O objetivo
é refletir sobre a importância da cultura na vida social, a ideia de cultura de
massa e também entender que a transmissão cultural se dá por meio da linguagem.
A transmissão cultural e a
linguagem
O homem só
existe como ser cultural. É a cultura que nos humaniza. Não é a inserção em
grupos que nos distingue dos outros animais, pois todos já puderam observar que
os animais, de forma geral, vivem, na sua maioria, imersos em grupos. Logo,
embora vivam em sociedade, não desenvolvem cultura.
“Independentemente da espécie a que
pertencem, as abelhas organizam-se em grupos. Nestes, cada abelha possui regras
e atividades específicas. Abelhas de uma mesma espécie, contudo, relacionam-se
sempre da mesma maneira com o meio ambiente. Seu comportamento se altera apenas
quando há alterações no ambiente que a cerca. Caso não haja alterações neste,
tampouco há alterações no comportamento das abelhas. Desta forma, pode-se dizer
que elas se adaptam ao meio ambiente, ou às alterações que nele ocorrem, mas
não o transformam. A capacidade de transformar o próprio comportamento e a
natureza é própria do ser humano”.
Entre as
abelhas existe sociedade, mas não cultura. As abelhas ordenam-se coletivamente
e pode haver divisão do trabalho, sexo e idade. Mas não há cultura, pois não há
tradição viva, elaborada de geração para geração, que permita tornar única e
singular uma dada sociedade. Uma tradição viva nada mais é do que um conjunto
de escolhas. Ter tradição não significa viver sob determinadas regras – afinal,
os animais também vivem sob regras. Ter tradição significa viver
conscientemente sob tais regras. Sob determinadas circunstâncias, os animais
vão sempre agir e reagir da mesma forma. Se eles mudam suas regras, o fazem,
portanto, como reação às mudanças ocorridas no meio. Já com o homem não
acontece o mesmo.
A cada
grupo humano corresponde uma tradição cultural. Por exemplo, não há como
mostrar uma casa e dizer que se trata de uma casa tipicamente humana, como se
ela representasse todas as casas humanas. Entretanto, pode-se tomar qualquer
casa de joão-de-barro e dizer que é uma casa típica de joão-de-barro – não interessa
se do Brasil ou de qualquer outro lugar. Isso significa que os animais não
produzem tradições que os diferenciem.
O papel da linguagem na transmissão
cultural e os meios de comunicação de massa
Como
vivemos em sociedade, não é possível deixar de lembrar que não há cultura
individual e que toda cultura é socialmente partilhada. O homem, ao nascer, é
absolutamente frágil, um dos seres mais frágeis que existem. Assim como outros
mamíferos, ele precisa que alguém lhe dê água, comida, abrigo e que cuide de
sua higiene.
Mas, ao
contrário do que ocorre com os outros animais, pode-se ensinar praticamente
tudo a um ser humano já na primeira infância. Assim, um bebê nascido no Brasil
e criado por outra família na China vai agir falar e pensar de acordo com os
hábitos culturais da família que o adotou. Ele poderá não gostar de arroz com
feijão e ter dificuldade de pronunciar palavras da língua portuguesa, caso
algum dia retorne para cá. Ele pensará como um chinês e falará como tal.
Provavelmente gostará de comidas que, para o paladar brasileiro, são
consideradas inadmissíveis, como escorpiões e certos tipos de insetos.
Certamente terá maior facilidade em comer com fachis (em japonês, hashis, os
“palitos” que muitos povos asiáticos utilizam para se alimentar). Enfim, agirá
e pensará como um chinês, embora tenha nascido de pais brasileiros. O mesmo não
ocorre com os animais. Um gato, por exemplo, pode até ser criado com uma
família de cachorros, mas nunca latirá. Isso porque seu comportamento é regido
muito mais pelos instintos.
E o ser
humano, o que rege o nosso comportamento? O comportamento do homem é regido por
padrões culturalmente transmitidos pela linguagem. Logo, para os seres humanos,
a linguagem tem papel importantíssimo na apreensão dos conteúdos simbólicos,
pois é por meio dela que nos tornamos seres humanos. É por intermédio dela que
os padrões culturais são transmitidos por meio de símbolos e sinais. E na nossa
sociedade existem vários mecanismos de transmissão cultural. “Alguns grupos dos quais fazemos parte são
importantes mecanismos de transmissão cultural, como a família, os amigos, o
trabalho, a vizinhança, a escola, entre outros. Outros mecanismos de
transmissão cultural são os meios de comunicação, como a televisão, o rádio, a
internet, os jornais, além dos livros, das obras de arte, dos brinquedos, entre
muitos outros. ”
Se a
linguagem é essencial na transmissão cultural, cada vez mais na nossa sociedade
ela é transmitida pelos meios de comunicação de massa. Por meio deles
compreendemos o que se passa na sociedade e como devemos agir socialmente.
