRENDER A MORRER
"Para
Cícero, filosofar não é outra coisa que preparar-se para a morte. Talvez porque
o estudo e a contemplação tiram a alma para fora de nós, separam nossa alma do
corpo, o que, em suma, se assemelha à morte e constitui como que um aprendizado
em vista dela. Ou então é porque de toda sabedoria e inteligência resulta,
finalmente, que aprendemos a não ter receio da morte. Em verdade, ou nossa
razão falha ou seu objetivo único deve ser a nossa própria satisfação, e seu
trabalho tender para que vivamos bem, e com alegria, como recomenda a Sagrada
Escritura. [...] Não sabemos onde a
morte nos aguarda, e por isto a esperamos em toda parte. Refletir sobre a morte
é refletir sobre a liberdade; quem aprendeu a morrer, desaprendeu de servir;
nenhum mal atingirá quem na existência compreendeu que a privação da vida não é
um mal: saber morrer nos libera de toda sujeição e constrangimento". [...]
RELATÓRIO
CIENTÍFICO: DADOS DE MORTALIDADE NO BRASIL
[...]
"As lesões não intencionais e as violências constituem a primeira causa de
mortalidade registrada na faixa etária de 15 a 60 anos, representando 30% do
total de óbitos de causas determinadas em 1994'. Os homicídios e os acidentes
de trânsito produzem impacto substancial na força de trabalho dos grandes
centros urbanos, tendo sido responsáveis, em conjunto, por 28,7% dos anos de
trabalho potencialmente perdidos (ATPP) em 1987. Seguem-se, em ordem
decrescente de importância, as doenças do aparelho circulatório (24%) e as
neoplasias (13%). A distribuição por subgrupos de idade mostra forte
predominância das causas externas nos estratos de 15-19 e 20-29 anos (71% e
62%, respectivamente). Esse grupo de causas ocupa o primeiro lugar também entre
30-39 anos (38%), em que também há participação importante das doenças do
aparelho circulatório (16%) e das doenças endócrinas e metabólicas (12%). Nos
grupos etários de 40-49 e de 50-59 anos predominam as doenças do aparelho
circulatório (30% e 39%, respectivamente), seguindo-se as neoplasias (16% e
21%) e as causas externas (20% e 9%). Cerca de 70% dos óbitos em todo o grupo
adulto corresponderam ao sexo masculino." [...]
Questões:
1. Como era
a Filosofia no momento de sua origem na Antiguidade Grega?
2. Quais as
questões colocadas pelos primeiros filósofos?
3. Até
quando se preservou a abordagem ampla da Filosofia?
4. Fale
sobre a filosofia a partir do Renascimento e durante a Idade Moderna.
5. O que foi
fundamental para a separação entre Filosofia e Ciência?
6. Em
síntese, o que se pode afirmar de Filosofia e Ciência?
7. Como
aproximações, o que podemos destacar entre discurso filosófico e discurso
científico?
8. Como
diferenças, o que podemos destacar entre o discurso
filosófico e discurso científico?
9. Qual a
diferença entre os dois textos citados acima?
10. Responder
o caderno do aluno da página 05 a 11.
Prof. Manoelito
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