segunda-feira, 28 de outubro de 2013

3ª SÉRIE - CONTEÚDOS PARA AVALIAÇÃO (1) 4º - BIMESTRE

EE BATISTA RENZI
DISCIPLINA: FILOSOFIA
ÁREA: CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
ETAPA DA EDUCAÇÃO BÁSICA: ENSINO MÉDIO
3ª SÉRIE – VOLUME 4 - 4º BIMESTRE
TEMAS E CONTEÚDOS: FILOSOFIA E LITERATURA -  A FELICIDADE SEGUNDO O ESTOICISMO E O EPICURISMO

Prof. Manoelito
Este texto apresenta dois temas centrais: a relação entre Filosofia e Literatura e as indicações que a Filosofia tem feito, ao longo do tempo, acerca da felicidade.
Dessa maneira, você terá oportunidade de comparar e relacionar a produção literária com a filosófica e será convidado a pensar sobre as diferentes formas de produção de um discurso filosófico. Enfim, um exercício semelhante ao que você fez ao estabelecer relações entre a reflexão filosófica e a Ciência nas atividades propostas anteriormente.
O tema da felicidade será pensado não apenas por meio de tradição filosófica, a partir de teorias como o epicurismo e o estoicismo, mas também pela experiência vivencial.
Com a discussão desses temas, espera-se contribuir para que você se sinta mais preparado para ler, interpretar e dar significado às diferentes produções humanas.
E também para efetivar novas formas de experimentar e buscar as condições éticas para viver e conviver, formas estas que permitam a conquista da felicidade nas suas diferentes dimensões.
Este texto propõe o estudo de dois temas centrais: a relação entre Filosofia e Literatura e entre Filosofia e Felicidade.
FILOSOFIA E LITERATURA
Nas primeiras páginas, você vai entrar em contato com aproximações e diferenças entre Filosofia e Literatura e, assim, conhecer um pouco mais as características do discurso filosófico.
Deus triste – o modo de dizer da Filosofia
Leitura e Análise de Texto
Deus triste
Deus é triste.
Domingo descobri que Deus é triste pela semana afora e além do tempo.
A solidão de Deus é incomparável.
Deus não está diante de Deus.
Está sempre em si mesmo e cobre tudo [tristinfinitamente.
A tristeza de Deus é como Deus: eterna.
Deus criou triste.
Outra fonte não tem a tristeza do homem.
ANDRADE, Carlos Drummond de. Deus é triste In: As impurezas do branco. Rio de Janeiro: Record. Carlos Drummond de Andrade © Graña Drummond. <http://www.carlosdrummond. com.br>.
1 - Leia com atenção o poema e, em folha à parte, escreva um breve texto filosófico que contemple as ideias nele presentes. O desafio é você elaborar um texto de Filosofia sobre o tema do poema.
2 - Atividade oral: compare o seu texto com os dos colegas de seu grupo. Destaque diferenças e semelhanças e verifique se conseguiram aproximar-se de um modo de escrever da Filosofia.
R. Argumentação reflexiva; esforço de identificar causas dos fenômenos; questionamento aprofundado e radical sobre diversos temas da realidade sociocultural e também sobre processos de construção de conhecimentos.
3 - Atividade escrita: compare agora os textos de Filosofia escritos por você com o poema. Registre as diferenças em folha à parte.
R. É preciso que sejam destacadas na comparação marcas próprias do poema e do texto do aluno, o qual deve chegar próximo à construção de texto filosófico, com argumentos reflexivos e afirmações que explicitem a busca de respostas para cada questionamento.

Leitura e Análise de Texto
A leitura dos textos filosóficos
“Queremos aqui caracterizar aquelas produções textuais que classificamos como textos de Filosofia. Num romance, como Madame Bovary, os personagens são seres humanos, reais ou fictícios, como Ema Bovary, Monsieur Homais, o Doctor Bovary etc. No texto filosófico, os personagens são as teses defendidas. Essas teses estão apoiadas sobre argumentos. O texto filosófico é um texto de tipo argumentativo. Mas essa é ainda uma caracterização muito geral, pois um ensaio sociológico, um editorial de jornal, um sermão, são também textos argumentativos. De maneira que essa descrição é insuficiente, a menos que precisemos, com mais exatidão, quais são os traços específicos da argumentação filosófica. O que dificulta ir além daquela caracterização muito geral é o fato de o discurso filosófico manifestar-se através de uma grande variedade de gêneros textuais diferentes2.
