quinta-feira, 20 de outubro de 2016

A CONDIÇÃO HUMANA E A BANALIDADE DO MAL



O objetivo é abordar a condição humana e a banalidade do mal, com base no pensamento de Hannah Arendt. Os conceitos de labor, trabalho e ação têm o intuito de construir uma crítica à subjetividade meramente técnica ou banal, do ponto de vista existencial. As considerações que se seguem sobre as atividades fundamentais: labor, trabalho e ação, e o texto de Hannah Arendt sobre a condição humana, nos levam a refletir sobre o que estamos fazendo no mundo. O homem precisa buscar sustento para manter-se vivo, construir artifícios para tornar o mundo melhor e para isso ele precisa estar entre outros homens.

A condição humana nos remete às condições fundamentais para a existência do homem no mundo. São estas a natalidade, a mortalidade, a mundanidade e a pluralidade. Para viver como seres humanos, habitar o planeta e constituir o mundo, algumas atividades devem ser realizadas. Quais são elas? Qual é a finalidade dessas atividades? 
A banalidade do mal - O que vocês acham que vem a ser o mal? O mal sempre foi uma reflexão importante para a Filosofia. Para tentar compreendê-lo, Hannah Arendt orbita em torno da seguinte formulação: Como é possível que, no século XX, os homens convivam com um mal como o nazismo, por exemplo. Pensando nos campos de extermínio nazistas, que mataram milhões de pessoas por motivos banais, como entender que foram tão poucos os que a eles se opuseram.

Durante a Segunda Guerra Mundial, os prisioneiros eram escravizados, torturados e assassinados por não serem – conforme estabeleciam as normas nazistas – arianos, racistas e, em suma, nazistas. Conforme sua origem, religião, orientação sexual e postura política, o indivíduo era violentamente arrancado de sua casa, encarcerado e submetido a um penoso regime de trabalhos forçados.

No Caderno do Aluno, é apresentado um cartaz com os símbolos utilizados para identificação dos prisioneiros nos campos de extermínio nazistas, além de um quadro com seus respectivos significados, analise-os. Esses símbolos, além de marcar os indivíduos, tais símbolos indicavam o tipo de violência a eles destinada. Chamar Auschwitz ou Treblinka de campos de concentração acaba escondendo sua mórbida finalidade, que consistia em exterminar pessoas, e não em reuni-las em uma comunidade. 

Esses símbolos, em sua maioria, marcavam pessoas comuns, presas e condenadas sem julgamento justo. Podemos pensar que desaprovar uma forma de “justiça” que condena pessoas à morte por motivos religiosos, étnicos, por orientação sexual, e outras razões igualmente injustificáveis, não seja difícil. Contudo, Hannah Arendt foi além disso, mostrando que esse mal não estava apenas nos soldados assassinos ou em Hitler, mas em todos os que não usavam, para combatê-lo, sua faculdade mais sublime, que é o pensamento. A banalização do mal está, justamente, no fato de que as pessoas optam por não pensar criticamente e nada fazem para impedir o mal; elas fingem que acontecimentos relevantes para a sociedade não lhes dizem respeito, isto é, pensam apenas em si.

Foi assim que a filósofa interpretou o julgamento do oficial nazista Adolf Eichmann – ao fim do qual foi condenado à morte por crimes contra a humanidade. Na época, muitos o viram como a personificação do mal. Arendt, ao contrário, viu nele uma figura banal. Para ela, são as pessoas banais que se omitem ou fazem as piores atrocidades. O mal não é sedutor nem monstruoso, como a mitologia representa, mas banal, comum, ordinário. Eichmann não era um pivô, uma parte fundamental na engrenagem nazista, mas apenas uma peça, que poderia muito bem ser substituída por outra. Por ser peça de uma engrenagem, Eichmann apenas viveu a atividade do labor. Procurou apenas sobreviver, sem refletir sobre o modo como vivia. Sem aprofundar sua sobrevivência, apenas executou ordens, obedeceu e lucrou com isso, enquanto pôde. Mas suas ordens faziam parte de um sistema de destruição: matou crianças, mães, pais, jovens, idosos, sem questionar se aquilo era ou não um mal. Ou, se o fez, não assumiu outras dimensões da vida ativa, como o trabalho e a ação; trabalho, como construção de um mundo, e ação, como o que permite que esse mundo seja melhor.

