segunda-feira, 18 de novembro de 2013

3ª SÉRIE - CONTEÚDOS PARA AVALIAÇÃO (2) 4º - BIMESTRE

EE BATISTA RENZI DISCIPLINA: FILOSOFIA ÁREA: CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS ETAPA DA EDUCAÇÃO BÁSICA: ENSINO MÉDIO 3ª SÉRIE – VOLUME 4 - 4º BIMESTRE TEMAS E CONTEÚDOS: SER FELIZ É PRECISO E FELICIDADE E COMPROMISSO: CONSIGO E COM O OUTRO SER FELIZ É PRECISO Neste texto, vamos trabalhar a Filosofia em relação a algumas questões próprias do cotidiano atual dos jovens brasileiros e que cercam o tema felicidade. Tais questões referem-se às representações que associamos à ideia de felicidade, como o prazer imediato, o consumo, como levar vantagens em diferentes situações competitivas, ter sucesso e reconhecimento social, e ainda como viver a vida densa de glamour que é propagandeada em anúncios nos meios de comunicação de forma geral. Diante de tudo isso, uma pergunta fundamental é: "Quais os fetiches associados à ideia de felicidade em nosso cotidiano cultural?" Competências e habilidades a serem desenvolvidas: relacionar informações, representadas de formas variadas, com conhecimentos disponíveis em diferentes situações, para construir argumentação consistente (Enem); problematizar o tema felicidade, tendo em vista questões da sociedade brasileira contemporânea, e sensibilizar-se quanto à relevância de refletir de forma sistemática e rigorosa sobre tais questões; ler, compreender e interpretar textos teóricos e filosóficos; expressar-se por escrito e oralmente de forma sistemática; elaborar hipóteses e questões sobre leituras e debates realizados. Abordaremos também a relação entre o tema felicidade e as questões destacadas neste texto. Então, propomos a leitura de uma poesia bastante conhecida de Manuel Bandeira: Vou-me embora pra Pasárgada. Vou-me embora pra Pasárgada Lá sou amigo do rei Lá tenho a mulher que eu quero Na cama que escolherei Vou-me embora pra Pasárgada Vou-me embora pra Pasárgada Aqui eu não sou feliz Lá a existência é uma aventura De tal modo inconseqüente Que Joana a Louca de Espanha Rainha e falsa demente Vem a ser contraparente Da nora que nunca tive E como farei ginástica Andarei de bicicleta Montarei em burro brabo Subirei no pau-de-sebo Tomarei banhos de mar! E quando estiver cansado Deito na beira do rio Mando chamar a mãe-d'água Pra me contar as histórias Que no tempo de eu menino Rosa vinha me contar Vou-me embora pra Pasárgada Em Pasárgada tem tudo É outra civilização Tem um processo seguro De impedir a concepção Tem telefone automático Tem alcalóide à vontade Tem prostitutas bonitas Para a gente namorar E quando eu estiver mais triste Mas triste de não ter jeito Quando de noite me der Vontade de me matar — Lá sou amigo do rei — Terei a mulher que eu quero Na cama que escolherei Vou-me embora pra Pasárgada. Texto extraído do livro "Bandeira a Vida Inteira", Editora Alumbramento – Rio de Janeiro, 1986, pág. 90 Após a leitura do poema Vou-me embora pra Pasárgada, de Manuel Bandeira, responda em seu caderno: Quais imagens associadas à palavra felicidade estão presentes na poesia? Leitura e Análise de Texto: Entraves à felicidade “A humanidade pode contar com diversos lugares imaginários como Pasárgada, nos quais a felicidade plena e eterna existe. Além de Manuel Bandeira, Luís de Camões, no poema épico Os lusíadas, descreve a Ilha dos Amores, lugar da satisfação do desejo e da utopia. A ideia de um paraíso ou de um lugar especial, no qual realizamos todos os nossos desejos, faz parte do imaginário humano, justamente porque em nosso cotidiano, em nossa experiência de vida, encontramos diversos entraves para a realização dos nossos desejos. Além desse lugar imaginário, integram nossa cultura as fantasias em torno do que faríamos se ganhássemos na loteria, por exemplo. Imaginar um lugar de felicidade eterna ou uma condição material capaz