Antes de Sócrates, a Filosofia usou como forma de expressão a poesia, e ainda no período romano-helenístico encontramos De rerum natura, de Lucrécio, como exemplo de poema filosófico. Platão e também Aristóteles usaram o diálogo como veículo para expressar suas ideias. O diálogo filosófico está presente até na Idade Moderna, lembremos, por exemplo, o Diálogo sobre a conexão entre as ideias e as palavras, de Leibniz, e os Três diálogos entre Hilas e Filonius, de Berkeley. As cartas têm servido como instrumento de expressão de ideias filosóficas. Podemos citar exemplos célebres como a correspondência entre Leibniz e Clark sobre a natureza do espaço e do tempo, a correspondência entre Leibniz e Arnauld sobre a noção de substância, as cartas a Lucílio de Sêneca etc. A autobiografia tem sido usada para expressar concepções filosóficas, assim são As confissões, de Santo Agostinho, e as de Rousseau. Os filósofos também se apropriaram do gênero apologético e, como mostra disso, encontramos a Apologia de Sócrates, de Platão, A cidade de Deus, de Santo Agostinho, e Os pensamentos, de Pascal. O tratado científico foi introduzido por Aristóteles como gênero textual para a expressão de filosofemas. Existem também textos filosóficos formados a partir de aforismos, como o Tractatus, de Wittgenstein. Em face dessa grande variedade de gêneros textuais usados pelos filósofos, perguntamo-nos sobre a justificativa para colocar produções pertencentes a gêneros tão diferentes sob o rótulo comum de texto filosófico.
Podemos, então, afirmar o seguinte: parece difícil apontar a priori um conjunto de marcas necessárias e suficientes que outorguem uma especificidade ao texto filosófico.
Não podemos definir o texto filosófico por meio de uma cláusula do tipo ‘texto filosófico é ABC e somente aquilo que seja ABC... poderá ser chamado de texto filosófico’. No entanto, pensamos que, malgrado a impossibilidade de definir diretamente o que é um texto filosófico, podemos obter luz sobre o nosso tema, comparando o discurso filosófico com outros tipos de discursos: o científico, o jurídico, o teológico e o literário.
Diferenciar a Filosofia da Literatura é mais difícil, e tememos que qualquer critério de demarcação que seja dado entre as duas disciplinas possa ser sempre impugnado.
Platão considerava que a Poesia busca comover e que a Filosofia procura a verdade3. O bom poeta, segundo ele, é aquele que sabe provocar em nós as emoções apropriadas.
Aristóteles considerava o discurso poético como aquele que representa coisas fictícias como possíveis, enquanto a Filosofia é um discurso que expressa o que é, da forma que ele é. Ou, dito de outra forma, o discurso filosófico descreve como é o que existe4.
Hegel considerava que a arte representa o universal sob a forma da sensibilidade, ao passo que a Filosofia representa o universal sob a forma de conceito5.
Agamêmnon representa a hybris ou desmesura comum a vários governantes;
Antígona e Creonte, o conflito entre a razão de Estado e a piedade familiar;
Dom Quixote, o espírito sonhador e aventureiro. Personagens da literatura representam conceitos ou situações universais. Então, baseados naqueles três filósofos, podemos dizer que o discurso literário se diferencia do filosófico pelo fato que: I) ele busca suscitar em nós emoções; II) ele tem um caráter fictício; III) ele representa situações universais (o universal) sob a forma de um conjunto de representações individuais.”
Em grupo, discuta:
Destaque uma diferença apontada no texto entre Literatura e Filosofia.
