Com esse
tema, vamos pensar a Filosofia em comparação com a Literatura, para
completarmos o ciclo de aproximações e distanciamentos que nos conduzem a um
aprofundamento sobre a especificidade da Filosofia como discurso capaz de
narrar o pensamento reflexivo, não apenas sobre os temas mais relevantes da
existência humana, mas, principalmente, sobre os demais discursos: Literatura,
Ciência e Religião. Inicialmente façam a leitura do poema “Começo a conhecer-me. Não existo”, de Fernando Pessoa (Álvaro de
Campos) e do texto “A leitura dos textos
filosóficos”, disponíveis no Caderno do Aluno.
A Literatura
talvez seja o discurso que menos se distanciou do discurso filosófico, uma vez
que poetas, romancistas e cronistas tratam de questões filosóficas como a
finalidade da existência humana e de dramas éticos. Essa aproximação é notada
também no caso dos filósofos que escolheram a Literatura para abordar sua
filosofia. Jean-Paul Sartre (1905-1980) é um deles. Escreveu romances como A
náusea (1938), ou sua trilogia de romances: A idade da razão (1945), Sursis
(1947) e com a morte na alma (1949). Outro filósofo que escolheu a Literatura
para expor seu pensamento educacional foi Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), em
sua obra ficcional Emílio ou da Educação (1762). A distinção de limites entre a
Filosofia e a Literatura torna-se, assim, uma tarefa complexa e delicada que
não se esgota facilmente, cujo objetivo é oferecer mais uma oportunidade de
confronto entre diferentes modos de pensar e dizer os temas centrais da
existência humana.
Filosofia, Mitologia e Religião
Aproximações: A Filosofia não surge em
contraposição ou dissonância dos mitos e discursos religiosos. Ao contrário, é
baseada em temas e preocupações predominantes no discurso religioso e nos mitos
registrados em poemas como a Ilíada e a Odisseia, de Homero, e nos poemas de
Hesíodo. Aspectos que são comuns a ambos os discursos: preocupação dos poetas
de apresentar causas e motivos das ações; esforço para descrever os fatos em
uma abrangência que abarca deuses, homens, terra, céu, guerra, paz, bem e mal;
preocupação dos poetas em construir narrativas para ensinar justiça como
virtude fundamental. O mito e alguns discursos religiosos, assim, já
contemplariam a estrutura de apresentação dos fatos e os temas valorizados pela
Filosofia.
Diferenças: O discurso nos mitos
apresenta-se como uma narrativa marcada por analogias, metáforas e parábolas,
ao passo que o discurso na Filosofia se manifesta por questionamentos sucessivos
a cada afirmação, por fundamentação e crítica sobre o saber afirmado. As
religiões, especialmente se tomarmos as religiões monoteístas, professam
verdades cuja base é a fé no divino. A Filosofia busca significados na ordem do
humano a partir de uma reflexão que deve ser radical, rigorosa e de conjunto
(conforme Dermeval Saviani1) e, dessa forma, questionar certezas e verdades.
Filosofia e Ciência
Aproximações: A curiosidade e o
conjunto de perguntas sobre a realidade que inspiram ambas as investigações; O
esforço de explicitação de ideias que filósofos e cientistas empreendem; A
construção de argumentação que permita a comunicação dos saberes formulados,
investigados; A utilização de metáforas para oferecer imagens mais próximas a
saberes já conhecidos, no esforço de comunicação dos novos conhecimentos.
Diferenças: A Filosofia utiliza diversos
gêneros textuais para expressar suas ideias: cartas, poemas, diálogos, ensaios.
A Ciência utiliza ensaios, mas não poesias, diálogos ou cartas sem que passem
por explicitação analítica. As definições dos termos em Ciência são especificadas
de forma que se generalize seu significado. Em Filosofia, um termo ou expressão
pode ter diferentes significados a depender do contexto e da formulação argumentativa
do autor. Exemplo: a palavra “átomo”, em Química, e a palavra “sujeito”, em
Filosofia. É comum usarmos expressões como “o entendimento da palavra sujeito”
em Marx, em Foucault, em Deleuze ou em Descartes.
Filosofia e Literatura
Aproximações: Filosofia e Literatura
abordam temas em comum; a Literatura problematiza situações do cotidiano e
provoca reflexão, assim como a Filosofia.
Diferenças: Literatura: busca suscitar
em nós emoções; tem um caráter fictício; representa situações universais (o
universal) sob a forma de um conjunto de representações individuais.
Platão
considerava que a poesia busca comover e que a Filosofia procura a verdade. O
bom poeta, segundo ele, é aquele que sabe provocar em nós as emoções
apropriadas. Aristóteles considerava o discurso poético como aquele que representa
coisas fictícias como possíveis, enquanto a Filosofia é um discurso que
expressa o que é, da forma que é.
Questões:
1. De
acordo com o que você entendeu do poema, transforme-o em um texto filosófico.
2. Explique
quem são os personagens de um texto literário e de um texto filosófico.
3. O
que dificulta diferenciar um texto filosófico de um texto literário?
4. Resumidamente
explique o que aproxima e o que diferencia Filosofia, Mitologia e Religião
5. Resumidamente
explique o que aproxima e o que diferencia Filosofia e Ciência.
6. Resumidamente
explique o que aproxima e o que diferencia Filosofia e Literatura.
7. Responda
o caderno do aluno da página 50 a 54.
Prof. Manoelito
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