de comprar tudo o que necessitamos e desejamos são fantasias diretamente relacionadas ao fato de que nossos desejos sofrem limitações ou entraves que geram frustrações. Faz parte de um bom processo de maturidade aprender a lidar com essas frustrações. A reflexão filosófica pode ajudar na identificação dos limites ou entraves aos nossos desejos e na compreensão sobre o modo como lidamos com eles. A felicidade depende mais da maneira como nos relacionamos com esses limites e entraves do que, propriamente, da satisfação dos nossos desejos. Pode-se afirmar, sem medo de errar, que a história da Filosofia é marcada pela preocupação dos filósofos a respeito das condições dos seres humanos para o enfrentamento de seus sofrimentos, de suas frustrações, de suas inquietações e para a compreensão dos próprios limites. Grande parte da produção em Filosofia e em Psicologia ajuda os seres humanos a compreender que nem sempre desejo e necessidade andam juntos. No mundo contemporâneo, sob o efeito da publicidade e de todo o apelo da sociedade de consumo, somos cada vez mais influenciados a desejar o que não necessitamos ou a acreditar que necessitamos o que nos ensinam a desejar. Filósofos contemporâneos como Jean Baudrillard (1929-2007), Walter Benjamin (1892-1940), Friedrich Nietzsche (1844-1900) e Jean-Paul Sartre (1905-1980) produziram reflexões sobre temas como consumo, prazer, convívio social e limites à felicidade humana. São autores que problematizam o tema felicidade no âmbito da Filosofia”. Após a leitura do texto "Entraves à felicidade", respondam às seguintes questões: 1. No plano biológico, quais são os desejos, as necessidades e os entraves relativos ao nosso corpo? 2. No plano psicológico/emocional, quais são os desejos, as necessidades e os entraves? 3. No plano social, quais são os desejos, as necessidades e os entraves? Após responder as questões, façam uma síntese do exercício atentando para a importância de compreender que muitos de nossos desejos são primordiais, relativos à nossa condição biológica ou psicológica, mas muitos deles são associados aos valores de cada momento histórico e, se em um passado não muito distante éramos capazes de viver sem telefones celulares, atualmente esse objeto é tido por uma grande maioria das pessoas como de extrema necessidade, além de se constituir num sonho de consumo de muita gente. De maneira geral, na nossa sociedade, associamos a felicidade à prosperidade econômica como crescimento constante de consumo de bens ou como adoção de um padrão de vida e um comportamento que nos conduziria para a felicidade. Mas será que a nossa felicidade pode ser resumida a um consumo sempre crescente, à adoção de uma imagem ou a um padrão de comportamento idealizado? Para refletir sobre o assunto, sugerimos a leitura do trecho que segue. O hedonismo moderno: uma arma trágica de dois gumes Indubitavelmente, vivemos em uma época na qual a promessa de felicidade [...] estaria no final da trilha de um comportamento que chamaríamos de hedonista. O hedonismo não é invenção moderna. E pode ter tido, ao longo da história, várias versões. [...] Em termos genéricos, poderíamos dizer que o hedonismo que se nos apresenta hoje em dia propõe extrair da liberdade individual o máximo de prazer disponível, o que seria o equivalente a ser feliz. Emprego o termo disponível para sinalizar a possibilidade de consumo de todas as benesses que o progresso tecnológico nos põe à disposição. Quanto mais pudermos consumir, mais seremos felizes. Essa é a promessa embutida na crença propagada pelos meios de produção. [...] Essa proposta hedonista se insere dentro de uma arquitetura de "razões", algumas explícitas, outras implícitas. É importante não só assinalá-las, como discutir suas consequências. A primeira delas aponta não apenas que podemos ser felizes, mas que devemos