Das diferenças apontadas no texto, uma é o caráter fictício da literatura, lembrando-se de que filósofos podem fazer uso de situações fictícias para construir argumentação. Outra das diferenças é que o discurso da literatura busca provocar emoções, e o da filosofia suscita reflexões.
Segundo o texto, por que é difícil distinguir a diferença entre Filosofia e Literatura? A dificuldade reside justamente no fato de que a literatura também provoca reflexões, e o texto filosófico muitas vezes faz uso de narrativas fictícias para seus argumentos.
Jean-Paul Sartre (1905-1980) foi um filósofo que fez da literatura um meio de expressão para seu pensamento filosófico. Ele escreveu o romance A náusea, de 1938, e também uma trilogia de romances: A idade da razão, de 1945, Sursis, de 1947, e Com a morte na alma, de 1949. Outro filósofo que escolheu a literatura para expor seu pensamento educacional foi Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) em sua obra ficcional Emílio ou Da Educação, de 1762.
PESQUISA INDIVIDUAL
Pesquise outros filósofos que se expressaram por meio da literatura e registre em folha à parte o nome dos filósofos e suas principais obras literárias.
A FELICIDADE SEGUNDO O ESTOICISMO E O EPICURISMO
Nestes textos, serão analisadas duas teorias da história da Filosofia que ajudam a pensar as questões da felicidade. Por meio de leituras e reflexões você vai compreender essas teorias.
Reunido com seus colegas, responda:
1. O que é felicidade para você? Apresente uma definição.
2. O que é preciso para ser feliz no mundo de hoje?
3. E quanto a você, considera-se feliz? Por quê?
4. As frases a seguir traduzem pensamentos do senso comum a respeito da felicidade. Comente-as, posicionando-se em relação a elas e justificando seus argumentos.
a) Felicidade não existe. Só existem momentos felizes.
b) O dinheiro não traz felicidade.
c) A felicidade está dentro de cada um de nós.
Leitura e Análise de Texto
A felicidade como tema da Filosofia
Se há algo nesta vida que todos, sem exceção, desejamos, sem dúvida, é ser feliz.
Quem nunca se perguntou: O que é a felicidade? O que é preciso para alcançá-la? Ela existe realmente, ou podemos ter apenas momentos felizes?
Se procurarmos no dicionário, veremos que a felicidade é identificada como o “estado de uma consciência plenamente satisfeita; satisfação, contentamento, bem-estar”.
Mas será que basta para ser feliz satisfazer a consciência? O “bem-estar” a que se refere a definição acima não implica, também, outros níveis de satisfação, como, por exemplo, a das condições materiais básicas, necessárias a uma vida digna e confortável? O Dicionário Básico de Filosofia parece ampliar um pouco a noção de felicidade, concebendo-a como: “Estado de satisfação plena e global de todas as tendências humanas”. Como, porém, atingir tal grau de satisfação? Isso é possível?
Desse modo, a questão da felicidade não é tão simples como à primeira vista pode parecer. Enfrentá-la exige reflexão cuidadosa, sistemática, profunda e crítica, ou seja, precisa da ajuda da filosofia. E, de fato, ao longo da história da Filosofia ela foi objeto da preocupação de inúmeros pensadores, que, instigados por questões como as enunciadas acima, se aventuraram a apontar alguns caminhos que, na visão deles, poderiam levar à felicidade.
Nestes textos, vamos estudar duas correntes filosóficas que se ocuparam desse tema – o estoicismo e o epicurismo – e que surgiram em um mesmo momento histórico: o período romano-helenístico. Elas foram escolhidas em virtude de estarem entre as que exerceram e continuam a exercer grande influência sobre nossa cultura, contribuindo significativamente para a formação das ideias que temos acerca da felicidade. Para compreendê-las melhor, porém, é importante recordar brevemente o que foi esse período histórico.
Tradicionalmente, o helenismo foi o processo de fusão da cultura grega com a dos povos orientais, com predomínio da primeira sobre a última, fusão esta propiciada pelas conquistas de Alexandre Magno. Esse processo teve início com a tomada da Grécia pela Macedônia, no século IV a.C., marcando o fim da época clássica.
