terça-feira, 10 de maio de 2016

A NOÇÃO DE CULTURA E A IDEIA DE CULTURA DE MASSA


O objetivo é refletir sobre a importância da cultura na vida social, a ideia de cultura de massa e também entender que a transmissão cultural se dá por meio da linguagem.
A transmissão cultural e a linguagem
O homem só existe como ser cultural. É a cultura que nos humaniza. Não é a inserção em grupos que nos distingue dos outros animais, pois todos já puderam observar que os animais, de forma geral, vivem, na sua maioria, imersos em grupos. Logo, embora vivam em sociedade, não desenvolvem cultura.
“Independentemente da espécie a que pertencem, as abelhas organizam-se em grupos. Nestes, cada abelha possui regras e atividades específicas. Abelhas de uma mesma espécie, contudo, relacionam-se sempre da mesma maneira com o meio ambiente. Seu comportamento se altera apenas quando há alterações no ambiente que a cerca. Caso não haja alterações neste, tampouco há alterações no comportamento das abelhas. Desta forma, pode-se dizer que elas se adaptam ao meio ambiente, ou às alterações que nele ocorrem, mas não o transformam. A capacidade de transformar o próprio comportamento e a natureza é própria do ser humano”.
Entre as abelhas existe sociedade, mas não cultura. As abelhas ordenam-se coletivamente e pode haver divisão do trabalho, sexo e idade. Mas não há cultura, pois não há tradição viva, elaborada de geração para geração, que permita tornar única e singular uma dada sociedade. Uma tradição viva nada mais é do que um conjunto de escolhas. Ter tradição não significa viver sob determinadas regras – afinal, os animais também vivem sob regras. Ter tradição significa viver conscientemente sob tais regras. Sob determinadas circunstâncias, os animais vão sempre agir e reagir da mesma forma. Se eles mudam suas regras, o fazem, portanto, como reação às mudanças ocorridas no meio. Já com o homem não acontece o mesmo.
A cada grupo humano corresponde uma tradição cultural. Por exemplo, não há como mostrar uma casa e dizer que se trata de uma casa tipicamente humana, como se ela representasse todas as casas humanas. Entretanto, pode-se tomar qualquer casa de joão-de-barro e dizer que é uma casa típica de joão-de-barro – não interessa se do Brasil ou de qualquer outro lugar. Isso significa que os animais não produzem tradições que os diferenciem.
O papel da linguagem na transmissão cultural e os meios de comunicação de massa
Como vivemos em sociedade, não é possível deixar de lembrar que não há cultura individual e que toda cultura é socialmente partilhada. O homem, ao nascer, é absolutamente frágil, um dos seres mais frágeis que existem. Assim como outros mamíferos, ele precisa que alguém lhe dê água, comida, abrigo e que cuide de sua higiene.
Mas, ao contrário do que ocorre com os outros animais, pode-se ensinar praticamente tudo a um ser humano já na primeira infância. Assim, um bebê nascido no Brasil e criado por outra família na China vai agir falar e pensar de acordo com os hábitos culturais da família que o adotou. Ele poderá não gostar de arroz com feijão e ter dificuldade de pronunciar palavras da língua portuguesa, caso algum dia retorne para cá. Ele pensará como um chinês e falará como tal. Provavelmente gostará de comidas que, para o paladar brasileiro, são consideradas inadmissíveis, como escorpiões e certos tipos de insetos. Certamente terá maior facilidade em comer com fachis (em japonês, hashis, os “palitos” que muitos povos asiáticos utilizam para se alimentar). Enfim, agirá e pensará como um chinês, embora tenha nascido de pais brasileiros. O mesmo não ocorre com os animais. Um gato, por exemplo, pode até ser criado com uma família de cachorros, mas nunca latirá. Isso porque seu comportamento é regido muito mais pelos instintos.
E o ser humano, o que rege o nosso comportamento? O comportamento do homem é regido por padrões culturalmente transmitidos pela linguagem. Logo, para os seres humanos, a linguagem tem papel importantíssimo na apreensão dos conteúdos simbólicos, pois é por meio dela que nos tornamos seres humanos. É por intermédio dela que os padrões culturais são transmitidos por meio de símbolos e sinais. E na nossa sociedade existem vários mecanismos de transmissão cultural. “Alguns grupos dos quais fazemos parte são importantes mecanismos de transmissão cultural, como a família, os amigos, o trabalho, a vizinhança, a escola, entre outros. Outros mecanismos de transmissão cultural são os meios de comunicação, como a televisão, o rádio, a internet, os jornais, além dos livros, das obras de arte, dos brinquedos, entre muitos outros. ”
Se a linguagem é essencial na transmissão cultural, cada vez mais na nossa sociedade ela é transmitida pelos meios de comunicação de massa. Por meio deles compreendemos o que se passa na sociedade e como devemos agir socialmente.
Cultura versus cultura de massa
