S1 SOCIO 2ª SÉRIE 1º BIMESTRE
A
POPULAÇÃO BRASILEIRA: DIVERSIDADE NACIONAL E REGIONAL
O
objetivo desse tema é introduzir a reflexão sobre a diversidade sociocultural
brasileira. Tal diversidade é construída, muitas vezes, com base na
desigualdade de condições de vida. a diversidade nacional e regional pode ser
pensada tanto no âmbito cultural, como por meio do estudo de fatores
socioeconômicos que condicionam o maior ou menor acesso a: educação,
rendimentos, saneamento e energia elétrica.
Análise da Música
de Chico Buarque “Paratodos”
Todos
vocês já ouviram falar em Chico Buarque? Alguém conhece outra música dele?
Vocês sabem quais são os temas de muitas das suas canções?
Além de canções sobre as questões típicas dos seres
humanos, como o amor, as perdas, as paixões, a tristeza e a saudade, Chico
Buarque escreveu muitas letras sobre o Brasil e a realidade brasileira, em que
tece tanto críticas quanto elogios ao país.
Nessa música, Chico Buarque aborda a diversidade
que muitas vezes existe em cada um de nós, resultante das origens de nossa
família, o que aparece na primeira estrofe:
O meu pai era paulista
Meu avô, pernambucano
O meu bisavô, mineiro
Meu tataravô, baiano
Meu maestro soberano
Foi Antonio Brasileiro
Ele retrata ainda a expressão de nossa diversidade
musical. Vocês sabem quem são as pessoas citadas por Chico Buarque?
1. Pesquisar quem são as pessoas citadas na música “Paratodos”, qual a sua
região e gênero musical de cada um.
2. De onde vem a
diversidade social brasileira?
3. Qual é a
importância da cultura na vida social?
4. Qual é a
importância do trabalho na vida social?
5. O que é
diversidade?
6. O que é
diversidade Cultural?
7. O Que é
diversidade Biológica?
8. O que é
Diversidade étnica?
9. Responder as
questões da situação de aprendizagem 01 no caderno do aluno.
Prof.
Manoelito
Boa
Sorte!!!!!!!
S2 SOCIOLOGIA 2ª SÉRIE 1º BIMESTRE
A FORMAÇÃO DA
DIVERSIDADE BRASILEIRA
O objetivo
deste tema é refletir sobre a formação da diversidade social no Brasil a partir
da figura do estrangeiro tal como analisada por Georg Simmel e discutir: quem é
o estrangeiro do ponto de vista sociológico, como o estrangeiro também pode ser
visto como o estranho e qual é a diferença entre o olhar do estrangeiro para a
realidade e o olhar dos que ali se encontram há mais tempo. Também iremos analisar
os conceitos de migração, imigração e emigração, importantes para refletir
sobre a diversidade, e estabelecer uma reflexão sobre por que as pessoas saem
de um lugar para morar em outro.
Emigrante:
Que ou quem emigra; emigrado. Emigrar: Deixar um país para estabelecer-se em
outro. Sair (da pátria) para residir em outro país. Imigrante: Que ou pessoa
que imigra. Imigrar: Entrar (num país estranho) para nele viver. Migrante: Que
ou quem migra. Migrar: Mudar periodicamente ou passar de uma região para outra,
de um país para outro. Aquele que sai de um país é um emigrante em relação ao
país de origem e um imigrante em relação ao país a que chega.
Muitas
vezes não temos consciência de que todos aqueles que não descendem dos
indígenas, em algum momento, foram estrangeiros no Brasil. mesmo aqueles que
descendem de indígenas possivelmente também possuem descendentes de outras
origens. O que significa que praticamente todos nós descendemos de estrangeiros
sejam nossos antepassados europeus, asiáticos ou africanos.