Do ponto de vista político, a principal consequência da invasão macedônica foi a dissolução da pólis, isto é, da cidade-Estado grega, que, pouco a pouco, foi perdendo sua autonomia. Antigas instituições, como a assembleia dos cidadãos e a democracia ateniense, deixaram de existir. Não havia mais espaço para a participação ativa dos cidadãos nas decisões mais importantes da vida da população. A rigor, não havia mais cidadãos, no sentido pleno da palavra, mas apenas “súditos” de um monarca estrangeiro. As cidades outrora soberanas eram, agora, subjugadas por uma potência invasora.
No século II a.C. foi a vez de Roma conquistar a Grécia, transformando-a em província do Império Romano e subtraindo-lhe definitivamente a liberdade.
Nesse contexto tumultuado, de decadência da pólis e dos valores políticos e morais tradicionais, de perda da liberdade, de sincretismo e de conflitos culturais causados pelo contato com outros povos de tradições e crenças diferentes, de insegurança constante provocada pela dominação estrangeira, de medo da morte iminente, enfim, neste ambiente de crise generalizada, era natural que a Filosofia também sofresse significativas transformações, mudando o foco de suas preocupações.
De fato, no período clássico a política era um dos temas centrais da reflexão filosófica.
Basta lembrar a importância fundamental que ela tivera para Sócrates, Platão e Aristóteles, que se ocuparam de questões de natureza essencialmente política, tais como: “Qual a melhor forma de governo?”; “O que é uma cidade justa?”; “Quais as virtudes que devem prevalecer na pólis?”; “Como deve ser a educação dos cidadãos?”; “Que papel cumprem as leis?” No helenismo, por outro lado, os assuntos políticos são postos de lado, cedendo lugar às questões da vida privada e interior de cada indivíduo, especialmente aos problemas morais. Agora, o que se espera da Filosofia é que ela aponte caminhos (por exemplo, por meio da indicação de regras morais práticas) para a eliminação do sofrimento humano e para a conquista da felicidade, ambos, sofrimento e felicidade, entendidos como problemas meramente individuais, subjetivos.
Assim, a felicidade passa a ser um tema central da Filosofia, como resultado das condições impostas pela nova realidade social, política e cultural vivida pelos gregos naquele momento histórico.

Para refletir:
1. Como se pode explicar a mudança de eixo que ocorre com o helenismo?
2. Você considera que a Filosofia pode contribuir para o enfrentamento do problema da felicidade?                   Exercício
O fragmento a seguir é conhecido como Oração da serenidade. Dialogando com seus colegas, analise-o cuidadosamente e responda, individualmente, às questões em seu caderno.
“Concede-me, Senhor, a serenidade necessária para aceitar as coisas que não posso modificar, coragem para modificar as que eu posso e sabedoria para distinguir umas das outras.” Frase atribuída a Reinhold Niebuhr.
1. Há coisas que não podemos modificar e há coisas que podemos? Quais são elas?
2. Como podemos distinguir umas das outras?
3. O que significa aceitar com serenidade as coisas que não podemos modificar?
Leitura e Análise de Texto
O estoicismo e a felicidade como resignação
O nome estoicismo vem do termo grego stoa, que significa “pórtico”. Isso porque Zenão de Cício, fundador dessa escola filosófica, costumava ensinar nas proximidades do Pórtico de Poikilé (o qual fora ornamentado pelo pintor Polignoto), em Atenas.
Trata-se de uma corrente de pensamento que se estendeu do século IV a.C. ao século II d.C., e que repercute até os dias atuais.