Cultura versus cultura de massa
Vocês já
relembraram que o ser humano é um ser cultural. Agora vamos discutirmos a ideia
de cultura de massa. Afinal, muitos são os que falam em cultura de massa para
explicar o status da cultura nas sociedades que passaram pelo processo de
industrialização. Mas será que isso é correto? Para refletir sobre esse ponto, vamos
analisar e discutir sobre os diferentes significados do termo “massa”. Há
diversas conotações para esse termo em nossa sociedade. Os sociólogos não
concordam entre si sobre o seu significado e muito menos quanto à sua
conotação. De forma geral, usam a palavra “massa” para designar um grande
número de pessoas, heterogêneas quanto à origem social e geográfica, e
indiferenciadas entre si quanto a normas de comportamento e valores. O termo,
às vezes, é usado de forma positiva e, em outras, de forma negativa. Tanto pode
ser usado para referir-se ao conjunto da população, quando as pessoas falam,
por exemplo, “naquela partida de futebol havia uma massa humana imensa”, como
para referir-se aos grupos populares, como em “a esgrima não é um esporte para todos,
não é um esporte para a massa” (CUCHE, 2002, p. 158). De qualquer maneira,
deve-se ter muito cuidado ao falar em cultura de massa, pois esse termo pode
passar a ideia de que existiria uma cultura da maioria da população, uma
cultura de massa, e outro tipo de cultura, partilhada por poucos. Muitos
autores não trabalham mais com a divisão entre cultura popular (entendida como
cultura do povo, da maioria da população) e cultura erudita (uma cultura
partilhada por membros da elite), pois ela dá a entender que a maioria das
pessoas seria dotada de hábitos tão diferentes de outras parcelas da população
que acabariam constituindo entre si uma cultura própria. De modo geral,
acredita-se que haja uma cultura partilhada e que os diferentes segmentos que a
compõem se inserem de forma distinta numa mesma cultura partilhada por todos. O
que ocorre é que cada segmento possui um lugar próprio dentro de uma cultura
partilhada por todos.
O termo
“massa” é utilizado para designar tanto o conjunto da população como a parte
mais popular e, por vezes, a mais pobre dessa população. Confunde-se cultura
para as massas e cultura de massa. Uma grande massa de indivíduos recebe uma
mesma mensagem, mas isso não quer dizer que todos a compreendam igualmente (CUCHE,
2002, p. 158). A mensagem veiculada pelos meios de comunicação de massa
dirige-se a grandes parcelas da população, porém, seria ingênuo acreditar que
todos a entendam de forma idêntica.
“Eles [a “massa”] se apropriam
deles [programas de televisão], reinterpretam-nos segundo suas próprias lógicas
culturais. Uma série de televisão como Dallas, que obteve um sucesso quase
mundial, até nas favelas de Lima, no Peru, ou nas aldeias saarianas de Argélia,
não foi compreendida da mesma maneira nem assistida pelas mesmas razões em todos
os lugares, em todos os meios sociais. Por mais “padronizado” que seja o
produto de uma emissão, sua recepção não pode ser uniforme e depende muito das
particularidades culturais de cada grupo, bem como da situação que cada grupo
vive no momento da recepção. ” CUCHE,
Dennys. A noção de cultura nas Ciências Sociais. 2 ed. Bauru: Edusc, 2002. p.
159-160.
Quando um
produto é lançado no mercado, isso não significa que ele será, de imediato,
consumido em larga escala e que todos, independentemente de sua idade, sexo ou
grupo social ao qual pertençam, o aceitarão sem restrições. Um bom exemplo é o
do telefone. Hoje visto como equipamento essencial para a maioria das pessoas,
quando surgiu, no final do século XIX, não foi tão bem-visto.
“Hoje, o telefone é um importante
meio de comunicação. Ele sofisticou-se e transformou-se no telefone celular.
Milhões de equipamentos são fabricados e vendidos, todos os anos, para os mais
diferentes países. Além disso, são muito cobiçados, pois novos modelos surgem
diariamente. Entretanto, sua história não foi sempre assim, repleta de triunfos
e aceitação. Quando o telefone surgiu, não foi bem-aceito em muitos lugares. Ao
que parece, era visto como um intruso no espaço privado. Numa época marcada
pela formalidade, em que era inconcebível que as pessoas se visitassem sem
convite ou agendamento prévio, esse aparelho que toca sem hora marcada
incomodava porque invadia a privacidade. Afinal, podia tocar nos momentos mais
improváveis. Como nas casas abastadas quem atendia a campainha eram os
empregados, até o ato de se levantar para atendê-lo não era bem-visto pelos
membros da elite, pois parecia um gesto servil. Logo, para que essa invenção se
tornasse um meio de comunicação de massa aceito por todos, foram necessárias
várias décadas.
1.
Por
que o homem só existe como ser cultural?
2.
Por
que entre as abelhas existe sociedade, mas não cultura?
3.
Como
vai agir falar e pensar um bebê nascido no Brasil e criado por outra família na
China. Explique.
4.
O
que rege o nosso comportamento?
5.
Explique cultura e cultura de massa. De
exemplos.
6.
Assistir
e fazer o resumo da palestra do professor da USP, Clóvis de Barros Filho -
Felicidade: https://www.youtube.com/watch?v=rgWrovpS9PE
7.
Responder
da página 42 a 51 do caderno do aluno.
Prof. Manoelito
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