Etapa 1 – o estrangeiro
Muitos são
os autores que tratam o tema da migração, imigração e emigração. Vamos
desenvolver esse tema utilizando a análise que Georg Simmel faz do estrangeiro,
com o objetivo de pensar como a mobilidade espacial de pessoas provoca mudanças
nas sociedades e nas relações sociais.
Vamos
começar destacando alguns pontos importantes da análise de Simmel:
ü
O
primeiro é que é preciso distinguir o viajante do estrangeiro. O estrangeiro,
para Simmel, é aquele que chega e não vai embora. Logo, não é um mero viajante.
É a figura que se muda de um lugar para outro, para ali residir, e não o
turista;
ü
Como
estrangeiro, sua posição em relação ao grupo é marcada pelo fato de não
pertencer ao grupo desde o início do mesmo ou desde que nasceu;
ü
Destaca-se
ainda a ambiguidade do estrangeiro em relação ao grupo. Ele é um elemento do
grupo, mesmo que não se veja como um, ou que não seja visto como parte dele
pelos demais membros. Ou seja, é um elemento do conjunto, assim como são os
indigentes ou os mendigos e toda espécie de “inimigos internos” (MORAES FILHO,
1983, p. 183).
Com isso,
Simmel quis dizer que mesmo aqueles que não são queridos por um grupo, ou não
são tratados como iguais, também fazem parte dele. O estrangeiro tem com o
grupo, ao mesmo tempo, uma relação de proximidade e envolvimento e de distância
e indiferença. Ele vive cotidianamente com aquelas pessoas; logo, está
relativamente próximo e envolvido com elas. Contudo, como, com frequência, é
tratado tal qual um “de fora”, e se sente à parte do grupo, pode, muitas vezes,
desenvolver um sentimento de distância e indiferença (MORAES FILHO, 1983, p.
184-186). O estrangeiro é, portanto, o estranho portador de sinais de
diferença, como a língua, os costumes, a alimentação, os modos e as maneiras de
se vestir.
Ele não
partilha tantos hábitos, costumes e ideias com o grupo; em face disso, tampouco
partilha certos preconceitos e não se sente forçado a agir como um de seus
membros. Os laços que o unem são muitas vezes mais frouxos do que aqueles que unem
os outros membros que ali estão desde o seu nascimento (MORAES FILHO, 1983, p.
184-185).
Por que as
pessoas migram? Segundo Klein, migrar, na maioria das vezes, é uma questão de
sobrevivência, quando já não é possível sobreviver no local de origem. Como essa explicação é muito geral
e insuficiente para responder à indagação inicial, o autor continua explicando
as razões possíveis de migração, ligadas à perseguição ou a razões econômicas.
Mas
perseguição do quê? De quem? Perseguição religiosa; de nacionalidade; do
genocídio dos armênios; o fato de que muitos vieram para cá para fugir de
perseguições. Isso ocorreu com muitos judeus durante a Segunda Guerra Mundial.
Há também outros grupos que fugiram de guerras que assolavam o seu país, como é
o caso de muitos libaneses que vieram para o Brasil.
Muitas
vezes, o aspecto mais importante é o econômico. Há três fatores dominantes: 1.
Acesso à terra; 2. A variação da produtividade da terra; 3. O número de membros
da família que precisam ser sustentados.
No Brasil,
até 1850, mais importante do que a imigração estrangeira espontânea na
composição do povo brasileiro foi a chegada forçada de milhões de africanos. O
perfil da imigração no nosso país variou com o passar do tempo: até 1880 os
imigrantes, na sua maioria, vinham do Norte da Europa e, a partir dessa data, a
predominância foi de europeus do Leste e do Sul.
A Primeira
Guerra Mundial deteve temporariamente grande parte do fluxo de imigrantes para
a América. Mas, depois da Segunda Guerra Mundial, já na década de 1950, outra
leva de imigrantes ocorreu. Nesse período, o perfil da maioria era bem
diferente do anterior. Se até o início do século XX vieram trabalhadores pouco
qualificados, agora era a vez dos qualificados. Essa imigração durou mais ou
menos duas décadas e meia, até o momento em que os salários no mercado europeu
começaram a suplantar os que eram pagos aqui. Além da imigração, não é possível
esquecer a migração maciça de nordestinos e nortistas, principalmente para a
região Sudeste do Brasil.