ser felizes. [...] A segunda "razão" formula, generosamente, em termos explícitos, as trilhas e as atitudes que todas as pessoas devem adotar para chegarem "lá". O que fica implícito (ou oculto) na proposta é a contradição nela embutida: que a decantada liberdade individual na escolha dos prazeres fica tolhida, quando não negada, pelo fato de se imporem às pessoas padrões de consecução de prazer. Exemplos: a mulher feliz é a que...; o homem de sucesso é aquele que...; [...] A obrigação de ser feliz é também condicionada à posse de um corpo cujas características estéticas estão determinadas, a priori, por padrões preestabelecidos. Quem não se enquadrar nesse padrão, trate de alcançá-lo, senão... [...] Estamos aqui em plena vigência de outra contradição: os mesmos modelos ofertados para se alcançar uma felicidade padronizada, idealizada, acabam arrastando a pessoa para frustração, culpa e sensação de exclusão do paraíso. [...] 1. E possível a felicidade sem a aquisição de determinados padrões de consumo e de comportamento? 2. De que forma somos levados a idealizar e adotar padrões de consumo, de vida e comportamento? No próximo texto, veremos outro tema fundamental que se desdobra da reflexão sobre felicidade: a morte. Como nos relacionamos com essa que é a única certeza da existência de todos os seres vivos? Para tanto, inicialmente leiam o texto Morte, de Aguinaldo Pavão, que é professor de Filosofia da Universidade Estadual de Londrina. Morte Parece-me que o dia 2 de novembro reforça a necessidade em mini de pensar sobre a morte. Eu fico muito triste quando penso na minha morte. Por outro lado, é desconfortável a ideia de que poderia não morrer, de que poderia ser eterno. Que graça teria a vida se nós não morrêssemos? A ânsia de viver, de gozar a vida, parece só ter sentido porque sabemos que vamos morrer. Sei que esta é uma filosofia meio barata (contudo, não esqueçamos que, no fundo, a filosofia é apenas uma sofisticação do senso comum). De fato, não precisamos de profundidade para fazer essa reflexão desconcertante. A morte é desesperadora. A morte é o fim das leituras, o fim das viagens, o fim do amor, o fim do sexo, o fim da música, o fim de tudo. Todavia, é ótimo que haja morte. Nós temos de assumir nossa mortalidade. Quanto mais assumirmos isso, mais poderemos degustar a vida. Precisamos lembrar de Aquiles, o herói grego: os deuses é que devem invejar os mortais, pois é a nossa condição de mortais que permite sentir a importância de cada momento. Mas talvez haja vida após a morte. Contudo, se me fosse dada a oportunidade, na hipótese de haver vida após a morte, eu gostaria de dizer que renuncio à eternidade. Eu devolveria o bilhete. A eternidade me cansa. Seria um tédio insuportável viver para sempre. Só a ideia já me cansa. E eu quero ter um corpo, e parece difícil a ideia de que meu corpo também sobreviverá. Ele ficará imperecível, insuscetível à ação do tempo? Se eu não quero aqui a eternidade, lá eu também não quero. Porque se eu não a desejo aqui, não vejo razões para mudar de ideia lá. Se eu fosse um outro eu, talvez a quisesse, mas aí já não seria mais eu, e não sendo mais eu, não saberia como esse outro eu agiria, como ele sentiria as coisas. Se houvesse vida após a morte, eu seria condenado à eternidade? Ao que parece sim, embora isso não seja necessário. Mas se fosse eterno, isto é, se minha vida pós-morte implicasse uma duração infinita no tempo, eu mais perderia do que ganha-ria. Ora, eu não escolho nascer, mas posso escolher me matar. Se fosse eterno não teria essa liberdade. PAVÃO, Aguinaldo. Morte. Disponível em: .Acesso em: 2 maio 2013. FELICIDADE E COMPROMISSO: CONSIGO E COM O OUTRO Leitura e Análise de Texto O bem e o mal dependem, sobretudo, da ideia que fazemos deles “Os homens, diz uma antiga sentença grega, são atormentados pelas opiniões que