Deixando de lado algumas diferenças entre os pensadores do estoicismo, podemos dizer que, de modo geral, para os estóicos existe uma Razão Divina (o Logos, ou Deus) que rege todo o universo, imprimindo-lhe uma ordem necessária (isto é, que não pode ser de outro jeito) e perfeita. Este Logos, ou Deus, entretanto, não é um ser pessoal e transcendente que existiria em algum lugar fora do mundo e de onde exerceria seu governo sobre a natureza e os seres humanos. Antes, trata-se de um Deus imanente, ou seja, inseparavelmente integrado ao mundo físico e material. Daí a ideia de que Deus está em tudo, Deus é tudo. É a doutrina do panteísmo, segundo a qual Deus e o universo são concebidos como realidades intrinsecamente entrelaçadas ou mesmo como “uma única realidade integrada”.
Ora, se a ordem do universo é regida por um Deus imanente, e se esse Deus é identificado com o Logos, isto é, com a Razão, pode-se concluir que há no universo (repleto do Deus-Logos) uma ordem racional necessária e perfeita. Em outras palavras, as coisas são (e não poderiam deixar de ser) como a Razão Divina quer que elas sejam. Por isso, elas são precisamente como devem ser e como é bom que sejam. Se um determinado acontecimento – por exemplo, uma doença –, visto isoladamente, parecer sinal de imperfeição ou irracionalidade, tomado em sua articulação com o todo, veremos que, na realidade, contribui para a realização da perfeição desse todo.
Há, portanto, no estoicismo certa noção de Providência Divina, embora não no sentido de uma providência transcendente, praticada por um Deus pessoal, como no Cristianismo, por exemplo. A providência dos estóicos assemelha-se mais à ideia de Destino, no sentido de que, se tudo deriva do Logos Divino, então tudo é necessário, ou seja, tudo é como deve ser, sem nenhuma possibilidade de que seja de outro jeito. E é bom que seja assim, visto que a origem, em última instância, está em Deus, na Razão Divina.
Mas, se tudo é necessário, como fica a liberdade humana? Para os estoicos, a verdadeira liberdade, aquela praticada pelos sábios, consiste em adequar a vontade ao Destino, desejando aquilo que ele prepara para cada um. Afinal, se o destino é obra da Providência Divina e se Deus é o Logos, então desejar o que o Destino traz é o mesmo que se deixar guiar pela Razão Divina. E isso é sabedoria.
Essa é a chave para a felicidade, segundo o estoicismo. Se desejarmos algo contrário ao nosso destino e que, portanto, não poderemos alcançar, certamente ficaremos frustrados e infelizes. Por outro lado, se conformarmos nossa vontade ao Destino, desejando apenas o que efetivamente está ao nosso alcance, nossas chances de felicidade serão muito maiores.
A felicidade, para o estoicismo, consiste também em buscar o bem, isto é, a virtude, e evitar o mal, ou seja, o vício. Bem e mal, portanto, são entendidos num sentido puramente moral. As coisas relativas ao corpo, independentemente de serem nocivas ou saudáveis, não são em si boas nem más, mas indiferentes. Como explica Zenão: “Os entes dividem-se em bons, maus e indiferentes. Bons (os bens) são os seguintes: inteligência, temperança, justiça, fortaleza e tudo aquilo que é virtude ou participa da virtude. Maus (ou males) são os seguintes: idiotice, dissolução, injustiça, vileza e tudo aquilo que é vício ou participa do vício. Indiferentes são: a vida e a morte, a celebridade e a obscuridade, a dor e o prazer, a riqueza e a pobreza, a doença e a boa saúde, e coisas semelhantes a estas.”
Além disso, como diz Epicteto, a felicidade também está ligada à nossa capacidade de discernir entre as coisas que dependem de nós e as que não dependem, buscando apenas as primeiras e permanecendo indiferentes em relação às segundas. Caso contrário, seremos infelizes, pois não temos poder algum sobre as coisas que não dependem de nós. Nas palavras do autor: “Sob nosso controle estão as nossas opiniões, aspirações, desejos e as coisas que nos causam repulsa ou nos desagradam. Essas áreas são justificadamente da nossa conta, porque estão sujeitas à nossa influência direta. Temos sempre a possibilidade de escolha quando se trata do conteúdo e da natureza de nossa vida interior.