Vocês já relembraram que o ser humano é um ser cultural. Agora vamos discutirmos a ideia de cultura de massa. Afinal, muitos são os que falam em cultura de massa para explicar o status da cultura nas sociedades que passaram pelo processo de industrialização. Mas será que isso é correto? Para refletir sobre esse ponto, vamos analisar e discutir sobre os diferentes significados do termo “massa”. Há diversas conotações para esse termo em nossa sociedade. Os sociólogos não concordam entre si sobre o seu significado e muito menos quanto à sua conotação. De forma geral, usam a palavra “massa” para designar um grande número de pessoas, heterogêneas quanto à origem social e geográfica, e indiferenciadas entre si quanto a normas de comportamento e valores. O termo, às vezes, é usado de forma positiva e, em outras, de forma negativa. Tanto pode ser usado para referir-se ao conjunto da população, quando as pessoas falam, por exemplo, “naquela partida de futebol havia uma massa humana imensa”, como para referir-se aos grupos populares, como em “a esgrima não é um esporte para todos, não é um esporte para a massa” (CUCHE, 2002, p. 158). De qualquer maneira, deve-se ter muito cuidado ao falar em cultura de massa, pois esse termo pode passar a ideia de que existiria uma cultura da maioria da população, uma cultura de massa, e outro tipo de cultura, partilhada por poucos. Muitos autores não trabalham mais com a divisão entre cultura popular (entendida como cultura do povo, da maioria da população) e cultura erudita (uma cultura partilhada por membros da elite), pois ela dá a entender que a maioria das pessoas seria dotada de hábitos tão diferentes de outras parcelas da população que acabariam constituindo entre si uma cultura própria. De modo geral, acredita-se que haja uma cultura partilhada e que os diferentes segmentos que a compõem se inserem de forma distinta numa mesma cultura partilhada por todos. O que ocorre é que cada segmento possui um lugar próprio dentro de uma cultura partilhada por todos.
O termo “massa” é utilizado para designar tanto o conjunto da população como a parte mais popular e, por vezes, a mais pobre dessa população. Confunde-se cultura para as massas e cultura de massa. Uma grande massa de indivíduos recebe uma mesma mensagem, mas isso não quer dizer que todos a compreendam igualmente (CUCHE, 2002, p. 158). A mensagem veiculada pelos meios de comunicação de massa dirige-se a grandes parcelas da população, porém, seria ingênuo acreditar que todos a entendam de forma idêntica.
“Eles [a “massa”] se apropriam deles [programas de televisão], reinterpretam-nos segundo suas próprias lógicas culturais. Uma série de televisão como Dallas, que obteve um sucesso quase mundial, até nas favelas de Lima, no Peru, ou nas aldeias saarianas de Argélia, não foi compreendida da mesma maneira nem assistida pelas mesmas razões em todos os lugares, em todos os meios sociais. Por mais “padronizado” que seja o produto de uma emissão, sua recepção não pode ser uniforme e depende muito das particularidades culturais de cada grupo, bem como da situação que cada grupo vive no momento da recepção. ” CUCHE, Dennys. A noção de cultura nas Ciências Sociais. 2 ed. Bauru: Edusc, 2002. p. 159-160.
Quando um produto é lançado no mercado, isso não significa que ele será, de imediato, consumido em larga escala e que todos, independentemente de sua idade, sexo ou grupo social ao qual pertençam, o aceitarão sem restrições. Um bom exemplo é o do telefone. Hoje visto como equipamento essencial para a maioria das pessoas, quando surgiu, no final do século XIX, não foi tão bem-visto.
“Hoje, o telefone é um importante meio de comunicação. Ele sofisticou-se e transformou-se no telefone celular. Milhões de equipamentos são fabricados e vendidos, todos os anos, para os mais diferentes países. Além disso, são muito cobiçados, pois novos modelos surgem diariamente. Entretanto, sua história não foi sempre assim, repleta de triunfos e aceitação. Quando o telefone surgiu, não foi bem-aceito em muitos lugares. Ao que parece, era visto como um intruso no espaço privado. Numa época marcada pela formalidade, em que era inconcebível que as pessoas se visitassem sem convite ou agendamento prévio, esse aparelho que toca sem hora marcada incomodava porque invadia a privacidade. Afinal, podia tocar nos momentos mais improváveis. Como nas casas abastadas quem atendia a campainha eram os empregados, até o ato de se levantar para atendê-lo não era bem-visto pelos membros da elite, pois parecia um gesto servil. Logo, para que essa invenção se tornasse um meio de comunicação de massa aceito por todos, foram necessárias várias décadas.
1.       Por que o homem só existe como ser cultural?
2.       Por que entre as abelhas existe sociedade, mas não cultura?
3.       Como vai agir falar e pensar um bebê nascido no Brasil e criado por outra família na China. Explique.
4.       O que rege o nosso comportamento?
5.        Explique cultura e cultura de massa. De exemplos.
6.       Assistir e fazer o resumo da palestra do professor da USP, Clóvis de Barros Filho - Felicidade: https://www.youtube.com/watch?v=rgWrovpS9PE
7.       Responder da página 42 a 51 do caderno do aluno.

Prof. Manoelito

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