têm sobre as coisas, não pelas próprias coisas. Seria de fato um importante passo, para o alívio de nossa miserável condição humana, se pudéssemos estabelecer a verdade desta opinião em todas as situações. Pois se é apenas o nosso julgamento que permite que os males nos adentrem, parece que poderíamos desprezá-los ou transformá-los em bem. Se as coisas se rendem à nossa vontade, por que não tratá-las como dono ou acomodá-las em nosso favor? Se o que chamamos de “mal” ou de “tormento” não é nem mal nem tormento em si, mas é a nossa imaginação que lhe atribui este caráter, temos o poder de mudá-lo. E já que temos a escolha, é completamente tolo atermo-nos à opção que nos é mais incômoda e darmos às doenças, à indigência e ao desprezo um gosto amargo e mau, quando podemos lhes dar um gosto bom e, o destino nos fornecendo simplesmente a matéria, nos cabe lhe dar forma.” MONTAIGNE, Michel de. Les Essais, Livre I. Chapitre XL. Tradução Renée Barata Zicman. Disponível em francês em: . Acesso em: 23 abr. 2010. 1. Qual a diferença entre aceitar uma frustração, uma perda, sem se deixar derrotar psicologicamente por ela, e o conformismo, ou seja, a desistência de lutar pelo que se quer? A frustração produzida pela morte de uma pessoa querida não pode ser incluída nesse questionamento. Trata-se de uma situação na qual a sabedoria de aceitação de nossa natureza mortal pode ajudar no enfrentamento desse tipo de perda em especial. 2. Qual a diferença entre não ser escravo do desejo e lutar pelo que se quer? 3. Qual a diferença entre não se ver como centro do mundo e a baixa autoestima? 4. Qual a diferença entre respeitar as próprias emoções e deixar-se levar por elas? 5. O que as frases a seguir sugerem em relação à felicidade? a) Na vida, como na selva, vale a lei do mais forte. Os fracos não sobrevivem. b) O mundo é dos espertos. c) O importante é levar vantagem em tudo. 6. Analise e comente a letra da música a seguir, associando-a ao tema felicidade. Cada um por si Renato Martins Todo mundo sabe: pra nascer tem que ter [sorte E quem tem sorte escapa até mesmo da[morte É, todo mundo sabe, de um ou de outro [jeito, O cada um por si é o que vai ser Todo mundo ouviu e viu pela tevê O golpe que me deram Eu dei outro em você E assim as coisas vão Infelizmente pra nós dois O cada um por si é que é a lei Eu sei Fraternidade só existe é em mensagens de [cartão-postal Eu não queria que o mundo fosse assim Infelizmente não depende só de mim Parabéns pra mim, a vitória está comigo O sucesso vem pr’aquele que é seu próprio [e melhor amigo E a humanidade onde entra nisso? O cada um por si é que é a lei E não fui eu que quis assim Eu tentei ser diferente Mas quanto mais tentava Menos era respeitado por toda a gente E pensei Se o cada um por si é que é legal É o que vai ser Eu sei Fraternidade só existe é em mensagens de [cartão-postal Eu não queria que o mundo fosse assim Infelizmente não depende só de mim Fraternidade só existe é em mensagens de [cartão-postal Eu não queria que o mundo fosse assim Infelizmente não depende só de mim Cada um por si é o que vai ser Cada um por si é que é a lei Cada um por si é o que vai ser Cada um por si é que é a lei © Deck Produções Artísticas Ltda. Leitura e Análise de Texto A dimensão social da felicidade Ao contrário do que muitos pensam, a realização da felicidade não depende apenas da vontade e da atitude de cada pessoa, por mais esforçada e determinada que ela seja. Isso porque ninguém é autossuficiente para satisfazer suas necessidades subjetivas e objetivas. Como constatamos em anteriormente, o homem é um animal político, isto é, um ser que, pela sua própria natureza, só existe em sociedade na convivência com seus semelhantes, havendo entre todos uma relação de dependência recíproca no atendimento a essas necessidades. Do ponto de vista objetivo, por