Fora do nosso controle, entretanto, estão coisas como o tipo de corpo que temos, se nascemos ricos ou se enriquecemos de repente, a maneira como somos vistos pelos outros ou qual é a nossa posição na sociedade. Devemos lembrar que essas coisas são externas e, portanto, não dependem de nós. Tentar controlar ou mudar o que não podemos só resulta em aflição e angústia.
Lembre-se: as coisas sob nosso poder estão naturalmente à nossa disposição, livres de qualquer restrição ou impedimento. As que não estão, porém, são frágeis, sujeitas a dependência ou determinadas pelos caprichos ou ações dos outros. Lembre-se também do seguinte: se você achar que tem domínio total sobre coisas que estão naturalmente fora do seu controle, ou se tentar assumir as questões de outros como se fossem suas, sua busca será distorcida e você se tornará uma pessoa frustrada, ansiosa e com tendência para criticar os outros.”
A felicidade, segundo os estóicos, exige também que adotemos uma atitude de apatia em relação às paixões, pois estas, em geral, são causa de perturbação e infelicidade para nossa alma. Sentimentos como medo, dor, piedade, inveja, ciúme, aflição, ansiedade, cobiça, raiva, amor (especialmente quando não correspondido), ódio, volúpia, entre outros, nos aprisionam, nos atribulam e nos impedem de ter paz de espírito. Suprimi-los, portanto, é a atitude do sábio e o caminho para a ataraxia, isto é, o estado de imperturbabilidade da alma necessário à conquista da felicidade.
Em suma, a felicidade estóica consiste em não desejar mais do que se pode ter, conformar-se com o Destino, discernir entre as coisas que dependem e as que não dependem de nós, tornando-nos indiferentes a estas últimas, e renunciar às paixões que são causa de dor e sofrimento. É, pois, uma disposição da vontade individual. Sou eu quem decide ser feliz, disciplinando meus desejos através de minha razão. Trata-se, portanto, de uma concepção idealista da felicidade, que desconsidera a influência de fatores externos que a determinam e que, por isso mesmo, conduz ao conformismo, à resignação, à apatia. Num contexto de tantas turbulências como o do helenismo, compreende-se por que os preceitos do estoicismo lograram tamanha aceitação, sobrevivendo com vigor até os nossos dias.
Responda às questões em seu caderno.
1. Quais são as recomendações do estoicismo para a conquista da felicidade? Você concorda com elas? Justifique.
2. Você considera que a morte, a saúde, a doença, a beleza, a feiúra, a riqueza, a pobreza, a escravidão e a liberdade não dependem de nós? Justifique.
Exercícios
1. Você tem medo da morte? E de Deus? Discuta com seus colegas e justifique, individualmente, anotando suas ideias em folha à parte.
2. Caso tenha esses medos, acredita que eles sejam obstáculos à sua felicidade? Por quê? O que pensam os colegas sobre esse medo?
3. Para você, que papel tem o prazer na conquista da felicidade?
4. Você reconhece traços do estoicismo na Oração da serenidade, apresentada anteriormente? Explicite-os.
5. Indique pelo menos uma situação do cotidiano que possa ser interpretada à luz do estoicismo.
6. Analise o texto a seguir e identifique nele traços de estoicismo. Você concorda com o preceito por ele expresso? Justifique.
“Não exijas aconteça como tu desejas aconteça. Antes queiras aconteçam as coisas como acontecem – e quão feliz, então, não serás tu!”
Leitura e Análise de Texto
A felicidade segundo o epicurismo
Epicuro (341-270 a.C.) nasceu na ilha grega de Samos, mas passou boa parte de sua vida em Atenas, onde fundou uma escola filosófica, mais tarde denominada epicurismo. A escola funcionava no jardim de sua casa e, por isso, ficou conhecida como “Jardim de Epicuro”.
Uma de suas principais preocupações era com a questão da felicidade. Em sua famosa Carta a Meneceu, ou mais conhecida como Carta sobre a felicidade, ele nos revela alguns ensinamentos para que a alcancemos e a conservemos ao longo de nossas vidas.
