Para o
pensador grego, só voltando-se para seu interior o homem chega à sabedoria e se
realiza como pessoa. Mesmo condenado à morte, o filósofo não voltou atrás com
suas idéias
Frases de Sócrates:
"É sábio
o homem que pôs em si tudo que leva à felicidade ou dela se aproxima"
"O
princípio dos raciocínios é constituído pela essência das coisas do mundo"
Sócrates
nasceu em Atenas por volta de 469
a .C. Adquiriu a cultura tradicional dos jovens
atenienses, aprendendo música, ginástica e gramática. Lutou nas guerras contra
Esparta (432 a .C.)
e Tebas (424 a .C.).
Durante o apogeu de Atenas, onde se instalou a primeira democracia da história,
conviveu com intelectuais, artistas, aristocratas e políticos. Convenceu-se de
sua missão de mestre por volta dos 38 anos, depois que seu amigo Querofonte, em
visita ao templo de Apolo, em Delfos, ouviu do oráculo que Sócrates era "o
mais sábio dos homens". Deduzindo que sua sabedoria só podia ser resultado
da percepção da própria ignorância, passou a dialogar com as pessoas que se
dispusessem a procurar a verdade e o bem. Em meio ao desmoronamento do império
ateniense e à guerra civil interna, quando já era septuagenário, Sócrates foi
acusado de desrespeitar os deuses do Estado e de corromper os jovens. Julgado e
condenado à morte por envenenamento, ele se recusou a fugir ou a renegar suas
convicções para salvar a vida. Ingeriu cicuta e morreu rodeado por amigos, em 399 a .C.
Seu
pensamento marca uma reviravolta na história humana. Até então, a filosofia
procurava explicar o mundo baseada na observação das forças da natureza. Com
Sócrates, o ser humano voltou-se para si mesmo. Como diria mais tarde o
pensador romano Cícero, coube ao grego "trazer a filosofia do céu para a
terra" e concentrá-la no homem e em sua alma (em grego, a psique). A
preocupação de Sócrates era levar as pessoas, por meio do autoconhecimento, à
sabedoria e à prática do bem.
Nessa
empreitada de colocar a filosofia a serviço da formação do ser humano, Sócrates
não estava sozinho. Pensadores sofistas, os educadores profissionais da época,
igualmente se voltavam para o homem, mas com um objetivo mais imediato: formar
as elites dirigentes. Isso significava transmitir aos jovens não o valor e o
método da investigação, mas um saber enciclopédico, além de desenvolver sua
eloqüência, que era a principal habilidade esperada de um político.
Sócrates
concebia o homem como um composto de dois princípios, alma (ou espírito) e
corpo. De seu pensamento surgiram duas vertentes da filosofia que, em linhas
gerais, podem ser consideradas como as grandes tendências do pensamento
ocidental.
Uma é a
idealista, que partiu de Platão (427-347 a .C.), seguidor de Sócrates. Ao distinguir
o mundo concreto do mundo das idéias, deu a estas o status de realidade; e a
outra é a realista, partindo de Aristóteles (384-322 a .C.), discípulo de
Platão que submeteu as idéias, às quais se chega pelo espírito, ao mundo real.
O nascimento das idéias, segundo o filósofo
Sócrates
comparava sua função com a profissão de sua mãe, parteira - que não dá à luz a
criança, apenas auxilia a parturiente. "O diálogo socrático tinha dois
momentos", diz Carlos Roberto Jamil Cury, professor aposentado da
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. O primeiro corresponderia às
"dores do parto", momento em que o filósofo, partindo da premissa de
que nada sabia, levava o interlocutor a apresentar suas opiniões. Em seguida,
fazia-o perceber as próprias contradições ou ignorância para que procedesse a
uma depuração intelectual. Mas só a depuração não levava à verdade - chegar a
ela constituía a segunda parte do processo. Aí, ocorria o "parto das
idéias" (expresso pela palavra maiêutica), momento de reconstrução do
conceito, em que o próprio interlocutor ia "polindo" as noções até
chegar ao conceito verdadeiro por aproximações sucessivas. O processo de formar
o indivíduo para ser cidadão e sábio devia começar pela educação do corpo, que
permite controlar o físico. Já para a educação do espírito, Sócrates colocava
em segundo plano os estudos científicos, por considerar que se baseavam em
princípios mutáveis. Inspirado no aforismo "conhece-te a ti mesmo",
do templo de Delfos, julgava mais importante os princípios universais, porque
seriam eles que conduziriam à investigação das coisas humanas.
Ensino pelo diálogo
Nas palavras
atribuídas a Sócrates por Platão na obra Apologia de Sócrates, o filósofo
ateniense considerava sua missão "andar por aí (nas ruas, praças e
ginásios, que eram as escolas atenienses de atletismo), persuadindo jovens e
velhos a não se preocuparem tanto, nem em primeiro lugar, com o corpo ou com a
fortuna, mas antes com a perfeição da alma".
Defensor do
diálogo como método de educação, Sócrates considerava muito importante o
contato direto com os interlocutores - o que é uma das possíveis razões para o
fato de não ter deixado nenhum texto escrito. Suas idéias foram recolhidas
principalmente por Platão, que as sistematizou, e por outros filósofos que
conviveram com ele. Sócrates se fazia acompanhar freqüentemente por jovens,
alguns pertencentes às mais ilustres e ricas famílias de Atenas. Para Sócrates,
ninguém adquire a capacidade de conduzir-se, e muito menos de conduzir os
demais, se não possuir a capacidade de autodomínio. Depois dele, a noção de
controle pessoal se transformou em um tema central da ética e da filosofia
moral. Também se formou aí o conceito de liberdade interior: livre é o homem
que não se deixa escravizar pelos próprios apetites e segue os princípios que,
por intermédio da educação, afloram de seu interior.
Opondo-se ao
relativismo de muitos sofistas, para os quais a verdade e a prática da virtude
dependiam de circunstâncias, Sócrates valorizava acima de tudo a verdade e as
virtudes - fossem elas individuais, como a coragem e a temperança, ou sociais,
como a cooperação e a amizade. O pensador afirmava, no entanto, que só o
conhecimento (ou seja, o saber, e não simples informações isoladas) conduz à
prática da virtude em si mesma, que tem caráter uno e indivisível.
Segundo
Sócrates, só age erradamente quem desconhece a verdade e, por extensão, o bem.
A busca do saber é o caminho para a perfeição humana, dizia, introduzindo na
história do pensamento a discussão sobre a finalidade da vida.
O despertar do espírito
O papel do
educador é, então, o de ajudar o discípulo a caminhar nesse sentido,
despertando sua cooperação para que ele consiga por si próprio
"iluminar" sua inteligência e sua consciência. Assim, o verdadeiro
mestre não é um provedor de conhecimentos, mas alguém que desperta os
espíritos. Ele deve, segundo Sócrates, admitir a reciprocidade ao exercer sua
função iluminadora, permitindo que os alunos contestem seus argumentos da mesma
forma que contesta os argumentos dos alunos. Para o filósofo, só a troca de
idéias dá liberdade ao pensamento e a sua expressão - condições imprescindíveis
para o aperfeiçoamento do ser humano.
Para pensar
Ao eleger o
diálogo como método de investigação, Sócrates foi o primeiro filósofo a se
preocupar não só com a verdade, mas com o modo como se pode chegar a ela. Eis
por que ele é considerado por muitos o modelo clássico de professor. Quando
preparamos nossas aulas, levamos em conta a necessidade de ajudar nossos alunos
a desenvolver procedimentos para que possam pensar por si mesmos?
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