exemplo, precisamos de uma infinidade de coisas que são fruto do trabalho de outras pessoas: alimentos, roupas, calçados, diversos utensílios do nosso dia a dia, livros, cadernos, lápis, canetas, transporte, atendimento médico, odontológico e psicológico, segurança, espaços para lazer e prática esportiva etc. A lista não teria fim. Na realidade, como diz o professor Dalmo de Abreu Dallari, a vida em sociedade é uma constante “troca de bens e serviços”1, de modo que cada pessoa depende do trabalho das demais. Ora, se todas essas coisas são necessárias à felicidade, então ela depende da ação coletiva de um número imensurável de pessoas que produzem esses bens e prestam esses serviços. O mesmo vale para as necessidades subjetivas. Todos precisamos de amor, carinho, respeito, afeição, consideração, atenção, ternura, cordialidade, hospitalidade, cuidado, prazer, conhecimento, liberdade, espaço para pensar, criar, sentir, crer, enfim, de uma infinidade de elementos relacionados à nossa vida interior, os quais somos incapazes de obter sozinhos. Também aqui precisamos da colaboração das pessoas a nossa volta. A felicidade, por conseguinte, tanto no seu aspecto objetivo quanto no subjetivo, é sempre produto de uma ação coletiva dos membros de uma dada sociedade. Em outras palavras, podemos dizer que a felicidade é socialmente produzida e, portanto, tem um caráter social. Afinal, como diz a letra de uma conhecida canção, “é impossível ser feliz sozinho”. Por essa razão, não faz sentido buscá-la no individualismo ou no egoísmo, isto é, agindo de acordo com nossos interesses particulares, procurando tirar vantagem das diversas situações, sem nos preocuparmos com as consequências de nossos atos. Ocorre, porém, que egoísmo e individualismo são justamente os valores mais estimula dos por nossa sociedade quando o assunto é a busca da felicidade. Aprendemos desde muito cedo que o sucesso ou o fracasso na escola, na profissão, na vida dependem de nosso esforço individual; que no mundo prevalecem as leis do “cada um pra si” ou do “salve-se quem puder”; que precisamos nos preparar para enfrentar a grande competitividade do vestibular e, depois dele, do mercado de trabalho; que, uma vez empregados, devemos disputar com nossos colegas pela ascensão na carreira, por status e poder; que ao nosso lado há não um amigo ou um companheiro, mas um adversário, um concorrente, alguém que para nós representa uma ameaça. Se ele desistir, tanto melhor, pois nossas chances de sucesso serão maiores. Aqui, aliás, encontramos outro sentido que nos possibilita dizer que a felicidade tem um caráter social: em grande parte, é a sociedade que produz dela a imagem que assimilamos e que transformamos em objeto de nossos maiores anseios, muitas vezes sem questionar. Numa sociedade em que as pessoas são mais valorizadas e reconhecidas pelo que possuem do que pelo que são, a felicidade tende a ser identificada com a posse de bens materiais e de dinheiro, que é o meio pelo qual se adquirem esses bens. Por esse raciocínio, quanto mais posses tiver uma pessoa, mais feliz ela será. Quanto menos posses, mais infeliz. Assim, esse passa a ser o ideal dominante de felicidade que vai mobilizar o desejo e os sonhos da maioria das pessoas. Ocorre que, em se tratando de uma sociedade com profundas desigualdades de classe e na qual o ter mais de alguns se viabiliza à custa do ter menos ou do não ter dos demais, esse ideal de felicidade se revela, na prática, inatingível para a grande maioria das pessoas (os pobres) e privilégio de poucos (dos ricos). Por outro lado, numa sociedade organizada de maneira diferente, na qual as pessoas fossem mais valorizadas pelo que são do que pelo que possuem, certamente prevaleceria outro ideal de felicidade. A construção de um novo modelo de sociedade, que proporcione condições mais igualitárias de acesso à felicidade, é, sem dúvida, responsabilidade de todos nós. Mas, enquanto isso não se viabiliza plenamente, talvez possamos nos empenhar em mudar desde já alguns valores, rejeitando a imposição do individualismo e do egoísmo e procurando construir relações mais ancoradas na amizade, na solidariedade e na cooperação, antecipando aqui e agora, na medida do possível, a utopia de uma sociedade feliz. 