Logo de início, ele enaltece a utilidade da filosofia para a obtenção da “saúde do espírito”, isto é, da felicidade. Isso porque é filosofando que aprendemos a distinguir entre as coisas que dela nos aproximam e as que dela nos distanciam, optando pelas primeiras e evitando as segundas. Diz o autor:
 “Que ninguém hesite em se dedicar à filosofia enquanto jovem, nem se canse de fazê-lo depois de velho, porque ninguém jamais é demasiado jovem ou demasiado velho para alcançar a saúde do espírito. Quem afirma que a hora de dedicar-se à filosofia ainda não chegou, ou que ela já passou, é como se dissesse que ainda não chegou ou que já passou a hora de ser feliz.”
Em seguida, Epicuro faz algumas recomendações para quem deseja ter uma vida feliz. Em primeiro lugar, é preciso afastar as falsas opiniões que, em geral, temos sobre os deuses e que nos levam a temê-los, pois esse temor também é causa de infelicidade. Por exemplo, a crença de que “eles causam os maiores malefícios aos maus e os maiores benefícios aos bons”. Para o autor, os deuses existem realmente, são imortais e bem-aventurados, mas vivem num mundo supra-humano e em nada interferem em nossa vida, nem para nos socorrer nem para nos castigar. Por isso, não há motivos para temê-los. Pela mesma razão, preces, sacrifícios e louvores são inúteis e desnecessários.
Em segundo lugar, temos de nos libertar do medo da morte, outro obstáculo à nossa felicidade. E, de fato, segundo Epicuro, não há por que temê-la, pois não temos como saber se ela é um bem ou um mal. Ora, sabemos se uma coisa é boa ou ruim pelas sensações que ela nos provoca. A morte, porém, nada mais é do que a ausência de toda e qualquer sensação. Portanto, a morte não é nada para nós. Na realidade, nunca a encontraremos, pois enquanto estamos vivos ela está ausente e, quando ela chegar, nós é que não estaremos presentes, já que não teremos mais nenhuma sensação. É tolice, portanto, nos angustiarmos pela espera da morte, pois “aquilo que não nos perturba quando presente não deveria afligir-nos enquanto está sendo esperado”. Essa consciência de que a morte nada significa para nós é importante para que aproveitemos melhor a vida enquanto a temos e sejamos felizes no momento presente. Essa é a atitude do sábio, que nem desdenha a vida (como se ela fosse um fardo insuportável) nem se apega a ela em demasia (a ponto de desejar a imortalidade), mas que sabe vivê-la bem. “Assim”, diz Epicuro acerca do sábio, “como opta pela comida mais saborosa e não pela mais abundante, do mesmo modo ele colhe os doces frutos de um tempo bem vivido, ainda que breve”.
Em terceiro lugar, Epicuro recomenda que não acreditemos no destino e na sorte, como se deles dependesse nossa felicidade, pois essa crença também pode ser motivo de perturbação de nossa alma: “Nunca devemos nos esquecer de que o futuro não é nem tolamente nosso nem totalmente não nosso, para não sermos obrigados a esperá-lo como se estivesse por vir com toda a certeza nem nos desesperarmos como se não estivesse por vir jamais”.
Em quarto lugar, precisamos, também, para ser felizes, conhecer bem os nossos desejos e direcionar nossa escolha para aqueles que contribuem para “a saúde do corpo e para a serenidade do espírito, visto que esta é a finalidade da vida feliz”6. O critério dessa escolha é, em última instância, a distinção entre prazer e dor. De fato, para Epicuro, a principal finalidade da vida humana é o prazer. Mas não se trata de qualquer prazer:
 “Há ocasiões em que evitamos muitos prazeres, quando deles nos advêm efeitos o mais das vezes desagradáveis; ao passo que consideramos muitos sofrimentos preferíveis aos prazeres, se um prazer maior advier depois de suportarmos essas dores por muito tempo.
Portanto, todo prazer constitui um bem por sua própria natureza; não obstante isso, nem todos são escolhidos; do mesmo modo, toda dor é um mal, mas nem todas devem ser sempre evitadas. Convém, portanto, avaliar todos os prazeres de acordo com o critério dos benefícios e dos danos.”