Hoje – mais
uma vez – o perfil do imigrante mudou. Não é mais o africano, nem o europeu
quem chega, mas sim os asiáticos, principalmente chineses e sul-coreanos, e
latino-americanos, sobretudo os bolivianos. Os asiáticos, na maioria das vezes,
vêm para trabalhar no comércio, e os bolivianos, na indústria.
Por que
muitos ficam e não voltam? Não é fácil dar uma resposta a essa indagação, mas
algumas possíveis respostas podem ser (KLEIN, 2000, p. 28):
ü
Muitos
ficaram, pois não conseguiram ganhar todo o dinheiro que imaginaram;
ü
Outros
foram bem sucedidos em seus negócios, o que dificultou a volta ao país de
origem, a não ser a passeio;
ü
Outros
se casaram com brasileiros e acabaram perdendo contato com suas origens;
ü
Houve
ainda quem, desde o início, não queria mais voltar e fez de tudo para aqui
ficar.
Todos
esses imigrantes sofreram preconceito, mas nenhum grupo sofreu tanto quanto os
africanos e seus descendentes. O preconceito racial isolou-os e não permitiu
sua ascensão no mercado de trabalho. Mesmo para exercer trabalhos não
qualificados, os negros livres sofriam discriminação e não conseguiam competir
com os imigrantes, que, às vezes, não eram tão qualificados.
LEITURA DO
TEXTO 1 - Por que as pessoas migram? Leitura
das letras das Músicas italiana e alemã TEXTO 2 - Esse era o imaginário.
Após a leitura
deste texto e dos textos citados acima que se encontram no caderno do aluno,
respondam as seguintes questões:
1.
Explique
o significado das palavras: Emigrar; Imigrar; Migrar.
2.
Quais
foram os pontos importantes da análise de Simmel?
3.
Explique
o primeiro ponto importante da análise de Simmel.
4.
Segundo
Klein, por que as pessoas migram?
5.
Por
que vocês acham que ocorre a emigração, a migração e a imigração? Por que sair
de seu País, Estado ou Cidade e ir para outro?
6.
Em
sua opinião, por que os imigrantes escolheram o Brasil? Por que vocês acham que
ocorre a migração interna? E por que escolher o Estado de São Paulo?
7.
Segundo
KLEIN, quais são os três fatores dominantes causadores da migração? Explique.
8.
Qual
era o imaginário a respeito da América que prevalecia na Europa desde o século
XVI e que, a partir de meados do século XIX, serviu de atrativo para grandes
parcelas da população camponesa de vários países europeus?
9.
Em
linhas gerais, quais fatores podemos apontar como causas para grandes parcelas
da população camponesa de vários países europeus migrarem para a América?
10.
Por
que o perfil da imigração no nosso país variou com o passar do tempo?
11.
Por
que muitos ficam e não voltam?
Prof. Manoelito
S3 SOCIOLOGIA 2ª SÉRIE 1º BIMESTRE
TENSÕES NA FORMAÇÃO DA DIVERSIDADE – PARTE 1
O objetivo desta Situação de Aprendizagem
é refletir sobre as tensões que podem ser geradas entre os novos e os velhos
habitantes de uma localidade na composição da diversidade. A ideia é promover
uma reflexão a respeito de alguns conceitos importantes para aprofundar o tema
da diversidade, como aculturação e assimilação. E a relação entre estabelecidos
e outsiders.
Tais noções são fundamentais na análise
das tensões decorrentes da formação da diversidade, pois a inserção de novos
atores na realidade social nem sempre se dá de forma tranquila.