1. O que significa dizer que ninguém é capaz de satisfazer suas necessidades subjetivas e objetivas? 2. Em que sentido se pode afirmar que a felicidade tem um caráter social? 3. Em que se baseia a afirmação de que não tem lógica buscar a felicidade no individualismo e no egoísmo? 4. Na sociedade em que vivemos, é possível superar a influência do egoísmo e do individualismo? Como? 5. Leitura e Análise de Texto A dimensão política da felicidade Vimos que, pela própria natureza política do ser humano, a felicidade possui um caráter social, no sentido de que as condições objetivas e subjetivas necessárias à sua realização são coletivamente produzidas. Por sua vez, a existência ou não dessas condições, bem como o número de pessoas que terão acesso a elas, depende, em grande parte, das políticas governamentais implementadas nas diversas áreas da administração pública. Temos, por exemplo, políticas para a saúde, a educação, a habitação, o transporte, a segurança, o emprego, os direitos humanos, as mulheres, os negros, os povos indígenas, os portadores de necessidades especiais, o meio ambiente, o emprego e muitas outras. Ora, se a presença de certas condições necessárias à felicidade resulta de políticas governamentais, então podemos concluir que a felicidade ou a infelicidade da população depende, ao menos em parte, da ação dos governantes. Ocorre que, numa democracia, os que governam nas diversas instâncias (municipal, estadual e federal) são eleitos pelo voto direto dos cidadãos. Isso significa que, em alguma medida, todos os que votam (ou deixam de votar) são corresponsáveis por essas políticas e, por conseguinte, também pela realização ou não realização da felicidade da população. Eis a dimensão política, em sentido mais estrito, da felicidade. Daí a importância da participação política consciente, sobretudo em relação ao voto. Mais do que um direito, essa participação é também um dever de cada cidadão, pois dela derivam consequências que afetam a vida de toda a sociedade. No entanto, muitas pessoas ainda se recusam a participar politicamente, dizendo que não gostam ou não entendem de política e que preferem cuidar da própria vida, dos assuntos particulares. Muitos se negam a discutir questões políticas, temerosos das possíveis consequências do confronto de ideias. Justificam sua indiferença com o famoso ditado: “Política, religião e futebol não se discutem”. Outros, ainda, alegam que política é coisa suja, que todo político é corrupto e que, por isso, preferem permanecer distantes para não se contaminarem. Quem adota essa atitude está, na verdade, expressando uma consciência ingênua e alienada em relação à política. Isso porque, na prática, a abstenção política é impossível. Pelo simples fato de fazer parte de uma sociedade, sofremos as influências do contexto em que vivemos, como também exercemos influência sobre ele, mesmo sem perceber. Daí por que, como diz Dalmo de Abreu Dallari, não se podem separar radicalmente os interesses particulares dos interesses públicos. Posso, por exemplo, desistir de votar numa determinada eleição, por motivos particulares, mas essa minha atitude, somada às dos demais eleitores, não deixará de repercutir proporcionalmente no resultado eleitoral, assim como este não deixará de repercutir em minha vida privada. Além disso, abdicar da política é uma forma de apoiar as ações governamentais, o que também constitui uma atitude política que nada tem de