Banalidade do mal na democracia - A “banalidade do mal” apontada por Hannah Arendt no caso Eichmann não pode ser entendida como um fato isolado, restrito aos eventos do nazismo. Na sua reflexão sobre a banalidade do mal, Arendt aponta para as fragilidades da moral no mundo contemporâneo, onde os mandamentos podem ser substituídos pelo seu contrário, dependendo do que convém no momento. Dessa forma, “Não matarás” pode ser facilmente abandonado por “matarás”; ou onde se lê, na Declaração Universal dos Direitos Humanos, “Toda pessoa tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal”, na prática podemos observar que nem toda pessoa tem direito à vida, à liberdade e à segurança; ou, ainda, onde se lê “Ninguém será submetido à tortura, nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante”, pode significar, em alguns contextos, que alguém pode ter a sua humanidade ignorada e, portanto, pode ser torturado e tratado com crueldade. A reflexão empreendida por Arendt nos leva a considerar que a banalidade do mal se faz presente quando nos comportamos de forma a ignorar os mandamentos morais, a reflexão ética relativa aos direitos humanos, justificando as ações mais terríveis como “brincadeira” ou “trote” ou como “medida necessária para manter a ordem”, ou, ainda, “porque as circunstâncias assim exigiam”, entre outras. Quando somos coniventes ou omissos com os processos de desumanização tendemos a deixar de reconhecer os “outros” como seres históricos, como seres de sentimentos e pertencimentos. Alimentamos o mal banal sempre que nos comportamos sem pensar nas regras e nas consequências da exceção da regra, sempre que ignoramos a necessidade de reflexão ética.

Como encarar as pessoas que votam em políticos corruptos por causa da propaganda, ignorando os fundamentos críticos da vida política (ação)? Ora, a corrupção começa no instante em que as pessoas não se importam com a política. Cada indivíduo que não procura entender a política, escondendo-se atrás de desculpas, é culpado pela corrupção. Como a corrupção mata?

Com a diminuição do número de hospitais, centros de alimentação, casas de acolhida para adolescentes e crianças; com escolas mal aparelhadas, professores mal pagos, empresas que adulteram remédios e alimentos; com o aumento da falta de segurança nas ruas, do número de policiais mal remunerados e correndo risco de morrer; com cadeias superlotadas que não recuperam ninguém, entre outros. Enfim, se alguém morre por algum dos efeitos do desvio de verbas, o eleitor também é responsável por essa morte. Para quem banaliza o mal, é fácil culpar apenas os políticos. Mas é preciso pensar também em como cada um age. Muitos políticos envolvidos em sucessivos escândalos continuam a ganhar eleições – eis uma banalidade do mal: votar sem analisar, dar o voto a pessoas suspeitas.

Questões:

1.      Quais são as condições fundamentais para a existência do homem no mundo?

2.      Explique cada uma das atividades fundamentais do homem.

3.      Por que a condição humana não deve ser confundida com a natureza humana?

4.      Qual o problema do homem moderno, segundo Hannah Arendt?

5.      O que é o último estágio de uma sociedade de operários?

6.      Qual o problema das modernas teorias do behaviorismo?

7.      Considerando a banalização do mal tão presente no cotidiano, sobretudo nos grandes centros urbanos, elaborem uma redação comentando um ou dois exemplos dessa banalização.

8.      Para aprofundar a questão da banalização do mal, pesquisem em jornais e na televisão informações que comprovem a afirmação de Hannah Arendt de que o predomínio do labor, da alienação e da falta de comprometimento das pessoas em geral impede o agir solidário, voltado para a realização da democracia com igualdade de direitos e de acesso aos bens materiais e morais.

Prof. Manoelito

THE END

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