Os conceitos de aculturação e assimilação
O termo “aculturação” foi criado em 1880
por um antropólogo chamado J. W. Powell para designar as transformações dos
modos de vida e pensamento dos imigrantes em contato com a sociedade
estadunidense (CUCHE, 2002, p. 114).
A aculturação não significa “deculturação”
simplesmente. Pois o “a” no início da palavra não pressupõe “falta de” ou “privação”,
como ocorre com outras palavras. Por exemplo: amorfo, sem forma, ou amoral, que
significa alguém que não tem moral. Não é esse o caso da palavra aculturação. O
“a” no início da palavra vem etimologicamente do latim ad, que indica um
movimento de aproximação.
Com o passar do tempo, a palavra se
transformou em conceito para explicar o contato entre diferentes povos. E a
partir de então o termo ganha outra significação: “A aculturação é o conjunto
de fenômenos que resultam de um contato contínuo e direto entre grupos de
indivíduos de culturas diferentes e que provocam mudanças nos modelos
(patterns) culturais iniciais de um ou dos dois grupos. ”
A aculturação, portanto: Não é
necessariamente sinônimo de mudança cultural; não é apenas difusão de traços
culturais; não pode ser confundida com assimilação.
A aculturação não é necessariamente
sinônimo de mudança cultural. Toda cultura muda. Não há cultura que permaneça
estática, que não se transforme, pois, a cultura é um eterno processo. E a
mudança cultural é parte de toda cultura. Entretanto, algumas mudam mais
rápido, outras mais devagar. Muitos grupos indígenas, segundo o senso comum,
dão a impressão de não mudar. Mas isso ocorre, nós é que não os conhecemos
direito.
As culturas mudam não só devido a causas
externas, isto é, elas não mudam apenas pelo contato com outras culturas, mas
também devido a fatores internos à própria cultura. E se a aculturação vem do
contato com outros povos, confundi-la com mudança cultural é deixar de lado uma
parte da mudança cultural que é a transformação por fatores internos à própria
cultura.
A aculturação não é somente a difusão de
traços culturais. Pois ela é um processo maior e mais complexo do que tal
difusão, que pode ocorrer sem que povos entrem em contato direto entre si (por
exemplo, por meio de livros, revistas, filmes etc.). A aculturação pressupõe
justamente o contato direto de pessoas de diferentes grupos.
A aculturação não pode ser confundida com
assimilação. Povos aculturados não são necessariamente assimilados, pois nem
todo processo de aculturação resulta na assimilação total de um grupo por
outro: não se pode confundir aculturação e “assimilação”. “A assimilação deve
ser compreendida como a última fase da aculturação, fase aliás raramente
atingida. Ela implica o desaparecimento total da cultura de origem de um grupo
e na interiorização completa da cultura do grupo dominante”. De fato, a
assimilação seria a última etapa de todo o processo de aculturação devido ao
contato de dois grupos, pois implica o fim da cultura de um dos grupos, uma vez
que a cultura do segundo grupo é totalmente assimilada pelo primeiro. Ora, a
assimilação total de um grupo por outro é algo muito difícil de ocorrer. E,
assim, a aculturação, na grande maioria das vezes, não provoca o fim de uma das
culturas. Na verdade, em geral, ambos os grupos se modificam. É verdade que as
modificações costumam ser maiores em um grupo do que no outro. Os novos
costumes, ou características, são sempre internalizados de acordo com a sua
lógica interna. Apesar das modificações, a lógica interna permanece com
frequência. Com isso, mantém-se a forma de raciocinar do grupo. É verdade
também que, às vezes, as mudanças são tão intensas que um dos grupos pode
realmente acabar.
De qualquer forma, praticamente não há
cultura que não se modifique pelo contato com outra. O que significa que o
processo de aculturação quase sempre se dá dos dois lados. É por isso também
que há autores que criticam a ideia de aculturação porque ela parece não dar
conta de que o processo é recíproco, mesmo que raras vezes seja simétrico.