Além disso, como nem tudo o que desejamos está ao nosso alcance, devemos aprender a extrair prazer daquilo que temos, das “coisas simples e fáceis de obter”, em vez de sofrer pela falta daquilo que não podemos ter. É o que Epicuro chama de “autossuficiência”.
Para ele: “Os alimentos mais simples proporcionam o mesmo prazer que as iguarias mais requintadas, desde que se remova a dor provocada pela falta: pão e água produzem o prazer mais profundo quando ingeridos por quem deles necessita”.
O prazer, portanto, para Epicuro não se confunde com a busca irrefletida e desenfrea da do “gozo dos sentidos”; trata-se, antes, do prazer entendido como “ausência de sofrimentos físicos e de perturbações da alma”, único capaz de nos proporcionar a verdadeira felicidade. Nas palavras do autor:
“Não são, pois, bebidas nem banquetes contínuos, nem a posse de mulheres e rapazes nem o sabor dos peixes ou das outras iguarias de uma mesa farta que tornam doce uma vida, mas um exame cuidadoso que investigue as causas de toda escolha e de toda rejeição e que remova as opiniões falsas em virtude das quais uma imensa perturbação toma conta dos espíritos.”
Portanto, o prazer, para ser de fato fonte de felicidade, precisa ser buscado com “prudência”, que, para Epicuro, é o “supremo bem”, a primeira de todas as virtudes.
Ora, nada melhor do que a Filosofia para nos ajudar a empreender esse “exame cuidadoso” que nos permite distinguir as coisas que verdadeiramente nos trazem prazer e as que nos provocam dor e viver segundo a prudência. Eis, portanto, a importância fundamental da Filosofia para a conquista da felicidade, segundo Epicuro.
1. Considerando as situações descritas a seguir, como cada uma delas se relaciona com a doutrina de Epicuro? Você concorda com as atitudes tomadas? Justifique sua posição.
a) Uma pessoa é diabética e, por isso, abstém-se de comer doces.
b) Os encarcerados decidem fazer greve de fome para chamar a atenção da população e das autoridades para o problema da superlotação da penitenciária.
c) O jovem deixa de viajar com os amigos no feriado prolongado para estudar para o vestibular.
d) O pai desempregado corta gastos supérfluos para garantir o que é básico para a sobrevivência da família.
e) A jovem diz “não” ao namorado por ele insistir em não usar preservativo.
2. Descreva, em seu caderno, uma situação vivida ou presenciada por você na qual tenha ocorrido a privação deliberada de um prazer a fim de evitar um sofrimento, ou alcançar um prazer ainda maior. Você concorda com essa atitude? Justifique.
3. Em seu caderno, resuma os conselhos de Epicuro para se alcançar a felicidade.
4. Que papel Epicuro atribui à Filosofia na busca da felicidade? Você concorda com ele? Justifique.
5. Cite e explique, em seu caderno, pelo menos três recomendações de Epicuro que mostrem como chegar à felicidade. Você concorda com elas? Por quê?
6. Você concorda com as concepções de felicidade do estoicismo e do epicurismo? Justifique em seu caderno.
PESQUISA INDIVIDUAL
Escolha uma música de sua preferência que fale sobre felicidade. Transcreva a letra, em folha à parte, e leve-a para a sala de aula para discutir com seus colegas o conceito de felicidade adotado pelo compositor.


Prof. Manoelito



Um comentário:

  1. Adorei essa frase: "Nunca devemos nos esquecer de que o futuro não é nem tolamente nosso nem totalmente não nosso, para não sermos obrigados a esperá-lo como se estivesse por vir com toda a certeza nem nos desesperarmos como se não estivesse por vir jamais”. As vezes me pergunto porque as felicidade é algo tão difícil, pessoas bem sucedidas muitas vezes não se consideram felizes, enquanto umas com tão pouco sempre estão com um sorriso no rosto e um otimismo contagiante.

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