neutralidade. Na verdade, o desinteresse do povo pela política só interessa a certos governantes, que o querem distante das decisões, para que possam favorecer os próprios interesses. Engana-se redondamente, portanto, quem acredita que pode permanecer alheio à política. A rigor, a participação política não é necessariamente algo que se faça por prazer (embora isso seja perfeitamente possível), mas por necessidade, pois, querendo ou não, participamos de um jeito ou de outro. Aliás, é bastante provável que, para muitos, ela não seja mesmo prazerosa. Mas aqui talvez valha o ensinamento de Epicuro de que, às vezes, é preferível aceitar certos sofrimentos (como o fazer algo de que não se gosta), se este for o caminho para se obter um prazer maior (por exemplo, condições sociais mais favoráveis à felicidade de todos). Do contrário, nossa omissão pode resultar em grande infelicidade, inclusive para nós mesmos. Há várias formas de participação política. Votar conscientemente é apenas uma delas. Na verdade, é o mínimo que se pode exigir de um cidadão numa democracia. E, para que o voto seja de fato consciente, é preciso que o eleitor esteja bem informado sobre as atribuições dos cargos em disputa, as características dos candidatos e partidos, os principais problemas que deverão ser enfrentados pelos eleitos e as possíveis soluções para eles. Além disso, o eleitor consciente deve agir com liberdade e responsabilidade social, não aceitando jamais vender ou trocar o seu voto nem oferecê-lo em retribuição a algum favor ou para agradar alguém. Além do voto, há outras formas de participação política: a individual e a coletiva. Do ponto de vista individual, há uma enorme gama de ações que cada um pode praticar. Por exemplo: dialogar em casa, na escola, no trabalho, ou em qualquer outro lugar sobre os problemas da cidade, do Estado ou do país, buscando adquirir e também despertar nos outros uma consciência mais crítica sobre tais problemas; escrever em jornais, revistas e outros meios de comunicação, denunciando situações de injustiça; enviar e-mails para as autoridades cobrando providências e seus compromissos de campanha; manter-se informado sobre a realidade do país, pela leitura de jornais e revistas; defender e pôr em prática no dia a dia valores como a solidariedade, o respeito e a cordialidade, como forma de combater o individualismo e o egoísmo reinantes; entre outras. Por outro lado, a participação coletiva do indivíduo ocorre por meio do envolvimento em partidos políticos, associações, organizações não governamentais, sindicatos, grêmios estudantis, movimentos, enfim, em qualquer agrupamento que tenha objetivos bem definidos. Vale lembrar que o grupo, sobretudo quando bem organizado, é sempre mais forte que o indivíduo. Muitas coisas exteriores a nós, que influem em nossa felicidade ou infelicidade, dependem direta ou indiretamente de nós e da forma como participamos politicamente. Nesse sentido, podemos dizer que a felicidade tem também uma natureza política que não pode ser desconsiderada. É evidente que as diversas formas de participação são muito facilitadas num regime democrático. Daí também a importância da democracia para a construção da felicidade. Reflexões sobre política 1. O que você entende por política? 2. Você tem algum tipo de participação política? Por quê? Em caso afirmativo, descreva-a. 3. O que você pensa do ditado: “Política, futebol e religião não se discutem”? Justifique sua resposta. 4. Em que sentido pode-se dizer que o desejo de abstenção política reflete uma consciência ingênua e alienada? Você concorda? Por quê? 5. O que significa a afirmação de que a felicidade tem uma dimensão política? Você concorda? Justifique. Lembrem-se a leitura é a senha para o acesso ao conhecimento Prof. Manoelito!!! Sejam felizes!!!

Nenhum comentário:

Postar um comentário