Normalmente é um processo assimétrico. Uma cultura quase sempre se transforma
mais do que a outra, visto que elas não estão em pé de igualdade.
Na Era Vargas, os estrangeiros aqui
residentes foram proibidos de falar suas línguas de origem, seus jornais foram
fechados e muitos locais tiveram que mudar seus nomes. Durante esse período, os
estrangeiros que aqui viviam foram forçados a passar por um processo de
assimilação da cultura brasileira. Isso ocorreu mais intensamente com os
alemães e japoneses, pois o Brasil estava em guerra com esses países.
1. Por
quem e para que o termo “aculturação” foi criado?
2. O
que é aculturação?
3. Por
que a aculturação não é somente a difusão de traços culturais?
4. Por
que a aculturação não pode ser confundida com assimilação?
5. Explique
Assimilação.
Prof. Manoelito
S3 SOCIOLOGIA 2ª SÉRIE 1º BIMESTRE
TENSÕES NA FORMAÇÃO
DA DIVERSIDADE – PARTE 2
A relação entre estabelecidos e
outsiders
A noção da
relação entre “estabelecidos” e “outsiders” foi cunhada pelo sociólogo Norbert
Elias (18971990) no livro Os estabelecidos e os outsiders, no qual ele
estabelece a análise das tensões ocorridas na pequena cidade de Winston Parva
(nome fictício), na Inglaterra. É importante compreender e refletir não apenas
sobre a pequena Winston Parva, mas a pensar o Brasil e algumas das tensões que
aqui existem.
Norbert
Elias nasceu na cidade de Breslau, em 1897, na antiga Alemanha. Atualmente a
cidade chama-se Wroclaw e fica na Polônia (mudança ocorrida depois da Segunda
Guerra Mundial). Elias, portanto, se considerava alemão e Breslau, uma cidade
alemã; era filho de judeus. Primeiro estudou Medicina, depois Filosofia e, por
fim, interessou-se pela Sociologia. Com os ânimos exaltados na Alemanha e a
Segunda Guerra Mundial quase começando, foi para a Inglaterra com medo das
perseguições que já ocorriam na Alemanha; seu primeiro livro foi publicado em
1938 e passou os trinta anos seguintes esquecido; Elias viajou por vários
países, tendo morado até na África, onde lecionou na Universidade de Gana; ele
sempre foi um outsider na Academia. Ou seja, sofreu preconceito e só conseguiu
o reconhecimento pela sua obra tardiamente, quando beirava os setenta anos. Não
foi à toa que ele se interessou por tal tema, pois também foi um outsider em alguns momentos de sua vida.
Publicado
pela primeira vez em 1965. Os estabelecidos e os outsiders foi escrito em
parceria com John L. Scotson. Nele, Elias faz uma análise das tensões entre
dois grupos na pequena Winston Parva. A princípio, seu estudo era sobre os
diferentes níveis de delinquência encontrados entre o lado mais novo da cidade
e o antigo. Mas, no decorrer da pesquisa, ele mudou seu objeto para as relações
entre os bairros. Sua decisão de mudar de objeto se mostrou acertada, pois as
diferenças entre os níveis de delinquência praticamente acabaram no terceiro
ano da pesquisa. O bairro mais antigo, contudo, continuava a ver a nova área
como local de delinquência. Elias verificou que naquela pequena localidade era
possível encontrar um tema universal: como um grupo estabelecido estigmatiza um
outro grupo tratando-o como outsider.
“O termo outsider não tem uma tradução muito
fácil para a língua portuguesa. Literalmente, significa “de fora”, ou seja,
alguém que veio de outro lugar e não é membro original de um grupo, não se
encaixa muito bem nele. Mas dizer em português que alguém é um “de fora” soa um
tanto estranho aos nossos ouvidos. É por isso que o termo não é traduzido e
usa-se a expressão em inglês. Na obra Os estabelecidos e os outsiders, Norbert
Elias aplica a categoria “outsider” para referir-se aos habitantes mais novos
de Winston Parva. No entanto, utiliza também para designar de forma geral os
grupos que detêm menos poder. Em contraposição à categoria de “outsider”, Elias
denomina os antigos moradores da cidade de “estabelecidos”, que também aplica
para designar os grupos que detêm mais poder.”
Os
estabelecidos consideram-se humanamente superiores. Isto é, os grupos poderosos
veem-se como pessoas melhores. A inferioridade de poder é vista como
inferioridade humana, e por isso recusam-se a ter qualquer contato maior com os
outsiders que não seja o meramente profissional. Isso ocorre porque os
estabelecidos acreditam que são dotados do que Elias chama de “uma espécie de
carisma grupal”, um tipo de qualidade que faltaria aos outsiders.
A relação
entre estabelecidos e outsiders normalmente é explicada como resultado de
diferenças raciais, étnicas ou religiosas, mas em Winston Parva os grupos não
diferiam entre si pela nacionalidade, ascendência étnica, cor ou tipo de
ocupação. Logo, o que estava em jogo naquela pequena cidade e o que está em
jogo numa relação entre estabelecidos e outsiders não é a diferença de cor,
religião, ou qualquer outra entre os grupos, mas sim a diferença de poder.
Elias
mostrou que o problema não está nessas características que podem diferenciar os
grupos, mas no fato de que uns grupos têm mais poder e acham que por isso são
melhores do que os outros. Os grupos detentores de mais poder usam essas
diferenças porque se veem como superiores. A questão é a diferença no
equilíbrio de poder entre eles. Ou seja, em última instância, não é a cor, a
religião, a nacionalidade etc., que faz um grupo ver outro como inferior, e sim
o fato de que eles detêm maior poder e, assim, usam esses fatores como
justificativa para manter esse poder. Isso tanto pode ser feito de forma
inconsciente quanto consciente. Ou seja, um grupo pode manipular as
características de outro de forma negativa a seu favor, de propósito, como pode
fazer isso de forma inconsciente.
No caso da
cidade estudada por Elias, a única diferença entre as duas áreas era o tempo de
residência: um grupo estava lá havia duas ou três gerações e o outro chegara
recentemente. A superioridade não tinha a ver com poder militar ou econômico,
mas com o alto grau de coesão das famílias (ELIAS; SCOTSON, 2000. p. 22).
Desta
forma, eles conseguiam se organizar para obter os melhores cargos nas
organizações locais, como no conselho, na escola e no clube e, assim, excluíam
os outros que não tinham coesão entre si. A coesão de um grupo está relacionada
ao grau de integração do grupo. Os moradores mais antigos eram, portanto,
profundamente integrados. O que levava a essa integração era a aceitação quase
irrestrita das regras do grupo. Ou seja, grupos coesos são aqueles nos quais
seus participantes aceitam quase que totalmente as regras do grupo ao qual
pertencem. Elias então percebeu que o grau de coesão de um grupo interfere nas
relações de poder entre esse grupo e o resto da sociedade. Pois um grupo coeso
pode atingir seus objetivos de forma muito mais rápida e eficaz do que aquele
cujo grau de integração é menor.
O grupo
outsider é muitas vezes estigmatizado: O que significa dizer que um grupo é
estigmatizado por outro? Isso ocorre devido ao grande desequilíbrio de poder.
Um grupo só consegue estigmatizar outro quando as relações de poder tendem
claramente para o seu lado. Isso expressa o fato de que o equilíbrio de poder
entre os grupos é muito instável – afinal, um deles precisa deter muito mais
poder do que o outro para ser capaz de estigmatizá-lo, e assim dizer que o
outro tem “valor humano” inferior como forma de manter sua superioridade
(ELIAS; SCOTSON, 2000, p. 24). Isso só
muda quando há alteração no equilíbrio de poder entre os grupos. Mas o estigma
não pode ser confundido com o preconceito, pois a questão não é individual, e
sim social, ou seja, há diferença entre preconceito individual e estigmatização
grupal. A estigmatização é um processo social. Em Winston Parva as pessoas eram
estigmatizadas não pelas suas qualidades ou defeitos individuais, mas por serem
membros de um grupo malvisto, considerado coletivamente inferior. O grupo dos
estabelecidos da cidade havia desenvolvido um estilo de vida e um conjunto de
normas partilhadas pelos seus membros, mas tais normas eram desconhecidas pelos
moradores da parte nova da cidade.
Infelizmente,
no nosso país, o morador da favela com frequência é estigmatizado pela
sociedade. Muitos acham que todos os que moram na favela são ladrões ou pessoas
que não querem trabalhar, entre outras características negativas. Com base
nesse estigma, muitas vezes o termo “favelado” é usado como forma de
xingamento, e não apenas para designar quem mora na favela. É usado entre não
favelados para a desqualificação do outro, qualquer que seja ele, favelado ou
não. Trata-se do que Elias chama de “desonra grupal”. Com isso, as pessoas que
moram na favela são sistematicamente depreciadas sem ao menos ter chance de
mostrar que não se enquadram nesse triste estereótipo – podem, por exemplo,
perder oportunidades de emprego por conta disso, – pelo simples fato de
pertencerem a um grupo estigmatizado.
O texto de
Norbert Elias não ajuda apenas a compreender as tensões na pequena cidade de
Winston Parva; ele é relevante para que possamos entender as tensões da nossa
sociedade, do nosso país e mesmo do nosso bairro. Ele nos ajuda a refletir
sobre questões e tensões presentes entre nós, brasileiros, da mesma forma que
pode nos auxiliar, na compreensão das tensões que ocorrem em outros países ou
momentos históricos. O texto sobre as relações entre os estabelecidos e os
outsiders promove a compreensão e a reflexão sobre as relações sociais de uma
forma geral.
1.
Qual
foi a análise feito por Norbert Elias em parceria com John L. Scotson, no livro
os estabelecidos e os outsiders?
2.
Explique
os termos: Outsiders e estabelecidos.
3.
Porque
os estabelecidos consideram-se humanamente superiores?
4.
O
que está em jogo numa relação entre estabelecidos e outsiders?
5.
Quando
um grupo consegue estigmatizar o outro?
6.
Por
que o estigma não pode ser confundido com o preconceito?
7.
De
exemplo de pessoas, no Brasil que com frequência são estigmatizadas pela
sociedade.
8.
Em
que o texto de Norbert Elias pode nos ajudar?
Prof. Manoelito
S4
SOCIOLOGIA 2ª SÉRIE 1º BIMESTRE
Diversidade
social brasileira
Análise
de imagens, tabelas e textos
O objetivo desta análise é fazer com que o
aluno passe a ter maior consciência da diversidade social brasileira.
Para isso, vamos analisar os dados, inicialmente do
Brasil, depois das regiões do país e, por fim, do município. Faca comentários
sobre o seu entendimento.
1. Analise as imagens e reflita sobre os
dados das tabelas referentes às condições de vida da população brasileira.
a) Rendimento – Famílias por classes de
rendimento médio familiar per capita (%).
b) Educação – Taxa de analfabetismo das
pessoas de 15 anos ou mais de idade por sexo (%).
c) Saneamento e luz elétrica – Domicílios
por condição de saneamento e luz elétrica (%).
2. Analise os textos:
a) Texto
1 - Salário de pobre sobe mais que o de rico, mas diferença ainda é de 87
vezes.
b) Texto 2 - Pnad: (Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios). Taxa de analfabetismo cai no país, mas atinge 9,1% da população
com mais de 18 anos.
Trabalho: Pesquisar
dados sobre os indicadores sociais analisados relativos à cidade de Praia
Grande. Obs.
(Manuscrito)
Prof.
Manoelito
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